Vamos falar sobre este mundo do século 21 e das suas inúmeras evoluções instantâneas
que acabaram trazendo essa forma atual de vida - quase que instantânea! Afinal, estamos vivendo cada vez mais aparelhados
com iPhones, tablets, notebooks, etc., - e será que o abuso desse contato pelas
redes sociais já não tomou por demais o lugar do contato físico das pessoas? Será
que essa vida digital não é marcada pela ausência de comprometimento? E ainda,
será que a razão dessa febre das comunicações digitais não é para disfarçar aquele
antigo medo humano da solidão?
As perguntas acima buscam elucidar características
das relações atuais e avaliar a fragilidade dos laços humanos, afinal, muitas das
nossas relações estão se misturando e se condensando com laços momentâneos,
frágeis e volúveis. Num mundo cada vez mais dinâmico, fluído e veloz. Seja real
ou virtual.
De acordo com o sociólogo polonês Zygmunt
Bauman, possuidor de uma obra
literária povoada por ideias sobre as conexões sociais da nossa pós-modernidade - nos seus estudos é
possível refletirmos sobre as angústias que reinam nos sentimentos humanos, naquela
emoção despertada pela pressa de encontrar o(a) parceiro(a) perfeito(a) que sempre é
mantida como uma meta ideal e nunca como realidade concreta.
“Viver
entre uma multidão de valores, normas e estilos de vida em competição, sem uma
garantia firme e confiável de estarmos certos é perigoso e cobra um alto preço
psicológico”.
Para Bauman, os relacionamentos a dois fazem
parte desse cenário social, com as regras do jogo estabelecidas pela sociedade
global e nada, segundo ele, pode fugir deste complexo panorama - do fenômeno
conhecido como globalização. E segundo o autor, que é famoso por suas agudas
pesquisas sobre os vínculos entre os tempos modernos e o frenético consumo da
era pós-moderna, ele afirma que a fluidez dos vínculos, que marca a sociedade
contemporânea, encontra-se inevitavelmente inserida nas próprias
características da modernidade, discussão esta que está perfeitamente retratada
nas primeiras obras do autor. É impossível fugir das consequências da globalização,
com suas vertiginosas ondas de informação e de novas ideias. Tudo ocorre com
intensa velocidade, o que também se reflete nas relações entre as pessoas.
“Os adolescentes equipados com confessionários eletrônicos
portáteis são apenas aprendizes treinando e treinados na arte de viver numa
sociedade confessional – uma sociedade notória por eliminar a fronteira que
antes separava o privado e o público, por transformar o ato de expor
publicamente o privado numa virtude e num dever público (…)”.
Acompanhe essa entrevista de Zygmunt Bauman,
reconhecido por ser uma voz dos menos
favorecidos, esse sociólogo denuncia a desigualdade e a queda da classe média e
avisa aos indignados que seu experimento pode ter vida curta e que as redes
sociais são uma armadilha.
- Você vê a desigualdade como uma “metástase”. A
democracia está em perigo?
Bauman. O que está acontecendo agora, o que podemos
chamar de crise da democracia, é o colapso da confiança. A crença de que os
líderes não só são corruptos ou estúpidos, mas também incapazes. Para atuar, é
necessário poder: ser capaz de fazer coisas; e política: a habilidade de
decidir quais são as coisas que têm ser feitas. A questão é que esse casamento
entre poder e política nas mãos do Estado-nação acabou. O poder se globalizou,
mas as políticas são tão locais quanto antes. A política tem as mãos cortadas.
As pessoas já não acreditam no sistema democrático porque ele não cumpre suas
promessas. É o que está evidenciando, por exemplo, a crise de migração. O
fenômeno é global, mas atuamos em termos paroquianos. As instituições
democráticas não foram estruturadas para conduzir situações de
interdependência. A crise contemporânea da democracia é uma crise das
instituições democráticas.
- Para que lado tende o pêndulo que oscila entre
liberdade e segurança?
Bauman. São dois valores extremamente difíceis de
conciliar. Para ter mais segurança é preciso renunciar a certa liberdade, se
você quer mais liberdade tem que renunciar à segurança. Esse dilema vai
continuar para sempre. Há 40 anos, achamos que a liberdade tinha triunfado e
que estávamos em meio a uma orgia consumista. Tudo parecia possível mediante a
concessão de crédito: se você quer uma casa, um carro... pode pagar depois. Foi
um despertar muito amargo o de 2008, quando o crédito fácil acabou. A
catástrofe que veio o colapso social foi para a classe média, que foi arrastada
rapidamente ao que chamamos de precariat (termo
que substitui, ao mesmo tempo, proletariado e classe média). Essa é a categoria dos que vivem em uma
precariedade contínua: não saber se suas empresas vão se fundir ou comprar
outras, ou se vão ficar desempregados, não saber se o que custou tanto esforço
lhes pertence... O conflito, o antagonismo, já não é entre classes, mas de cada
pessoa com a sociedade. Não é só uma falta de segurança, também é uma falta de
liberdade.
- Você afirma que a ideia de progresso é um mito. Por
que, no passado, as pessoas acreditavam em um futuro melhor e agora não?
Bauman. Estamos em um estado de interregno, entre uma etapa em que tínhamos certezas e
outra em que a velha forma de atuar já não funciona. Não sabemos o que vai a
substituir isso. As certezas foram abolidas. Não sou capaz de profetizar.
Estamos experimentando novas formas de fazer coisas. A Espanha foi um exemplo
com aquela famosa iniciativa de maio (o 15-M), em que essa gente tomou as
praças, discutindo, tratando de substituir os procedimentos parlamentares por
algum tipo de democracia direta. Isso provou ter vida curta. As políticas de
austeridade vão continuar, não podiam pará-las, mas podem ser relativamente
efetivos em introduzir novas formas de fazer as coisas.
- Você sustenta que o movimento dos indignados “sabe como preparar o terreno, mas não
como construir algo sólido”.
Bauman. O povo esqueceu suas diferenças por um tempo,
reunido na praça por um propósito comum. Se a razão é negativa, como se
indispor com alguém, as possibilidades de êxito são mais altas. De certa forma,
foi uma explosão de solidariedade, mas as explosões são muito potentes e muito
breves.
- E você também lamenta que, por sua natureza “arco
íris”, o movimento não possa estabelecer uma liderança sólida.
Bauman. Os líderes são tipos duros, que têm ideias e
ideologias, o que faria desaparecer a visibilidade e a esperança de unidade.
Precisamente porque não tem líderes o movimento pode sobreviver. Mas
precisamente porque não tem líderes não podem transformar sua unidade em uma
ação prática.
- As redes sociais mudaram a forma como as pessoas
protestam e a exigência de transparência. Você é um cético sobre esse “ativismo
de sofá” e ressalta que a Internet também nos entorpece com entretenimento
barato. Em vez de um instrumento revolucionário, como alguns pensam, as redes
sociais são o novo ópio do povo?
Bauman. A questão da identidade foi transformada de
algo preestabelecido em uma tarefa: você tem que criar a sua própria
comunidade. Mas não se cria uma comunidade, você tem uma ou não; o que as redes
sociais podem gerar é um substituto. A diferença entre a comunidade e a rede é
que você pertence à comunidade, mas a rede pertence a você. É possível
adicionar e deletar amigos, e controlar as pessoas com quem você se relaciona.
Isso faz com que os indivíduos se sintam um pouco melhor, porque a solidão é a
grande ameaça nesses tempos individualistas. Mas, nas redes, é tão fácil
adicionar e deletar amigos que as habilidades sociais não são necessárias. Elas
são desenvolvidas na rua, ou no trabalho, ao encontrar gente com quem se
precisa ter uma interação razoável. Aí você tem que enfrentar as dificuldades,
se envolver em um diálogo. O papa Francisco, que é um grande homem, ao ser
eleito, deu sua primeira entrevista a Eugenio Scalfari, um jornalista italiano
que é um ateu autoproclamado. Foi um sinal: o diálogo real não é falar com
gente que pensa igual a você. As redes sociais não ensinam a dialogar porque é
muito fácil evitar a controvérsia… Muita gente as usa não para unir, não para
ampliar seus horizontes, mas ao contrário, para se fechar no que eu chamo de
zonas de conforto, onde o único som que escutam é o eco de suas próprias vozes,
onde o único que veem são os reflexos de suas próprias caras. As redes são
muito úteis, oferecem serviços muito prazerosos, mas elas são uma armadilha.
Zygmunt Bauman possui uma vasta
bibliografia com muitas obras publicadas aqui no Brasil dentre as quais
Amor
Líquido, Globalização: as
Consequências Humanas e Vidas Desperdiçadas. Bauman tornou-se conhecido por suas análises das ligações entre a
modernidade e o holocausto, e o consumismo pós-moderno.
Fonte e Sítios Consultados
http://brasil.elpais.com/brasil/2015/12/30/cultura/1451504427_675885.html
https://colunastortas.wordpress.com
http://lounge.obviousmag.org
http://www.infoescola.com
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