Este
capítulo sete do Livro Imagens da organização é de
grande utilidade para que todos aqueles interessados em administração possam
compreender o subconsciente e os seus reflexos nas organizações - o autor neste
capítulo cita Sócrates e seu
discípulo Platão por meio da
alegoria do “mito da caverna” para
ilustrar como os seres humanos podem se tornar prisioneiros de seus medos e
incertezas; como podem preferir viver num ambiente hostil e não se lançar ao
desconhecido, que consideram mais assustador do que a realidade dura com a qual
estão acostumados.
O
pensamento é que se lhes fosse permitido sair e conhecer novos horizontes eles
não aceitariam e, até consideraram maluco um dos membros que ousou sair e
perceber que muito mais de vida havia fora da caverna do que eles poderiam
imaginar e que aquelas condições eram sub-humanas, e eles poderiam viver de
forma prazerosa, porém os que estavam na caverna não acreditaram e consideraram
um absurdo aqueles relatos e hostilizaram aquele que antes era um parceiro.
Se alguém
tivesse a ousadia de sair não poderia mais viver entre eles, pois, não
conseguiria suportar aquela prisão sabendo do que poderia desfrutar lá fora,
teria que escolher entre se aventurar e aproveitar o sabor do conhecimento com
a liberdade que isso o trouxe ou então, voltar a viver prisioneiro de seus
medos e apenas sonhar com o que poderia ter vivido do lado de fora da caverna.
A simbologia dessa escolha nos mostra a filosofia, que é o amor ao saber, a
procura inconstante por respostas que nunca são totalmente respondidas.
Estas são
as escolhas que trazem renúncias e as renúncias que possibilitam vitórias. A
diferença entre o ilusório, as aparências e o que é real, o conhecimento da
verdade. Muitos preferem viver na ignorância para não se expor a situações das
quais não se acham preparados para enfrentar. Nas organizações não é diferente,
muitos indivíduos vivem das aparências, de usar máscaras para se proteger de
suas reais atitudes e pensamentos. Deixam de galgar novos postos, novos cargos
e novos horizontes por medo, sempre o medo do desconhecido falando mais alto do
que a racionalidade do seu ser.
Gareth chega
a citar o exemplo da indústria norte-americana que ficou prisioneira do seu
próprio sucesso, não percebendo que as necessidades dos consumidores sempre mudam
com o passar do tempo e isso fez com que os japoneses crescessem exatamente
onde as empresas americanas não conseguiram enxergar, por causa da cegueira
causada pelo sucesso.
Outro
fato citado é quando Kennedy autorizou a mal fadada invasão a Cuba, que foi
desde o seu princípio um erro, porém ninguém ousou ir a fundo e enxergar as
fragilidades daqueles planos porque consideravam seus inventores acima de
qualquer suspeita e isso fez com que fossem desconsideradas possíveis falhas.
Esse é o
problema de um pensamento de grupo, onde todos enxergam da mesma forma e não percebem
as nuances dos problemas, cabendo a alguém de fora lhes mostrar o quão
equivocados pode estar. É o mesmo sentimento que um escritor tem de sua obra,
ele a escreve, mas não percebe os erros de ortografia, gramática e etc. – e
isso só acontece porque seus olhos leem o que está no subconsciente e não o que
foi impresso, sendo imprescindível então, delegar essa revisão ortográfica a
alguém que domine a língua. Não estamos dizendo que um escritor não saiba
escrever corretamente, só estamos alertando que ele é passível de erros como
qualquer outro ser humano, ainda mais quando a sua mente muitas vezes o
condiciona a enxergar da forma que ele pensa e não da forma que foi escrita.
Ainda segundo
Freud, o inconsciente se revela na medida em que reprimimos nossos desejos
interiores e pensamentos secretos quando tentamos nos adaptar a vida em
sociedade e seguir suas ideologias. Dizem que Freud e Jung acreditavam
que o passado influenciava o presente através do inconsciente, e assim buscaram
meios para que os seres humanos se liberassem, através de diferentes métodos de
autocompreensão que indicam como nas
suas trocas com o mundo exterior estes estão, na verdade, encarando dimensões
ocultas deles mesmos.
O autor Gareth,
ainda cita as neuroses de Taylor com
a busca da forma perfeita de realizar qualquer atividade, desde uma simples
brincadeira até chegar aos princípios da Administração Científica, da repressão
da sexualidade que nos é imposta e a influência maléfica que isso causa. Cita
também o historiador francês Michel
Foucault que nos fala que o domínio e controle do corpo são fundamentais
para controle da vida política e social.
Enfatiza
como Frederico, o grande, transforma um grupo de bandidos em uma armada
extremamente disciplinada. Já Becker
nos diz que os seres humanos passam a vida toda negando que são mortais,
remetendo para o inconsciente aquilo que considera mórbido. Essa ilusão que
somos mais poderosos do que realmente somos é que se transforma em mola
propulsora para encarar a vida e, em outros momentos, nos acorrentam.
Todas essas
influências são levadas aos diversos meios em que vivemos: família, clubes e,
também, as organizações onde trabalhamos. O Instituto Tavistock, representado aqui por Wilfred Bion, mostrou que grupos frequentemente regridem a padrões
de comportamento infantil para se protegerem de aspectos desconfortáveis do
mundo real. Adotando um dos três padrões de resposta: dependência; líder;
emparelhamento. Também é citada a dependência do grupo em uma figura messiânica,
salvadora, fuga e luta: a projeção dos seus medos em um inimigo imaginário (paranoia que não deixa enxergar com clareza
as reais necessidades de agir e como agir).
Então
chegamos até os dias atuais e as organizações modernas com suas lutas internas pela
selvageria da competição existente - que se transformam em impulsos destrutivos
capazes de se desencadear a partir do interior e criam uma cultura permeada de
sadismo. A inveja de seus companheiros pode levar a um bloqueio na aceitação do
sucesso deles, por temer não ser capaz de alcançar o mesmo sucesso. Este
processo oculto pode minar a capacidade de desenvolver o espírito cooperativo
do grupo. Segundo Winnicott criamos
fetiches para nos dar conforto e segurança. Daí porque somos tão resistentes à
mudança.
Morgan ainda
cita Jung, Robert Denhardt e Weber
para nos falar das armadilhas do subconsciente humano. Jung criou a interação
dos contrários, esquema utilizado por Ian
Mitroff e outros para analisar estilos gerenciais e de tomada de decisão e
para desenvolver abordagens dialéticas no planejamento e na tomada de decisão
que tentava conciliar os pontos de vista rivais. O mesmo esquema também foi
utilizado por Ingalls como fundamento
para uma ‘análise junguiana’ do uso e
direção da energia humana em organizações e por Myers e Briggs para o
desenvolvimento de um teste de personalidade que apresenta inúmeras aplicações
gerenciais, dentre outras utilidades.
O fato é
que sempre buscamos no passado uma inspiração para viver o presente - conforme Ian Mitroff disse, somos todos
primitivos de coração, reproduzindo relações arquetípicas para dar sentido aos
dilemas fundamentais da vida. Se para os filósofos a liberdade é a visão do
conhecimento, para os psicanalistas a liberdade é o conhecimento do
inconsciente para criar um mundo melhor e interagir de forma mais completa com
o ambiente e transformá-lo em algo mais agradável e seguro aos nossos olhos.
Encerramos
este com o pensamento de que talvez a filosofia não nos traga respostas
conclusivas sobre as metáforas do inconsciente nas organizações, assim como
também não nos traz explicações claras e nem controle sobre esse aspecto do ser
humano tão presente e tão insondável – o melhor então é tentar conhecer mais
esses aspectos no sentido de não tornarmos as organizações cegas.
Fonte e Sítios Consultados
Morgan, Gareth, Imagens da Organização, Editora Atlas S. A. São Paulo, 1996
http://celiabuarque.blogspot.com.br
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