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24 de outubro de 2016

Imagens da Organização - o Medo do Desconhecido




Este capítulo sete do Livro Imagens da organização é de grande utilidade para que todos aqueles interessados em administração possam compreender o subconsciente e os seus reflexos nas organizações - o autor neste capítulo cita Sócrates e seu discípulo Platão por meio da alegoria do “mito da caverna” para ilustrar como os seres humanos podem se tornar prisioneiros de seus medos e incertezas; como podem preferir viver num ambiente hostil e não se lançar ao desconhecido, que consideram mais assustador do que a realidade dura com a qual estão acostumados.

O pensamento é que se lhes fosse permitido sair e conhecer novos horizontes eles não aceitariam e, até consideraram maluco um dos membros que ousou sair e perceber que muito mais de vida havia fora da caverna do que eles poderiam imaginar e que aquelas condições eram sub-humanas, e eles poderiam viver de forma prazerosa, porém os que estavam na caverna não acreditaram e consideraram um absurdo aqueles relatos e hostilizaram aquele que antes era um parceiro.

Se alguém tivesse a ousadia de sair não poderia mais viver entre eles, pois, não conseguiria suportar aquela prisão sabendo do que poderia desfrutar lá fora, teria que escolher entre se aventurar e aproveitar o sabor do conhecimento com a liberdade que isso o trouxe ou então, voltar a viver prisioneiro de seus medos e apenas sonhar com o que poderia ter vivido do lado de fora da caverna. A simbologia dessa escolha nos mostra a filosofia, que é o amor ao saber, a procura inconstante por respostas que nunca são totalmente respondidas.



Estas são as escolhas que trazem renúncias e as renúncias que possibilitam vitórias. A diferença entre o ilusório, as aparências e o que é real, o conhecimento da verdade. Muitos preferem viver na ignorância para não se expor a situações das quais não se acham preparados para enfrentar. Nas organizações não é diferente, muitos indivíduos vivem das aparências, de usar máscaras para se proteger de suas reais atitudes e pensamentos. Deixam de galgar novos postos, novos cargos e novos horizontes por medo, sempre o medo do desconhecido falando mais alto do que a racionalidade do seu ser.

Gareth chega a citar o exemplo da indústria norte-americana que ficou prisioneira do seu próprio sucesso, não percebendo que as necessidades dos consumidores sempre mudam com o passar do tempo e isso fez com que os japoneses crescessem exatamente onde as empresas americanas não conseguiram enxergar, por causa da cegueira causada pelo sucesso.

Outro fato citado é quando Kennedy autorizou a mal fadada invasão a Cuba, que foi desde o seu princípio um erro, porém ninguém ousou ir a fundo e enxergar as fragilidades daqueles planos porque consideravam seus inventores acima de qualquer suspeita e isso fez com que fossem desconsideradas possíveis falhas.

Esse é o problema de um pensamento de grupo, onde todos enxergam da mesma forma e não percebem as nuances dos problemas, cabendo a alguém de fora lhes mostrar o quão equivocados pode estar. É o mesmo sentimento que um escritor tem de sua obra, ele a escreve, mas não percebe os erros de ortografia, gramática e etc. – e isso só acontece porque seus olhos leem o que está no subconsciente e não o que foi impresso, sendo imprescindível então, delegar essa revisão ortográfica a alguém que domine a língua. Não estamos dizendo que um escritor não saiba escrever corretamente, só estamos alertando que ele é passível de erros como qualquer outro ser humano, ainda mais quando a sua mente muitas vezes o condiciona a enxergar da forma que ele pensa e não da forma que foi escrita.

Ainda segundo Freud, o inconsciente se revela na medida em que reprimimos nossos desejos interiores e pensamentos secretos quando tentamos nos adaptar a vida em sociedade e seguir suas ideologias. Dizem que Freud e Jung acreditavam que o passado influenciava o presente através do inconsciente, e assim buscaram meios para que os seres humanos se liberassem, através de diferentes métodos de autocompreensão que indicam como nas suas trocas com o mundo exterior estes estão, na verdade, encarando dimensões ocultas deles mesmos.

O autor Gareth, ainda cita as neuroses de Taylor com a busca da forma perfeita de realizar qualquer atividade, desde uma simples brincadeira até chegar aos princípios da Administração Científica, da repressão da sexualidade que nos é imposta e a influência maléfica que isso causa. Cita também o historiador francês Michel Foucault que nos fala que o domínio e controle do corpo são fundamentais para controle da vida política e social.

Enfatiza como Frederico, o grande, transforma um grupo de bandidos em uma armada extremamente disciplinada. Já Becker nos diz que os seres humanos passam a vida toda negando que são mortais, remetendo para o inconsciente aquilo que considera mórbido. Essa ilusão que somos mais poderosos do que realmente somos é que se transforma em mola propulsora para encarar a vida e, em outros momentos, nos acorrentam.

Todas essas influências são levadas aos diversos meios em que vivemos: família, clubes e, também, as organizações onde trabalhamos. O Instituto Tavistock, representado aqui por Wilfred Bion, mostrou que grupos frequentemente regridem a padrões de comportamento infantil para se protegerem de aspectos desconfortáveis do mundo real. Adotando um dos três padrões de resposta: dependência; líder; emparelhamento. Também é citada a dependência do grupo em uma figura messiânica, salvadora, fuga e luta: a projeção dos seus medos em um inimigo imaginário (paranoia que não deixa enxergar com clareza as reais necessidades de agir e como agir).

Então chegamos até os dias atuais e as organizações modernas com suas lutas internas pela selvageria da competição existente - que se transformam em impulsos destrutivos capazes de se desencadear a partir do interior e criam uma cultura permeada de sadismo. A inveja de seus companheiros pode levar a um bloqueio na aceitação do sucesso deles, por temer não ser capaz de alcançar o mesmo sucesso. Este processo oculto pode minar a capacidade de desenvolver o espírito cooperativo do grupo. Segundo Winnicott criamos fetiches para nos dar conforto e segurança. Daí porque somos tão resistentes à mudança.

Morgan ainda cita Jung, Robert Denhardt e Weber para nos falar das armadilhas do subconsciente humano. Jung criou a interação dos contrários, esquema utilizado por Ian Mitroff e outros para analisar estilos gerenciais e de tomada de decisão e para desenvolver abordagens dialéticas no planejamento e na tomada de decisão que tentava conciliar os pontos de vista rivais. O mesmo esquema também foi utilizado por Ingalls como fundamento para uma ‘análise junguiana’ do uso e direção da energia humana em organizações e por Myers e Briggs para o desenvolvimento de um teste de personalidade que apresenta inúmeras aplicações gerenciais, dentre outras utilidades.



O fato é que sempre buscamos no passado uma inspiração para viver o presente - conforme Ian Mitroff disse, somos todos primitivos de coração, reproduzindo relações arquetípicas para dar sentido aos dilemas fundamentais da vida. Se para os filósofos a liberdade é a visão do conhecimento, para os psicanalistas a liberdade é o conhecimento do inconsciente para criar um mundo melhor e interagir de forma mais completa com o ambiente e transformá-lo em algo mais agradável e seguro aos nossos olhos.

Encerramos este com o pensamento de que talvez a filosofia não nos traga respostas conclusivas sobre as metáforas do inconsciente nas organizações, assim como também não nos traz explicações claras e nem controle sobre esse aspecto do ser humano tão presente e tão insondável – o melhor então é tentar conhecer mais esses aspectos no sentido de não tornarmos as organizações cegas.













Fonte e Sítios Consultados

Morgan, Gareth,  Imagens da Organização, Editora Atlas S. A. São Paulo, 1996

http://celiabuarque.blogspot.com.br


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