O livro, O Poder do Hábito de Charles Duhigg, nos contempla com várias
informações científicas sobre o funcionamento ‘dos hábitos’ em nossas vidas, tanto do ponto de vista fisiológico e
neurológico, quanto do social e espiritual – e isso só contribuiu para que esta
publicação seja muito interessante mesmo que o autor tenha flertado com o estilo ‘literatura de autoajuda’ – porém, esta
leitura oferece informações úteis para nossas vidas ao invés de apenas
reforçar sensos comuns.
No inicio
se explica como os hábitos se formam, contando sobre várias experiências em
laboratório que mediam a intensidade da resposta emocional a certas rotinas.
Basicamente, os hábitos se constroem sobre três pilares: deixa,
rotina e recompensa. Sem que existam estes três itens, de
modo que um desencadeie o outro, o hábito não se instala no nosso dia a dia.
E o que é cada um desses itens?
A Deixa - é o estímulo que vai provocar a rotina. No
começo, pode ser algo artificial ou imposto que, com o tempo e a frequência,
simplesmente vai deixar de ser óbvio. Ou seja, se você se sente ansioso (deixa)
e busca um doce (rotina) para se acalmar (recompensa) e repete o mesmo padrão
por mais dez vezes, é bem provável que chegue um dia no qual você tenha apenas
a vontade de comer doce e a percepção de que você está ansioso suma da sua
mente consciente. Assim, você dirá aos outros que sempre tem vontade de comer
um docinho, ao invés de falar que é frequentemente ansioso.
A Rotina - é a sequência de eventos provocados pela Deixa. Pode ser o happy hour toda sexta-feira, a pizza todo sábado à
noite, a corrida antes do trabalho, o café após o almoço, o telefonar para a
mãe todo domingo, o fumar após o sexo ou quando acorda a oração antes de comer,
a briga com o marido quando ele chega do trabalho, etc. Como podem ver, existem
rotinas boas e más, sejam provocadas por outros ou emoções, etc.
A Recompensa - é o que você vai ganhar quando a Rotina tiver sido completada. No caso dos exemplos
acima, a pessoa ansiosa se acalma com o doce, a outra socializa no happy hour, enquanto que a que come pizza todo
sábado pode ver isso como um presente merecido pelo bom cumprimento da dieta da
semana ou ainda uma forma de reunir familiares. Enquanto que a mulher que briga
com o marido, pode ter ser ouvida ou desabafar, caso tenha ficado em silêncio o
dia todo.
O curioso
é que, com a repetição, o anseio de obter a Recompensa fica mais forte que a própria
recompensa em si. Ou seja, ir comer o doce pode ser mais satisfatório do que
ter o doce dentro da boca. Isso significa que, caso você chegue à loja e a
mesma esteja fechada, sua sensação de frustração será gigante e você não se
sentirá bem enquanto não ver seu desejo satisfeito, mesmo que isso não seja
prático ou salutar.
Como
muitos dos nossos hábitos são nocivos a nossa saúde, sendo até responsáveis de
nos levar a doenças, ganho de peso, rupturas de relacionamentos, falências e
etc., e por essas razões é que temos de tentar muda-los, porém, é comum não
obtermos sucesso em grande parte do tempo. E o grande vilão é o fato de não
sabemos exatamente qual é a Deixa que nos
impulsiona para essa Rotina. Por
exemplo, uma pessoa ansiosa come um doce e relaxa, mas existem outros ansiosos
que vão fazer exercícios, que assistem TV, que roem as unhas, que comem
compulsivamente, que fumam muito, que falam sem parar e etc. – Mas, quem come
doce pode fazê-lo por que o Deixas diferente da ansiedade, ele podem comer
para se sentir parte do grupo, para sanar o tédio, para ter a desculpa para dar
uma volta ou paquerar.
Então, o
primeiro passo é descobrir o que o leva à Rotina e, quando a Deixa surgir, fazer outra coisa. O autor diz
que isso é a Regra de Ouro da mudança do hábito –
“Mesma deixa, mesma recompensa, mudança
de rotina”. No caso da ansiosa comedora de doces, ela poderia, ao invés de
ir atrás do doce, fazer apenas uma caminhada para espairecer. Como o que a
motiva é a agitação interna, o exercício também irá acalmá-la, fazendo-a obter
a Recompensa que o doce daria. Porém, se ela vai até
o doce porque quer ir num local para conhecer gente (e não porque está
ansiosa), a caminhada solitária não a satisfará e logo ela voltará para o doce,
não conseguindo manter a nova rotina.
Neste
livro também se discute os Hábitos angulares que, quando
mudados, alternam o resto da vida da pessoa. Por exemplo, parei de comer carne no
ano de 2012, isso era apenas um hábito. Porém, ao fazê-lo, acabei incorporando
um monte de Rotinas saudáveis que antes não faziam parte do meu
cotidiano, pois uma coisa puxou a outra. Charles
Duhigg afirma também que a Força de Vontade é algo que se treina e não
uma qualidade com a qual a pessoa simplesmente tenha nascido.
Existem dois
capítulos dedicados:
· Um é como empresas usaram momentos de crise para
estabelecer novos hábitos, pois, quando tudo está desabando, é mais fácil mudar
e,
·
O outro trata daquelas que nos manipulam diariamente,
por meio de propagandas nas TVs e digitais (computadores) a ponto de criar
hábitos que antes não tínhamos, como escovar os dentes, usar aromatizadores de
ambiente após a limpeza, comer em fast-foods, beber
cerveja todo final de semana, comprar coisas que não precisamos e assim por
diante.
De todo
modo, os hábitos não se resumem apenas a indivíduos, já que podem movimentar a
sociedade como um todo, se houver laços de amizade e dever que unam um
determinado grupo de pessoas em prol de uma causa, como a igualdade entre
negros e brancos que ele cita na parte final do livro e que teve seu estopim no
boicote aos ônibus numa pequena cidade dos Estados Unidos (a meu ver, é isso também que faz uma guerra acontecer, quando um
pequeno ato isolado faz todas as peças de um tabuleiro se movimentarem).
No final
deste, é interessante salientar a discussão da questão neurológica e, por
conseguinte, ética dos hábitos. Afinal, quando pensamos em jogadores
compulsivos ou viciados em drogas, chegamos ao tema da responsabilidade. Até
porque, nós mesmos nos sentimos muito culpados quando não conseguimos
parar de beber, comer compulsivamente ou fumar, mesmo sabendo das consequências
para nossas vidas. Entretanto, parece que uma força avassaladora nos oprime e
domina, nos levando a refazer o mesmo caminho destes erros. Mesmo sabendo que
os hábitos são tão fortes que nunca irão se apagar realmente do cérebro e que
eles continuam a se manifestar, inclusive se perdermos a memória – mas mesmo
assim, não podemos nos deixar esconder atrás disso e simplesmente abrir mão de
transformar nossas vidas para melhor.
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