A grande parte da população brasileira não tem a
verdadeira compreensão do que seja uma taxa de juros e isso pode ser sentido
claramente pelos professores universitários deste Brasil - se no ensino
médio isso já acontece, imagina então quando esses alunos chegam ao ensino
superior, inclusive na pós-graduação.
Outro fator preocupante foi perceber que muitos profissionais ligados a
finanças também desconhecem entendimentos de vários cálculos financeiros e isso acaba levando muitas
empresas a perderem lucratividade por ignorância de seus gestores.
Um exemplo clássico é o cartão de crédito: apesar
de toda mídia bater firme sobre os juros estratosféricos, ainda assim as
pessoas pagam o mínimo ou parcial. Mas qual o motivo a fazerem isso? Um dos
motivos está ligado a finanças comportamentais, outro é o total desconhecimento
dos juros composto.
Vejamos um exemplo de orçamento doméstico com uma
tabela do fluxo de pagamentos do cartão:
Saldo devedor = Saldo Inicial + Despesa –
Pagamentos + Total de Juros
Fluxo
pagamento do Cartão de Crédito
Obs.:
Taxa de juro mensal de 14% a.m
Pode-se notar um fato delicado no quadro acima - no
período de 12 meses, foi gasto o total de 18.650 reais e pago 14.500 reais.
Como houve muita distração, pagava-se de acordo com o próprio fluxo de caixa. E
veja que nele já estavam abatidos os 14.500 reais pagos no decorrer do período.
Uma coisa que pouca gente percebe, a não ser que esteja usando lupa, ou esteja
acostumada com as artimanhas dos “duendes banqueiros”, é a pequena taxa de
juro. Pequena só no corpo da letra, pois ela é bem significativa: 14% a.m.
Assim ela a responsável pela mágica da
multiplicação do saldo devedor.
Como podemos constatar, os juros se reproduzem de
forma similar a uma bactéria - esse fenômeno é chamado de juros compostos ou, como é popularmente conhecido, “juros sobre juros”. Como disse Einstein
“juros compostos é a força mais poderosa
do universo”. Do saldo devedor de 10.783.81,35 reais, os juros
representavam 6.633,81 reais. A lógica desse exemplo pode ser aplicada para o
uso indiscriminado do cheque especial.
Imagine a seguinte situação: com a taxa de 14% a.m.
sobre os 10.783.81,35 reais, em mais um ano (suponha que durante esse período não seja contraída nem paga dívida
nenhuma), ela teria de desembolsar a bagatela de:
Saldo devedor (t+12) = Saldo devedor (t) x (1 +
taxa)12
Saldo devedor (t+12) = 10.783,81 x (1,14)12
Saldo devedor (t+12) = R$ 51.955,38
Não é à toa que os bancos lucram tanto no país, uma
das razões é a má educação financeira, na qual se aplica a matemática
financeira como um todo, pois se as pessoas não conhecem juros compostos,
também não conhecem outros cálculos. Isto entra outra pesquisa que saiu em 06/07/2016 [2], na qual o Brasil é um dos piores
na qualidade de ensino matemático. Não adianta nada sermos bombardeados
diariamente sobre como deve ser gasto ou investido o dinheiro se a maioria das
pessoas não sabe nem calcular porcentagem. Isso é extremamente preocupante,
pois quem perde é a sociedade toda.
Não são só as pessoas que estão perdendo dinheiro,
mas as empresas também - outro problema que a falta de conhecimento em
matemática financeira causa é em empresas, vejam só este exemplo: uma empresa
que prestadora de serviços na área de controladoria, fazia sua cotações no seu
departamento de compras, mesmo com o procedimento correto, como avaliar o menor
preço, e a qualidade do produto, havia um pequeno problema: o comprador não levava em conta o prazo de
pagamento, só o custo do produto.
Exemplo:
Ao ver esta tabela, é possível concluir que o
comprador estava comprando do Fornecedor A. Para saber se as compras estavam
corretas, pediu-se ao departamento financeiro qual era a taxa que eles estavam
pagando com desconto de duplicatas (esta empresa não estava nada bem financeiramente): era em
torno de 3% a.m. a taxa de desconto. Após fazer um cálculo dos juros
economizados em relação ao prazo de pagamento conforme a tabela abaixo, assim
descontado do valor inicial do custo do produto, chegou-se a estes novos
valores:
Concluiu-se que o fornecedor mais viável era o B,
pois baseado nos juros economizados do custo financeiro, a empresa
economizaria. Este produto era o segundo em consumo pela empresa, por causa
deste erro a empresa perdeu em torno de R$ 35.000 em um ano.
Outro
exemplo clássico são os empréstimos realizados pelos bancos, que “maquiam”
as taxas de juros. As instituições financeiras começaram a divulgar uma taxa de
juros e a embutir uma série de custos no valor financiado. Assim, você ia tomar
o dinheiro e eles informavam que a taxa era de 2% ao mês, por exemplo, mas na hora
de liberar os recursos, em lugar dos R$
1.000,00 líquidos na conta para você pagar R$ 1.020,00 no final do mês, aparecia apenas RS 950,00 e informavam os R$
50,00 eram custos diversos (tarifas,
impostos, seguros etc.). Logo, a “taxa de juros” estava certa, mas o custo efetivo
total era bem maior do que o que dizia a “taxa de juros”, chegando a mais de
7,3% ao mês, neste caso hipotético (RS 950,00 comparados com RS 1.020,00).
O resultado disso é que a instituição financeira,
ao conhecer tal comportamento do consumidor, tem informação para administrar
melhor o preço do crédito, aumentando ou diminuindo sua margem.
Resumindo:
há três fatores decisivos para definir qual o “tamanho” das taxas de juros para
os tomadores:
§ Variedade
de oferta de recursos (concorrência);
§ Baixo
risco do banco em não receber os recursos de volta (baixa inadimplência);
§ Conhecimento
sobre empréstimos (cálculos matemáticos) e sobre funcionamento do sistema
financeiro (educação financeira).
No Brasil, somado à
nossa ignorância matemática ainda há o nosso sistema
"bizarro" tributário que faz surgir determinados fatos
difíceis de acreditar, como o IOF (imposto
sobre operações financeiras) ser maior do que os juros. Ele depende da taxa
de juros e do prazo em que você fizer a operação de empréstimo. A taxa do IOF
atualmente é de 1,10% sobre a operação. Vamos supor o seguinte: que você fique com
1 dia no limite da conta, (lembrando que
é muito normal as pessoas deixarem descobertas suas contas, não
pela falta de dinheiro, mas por esquecimento, eu mesmo já cometi várias vezes
este erro), sabendo que a taxa de juros é 7,6 % a.m., o juros pagos em 1
dia será de 0,24%, no qual é um valor menor que o IOF que é de 1,10%, ou seja,
você pagará mais imposto do que juros na primeira configuração!
O empréstimo das instituições financeiras
brasileiras é uma das mais claras encarnações do que diz a Bíblia no capítulo
22, versículo 7, de Provérbios: “O rico domina sobre o pobre, e
o que toma emprestado é servo do que empresta”.
É fácil constatar que o conhecimento é muito
importante para traçar uma linha divisória entre as pessoas que conseguem
aproveitar as oportunidades e aquelas que não sabem o que está acontecendo,
seja com a própria conta bancária – microeconomia
- seja com a economia nacional ou internacional - macroeconomia. Este
conhecimento é o processo pelo qual os indivíduos melhoram sua compreensão
sobre os produtos financeiros, seus conceitos e riscos, de maneira que possam
desenvolver habilidades e confiança necessários para a tomada de decisões
fundamentadas e com segurança, melhorando seu bem-estar financeiro.
Fonte
e Sítios Consultados
http://terracoeconomico.com.br/994-dos-brasileiros-nao-conhece-o-conceito-de-juros-compostos
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