A Face Repulsiva: As organizações como Instrumentos
de Dominação
INTRODUÇÃO - Quando se vê organizações como sistemas que exploram seus empregados,
somos levados a uma crítica rigorosa de quase todos os aspectos da
administração através da história.
Críticas:
·
Dominação está atrás de toda atividade
organizada;
·
Doenças ocupacionais, stress, vícios de
trabalhar em excesso;
·
Empresas globais explorando pessoas e
recursos.
Está metáfora cria um novo nível de consciência social e uma compreensão
do por que as relações entre grupos exploradores e explorados podem ficar tão
polarizadas. Ela convida os administradores a pensar nas dimensões éticas e de
seu impacto social. Embora sejamos geralmente levados a pensar as organizações
como empresas racionais buscando atingir metas que visam à satisfação do
interesse de todos, existe evidência que sugere ser esta visão mais uma
ideologia do que realidade. As organizações geralmente são usadas como
instrumentos de dominação que promove interesses egoístas de elites a custa de
outros interesses, e existe um elemento de dominação em todas as organizações.
ORGANIZAÇÕES
COMO DOMINAÇÃO - Ao longo da história, organizações têm
sido associadas a processos de dominação social nos quais indivíduos ou grupos
encontram formas de impor a respectiva vontade sobre os outros.
Dominação pode ocorrer de muitas
maneiras diferentes. Primeiro e mais obviamente, dominação surge quando uma ou
mais pessoas coagem outras através de uso direto de ameaça ou força.
Entretanto, dominação também ocorre sob formas mais sutis: quando aquele que
dita às regras pode impor a sua vontade sobre outros, sendo, ao mesmo tempo,
percebido como tendo o direito de fazer isto.
Três tipos de dominação social podem tornar-se formas legítimas de
autoridade ou poder:
Dominação carismática: ocorre quando o líder exerce a sua influência em virtude das suas
qualidades pessoais, onde a legitimidade está fundamentada na fé que o liderado
depositar no líder.
Dominação tradicional: ocorre quando o poder de mando tem por base um respeito pela
tradição e pelo passado, onde a legitimidade se dá pelo costume e pelo
sentimento de que “é correto” fazer as coisas da maneira tradicional.
Dominação racional-legal: ocorre quando o poder é legitimado por leis, regras, regulamentos
e procedimentos, onde a legitimidade está no seguimento dos procedimentos
legais que especificam como quem manda é escolhida.
Estes três tipos de dominação raramente
são encontrados nas suas formas puras e que, quando diferentes tipos de
autoridade misturavam entre si, o resultado era quase sempre tensão
e mal-estar.
O processo de burocratização
representava uma série ameaça à liberdade do espírito humano e aos valores da
liberal democracia, uma vez que aqueles que se encontravam no controle tinham
um meio de colocar em subordinação o interesse e o bem-estar das massas. Daí a
sua visão de que a burocracia poderia facilmente transformar-se numa prisão.
Organizações modernas tipicamente
terminam sob o controle de grupos restritos, mesmo quando isto vai contra os
desejos dos lideres e dos liderados. A democracia nada mais é do que uma bela
fachada. Apesar das melhores intenções, as organizações burocráticas parecem
desenvolver tendências que davam aos seus líderes praticamente o monopólio do
poder. Conforme os líderes são investidos de poder, tendem então a tornar-se
preocupados com a sua própria forma de ver as coisas, sendo, no máximo,
possível esperar que continuem tentando manter em mente os interesses do grupo.
As formas mais racionais e democráticas de organização podem resultar em
modelos de dominação nos quais certas pessoas adquirem e sustentem uma influência
de comando sobre outras, frequentemente através de processos sutis de crença e
de socialização.
As pessoas são dominadas por forças tão
básicas e ocultas como aquelas subjacentes à busca da racionalidade. À medida
que se fica cada vez mais sujeito a uma administração através de regras e que
se engaja em estreitos cálculos que associam meios e fins, custos e benefícios,
mais se fica dominado pelo processo de racionalização em si mesmo. Princípios
impessoais e a busca pela eficiência tendem a tornarem-se os novos meios de
escravidão.
COMO AS
ORGANIZAÇÕES USAM E EXPLORAM OS SEUS EMPREGADOS - As organizações frequentemente devoram e exploram o seu pessoal, pegando
e usando o que precisam e jogando fora o que resta. É claro que há exceções. O
mesmo padrão de exploração dos anos iniciais da Revolução Industrial continua a
existir hoje em dia de forma mais sutil. Encontram especial evidência disto no
modo pelo qual as organizações estruturam as oportunidades de trabalho para
produzir e reproduzir a estrutura de classe das sociedades modernas, no modo
pela qual as organizações abordam problemas relativos a condições inseguras de
trabalho, acidentes de trabalho, doenças ocupacionais e, finalmente, no modo
como as organizações perpetuam estruturas e práticas que promovem o vício pelo
trabalho e formas relacionadas de stress mental e social.
Organização,
classe e controle - O crescimento de um sistema capitalista de produção depende da existência
de uma oferta de mão-de-obra assalariada suficiente, a menos que se possa estar
apoiado pela escravidão ou por algum sistema de subcontratação, sendo que ambos
apresentem problemas. O desenvolvimento de um sistema de trabalho
assalariado tende a ser seguido por um processo de organização crescentemente
rígido e preciso supervisão cerrada e cargos crescentemente padronizados.
Os trabalhadores não têm sempre o mesmo
valor, uma vez que ocupantes de determinados papéis requerem mais treinamento e
desenvolvimento que outros. Neste sentido, alguns tipos de trabalho são como o
capital: necessitam de um investimento que, uma vez realizado, se torna um
custo fixo. O dualismo entre capital e trabalho, refletido na distinção entre
custos fixos e variáveis, ressalta, assim, uma distinção que existe dentro da
força de trabalho em termos do que é conhecido como mercados de trabalho
“primário” e “secundário”. O mercado de trabalho primário engloba um
mercado para cargos de carreira que são especialmente importantes e que exigem
alto grau de competência e conhecimento específico, frequentemente associado
com determinado ramo ou natureza de empresa. O mercado de trabalho secundário,
por outro lado, é um mercado para trabalhadores menos especializados e mais
baratos, que atuam em escritórios, fábricas e ao ar livre.
Enquanto as distinções entre mercados
primários e secundário de trabalho estão claras para todos, as suas estruturas
se complicam em virtude de vários tipos de segmentação. Em primeiro lugar,
ambos os mercados estão segmentados em numerosas divisões ocupacionais com
agrupamentos profissionais, comerciais e sindicais. Apesar de avanços
importantes, a exploração implícita ou explicita de empregados persiste. As
organizações modernas desempenham parte significativa na criação e sustentação
de uma classe trabalhadora de serviços “secundários”, na diminuição do grau de
especialização do trabalho, na produção sistemática de iniquidades, na
segmentação dos mercados de trabalho e na institucionalização da discriminação.
Ao criar e reforçar o sistema de mercado de trabalho, inevitavelmente reforça
uma estrutura de poder que encoraja as pessoas dotadas de certas qualidades,
enquanto prejudicam outras. E, ao desenvolverem diferentes modelos de controle
para empregados de diferentes setores, produzem padrões de favorecimento e
privilégio que simbolizam e, consequentemente, reforçam divisões
socioeconômicas subjacentes. Não causa, portanto, surpresa o fato de que os
teóricos organizacionais radicais se mostrem tão críticos em relação ao papel
preponderante das empresas atuais no sentido de produzir as doenças e
iniquidade da sociedade moderna.
Perigos,
doenças ocupacionais e acidentes de trabalho - Se acidentes fazem parte da estrutura da fabrica, ou se o uso de
substâncias tóxicas é essencial para garantia de um produtividade contínua ou
obtenção de uma vantagem competitiva, a saúde do trabalhador fica geralmente em
segundo plano quando analisado o aspecto econômico da questão. O problema é
agravado pelo fato de que as consequências legais e financeiras de se
reconhecer qualquer responsabilidade podem levar muitas organizações a dirigir
os seus recursos para demonstrar que nenhum risco existe. Quando acidente
ocorre de fato, a organização julga mais prudente esperar que o trabalhador
acidentado entre com um processo pedindo indenização do que reconhecer qualquer
responsabilidade.
A verdade é que quase sempre é mais
barato pagar indenização por acidente do que melhorar as condições de trabalho.
Além disso, as penalidades para firmas que continuam a operar unidades de alto
risco não são severas o suficiente para fechá-las, perpetuando o problema
subjacente. Muitos representantes da área de segurança nas organizações acabam
desempenhando um papel muito mais voltado para garantir que as suas
organizações pareçam bem frente aos fiscais governamentais, em lugar de
executarem um trabalho que resulta em processos significativos. Como
resultado, as relações entre inspetores governamentais e representantes de
segurança frequentemente se transformam em um complexo jogo organizacional,
quase uma reminiscência daqueles jogados entre analistas de tempos e
movimentos e trabalhadores da linha de produção durante a fixação de padrões de
produção.
Organizações trabalham com esforço para
parecerem bem nos registros oficiais, reduzindo o número ou a gravidade de
riscos potenciais identificados através de várias técnicas diferentes de camuflagem.
Podem fazer isto influenciando o modo pelo qual os acidentes ou os riscos de
acidentes são classificados, ou então, encorajando os trabalhadores acidentados
ou doentes a voltarem ao trabalho mediante alocação em cargos mais fáceis. A
tentativa de controlar acidentes através da legislação frequentemente encoraja
este tipo de resposta, deixando atitudes subjacentes e riscos intocados. É
claro que, enquanto existem empregadores que não consideram a higiene e a
segurança seriamente, muitos o fazem. Existem também muitos empregados que se
aproveitam e tiram vantagens das regras, regulamentações e esquemas de
indenização. A ideia de que a maioria dos empregadores são “vampiros”
inescrupulosos que deliberadamente sugam o sangue da força de trabalho é, sem dúvida,
um exagero, assim como também o é a ideia de que a maioria dos trabalhadores é
preguiçosa e desonesta.
Muitas organizações continuam a
incrementar os seus resultados à custa da exploração e da dominação da saúde,
bem como do bem estar dos empregados.
A
mania pelo trabalho, stress social e mental - O problema é endêmico a situações de tensão de todos os tipos e parece
ser o resultado de uma rede complexa de fatores. As condições de trabalho de
alguém, o seu papel, as suas aspirações de carreira e qualidade de
relacionamento no trabalho interagem com a personalidade e influenciam os
níveis de stress pessoa e de bem-estar físico e mental. A tensão, a frustração
e a raiva que invariavelmente acompanham um sentimento de falta de poder,
conforme acontece com trabalhadores sem perspectivas futuras nos seus cargos e
operários ou funcionários de escritórios, também aumentam o risco de doença
física ou mental.
Embora muito possa ser feito para
modificar os níveis de stress e de tensão vivenciados no trabalho, por exemplo,
via concepção apropriada dos cargos e tentativa de estabelecer relações
equilibradas entre trabalho e vida exterior, parece que certa dose de stress
seja endêmica. Na verdade, organizações prosperam e, de vez em quando, criam
deliberadamente stress, como meio de promover a eficácia organizacional.
Quando o trabalho torna-se um vício e
uma muleta, gerando um desequilíbrio do desenvolvimento pessoal e criando
muitos problemas para a vida familiar, resulta-se no “maníaco pelo trabalho”.
Este tende a estar constantemente sob pressão, ter pouco tempo para a esposa e
filhos e estar frequentemente ausente de casa. Quase sempre o progresso na
carreira dentro da organização requer mudanças constantes de cargo, com
mudanças frequentes para cidade desconhecidas. O impacto negativo na vida
familiar e na incidência de divórcios é, sem dúvida, enorme. No caso de
carreiras duplas, as tensões e as restrições são ainda frequentemente ampliadas
muitas vezes. Embora sejam os próprios indivíduos envolvidos que fazem, em
última análise, as escolhas que determinam estes eventos, estes são, em muitos
casos, motivados pelo desejo de se sujeitarem às normas e aos valores do mundo
empresarial no qual estão tentando deixar as suas marcas.
As exigência que se verificam em muitos
papéis profissionais e em cargos de executivos são tais que fica frequentemente
difícil encontrar o equilíbrio dentro da vida no trabalho que vários
especialistas em saúde sugerem ser desejável. O modo de vida da organização
tende a requerer que os prazos sejam cumpridos e que a carga de trabalho,
algumas vezes, seja distribuída de modo desbalanceado. Neste sentido, muitas
organizações precisam de sua parcela de “maníacos pelo trabalho” e
deliberadamente desenvolvem culturas que garantem a safra.
Política organizacional e organização
radicalizada - Do ponto de vista de um trabalhador do
mercado de trabalho “secundário” que sofre desemprego periódico conforme os
picos do ramo de negócios, ou então que se acha engajado em um trabalho de
baixo status que utiliza e valoriza poucas das suas habilidades, ou então que
tenha sofrido um acidente de trabalho ou intoxicação sem a devida indenização,
pode fazer muito mais sentido entender as organizações como campos de batalha
do que como “equipes” unidas ou coalizões pluralistas e amigavelmente
constituídas. As organizações frequentemente se tornam divididas em dois
mundos, caracterizados por comportamentos políticos que refletem e reforçam as
divisões de classe encontradas na sociedade. Em casos extremos, a separação
entre interesses do capital e da força de trabalho, ou então entre sindicatos e
direção se torna tão acirrada quanto à de facções em disputa. Em outras
palavras chega-se ao que pode se denominado de “organização radicalizada”. Tais
organizações são mais frequentemente encontradas em setores da economia com
arraigadas divisões entre mercado primário e secundário de trabalho.
Multinacionais e Economia Mundial
- As organizações exigem que seus executivos se dediquem totalmente ao
trabalho vivendo com objetivo de atingir metas. Esse perfil de funcionário
tende a estar constantemente sobre pressão, tem pouco tempo para os projetos
pessoais estando constantemente distante da família. Muitos desses executivos
obcecados pelo trabalho acabam adquirindo problemas cardíacos.
Os defensores das multinacionais as visualizam como forças positivas
para o desenvolvimento econômico, trazendo capital, tecnologia e criando
empresas para a comunidade ou país que teriam dificuldades em desenvolver esses
recursos por conta própria.
Aqueles que a criticam por outro lado tende a vê-la como aventureiros
que querem explorar tudo e todos o máximo possível. Eliminando a agricultura e
indústria local criando uma classe trabalhadora sem posse e um mercado para o
trabalho não especializado.
O modo das pessoas se tornaram dependentes do trabalho assalariado como
única fonte de sobrevivência apresenta em paralelo daquela que a Europa durante
a revolução industrial. Alguns empresários talvez por desconhecerem a história
envolvendo a face repugnante da estruturação industrial defendam a ponto de via
um tanto geocêntrico.
VANTAGENS E LIMITAÇÕES DA METÁFORA DA DOMINAÇÃO
Vantagens
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Limitações
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Conclusão
da natureza dual da racionalidade: o que é bom sob a ótica empresarial pode
ser maléfico para a saúde e situação dos empregados
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Alimenta
conflitos se interpretada como conspiração
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Utilidade
para a teoria da organização: não existe decisão neutra. Um fato analisado
como benéfico para um grupo poder ser desastroso para outro não levado em
consideração
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Pode
levar a culpar tomadores de decisão
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Compreensão
dos conflitos e da polarização constantes na história da organização
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Pode
erroneamente desestimular a busca pela criação de organizações não
dominadoras
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Desafio
aos administradores para uma conscientização da responsabilidade das empresas
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A
metáfora pode ser considerada a mais ideológica, quando é exatamente igual às
outras.
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Fonte e Sítios Consultados
Atividade em sala do
7o. Semestre do curso de Administração
de Empresas.
Bibliografia: Imagens
da Organização, o autor Gareth Morgan
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