Sabemos que metade da humanidade jamais usou um aparelho de telefone, existem mais telefones em Montreal do que em Bangladesh. A tecnologia ainda que desigualmente distribuída, é a melhor metáfora da trajetória humana na Terra. A própria civilização começou quando os humanos passaram a utilizar as primeiras tecnologias. “Graças á tecnologia, hoje vivemos o bastante para ver nossos filhos e netos crescer. Quem imagina que estaríamos melhores sem a tecnologia moderna precisa pensar nas durezas da Idade Média”, diz W. Brian Arthur, autor de Nature of Tecchology, que tem, ele mesmo uma relação de amor e ódio com a tecnologia.
“A Internet criou o ‘paradoxo da modernidade’. Ele se traduz pela absoluta necessidade que regimes de força têm das novas tecnologias para saciar a fome do povo. Mas, junto com o empuxo econômico, a tecnologia digital traz a possibilidade do arejamento político.”
O nosso propósito com este artigo é deixar algumas dúvidas no ar sobre a Tecnologia e os seus limites, afinal, sabemos que sendo moralmente neutra, a tecnologia pode servir ao bem ou ao mal. Vamos aos fatos, o rádio que transmitiu a voz de Franklin Roosevelt para ajudar os americanos a atravessar o calvário da Depressão dos anos 30 e vencer a II Guerra Mundial. Do outro lado do Atlântico, o mesmo rádio amplificou os discursos de Adolf Hitler e colaborou a hipnotizar os alemães num projeto diabólico. “A tecnologia pode tanto promover o autoritarismo como a liberdade, a escassez como a fartura, pode ampliar ou abolir o trabalho braçal”, escreveu o filósofo Herbert Marcuse (1898-1979), em Tecnologia, Guerra e Facismo.
O DDT é um santo remédio contra o tifo, a malária e a febre amarela, porque mata os insetos que a transmitem essas doenças. Aplicado ás toneladas na agricultura, virou veneno para a ecologia, reduzindo a população de pássaros e peixes. O agente laranja é um eficiente herbicida, foi muito utilizado no manejo de florestas no Canadá e na Malásia, virou arma na mão dos militares americanos no Vietnã. Na tecnologia, tudo depende do fim para o qual ela é empregada. Sua demonização é uma inutilidade.
A internet criou o “paradoxo da modernidade”. Ele se traduz pela absoluta necessidade que regimes de força têm das novas tecnologias para modernizar suas economias de modo a saciar a fome do povo. Mas, junto com o empuxo econômico, a tecnologia digital, baseada no conhecimento, traz a necessidade e a possibilidade do arejamento político. Na verdade, procura-se revestir a liberdade de expressão na rede mundial de computadores dos mesmos atributos de bens universais, como o espaço aéreo ou as rotas de navegação. Por exemplo, em março passado, a Casa Branca anunciou o fim da restrição à exportação de serviços da internet para o Irâ, Cuba e Sudão. A idéia é que essas nações hostis sejam contaminadas pelo “paradoxo da modernidade”.
A tecnologia não é a invenção de um gênio solitário. Ela é o resultado do acúmulo de conhecimento. A tendência é que, quanto mais houver, mais tecnologia venha a ser produzida. Essa é a sua força. O caráter cumulativo da criação tecnológica explica a velocidade geométrica das novidades e está na base da “singularidade tecnológica”. Essa é uma teoria segundo a qual o tempo e o esforço gastos para dar os primeiros passos em uma determinada tecnologia tendem a diminuir drasticamente no caminho evolutivo. Passaram-se séculos entre o primeiro livro impresso e o primeiro Kindle. A singularidade assusta por prever que, em um futuro de décadas, as máquinas serão infinitamente mais poderosas do que o cérebro humano na sua capacidade de processar dados, o cérebro humano já perdeu a corrida no século passado.
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