Na neurociência o senso de certo e errado é orientado pelas funções fisiológicas, embora ele também possa ser ‘modelado’ desde a infância a partir de exemplos e punições. É levando em conta esses fatores que os cientistas tentam entender o funcionamento do cérebro dos ‘classificados’ sociopatas. Estima-se que 4% no mundo apresente esse tipo de desvio de conduta, não sentindo culpa ou remorso por praticar tais atitudes ilícitas, muito pelo contrário, eles até sentem-se gratificados por isso. Esse é um exemplo clássico num comportamento corrupto. Para muitas pessoas o ato de trapacear, roubar, subornar ou tirar proveito de uma situação sem se importar que isso venha a prejudicar outras pessoas é uma atitude altamente reprovável, pelo menos para a grande maioria dos seres humanos. Contudo, existe quem as considere perfeitamente aceitáveis. Segundo os neurocientistas, as diferenças entre os julgamentos morais podem ser consequência de alterações ou lesões cerebrais, mas na maioria das vezes são estabelecidas com base nas experiências vividas na primeira infância. De acordo com o neurologista da faculdade de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, os comportamentos antissociais são resultado de três fatores: vulnerabilidade do cérebro, oportunidade e impunidade. E isso é totalmente contrário ao que sabemos sobre os humanos, afinal o ser humano possui um sentido natural e fisiológico de justiça que permeia as suas ações sociais e quando esse sistema é violado, ocorrem reações e emoções de segunda classe, como o nojo - quando ele é respeitado nos sentimos bem. Já nos casos de sociopatia, quando isso acontece esses indivíduos sentem-se gratificados com o ilícito cometido, eles fazem isso sem culpa ou remorso, é o que defende o neurocientista diretor do Instituto do Cérebro da PUC-RS. Isso cria a possibilidade de que talvez esse comportamento possa ser aplicado aos comportamentos corruptos.
Para entendermos a origem do mecanismo que colocou a corrupção no mesmo compartimento cerebral da dependência química é preciso olhar para trás, para o início da evolução humana, quando o homem ainda lutava com feras para sobreviver, e conhecer como isso moldou o cérebro. Para dar conta dos perigos, circuitos associados à busca por comida ou à rapidez na fuga fortaleceram-se. Neles, também eram processadas estratégias que garantissem a sobrevivência de modo mais fácil. Trapacear para ficar com a melhor parte da caça, por exemplo. Nessas mesmas áreas, abriga-se ainda o sistema de recompensa. É onde funciona a máquina que nos faz procurar prazer. Ele pode advir de ações diversas, incluindo do consumo de droga, da compra ou da sensação de ganhar dinheiro. Se for sem muito esforço, então, melhor ainda. Quanto mais o indivíduo se expõe a esses estímulos, mais o cérebro os associa a algo bom. Cria-se um ciclo em que a ação resulta em recompensa e a recompensa pede mais ação. Segundo o neurologista André Palmini, chefe do Serviço de Neurologia do Hospital São Lucas, da PUC-RS “A vontade se torna um hábito e o hábito reforça a vontade” - as transgressões sem punição vão ampliando as fronteiras no cérebro, deixando a periferia e acabam se incorporando a ele. E isso pode até ser comparado a uma dependência química e essas fronteiras começam a se abrir desde a infância. Depois que o cérebro aprende que ser corrupto é normal, fica muito difícil mudar.
Sabe-se que essas são regiões alimentadas pelo instinto e pelas emoções e não é por outra razão que reúnem o que se conhece como cérebro primitivo. O que diferencia a arquitetura cerebral humana da apresentada pelos animais é que, ao longo da evolução, o homem desenvolveu outra área igualmente importante, destinada a funcionar como um filtro do que é processado usando como base apenas os sentimentos. No córtex frontal, as reações primárias são submetidas a um juízo crítico e moral formado segundo as regras civilizatórias vigentes. Lá são moduladas por variáveis como o que é certo ou errado ou as consequências que podem surgir. Nos corruptos, assim como em quem mata para roubar, esse filtro não funciona. Por isso, eles são movidos pelo impulso, pela procura do próprio prazer e pela inconsequência. “São psicopatas”, afirma o neurologista professor da Universidade Federal de Minas, “Eles mostram-se insensíveis aos males que causam”.
Segundo a neurobiologia, para conter o desejo de corromper seria necessário que as engrenagens do córtex pré-frontal funcionassem de forma mais atuante. A maneira com que operam tem a ver com a genética, mas também com o ambiente. Isso quer dizer que uma sociedade menos tolerante à corrupção e meios eficazes de punição servem como moduladores importantes no fortalecimento desses filtros. “Se as pessoas aprendem que corromper não leva a consequências negativas e não é moralmente errado, o córtex não tentará inibir o comportamento”, explica o professor de Psicologia da University of Southern Califórnia, nos Estados Unidos.
O SER HUMANO É MOVIDO POR
• Por uma imposição da evolução, o ser humano criou mecanismos para buscar vantagens e sobreviver. Ter mais comida e melhor abrigo favorecem suas chances de viver.
• Um dos primeiros circuitos cerebrais desenvolvidos está associado a essas questões básicas. Também está relacionado à busca de prazer, processado no sistema de recompensa.
• Quanto mais o indivíduo se expõe a algo que lhe dá prazer, mais ativa o circuito. Ganhar vantagens por meio da corrupção pode ser um estímulo.
• Aos poucos, as sinapses (troca de informação entre os neurônios) nessa rede ficam mais numerosas e intensas. A vontade se torna um hábito e o hábito reforça a vontade.
Outros estudos mostram que alterações funcionais no cérebro, especialmente no lobo frontal, levam a comportamentos psicopatas. Esses indivíduos têm prejuízo da crítica social, ou seja, para eles é natural, normal cometer um ato ilícito, que pode ser desde suborno a um crime violento.
· A pessoa com esse tipo de disfunção não pensam duas vezes e tem certo prazer em enganar as outras pessoas, ela se acha mais esperta que os outros e ela não sofre com dilemas morais.
É possível afirmar que indivíduos com certos danos no lobo frontal julgam comportamentos que para pessoas normais são considerados como antissocial, incluindo a corrupção e até mesmo o assassinato, como moralmente permissíveis. Há ainda uma percentagem de pessoas sem lesões aparentes nessa parte do cérebro que age de forma semelhante. É quase certo que elas apresentam anormalidades subjacentes, e isso pode ser causado por defeito genético, condições ambientais, uso de drogas e estresse. Muitas pessoas têm ideia de que os psicopatas são essencialmente assassinos e violentos, mas eles podem ser políticos, empresários, qualquer um que tente enriquecer por meio de corrupção.
Os cientistas suspeitam que o comportamento corrupto possa ser causado por uma interação entre oportunidade, vulnerabilidade causada por características anatômicas e/ou funcionais do cérebro ainda misteriosas, e pela impunidade – eles pretendem investigar até que ponto os cérebros com alguma diferença atuam de forma diversa em certas situações.
Fonte e Sítios Consultados
http://brasil.elpais.com/brasil
http://istoe.com.br
https://www.scoopnest.com
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