Você já se perguntou qual a razão de nós, seres humanos, vivermos de uma maneira tão complicada? A quantidade de tecnologias necessárias, o volume de compromissos, as várias tarefas diárias e os outros tantos afazeres do nosso cotidiano moderno. Por que será que não nos contentamos só em nos alimentar, nos acasalar, nos proteger do frio, do calor, da chuva..., descansar um pouco... e começar tudo outra vez? Isso não seria o bastante? Devido a estes últimos questionamentos, será que já foi feita alguma pesquisa a esse respeito e obtiveram alguma resposta? Será que nós homens já fomos mais simples? Ou melhor, se faz muito tempo isso? Sabe-se desde muito tempo, que os homens nunca se limitaram a deixar-se viver, já que em todos os grupos humanos há curiosos, perfeccionistas e exploradores. É evidente que é próprio dos humanos uma espécie de inquietude que os outros seres vivos não parecem sentir. Uma inquietude feita em grande parte do medo de se entediar. Temos – até os mais tolos – um cérebro enorme, que se alimenta com informações, novidades, mentiras e descobertas; à medida que decai a excitação intelectual, devido à rotina, os mais inquietos – os mais humanos? - começam a procurar, a princípio com prudência, depois de uma forma mais frenética, novas formas de estímulo. Alguns resolvem escalar uma montanha inacessível, outros tentam cruzar o oceano para ver o que há do outro lado, há aqueles que se dedicam a inventar histórias ou a fabricar armas. Uma vez ouvi não me lembro exatamente onde, que a inquietude nunca falta e sempre cresce: para sonhar em voltar atrás, a primeira e relativa simplicidade, se é de trás e do simples que vêm as nossas atuais complicações? Por que supor que, se fosse possível retroceder, não voltariam a nos trazer pelo mesmo caminho?
É a esse desassossego, a essa inquietude, a esse medo permanente do tédio que estamos tratando quando falamos que as sociedades humanas não se contentam com a sobrevivência, mas anseiam pela imortalidade. Já que o ser humano é capaz de ter consciência prévia da morte, de compreendê-la como fatalidade inevitável, de pensá-la, morrer não é simplesmente mais um incidente biológico, mas o símbolo decisivo do nosso destino. Quanto aos religiosos você conhece (uma vida além da morte, imortalidade da alma, ressurreição dos corpos, espiritismo, etc.) e são questões que não emitiremos a nossa opinião, pois já há bastante envolvidos no mundo fazendo isso. O que nos interessa, aqui, são os remédios sociais ou civis com os quais os homens procuram não apenas resguardar as suas vidas, mas também fortalecer os seus ânimos contra a presença da morte, vencendo-a no terreno simbólico (já que não é possível no outro). Uma vez li não me lembro exatamente onde, que as sociedades humanas sempre funcionaram como máquinas de imortalidade, às quais nós, indivíduos, nos “conectamos” para receber descargas simbólicas vitalizantes que nos permitam combater a ameaça inegável da morte. O grupo social se apresenta como o que não pode morrer diferentemente dos indivíduos, e suas instituições que servem para contrabalançar o que cada um teme da fatalidade mortal: se a morte é solidão definitiva, a sociedade nos proporciona companhia permanente; se a morte é a inação, a sociedade se oferece como a sede da força coletiva e origem de mil tarefas, façanhas e êxitos; se a morte apaga toda e qualquer diferença pessoal e iguala tudo, a sociedade proporciona suas hierarquias, a possibilidade de se distinguir e ser reconhecido e admirado pelos outros; se a morte é o esquecimento, a sociedade fomenta tudo o que é memória, lenda, monumento, celebração das glórias passadas; se a morte é insensibilidade e monotonia, a sociedade potencializa nossos sentidos, apura com suas artes nosso paladar, nossa audição e nossa visão, prepara inúmeras diversões com as quais possamos quebrar a rotina... Por isso a vida humana é tão complexa: porque estamos sempre inventando algo novo e gestos inéditos contra as abominadas cerimônias fúnebres da morte. Por isso os homens acabam morrendo contentes em defesa das sociedades em que vivem; porque então a morte já não é um acidente sem sentido, e sim a maneira que o indivíduo tem de apostar voluntariamente no que não morre, e sim no que coletivamente representa a negação da morte.
Agora, voltando no que dissemos a pouco, podemos nos perguntar: os animais são ricos ou pobres? Não parece que esse problema lhes interesse muito, apesar do que possam dar a entender algumas fábulas, como a da cigarra e da formiga. Os animais têm necessidades a satisfazer: comida, abrigo, procriação, defesa contra seus inimigos... Ás vezes consegue satisfazê-las, em outros momentos fracassam; se esse fracasso for grave demais e muito prolongado, é possível até que morram, por isso todos os bichos vão aos extremos na procura pelo que necessitam. Depois de satisfazerem suas necessidades, os animais desfrutam e descansam; não se dedicam a inventar necessidades novas, nem mais sofisticadas do que aquelas para as quais estão naturalmente “programados” (estamos nos referindo, é óbvio, aos animais em seu estado selvagem). Creio que chamar de “ricos” os animais que satisfazem suas necessidades e “pobres” os que não conseguem satisfazê-las parece um pouco exagerado, mas, enfim, fica ao seu critério. Já no caso dos humanos é bem diferente, suponho que haverá concordância mutua neste pensamento. A grande diferença consiste em que os humanos não sabem do que necessitam. Isto é, de um ponto de vista estritamente zoológico, sabemos que precisamos de comida, abrigo, procriação, defesa e o resto dessas coisas que também são necessárias a outros mamíferos semelhantes a nós. Mas representamos cada uma dessas necessidades básicas que se acompanham de requisitos especiais que a complicam a ponto de torná-la quase infinita, insaciável: agora queremos comer, depois queremos comer isto ou aquilo, depois nos dispomos a arriscar a vida para comer precisamente aquilo que consideramos mais digno de ser comido por nós, e de vez em quando fazemos dietas que até parecem uma greve de fome. Quando um animal satisfaz uma necessidade, deixa-a de lado até que sua urgência volte a se apresentar; nós humanos por sua vez, continuamos a tê-la presente e pomo-nos a pensar sobre como satisfazê-la mais e melhor. Permitam a esse Blog um pouco de ginástica dialética neste instante: os animais querem (isto é, desejam segundo suas necessidades) porque vivem, enquanto os homens vivem... por que querem.
Iremos agora observar a frase do filósofo Jean-Jacques Rousseau (Século XVIII): “Todos os homens nascem livres e em todas as partes vivem acorrentados” disse Rousseau: acorrentados pelos convencionalismos, pelas instituições e pelos preconceitos sociais. Na origem, os homens viviam solitários, sem linguagem, respondendo apenas aos seus instintos naturais. Não tinham posses e não obedeciam a ninguém mais além da natureza (eram sujeitos as suas leis, mas não eram sujeitos de suas leis, isto é, não as inventavam). No entanto, os humanos já tinham uma faculdade que os animais não têm: a faculdade de se aperfeiçoar. Ou seja, voltamos ao que foi dito antes: “sempre mais e melhor”. De modo que se reuniram, começaram a falar, imitaram uns aos outros, empenharam-se em se destacar uns sobre os outros, aprenderam a não se conformar com nada do que tinham etc. E hoje, pois, estamos nisso. A propriedade, o dinheiro e outras fontes de problemas se reafirmam com a urbanização: isto é, com o fato dos homens terem deixado de viver como camponeses, sujeitos a terra, em comunidades grandes, pequenas, etc., e passaram a habitar cidades, com multidão de ofícios, artes e comércio. E essa vida urbana proporcionou novos sabores e os colocou em contato com pessoas vindas de longe, permitindo-lhes novas formas de ganhar a vida e, portanto, outras virtudes... e outros vícios. Aumentaram seus conflitos, tentações e miséria, sem dúvida, mas também os libertou.
Agora, partindo para o final deste artigo, vamos comentar sobre uma doença contemporânea, que se chama hipocondria digital. O que vem a ser isso? Devemos todos estar se perguntando. A hipocondria digital é um mal contemporâneo batizado de cybercondria. Esse fenômeno está preocupando os médicos porque pode evoluir para ansiedade e síndrome do pânico. O psicoterapeuta e professor da PUC-SP, Antonio Carlos Pereira explica: o corpo reage a situações criadas pelo cérebro, toda a fisiologia pode ser afetada por idéias, daí o risco de conclusões sobre as doenças baseadas na internet. O termo cybercondria vem de “cyber” e “chondria”, do grego, que se refere à desordem obsessiva, foi criado em 2000, para designar a prática de se chegar a conclusões precipitadas após a pesquisa de um sintoma de saúde. Como vimos, até as doenças digitais estamos sujeitos atualmente, tudo isso devido à forma complicada que o ser humano moderno escolheu viver. Por isso é que deixamos para você, caro leitor, a conclusão final desde artigo, reflita bem e nos deixe a sua opinião em forma de comentário.
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