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10 de janeiro de 2016

As redes sociais são uma armadilha



Vamos falar sobre este mundo do século 21 e das suas inúmeras evoluções instantâneas que acabaram trazendo essa forma atual de vida - quase que instantânea! Afinal, estamos vivendo cada vez mais aparelhados com iPhones, tablets, notebooks, etc., - e será que o abuso desse contato pelas redes sociais já não tomou por demais o lugar do contato físico das pessoas? Será que essa vida digital não é marcada pela ausência de comprometimento? E ainda, será que a razão dessa febre das comunicações digitais não é para disfarçar aquele antigo medo humano da solidão?

As perguntas acima buscam elucidar características das relações atuais e avaliar a fragilidade dos laços humanos, afinal, muitas das nossas relações estão se misturando e se condensando com laços momentâneos, frágeis e volúveis. Num mundo cada vez mais dinâmico, fluído e veloz. Seja real ou virtual.

De acordo com o sociólogo polonês Zygmunt Bauman, possuidor de uma obra literária povoada por ideias sobre as conexões sociais da nossa pós-modernidade - nos seus estudos é possível refletirmos sobre as angústias que reinam nos sentimentos humanos, naquela emoção despertada pela pressa de encontrar o(a) parceiro(a) perfeito(a) que sempre é mantida como uma meta ideal e nunca como realidade concreta.


“Viver entre uma multidão de valores, normas e estilos de vida em competição, sem uma garantia firme e confiável de estarmos certos é perigoso e cobra um alto preço psicológico”.

Para Bauman, os relacionamentos a dois fazem parte desse cenário social, com as regras do jogo estabelecidas pela sociedade global e nada, segundo ele, pode fugir deste complexo panorama - do fenômeno conhecido como globalização. E segundo o autor, que é famoso por suas agudas pesquisas sobre os vínculos entre os tempos modernos e o frenético consumo da era pós-moderna, ele afirma que a fluidez dos vínculos, que marca a sociedade contemporânea, encontra-se inevitavelmente inserida nas próprias características da modernidade, discussão esta que está perfeitamente retratada nas primeiras obras do autor. É impossível fugir das consequências da globalização, com suas vertiginosas ondas de informação e de novas ideias. Tudo ocorre com intensa velocidade, o que também se reflete nas relações entre as pessoas.

“Os adolescentes equipados com confessionários eletrônicos portáteis são apenas aprendizes treinando e treinados na arte de viver numa sociedade confessional – uma sociedade notória por eliminar a fronteira que antes separava o privado e o público, por transformar o ato de expor publicamente o privado numa virtude e num dever público (…)”.


Acompanhe essa entrevista de Zygmunt Bauman, reconhecido por ser uma voz dos menos favorecidos, esse sociólogo denuncia a desigualdade e a queda da classe média e avisa aos indignados que seu experimento pode ter vida curta e que as redes sociais são uma armadilha.


- Você vê a desigualdade como uma “metástase”. A democracia está em perigo?

Bauman. O que está acontecendo agora, o que podemos chamar de crise da democracia, é o colapso da confiança. A crença de que os líderes não só são corruptos ou estúpidos, mas também incapazes. Para atuar, é necessário poder: ser capaz de fazer coisas; e política: a habilidade de decidir quais são as coisas que têm ser feitas. A questão é que esse casamento entre poder e política nas mãos do Estado-nação acabou. O poder se globalizou, mas as políticas são tão locais quanto antes. A política tem as mãos cortadas. As pessoas já não acreditam no sistema democrático porque ele não cumpre suas promessas. É o que está evidenciando, por exemplo, a crise de migração. O fenômeno é global, mas atuamos em termos paroquianos. As instituições democráticas não foram estruturadas para conduzir situações de interdependência. A crise contemporânea da democracia é uma crise das instituições democráticas.



- Para que lado tende o pêndulo que oscila entre liberdade e segurança?

Bauman. São dois valores extremamente difíceis de conciliar. Para ter mais segurança é preciso renunciar a certa liberdade, se você quer mais liberdade tem que renunciar à segurança. Esse dilema vai continuar para sempre. Há 40 anos, achamos que a liberdade tinha triunfado e que estávamos em meio a uma orgia consumista. Tudo parecia possível mediante a concessão de crédito: se você quer uma casa, um carro... pode pagar depois. Foi um despertar muito amargo o de 2008, quando o crédito fácil acabou. A catástrofe que veio o colapso social foi para a classe média, que foi arrastada rapidamente ao que chamamos de precariat (termo que substitui, ao mesmo tempo, proletariado e classe média). Essa é a categoria dos que vivem em uma precariedade contínua: não saber se suas empresas vão se fundir ou comprar outras, ou se vão ficar desempregados, não saber se o que custou tanto esforço lhes pertence... O conflito, o antagonismo, já não é entre classes, mas de cada pessoa com a sociedade. Não é só uma falta de segurança, também é uma falta de liberdade.



- Você afirma que a ideia de progresso é um mito. Por que, no passado, as pessoas acreditavam em um futuro melhor e agora não?

Bauman.  Estamos em um estado de interregno, entre uma etapa em que tínhamos certezas e outra em que a velha forma de atuar já não funciona. Não sabemos o que vai a substituir isso. As certezas foram abolidas. Não sou capaz de profetizar. Estamos experimentando novas formas de fazer coisas. A Espanha foi um exemplo com aquela famosa iniciativa de maio (o 15-M), em que essa gente tomou as praças, discutindo, tratando de substituir os procedimentos parlamentares por algum tipo de democracia direta. Isso provou ter vida curta. As políticas de austeridade vão continuar, não podiam pará-las, mas podem ser relativamente efetivos em introduzir novas formas de fazer as coisas.



- Você sustenta que o movimento dos indignados “sabe como preparar o terreno, mas não como construir algo sólido”.

Bauman. O povo esqueceu suas diferenças por um tempo, reunido na praça por um propósito comum. Se a razão é negativa, como se indispor com alguém, as possibilidades de êxito são mais altas. De certa forma, foi uma explosão de solidariedade, mas as explosões são muito potentes e muito breves.



- E você também lamenta que, por sua natureza “arco íris”, o movimento não possa estabelecer uma liderança sólida.

Bauman. Os líderes são tipos duros, que têm ideias e ideologias, o que faria desaparecer a visibilidade e a esperança de unidade. Precisamente porque não tem líderes o movimento pode sobreviver. Mas precisamente porque não tem líderes não podem transformar sua unidade em uma ação prática.



- As redes sociais mudaram a forma como as pessoas protestam e a exigência de transparência. Você é um cético sobre esse “ativismo de sofá” e ressalta que a Internet também nos entorpece com entretenimento barato. Em vez de um instrumento revolucionário, como alguns pensam, as redes sociais são o novo ópio do povo?

Bauman. A questão da identidade foi transformada de algo preestabelecido em uma tarefa: você tem que criar a sua própria comunidade. Mas não se cria uma comunidade, você tem uma ou não; o que as redes sociais podem gerar é um substituto. A diferença entre a comunidade e a rede é que você pertence à comunidade, mas a rede pertence a você. É possível adicionar e deletar amigos, e controlar as pessoas com quem você se relaciona. Isso faz com que os indivíduos se sintam um pouco melhor, porque a solidão é a grande ameaça nesses tempos individualistas. Mas, nas redes, é tão fácil adicionar e deletar amigos que as habilidades sociais não são necessárias. Elas são desenvolvidas na rua, ou no trabalho, ao encontrar gente com quem se precisa ter uma interação razoável. Aí você tem que enfrentar as dificuldades, se envolver em um diálogo. O papa Francisco, que é um grande homem, ao ser eleito, deu sua primeira entrevista a Eugenio Scalfari, um jornalista italiano que é um ateu autoproclamado. Foi um sinal: o diálogo real não é falar com gente que pensa igual a você. As redes sociais não ensinam a dialogar porque é muito fácil evitar a controvérsia… Muita gente as usa não para unir, não para ampliar seus horizontes, mas ao contrário, para se fechar no que eu chamo de zonas de conforto, onde o único som que escutam é o eco de suas próprias vozes, onde o único que veem são os reflexos de suas próprias caras. As redes são muito úteis, oferecem serviços muito prazerosos, mas elas são uma armadilha.


Zygmunt Bauman possui uma vasta bibliografia com muitas obras publicadas aqui no Brasil dentre as quais Amor Líquido, Globalização: as Consequências Humanas e Vidas Desperdiçadas. Bauman tornou-se conhecido por suas análises das ligações entre a modernidade e o holocausto, e o consumismo pós-moderno.














Fonte e Sítios Consultados

http://brasil.elpais.com/brasil/2015/12/30/cultura/1451504427_675885.html
https://colunastortas.wordpress.com
http://lounge.obviousmag.org
http://www.infoescola.com





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