Será
que tudo o que fazemos online está inserido no mundo real?
"Os adultos distinguem atividades realizadas
online das presenciais. Já as crianças não!"
Quantos
de nós, conversando com amigos, ainda nos deparamos com muitos deles se
referindo às atividades que realizam na internet como se suas "vidas
virtuais" fossem vivências separadas da "vida real", isto é,
independentes do que fazem fora da web.
Mas o que a internet - as redes sociais e
todas as modalidades digitais, inclusive games - tem de especial que leva
as pessoas a criar essa cisão entre suas supostas vidas reais e virtuais?
Percebo
essa atitude principalmente em adultos, que têm muitos questionamentos sobre as
coisas que fazem na internet. Nos jovens essa cisão pouco aparece expressa,
enquanto as crianças parecem sequer imaginar essa separação. Recentemente foi
publicada a experiência do jornalista Paul Miller, editor-sênior do portal The
Verge, que, por decisão própria, abandonou completamente os meios digitais
por um ano, ficou sem internet, desligou o smartphone e ficou completamente off-line.
Paul tomou essa decisão no começo de 2012, porque achava que a internet ocupava
tempo demais na sua "vida real", o privava de experiências
"reais" enriquecedoras e até o afastava de pessoais
"reais". Cortou todos os vínculos on-line para encontrar o que ele
mesmo chamou de "um Paul melhor". Um relato detalhado da vivência,
feito por ele mesmo. Ao final da experiência e já reconectado, ele reconhece:
"eu estava errado".
No
começo, parecia que todos os acontecimentos pareciam corroborar sua tese. Mas,
com o passar do tempo, ele foi percebendo que não era bem assim. No final, ele
concluiu justamente que a "vida real" e a "vida virtual"
são uma coisa só: sua própria vida. O que ele faz ou deixa de fazer, suas
virtudes e seus defeitos, como se relaciona com as pessoas, como trabalha,
enfim como vive depende única e exclusivamente dele mesmo. A internet é só uma
ferramenta para expressar tudo isso. Pode até potencializar cada uma dessas
características, mas ela não cria nem destrói nada por si mesma. O que motivou
Paul Miller a separar a "vida real" da "virtual" e como ele
chegou à conclusão de que isso não existe, aconteceu seguindo padrões de
pensamento que inconscientemente estão dentro de todos nós. Essa dinâmica de
desenvolvimento das pessoas é descrita pela psicologia analítica de Jung. Esse
caminho pode ser trilhado por qualquer um em diferentes momentos de sua vida,
principalmente a partir da adolescência, e por diferentes motivos. Esse
processo é representado pelo "Mito do Herói".
Em
sua estrutura básica, esse mito narra um processo de afastamento, ou isolamento
do indivíduo, que inicia uma jornada da busca por algo de grande importância
para ele ou para seu povo, e seu posterior retorno ao local de sua origem. O
mito é dividido em três fases principais. A primeira delas é a
"partida", na qual o herói deixa a casa e todo seu conforto e parte
para a aventura. A segunda - a "iniciação" - é aquela na qual o herói
precisa passar por todos os desafios que promoverão a sua transformação. E a
última fase é o "retorno", quando o herói regressa à sua casa mais
amadurecido, portador de novos conhecimentos e habilidades.
No
caso de Paul Miller, a "partida" correspondeu ao abandono de uma vida
totalmente conectada à internet para um período off-line, em busca do seu
"Paul melhor". Ao longo do ano, foi confrontado com novas realidades,
que lhe exigiram e proporcionaram novas experiências, mas que também permitiram
ampliar a sua consciência sobre vários aspectos da vida cotidiana da
atualidade. Entre esses, atividades como usar o correio convencional, o mapa
impresso em papel, andar de bicicleta e encontrar pessoas presencialmente. Se,
por um lado, o fato de viver dessa forma lhe proporcionava novos prazeres, por
outro ele se sentia angustiado, pois muitas coisas passaram a ser muito mais
difíceis de ser realizadas, como responder a correspondência ou até mesmo
encontrar as pessoas.
Por
isso, passada a fase inicial da euforia, que o levou até mesmo a perder nas
primeiras semanas mais de sete quilos sem fazer esforço, o jornalista começou a
perceber que os problemas por estar online haviam sido substituídos por outros,
gerados pelo fato de estar off-line. Mas, esses "novos problemas"
provinham, na realidade, dele mesmo e, de certa forma, percebeu serem essas
apenas novas versões dos mesmos "velhos problemas".
A
partir dessa percepção, Miller concluiu que não existia uma real separação entre
esses dois mundos - o virtual e o real - mas que, em ambos os ambientes seu
comportamento apenas correspondia às diferentes expressões do seu próprio ser.
E ainda, que as coisas boas e ruins que aconteciam quando ele estava online ou
off-line são decorrências de sua forma particular de ser, e não do fato de
estar conectado ou não. A internet é apenas uma mais uma ferramenta que todos
nós podemos utilizar. Pelo fato dela nos proporcionar um leque variado de
alternativas e possibilidades, as pessoas, principalmente os adultos,
estabelecem essa separação entre as atividades realizadas online e o que
fazemos presencialmente. As crianças não agem dessa forma, porque elas já
conheceram a internet de uma maneira totalmente integrada ao seu cotidiano:
algo tão simples quanto o fato da eletricidade estar presente e disponível nas
tomadas das suas casas.
Estabelecer
contatos on-line é de certa forma, semelhante a falarmos com alguém pelo
telefone. Antes da sua invenção, precisávamos ir até a pessoa com quem quiséssemos
conversar. Com o surgimento do telefone, deixou de ser necessário. Mas isso não
quer dizer que o interlocutor esteja dentro do telefone (e ninguém hoje pensaria dessa forma). De maneira equivalente, tudo
o que hoje já fazemos via internet pertence e está inserido no nosso mundo, no
"mundo real" e não apenas faz parte de um suposto "mundo
virtual". Paul Miller precisou percorrer a jornada do herói durante um ano
para chegar a essa conclusão:
A
vida é, na realidade, muito mais simples e única.
Fonte
e Sítios Consultados
http://www2.uol.com.br/
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