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31 de março de 2017

Juros Compostos e a ignorância dos brasileiros sobre este tema



A grande parte da população brasileira não tem a verdadeira compreensão do que seja uma taxa de juros e isso pode ser sentido claramente pelos professores universitários deste Brasil - se no ensino médio isso já acontece, imagina então quando esses alunos chegam ao ensino superior, inclusive na pós-graduação. Outro fator preocupante foi perceber que muitos profissionais ligados a finanças também desconhecem entendimentos de vários cálculos financeiros e isso acaba levando muitas empresas a perderem lucratividade por ignorância de seus gestores.

Um exemplo clássico é o cartão de crédito: apesar de toda mídia bater firme sobre os juros estratosféricos, ainda assim as pessoas pagam o mínimo ou parcial. Mas qual o motivo a fazerem isso? Um dos motivos está ligado a finanças comportamentais, outro é o total desconhecimento dos juros composto.

Vejamos um exemplo de orçamento doméstico com uma tabela do fluxo de pagamentos do cartão:

Saldo devedor =  Saldo Inicial + Despesa – Pagamentos + Total de Juros

Fluxo pagamento do Cartão de Crédito

Obs.: Taxa de juro mensal de 14% a.m

Pode-se notar um fato delicado no quadro acima - no período de 12 meses, foi gasto o total de 18.650 reais e pago 14.500 reais. Como houve muita distração, pagava-se de acordo com o próprio fluxo de caixa. E veja que nele já estavam abatidos os 14.500 reais pagos no decorrer do período. Uma coisa que pouca gente percebe, a não ser que esteja usando lupa, ou esteja acostumada com as artimanhas dos “duendes banqueiros”, é a pequena taxa de juro. Pequena só no corpo da letra, pois ela é bem significativa: 14% a.m. Assim ela a responsável pela mágica da multiplicação do saldo devedor.



Como podemos constatar, os juros se reproduzem de forma similar a uma bactéria - esse fenômeno é chamado de juros compostos ou, como é popularmente conhecido, “juros sobre juros”. Como disse Einsteinjuros compostos é a força mais poderosa do universo”. Do saldo devedor de 10.783.81,35 reais, os juros representavam 6.633,81 reais. A lógica desse exemplo pode ser aplicada para o uso indiscriminado do cheque especial.

Imagine a seguinte situação: com a taxa de 14% a.m. sobre os 10.783.81,35 reais, em mais um ano (suponha que durante esse período não seja contraída nem paga dívida nenhuma), ela teria de desembolsar a bagatela de:

Saldo devedor (t+12) = Saldo devedor (t) x (1 + taxa)12

Saldo devedor (t+12) =  10.783,81 x (1,14)12

Saldo devedor (t+12) = R$ 51.955,38

Não é à toa que os bancos lucram tanto no país, uma das razões é a má educação financeira, na qual se aplica a matemática financeira como um todo, pois se as pessoas não conhecem juros compostos, também não conhecem outros cálculos. Isto entra outra pesquisa que saiu em 06/07/2016 [2], na qual o Brasil é um dos piores na qualidade de ensino matemático. Não adianta nada sermos bombardeados diariamente sobre como deve ser gasto ou investido o dinheiro se a maioria das pessoas não sabe nem calcular porcentagem. Isso é extremamente preocupante, pois quem perde é a sociedade toda.

Não são só as pessoas que estão perdendo dinheiro, mas as empresas também - outro problema que a falta de conhecimento em matemática financeira causa é em empresas, vejam só este exemplo: uma empresa que prestadora de serviços na área de controladoria, fazia sua cotações no seu departamento de compras, mesmo com o procedimento correto, como avaliar o menor preço, e a qualidade do produto, havia um pequeno problema: o comprador não levava em conta o prazo de pagamento, só o custo do produto.

Exemplo:



Ao ver esta tabela, é possível concluir que o comprador estava comprando do Fornecedor A. Para saber se as compras estavam corretas, pediu-se ao departamento financeiro qual era a taxa que eles estavam pagando com desconto de duplicatas (esta empresa não estava nada bem financeiramente): era em torno de 3% a.m. a taxa de desconto. Após fazer um cálculo dos juros economizados em relação ao prazo de pagamento conforme a tabela abaixo, assim descontado do valor inicial do custo do produto, chegou-se a estes novos valores:



Concluiu-se que o fornecedor mais viável era o B, pois baseado nos juros economizados do custo financeiro, a empresa economizaria. Este produto era o segundo em consumo pela empresa, por causa deste erro a empresa perdeu em torno de R$ 35.000 em um ano.

Outro exemplo clássico são os empréstimos realizados pelos bancos, que “maquiam” as taxas de juros. As instituições financeiras começaram a divulgar uma taxa de juros e a embutir uma série de custos no valor financiado. Assim, você ia tomar o dinheiro e eles informavam que a taxa era de 2% ao mês, por exemplo, mas na hora de liberar os recursos, em lugar dos R$ 1.000,00 líquidos na conta para você pagar R$ 1.020,00 no final do mês, aparecia apenas RS 950,00 e informavam os R$ 50,00 eram custos diversos (tarifas, impostos, seguros etc.). Logo, a “taxa de juros” estava certa, mas o custo efetivo total era bem maior do que o que dizia a “taxa de juros”, chegando a mais de 7,3% ao mês, neste caso hipotético (RS 950,00 comparados com RS 1.020,00).




O resultado disso é que a instituição financeira, ao conhecer tal comportamento do consumidor, tem informação para administrar melhor o preço do crédito, aumentando ou diminuindo sua margem.
Resumindo: há três fatores decisivos para definir qual o “tamanho” das taxas de juros para os tomadores:

§    Variedade de oferta de recursos (concorrência);
§ Baixo risco do banco em não receber os recursos de volta (baixa inadimplência);
§ Conhecimento sobre empréstimos (cálculos matemáticos) e sobre funcionamento do sistema financeiro (educação financeira).

    No Brasil, somado à nossa ignorância matemática ainda há o nosso sistema "bizarro" tributário que faz surgir determinados fatos difíceis de acreditar, como o IOF (imposto sobre operações financeiras) ser maior do que os juros. Ele depende da taxa de juros e do prazo em que você fizer a operação de empréstimo. A taxa do IOF atualmente é de 1,10% sobre a operação. Vamos supor o seguinte: que você fique com 1 dia no limite da conta, (lembrando que é muito normal as pessoas deixarem descobertas suas contas,   não pela falta de dinheiro, mas por esquecimento, eu mesmo já cometi várias vezes este erro), sabendo que a taxa de juros é 7,6 % a.m., o juros pagos em 1 dia será de 0,24%, no qual é um valor menor que o IOF que é de 1,10%, ou seja, você pagará mais imposto do que juros na primeira configuração!

  O empréstimo das instituições financeiras brasileiras é uma das mais claras encarnações do que diz a Bíblia no capítulo 22, versículo 7, de Provérbios: “O rico domina sobre o pobre, e o que toma emprestado é servo do que empresta”.

  É fácil constatar que o conhecimento é muito importante para traçar uma linha divisória entre as pessoas que conseguem aproveitar as oportunidades e aquelas que não sabem o que está acontecendo, seja com a própria conta bancária – microeconomia - seja com a economia nacional ou internacional - macroeconomia. Este conhecimento é o processo pelo qual os indivíduos melhoram sua compreensão sobre os produtos financeiros, seus conceitos e riscos, de maneira que possam desenvolver habilidades e confiança necessários para a tomada de decisões fundamentadas e com segurança, melhorando seu bem-estar financeiro.
















Fonte e Sítios Consultados


http://terracoeconomico.com.br/994-dos-brasileiros-nao-conhece-o-conceito-de-juros-compostos


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