O Brasil já vivenciou um longo período de
industrialização e isso aconteceu no período ano de 1930 até meados de 1980 -
sabemos que o Estado teve um papel
determinante para a formação dessa economia industrial. As empresas públicas de maior expressão foram criadas no governo de Getúlio Vargas – como foi o caso da Companhia
Siderúrgica Nacional (CSN, criada em
1940), a Companhia Vale do Rio Doce
(1942) e mais tarde a Petrobras
(1953). Naquele tempo, praticamente todos os setores-chave da economia eram controlados pelo Estado – a história
mostra que o setor bancário brasileiro contou com uma expressiva participação
do Estado, com a Caixa Econômica Federal
e o Banco do Brasil. Com a ditadura
militar aqui no Brasil, esse modelo só aumentou – foram criadas centenas de
novas estatais que atuavam muito além dos setores estratégicos.
A partir dos anos 90 essa tendência começou
a cair em desuso e o liberalismo
econômico ganhou uma dimensão maior e foi batizado de neoliberalismo - sabe-se que essa prática econômica prega,
sobretudo a não intervenção do Estado na
economia, exceto em setores absolutamente essenciais para o bem público. Com
isso, a ideia é que o Estado abandone ou
abdique da sua participação em qualquer área que não seja segurança, educação, saúde e assistência
social. O grande incentivador desse modelo econômico foi o fracasso econômico que o Brasil viveu
na década de 1980 – onde a hiperinflação,
a dívida externa crescente e a estagnação econômica dominaram toda a economia
brasileira.
Tudo começou no governo do Presidente Fernando Collor, este foi o primeiro Presidente a
promover um programa de privatizações no Estado
brasileiro – ele foi batizado de Programa
Nacional de Desestatização, o plano
de Collor pretendia privatizar 68 empresas públicas brasileiras. Porém,
somente 18 delas chegaram a passar para o setor privado ao longo de seu
governo, com destaque para a privatização de boa parte das empresas siderúrgicas - aquelas que fabricam aços e ferros
fundidos. Porém, houve grande polêmica na estatização da Usiminas, afinal, tratava-se de umas empresas públicas mais lucrativas do país na época – e o maior
beneficiário da privatização de siderúrgicas foi o grupo Gerdau. Depois do período do impeachment de Collor,
o governo Itamar Franco, continuou com o programa de
privatizações – com destaque para a Companhia
Siderúrgica Nacional e a Embraer.
Em 1995, durante o governo de Fernando Henrique o programa de privatizações ganhou
mais força, foi quando se criou o Conselho
Nacional de Desestatização, o que acelerou muito o processo de privatização
de empresas públicas no país. As privatizações com maior destaque foram: Vale do Rio Doce (Vale), o sistema Telebrás
(incluindo a Embratel) e 27 empresas de telefonia, e a Eletropaulo (estatal de energia elétrica) do estado de São Paulo. E
não parou por aí: a Embratel foi vendida nessa época; vários bancos
estaduais também passaram para mãos privadas; boa parte do setor de energia
também foi ‘leiloado’ para grupos
privados (como a distribuidora carioca Light).
E com isso, houve a necessidade de se criar as agências reguladoras,
que passaram a cuidar das regulações das atividades de diversos setores
estratégicos do país. A Anatel, por exemplo, é quem regula os serviços de
telecomunicações no Brasil. É claro que nem tudo foi um mar de rosas, houve muitas
manifestações públicas contra os
processos de privatizações em curso. As críticas surgiam tanto pelas
privatizações em si, que segundo alguns não deveriam jamais ter ocorrido,
quanto pelas condições em que foram conduzidas pelo governo, consideradas
extremamente prejudiciais. Até hoje muito se fala que a Vale do Rio Doce foi vendida “a preço de banana”. O valor de US$
3,3 bilhões desembolsados por um consórcio privado seria muito inferior ao seu
valor de mercado na época. Outra crítica levantada contra as privatizações do governo Fernando Henrique Cardoso foi à
permissão do uso das chamadas “moedas
podres” no processo de compra das estatais, além da atuação do BNDES, um banco público que financiou boa parte das compras.
No Governo
do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, (2003) - houve continuidade
do programa de estatização do FHC, porém, com uma ênfase diferente do seu
antecessor. Enquanto FHC vendia estatais, Lula focou em fazer concessões à
iniciativa privada. A diferença fundamental entre os dois processos é que
as privatizações têm um caráter definitivo:
- Empresas privatizadas são leiloadas,
vendidas e nunca mais voltarão ao controle do Estado.
- As concessões, por sua vez, se
caracterizam pela transferência temporária da execução de certas
atividades do Estado para a
iniciativa privada, sem passar a titularidade desses ativos para os grupos
privados.
Ainda no governo Lula
priorizou-se o programa de concessões
de rodovias e hidrelétricas, além de privatizar os bancos estaduais do
Ceará e do Maranhão. O modelo também deu preferência às empresas que
fizessem as menores propostas de tarifas nas licitações, de forma que os
usuários das rodovias ou consumidores dos serviços das hidrelétricas sentissem
menos no bolso as concessões realizadas. Esse modelo, porém, é criticado.
No governo da Presidente
Dilma não aconteceram mudanças naquele modelo ‘implementado’ no governo Lula,
e com isso, foram estendidas concessões para outros setores importantes, como
os aeroportos. Mas a situação que mais
chamou atenção no primeiro governo Dilma foi o leilão do Campo de Libra, realizado em 2013. Libra é o
primeiro campo de exploração do petróleo do pré-sal brasileiro. Nesse leilão, quatro empresas petrolíferas
estrangeiras formaram um consórcio com a Petrobras,
dividindo entre si o direito de explorar esses recursos. A presidente Dilma, na
época, afirmou que o regime de partilha adotado para o campo de Libra não
representa uma privatização, já que cerca de 85% da renda produzida pelo campo ficará nas mãos da União e da
Petrobras.
Após o impeachment
da Presidente Dilma, começou o governo
Michel Temer e este já sinalizou interesse em dar continuidade ao
programa de concessões chamado Programa
de Parcerias de Investimento (PPI) que tem como objetivos
destravar o programa de concessões, removendo o que chama de “entraves
burocráticos e excessos de interferência do Estado”. Em seu primeiro
discurso como presidente interino, o presidente
Temer afirmou que o Estado
deve se unir à iniciativa privada e se ater às áreas onde ele considera
essencial a presença estatal (educação, saúde e segurança). Além disso, há
acusações de que o governo realmente tentará privatizar empresas estatais.
Isso nos leva até aquela já conhecida discussão: privatizar realmente rende bons resultados
para o país? Ou o Estado
deveria manter o controle sobre áreas estratégicas da economia, como os serviços de água, luz, petróleo, mineração,
entre outros? Vamos verificar
os argumentos de ambos os lados: os que
defendem mais privatizações e os que defendem
o fim desse processo e até mesmo a reestatização de várias empresas.
Sim a
privatização - segundo os defensores
da privatização, essa prática é necessária para que o Estado brasileiro consiga sanar suas
contas e aperfeiçoe sua atuação, focando-se em áreas em que realmente sua
presença é importante. A necessidade de privatizar boa parte do patrimônio
público advém do reconhecimento de que o Estado não é capaz de gerir tudo –
muito pelo contrário, é bastante ineficiente em gerir a maior parte de seus
recursos, seja pela falta de incentivos que valorizam o mérito, seja pelas
muitas ingerências políticas nas atividades dessas empresas. A iniciativa
privada, por sua vez, seria muito mais eficiente na gestão das empresas e dos
recursos. Isso se comprova, segundo os defensores das privatizações, pelos bons
resultados obtidos em privatizações feitas nas últimas décadas: o serviço
de telefonia teve um salto de qualidade após a privatização da Telebrás e a entrada de investidores
privados no mercado; a energia elétrica foi universalizada nos últimos anos,
após várias privatizações; várias empresas privatizadas que antes eram deficitárias
passaram a registrar lucros (casos da Vale
e da CSN); e muitas ex-empresas
públicas geram em impostos mais receita à União do que quando estavam sob
controle do Estado brasileiro. Por fim,
os favoráveis às privatizações afirmam que as estatais são fonte de corrupção e
têm seu desempenho prejudicado por negociatas políticas.
Não a
privatização - a privatização do Estado brasileiro é vista com
maus olhos porque seriam impostas pelos Estados Unidos e instituições financeiras internacionais como o FMI e o Banco Mundial, todos orientados ideologicamente a favor do
neoliberalismo e da economia de mercado. O pressuposto fundamental que sustenta
a ideia de privatizações é que o mercado é mais eficiente do que o Estado na
gestão de seus recursos. Isso é negado por grupos contrários às privatizações,
como os desenvolvimentistas. Além de considerar um mito a ideia de que a
iniciativa privada é mais eficiente do que o Estado e que por isso deveria
herdar a maior parte do patrimônio público brasileiro, os críticos das
privatizações apontam que as privatizações feitas na década de 90 foram mal
conduzidas, significando na prática uma “doação” de empresas públicas a grupos
privados – normalmente grupos “amigos” dos governantes que conduzem as
privatizações, acusam-se –gerando contrapartidas muito baixas para o
Estado brasileiro. As privatizações de FHC renderam algo em torno de R$78
bilhões, enquanto entre 1994 e 1998 a dívida pública brasileira cresceu de
US$60 bi para US$245 bi. Muitas das vendas também foram subsidiadas com
dinheiro público, em forma de financiamentos do BNDES, prática também muito criticada,
ou seja, existem acusações graves de corrupção envolvendo os processos de privatização.
Por fim, a defesa feita contra as
privatizações é que o Estado não pode abdicar da participação em setores da
economia que são de interesse público fundamental, sob o risco de privar
a população carente de receber recursos básicos, como água, energia elétrica,
entre outros.
Fonte
e Sítios Consultados
http://www.politize.com.br
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