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Administração no Blog

Conteúdos de Administração e assuntos atuais.

2 de dezembro de 2015

História da Tomada de Decisão


Sob todos os aspectos da vida humana e durante todos os tempos a questão da tomada da decisão sempre haverá de estar presente no dia-a-dia dos seres humanos. Muitos associam o ato de decidir ao misticismo, a filosofia, à ciência, às disciplinas matemáticas e de engenharia e finalmente as disciplinas gerenciais. A possibilidade de ‘prever’ o futuro e assim tomar uma decisão acertada sempre foi objeto da ambição humana. 

Com o passar do tempo percebeu-se mediante alguns estudos que a tomada de decisão sempre foi baseada em propostas matemáticas, em modelos, no feeling, na experiência e na intuição - porém, esses não são os aspectos mais importantes dessa questão, isso se explica pelo fato de que recentes pesquisas vêm apontando que é a parte decisória quem deve perceber as imperfeições geradas por qualquer método utilizado e não simplesmente repudiar o modelo ou o responsável pela decisão, em caso de uma ação equivocada.


Vamos a um exemplo: ao receber uma chamada no serviço de atendimento ao cliente, um operador recém-contratado pode se ver na seguinte situação: enquanto de um lado da linha está um cliente exigente, que sempre honrou seus compromissos, mas que por qualquer motivo atrasou a fatura mensal e solicita a consideração da empresa, na sala ao lado, encontra-se o supervisor, com uma planilha de metas para renegociação, que exige dos atendentes a recuperação de 90% dos contratos em atraso.  Sabendo que este operador ainda não alcançou a meta, ele tem que tomar a seguinte decisão: considerar a possibilidade de perder um ótimo cliente e ceder a sua proposta ou impor a posição da empresa, com vistas a garantir seu próprio emprego.

Nem sempre as empresas irão deixar claro para os funcionários quais são as políticas corretas e como lidar com o cliente. A pressão pelo cumprimento de metas, tido por muitos como modelo moderno de administração, pode levar a uma decisão errada. Mas, será que existe uma decisão certa? O que pretendemos demonstrar aqui é que, independente da resposta dada ao caso, o mais importante é que os supervisores entendam as particularidades de cada situação e não que simplesmente demitam o operador se ele tomar uma decisão errada. Dessa forma, estaremos destacando aqui a base teórica e conceitual a cerca da teoria das decisões, cujo enfoque inicial são as questões empresariais (privadas). Porém, o que se tem verificado na literatura atual sobre o assunto é que os métodos têm ampla utilização seja por decisões de instituições ou órgãos públicos, sem prejuízo da matéria em questão.



CONCEITOS QUE SUSTENTAM A TOMADA DE DECISÃO

         Antigamente lá no Egito, mais exatamente em toda Mesopotâmia na Grécia Antiga - no Império Romano e nos países orientais foram encontrados vestígios muito antigos de mecanismos para adivinhar, decidir ou tirar a sorte. Esses três pontos têm em comum a possibilidade de descobrir o futuro. Mas como prever o futuro? Bennett (2003) destaca que, em um primeiro momento, essa tentativa surgiu através dos instrumentos aleatorizadores (dados, palitos, roletas, etc) que eram utilizados por esses povos primitivos para três orientações básicas:

·        Garantir a justiça, pois todas as partes envolvidas teriam a mesma probabilidade de saírem vencedoras;

·        Evitar o conflito, porque sempre que a decisão se transfere para um desses instrumentos a discórdia acaba, pois já não está em jogo quem está com a razão;

·        Obter a orientação divina, pois sempre que a moeda é jogada para o alto, por exemplo, há uma crença popular que o resultado faz parte da vontade de Deus. Relatos descrevem que era comum o decisor olhar para o céu antes de tirar a sorte, provavelmente tentando uma conexão com a divindade.

         No momento do sorteio, poderia ser afastada qualquer dominação de uma das partes através da inteligência, força, habilidade, conhecimento ou experiência, surgindo à questão sorte como poder equalizador, ou seja, o acaso acaba se tornando, de uma maneira ou de outra, um instrumento de justiça com uma grande vantagem sobre qualquer outro. Um “cara ou coroa” é um processo extremamente rápido. Assim, esses instrumentos eram utilizados para dividir propriedades, delegar privilégios, responsabilidades civis, ou simplesmente como diversão (BENNETT, 2003).

         A crença de que a aleatoriedade está ligada à vontade divina aliviou, durante muitos anos, a responsabilidade humana na hora de tomar alguma decisão, e sob essa atmosfera muitos se aproveitaram para transformar esses instrumentos aleatorizados em fontes de entretenimento e jogos. Desse modo, essa questão da adivinhação sempre foi capaz de alavancar uma série de jogos de azar que desenvolve no homem a percepção do risco. Bernstein (1997), descrevendo a história do risco no decorrer da evolução humana, destacando que no momento em que as várias crenças religiosas vão sucumbindo ao cristianismo, pregadora de um Deus único, uma mudança de percepção vem à tona: o futuro da vida na terra continua um mistério, mas passa a ser regido por apenas um poder cujas intenções e padrões eram claros a todos que se dessem ao trabalho de aprendê-los, lendo e estudando seus ensinamentos (bíblia). Nesse momento ainda não há espaço para nenhuma especulação matemática no campo da “previsão do futuro”.

         Na avaliação de Bernstein (1997), a assimilação dos algarismos arábicos trouxeram avanços decisivos no campo das previsões de viagens, estimativas de gastos, etc, porém, eles não teriam sido suficientes para induzir nos europeus a vontade de substituir a aleatoriedade pela probabilidade sistemática e por sua sugestão implícita de que o futuro pode ser previsível ou até mesmo controláveis. O Renascimento e a Reforma Protestante tiveram influência no controle do risco, o primeiro porque valorizou a ciência e a lógica e o segundo, pois substitui a ética paternalista cristã, que se assemelhava ao sistema de castas oriental, pela percepção de que os homens teriam de “caminhar com seus próprios pés” e seriam responsáveis pelas consequências de suas decisões, desse modo a perspectiva de enriquecer despontaria como um fator de motivação. Recorrendo às palavras de Bernstein (1997) “poucas pessoas ficam ricas sem correr riscos”, nesse sentido, é o desenvolvimento do comércio que influencia a intenção humana em prever o futuro e a tomada de decisões. Na medida em que muda os princípios da geração de riqueza, o resultado gerado é o capitalismo, grande difusor do risco. Ainda assim, foi necessário o desenvolvimento de duas atividades: a contabilidade e a previsão, essa última associava o fato de assumir riscos com suas compensações diretas, desenvolvendo os mecanismos de seguros. É difícil imaginar um comerciante se lançar em uma jornada com mercadorias e moedas sem se preocupar com alguma garantia, além disso, o surgimento das letras de cambio serve como prova da preocupação com o risco que o negócio envolvia.

         Com relação à revolução científica e cultural do Renascimento, destaca-se que é nos estudos iniciados nessa época que se encontram as origens da estatística e da probabilidade, primeiros instrumentos matemáticos desenvolvidos com a intenção de apontar para o futuro de maneira científica. A estatística tem início marcado pela necessidade humana em realizar contagens. Particularmente era o Estado quem se interessava por essas informações sociais tais como nascimentos, óbitos, casamentos, colheitas, etc. Esta ciência está tão intrinsecamente ligada ao governo que o professor Godofredo Achenwal da Universidade de Gotinga, ao utilizar o termo pela primeira vez, combinou uma palavra latina statu que significa Estado, definindo-a como a ciência das coisas que pertencem ao Estado. Tratava-se apenas da estatística descritiva, preocupada em traduzir numericamente os fatos observados, porém essas informações são a base para que no futuro sejam feitas previsões de demanda, planejamento de empresas e decisões sobre ações, mas para isso é fundamental o desenvolvimento da estatística inferencial ou analítica (voltada para análise dos fenômenos observados) que se universaliza na Inglaterra do século XVII (CRUZ, 2005).

         Apesar da grande contribuição da estatística para o desenvolvimento de um estudo sistemático da decisão, principalmente no que tange os fenômenos sociais estudados, por exemplo, por John Graunt e Augusto Comte, foi a probabilidade que se destacou por oferecer maior impulso a esse estudo nascente. Thomas Bayes, cujo teorema ainda é utilizado até hoje nas escolas, foi considerado o primeiro matemático a aplicar a teoria das probabilidades à fundamentação de previsões em levantamentos estatísticos. O teorema fundamenta-se na lógica e na razão associando a quantidade de informações que o decisor tem como condicionantes para as probabilidades, assim, seria possível calcular a possibilidade de um evento acontecer, dado que um outro, ou vários, tenham acontecido. A utilização do cálculo de probabilidades aplicado aos fenômenos sociais, proporcionaria a estatística uma fundamentação matemática importante para o estudo das previsões (CRUZ, 2005).



         Também na Inglaterra do século XVI um escocês se destacou com a sustentação de uma teoria que se perpetuaria por muitos anos. Em A riqueza das nações (1879,) Adam Smith descreve um modelo em que o trabalhador usaria seu esforço para encontrar o emprego mais vantajoso, por outro lado, o capitalista também agiria no intuito de minimizar seu gasto com funcionários. Logo, se esses agentes fossem deixados à própria sorte eles se entenderiam em uma situação satisfatória para ambos. Trata-se do chamado liberalismo clássico, principio que traz com ele a idéia do homo economicus (influenciados pelas recompensas) e pelo princípio da racionalidade (racionalização) que sugere que as relações de preferências entre bens ou cestas de bens sejam, simultaneamente, transitivas, reflexivas e completas. O caráter da transitividade será discutido adiante (no item 5.3.1.8). Cabe aqui discutir, porém, a questão da relação reflexiva, que sugere a possibilidade da auto-comparação de cada elemento; o termo relação completa sugere que todos os seus elementos são comparáveis, incluindo todas as variáveis. É nesse sentido que Smith idealiza sua “mão invisível” que pode ser demonstrada com o seguinte exemplo: enquanto que os empresários usam a racionalidade para maximizar seu lucro, os consumidores também a usariam para maximizar sua satisfação, o resultado é o preço de equilíbrio (HUNT e SHERMAN, 1999).

         O conceito da racionalidade viria a ser sobremaneira importante para os estudos da chamada “teoria da decisão”.



A CONTRIBUIÇÃO DAS CIÊNCIAS EMPRESARIAIS PARA A TOMADA DE DECISÃO

Desde as proposições de Taylor e Fayol sobre a ciência da administração que a questão da tomada de decisão aparece como foco de estudo. A revolução industrial inglesa do século XVIII serviu para alavancar as empresas como grandes empreendimentos que deveriam demandar grandes decisões. No final do século XIX já era possível encontrar indústrias organizadas por departamentos de produção, vendas, técnico de engenharia e financeiro, essas organizações não poderiam mais ser gerenciadas por habilidades pessoais, fazia-se necessário o desenvolvimento de uma ciência preocupada com o planejamento a execução e o controle das atividades. Em 1903 o engenheiro americano Frederick Winslow Taylor, utilizando-se de sua experiência na empresa Midvale Steel, publicou um livro, Shop management, cuja essência reside na idéia de pagar salários altos e ter baixos custos unitários de produção. Para tal, os gerentes deveriam aplicar métodos científicos de pesquisas e experimentação a fim de formular princípios e estabelecer processos padronizados que permitissem o controle de operações fabris. A cientificidade também deveria indicar a colocação dos empregados em serviços ou postos em que os materiais e as condições de trabalho fossem cientificamente selecionados, para cumprimento das normas. Por fim, Taylor sugeria o adestramento dos empregados também seguindo os princípios científicos, para aperfeiçoar suas aptidões para melhoria da produção (TAYLOR, 1911).

         Por valorizar muito o tratamento epistemológico da gestão, as teorias de Taylor ficaram conhecidas como administração científica. Especificamente sobre a evolução dos estudos da decisão na empresa, dois fatores são passiveis de destaque nesse momento, o primeiro tem relação com a proposta de Taylor em dividir a organização em duas partes, os administradores e os empregados. Para ele a tarefa de tomar decisões cabia única e exclusivamente ao gerente, sobrando para o empregado seguir as orientações se esforçando ao máximo. Essa proposta afastou o operário do processo de decisão, atrasando em muito a percepção de que os funcionários poderiam contribuir no processo. Porém, Taylor não propunha uma segregação do operário, seu pensamento estava voltado apenas para a especialização das funções, sem nenhum intuito pejorativo. O segundo ponto vincula-se às ações científicas para as decisões do modus operandi das tarefas. Não se pode pensar essas ações sem fazer uso da estatística e da probabilidade, assim é possível afirmar que essas ciências tornam-se forças importantes para as empresas a partir desse momento, ainda que de forma insipiente. Esse processo exaustivo de sistematização da tarefa configura a apropriação do conceito de racionalização pela ciência administrativa nascente. Em uma segunda fase de seus estudos, Taylor concluiu que essa racionalização do trabalho do operário deveria vir acompanhada de uma estruturação geral da empresa.

         Ele nasceu em Constantinopla, mas viveu a maior parte de sua vida em Paris, o engenheiro Henry Fayol concebeu, em seu livro Administration industrielle et générale, a gestão da empresa a partir de determinadas funções básicas: técnicas; comerciais; financeiras; de segurança; contábeis e administrativas, sendo que essa última, estaria dividida em outras 5 (cinco) funções: planejamento, organização, comando, coordenação e controle. A tentativa de Fayol em pensar a empresa como um todo faz com que suas idéias sejam consideradas uma evolução do pensamento de Taylor (CRUZ, 2005).

         Sabemos que entre as funções do administrador está a de planejamento, também traduzida por previsão, que tem mais relação com a tomada de decisão. Fayol (1950) declara que a previsão deve ser feita com base nos recursos da empresa, na importância das operações e nas possibilidades. Assim, ela teria as seguintes características: existência de apenas 1 (um) programa, que pode ser desmembrado; continuidade das ações; flexibilidade; anualidade do planejamento; precisão. O autor apóia ainda a existência de um planejamento decenal e, eventualmente, reuniões especiais, descrevendo ainda as regras, condições e qualidades necessárias para a boa elaboração dos planos. As teorias de Taylor e Fayol ficaram conhecidas como a abordagem clássica da administração.



         Em outra linha de raciocínio, as contradições entre a abordagem clássica e a humanística além do ressurgimento da sociologia da burocracia, levaram alguns estudiosos a pensarem o homem não como econômico ou social, mas como um ser organizacional, ou seja, voltado para o desempenho de papéis na organização. A preocupação em entender a formalidade e informalidade na empresa, e a inspiração nos textos de Max Weber levaram autores como Etzioni, Blau e Scott a fixarem seus estudos na estrutura da empresa criando a chamada abordagem estruturalista da administração. Com essa escola inicia-se um estudo de abordagem múltipla das organizações, nas quais poderiam ser entendidas por um modelo racional (mais fechado às externalidades), ou natural, que levaria em conta as trocas entre a empresa e o meio ambiente. Os conflitos organizacionais são entendidos como focos de tensões e antagonismos mas que, se bem resolvidos, conduzem a organização à inovação e mudanças. Percebe-se assim que esses autores visualizam a presença da política na empresa. Mais tarde, os estudos irão ressaltar o quanto essa pode ser prejudicial ao processo de tomada da decisão (MAXIMILIANO, 2000).

         Um dos passos mais importantes para os estudos da decisão nas empresas foi dado pela abordagem comportamental da administração. As teorias que compõem essa abordagem são decorrentes dos estudos de psicólogos, principalmente os de John Watson e Skiner. Além das proposições sobre a motivação humana, que influencia as decisões das organizações, as idéias que se destacam nessa abordagem iniciam-se com o livro Comportamento administrativo de Herbert Simon, que discute claramente, e pela primeira vez, a tomada da decisão como um processo, considera a determinação do que se deve fazer (decisão) como sendo o ponto principal da administração. Sua principal crítica aos estudos de administração até então é que eles se preocupavam muito com o processo de execução e negligenciavam o processo de decisão. Desse modo, o autor usa essa “teoria da decisão” para explicar o comportamento humano nas organizações como se cada pessoa fosse um sistema de decisões na empresa. A decisão é então conceituada como um processo de análise e escolha entre alternativas disponíveis de cursos de ação que o indivíduo deverá seguir (SIMON, 1974).

Simon (1974) entende que a tomada de decisão é algo além das proposições factuais; elas seriam uma descrição de um futuro estado das coisas. Com objetivo de organizar o processo, divide a tomada de decisão nas seguintes etapas: preparação da situação; análise e definição do problema; definição dos objetivos; procura de alternativas de solução; avaliação e comparação dessas alternativas; escolha da alternativa mais adequada; implementação da alternativa escolhida. Cada etapa teria influência sobre a outra, sugerindo assim o termo “processo decisório”, além disso, o autor deixa claro que nem sempre todas elas acontecem durante uma decisão, até porque nem todo o problema é igual. Desse modo, propõe alguns tipos de decisões:

a) programadas, calcadas em alguns regulamentos vigentes. São importantes no conjunto, porém são formuladas nos patamares mais baixos da empresa, sendo assim decisões que visam atividades meio;
b) não programadas, decisões mais complexas, formuladas para resolver situações novas. Tais decisões exigem tempo e atenção do alto escalão e visam os fins da empresa;

c) imediatas decisões, que exigem respostas rápidas;

d) premeditadas, decisões com objetivo determinado; e) improvisadas: quando os problemas não são resolvidos e exigem uma medida qualquer em que não se sabe, ao certo, seus resultados.

Os estudos de Simon (1974) o conduziram para algumas ressalvas importantes para todo tomador de decisões, são elas:

·        Racionalidade limitada: estaria presente em todo o processo decisório pois nenhum ser humano é capaz de levantar e analisar todas as variáveis que envolvem um problema, assim a racionalidade da decisão envolveria apenas o que o decisor é capaz de “processar”, estando limitada a essa amplitude;

·        Relatividade das decisões: seria uma decorrência da questão anterior, como a racionalidade é limitada à percepção do decisor, a solução não seria necessariamente ótima, mas em relação somente ao que foi verificado. Além disso, na medida em que ações vão sendo tomadas a realidade vai reduzindo, ampliando ou simplesmente modificando alternativas ou cursos de ação;

·        hierarquização das decisões: o processo de planejamento das ações requer pensar numa ordem de importância para as decisões, desse modo, são discutidos, em primeiro lugar os rumos da empresa (visão, missão, etc) para que depois sejam elaborados e decididos os planos (planejamento tático), as metas e os indicadores. Por fim serão decididas as ações diárias para execução imediata;

·        Racionalidade administrativa: como o homem é visto como um ser administrativo, voltado para o desempenho de uma função na organização, a idéia é que o norteador de sua racionalidade seja a empresa que ele representa;

·        Influência organizacional: a cultura, os valores, as crenças e os princípios que a empresa valoriza poderão ser identificados na pessoa do decisor, influenciando suas ações. Essa ressalva explica o fato de que muitas empresas buscam serviços de consultoria para ter uma “visão externa” da realidade da empresa, sem “vícios”.

         Possivelmente tenha sido Simon quem mais contribuiu para a discussão da chamada “teoria da decisão”, mesmo tendo questionado essa terminologia. Isso passa pela impossibilidade da chegar à decisão correta (racionalidade limitada), nesse caso o termo teoria, sugeriria que, seguindo os passos propostos chegar-se-ia a uma situação ótima esperada e de certo modo controlável, porém, na decisão, por causa da racionalidade limitada, fica difícil usar de um fator situacional para avalizar uma teoria generalista. Muitos autores, em vez de teoria da decisão, preferem se referir ao assunto como processo decisório, metodologias de auxílio à tomada de decisão, ou simplesmente auxílio à decisão. Estarão envolvidos nessas expressões os estudos de modelagens, negociação, planejamento e liderança, entre outros.

         De acordo com Cruz (2005) a teoria da administração ainda daria um passo importante em direção ao estudo das decisões que envolveu o desenvolvimento da teoria de sistemas e da teoria matemática, sendo que a primeira destaca-se mais como pano de fundo para a segunda. É nesse momento que a estatística, a probabilidade e a álgebra linear ganham força no processo de previsão das empresas. O livro de teoria dos jogos de Neumann e Morgenstern (1947), além de outros, foram fundamentais para essa associação. A teoria matemática divide o estudo da tomada de decisão em duas linhas:

·        Perspectiva do processo: voltada para o detalhamento das etapas envolvidas e para a descoberta, comparação e escolha da melhor alternativa;

·        Perspectiva do problema: com ênfase na solução final e qual a resposta esperada.

Talvez o grande sustentáculo da teoria matemática seja o conceito de modelo - que para Pidd (1998) seria “uma representação externa e explícita de parte da realidade vista pela pessoa que deseja  usar aquele modelo para entender, mudar, gerenciar e controlar aquela parte da realidade”, ou seja, é qualquer simplificação que se faz de uma realidade complexa com o intuito de realizar simulações. Mas um modelo é confiável? Quais suas vantagens? Para responder a essas perguntas o autor usa o conceito da “Navalha de Occam” que prega que se duas explicações parecem igualmente plausíveis, então é melhor usar a mais simples das duas. Logo, se o decisor consegue transformar a realidade complexa em um sistema simples, a simulação neste caso serve para explicar a realidade. Além disso, ele apresenta o exemplo do plano de vôo que dificilmente é seguido em uma viagem de avião, mas sempre é elaborado. Esse plano serve para a consulta constante (padrão) do piloto servindo de parâmetro para a análise do progresso e pode ser usado como base de dados para aumentar as informações sobre vôos e, quem sabe, ajudar a elaborar novos e mais sofisticados modelos de planos de vôo e pilotos automáticos.

Porém, muitas vezes se observa que a mesma realidade, na qual o modelo espelha, pode oferecer respostas distintas. Como isso é possível? A questão pode estar nos próprios conceitos de Simon de racionalidade limitada e relatividade das decisões, pois na medida em que novas variáveis vão aparecendo as decisões vão se ajustando. Além disso, ainda não se pode esquecer que as perspectivas e expectativas que envolvem o decisor também influenciam sua análise.          A sofisticação dos modelos deu-se com o surgimento da pesquisa operacional principalmente porque é através de seus estudos que são propostas as chamadas metodologias multicritério.

         Outra inserção das teorias matemáticas no processo decisório se dá através da disciplina análise de investimentos. Esse ramo de estudos não se propõe a resolver todos os tipos de problemas, apenas os que envolvem desembolsos e recebimentos de capital. De acordo com Gitman (1997) as principais ferramentas são:

·        Período de payback: que pode ser entendido como o tempo necessário para que o investimento seja recuperado através de benefícios líquidos, essa ferramenta indica o risco embutido no investimento, pois, está ligada ao tempo em que o dinheiro volta para o investidor. Assim a melhor alternativa será aquela em que o capital retorne para o investidor o quanto antes;

·        Taxa interna de retorno: é a taxa de desconto que iguala, em determinado momento as entradas e saídas de caixa, ou seja, é o indicador percentual de quanto o investimento rende, desse modo, se a taxa interna da alternativa exceder o mínimo desejado ela é considerada economicamente boa;

·        Valor presente líquido: supondo uma taxa mínima de remuneração aceitável, o valor presente líquido é o resultado entre o investimento inicial e os possíveis fluxos futuros, descontados por essa taxa. Logo, considera-se que se o investimento tem valor presente líquido positivo, é sinal que ele rende mais do que se deseja, se for negativo, rende menos, por fim, se for igual a zero, o investimento rende exatamente o que se espera.

         Para Cova (2000) um grande número das decisões atuais envolvem questões econômico-financeiras, tendo como base fundamental aspectos estritamente quantitativos traduzidos nos valores monetários, distribuídos em fluxos de caixa periódicos e devidamente descontados por taxas arbitrárias. Não obstante, a teoria da decisão espera que tais decisões devam ser fundamentadas em outros aspectos qualitativos que, não menos importantes que os anteriores, traduzem o ambiente nebuloso que, via de regra, não é internalizado na análise. Tal circunstância pode vir a se constituir em determinante fonte de fracasso ou de inconsistência de um projeto a ser escolhido com base em critérios estritamente quantitativos, por exemplo, no caso de uma usina hidrelétrica que para ser construída exigiria a inundação de uma reserva indígena: quanto custa a mata? Qual o valor deve ser dado aos animais? Como precificá-los para inserir em fluxos de caixa? Como quantificar a repulsa dos funcionários por uma determinada alternativa?

         Faz-se necessário então o desenvolvimento de metodologias que possam ao mesmo tempo contemplar o lado quantitativo e o qualitativo, os seja, que o decisor possa inserir aspectos ligados ao preço e custo mas também beleza, conforto, aceitabilidade, entre outros critérios. É nesse sentido que o presente texto pretende ser um avanço no ferramental para as teorias existentes.

         Já Motta (1997) trata das particularidades do papel do gerente, inclusive nos aspectos da tomada de decisão. O autor destaca o racionalismo, a analise e a sistematização vivenciada pelas escolas matemáticas, porém observa que a década de 80 trouxe uma vasta e nova produção literária sobre administração que envolvia muito mais a descrição de experiências práticas do que conceitos acadêmicos; sendo a visão focada na simplicidade e no lado intuitivo da gerência. Os livros de Ricardo Semler (Virando a própria mesa - 1988) e Lee Iacocca (Iacocca, uma autobiografia - 1985), por exemplo, contavam suas particularidades à frente de empresas, destacando a maneira como o sucesso foi conseguido através de ações simples e sem muito academicismo. Não satisfeitos, alguns autores ainda criticavam as escolas de administração como promotores de desastres administrativos tentando, assim, valorizar o lado intuitivo e o uso do senso comum na gerência.



Motta (1997) ainda destaca que esses novos autores consideravam que a teoria contemporânea de decisão demonstrava o valor do senso comum, da simplicidade e do juízo das pessoas, através do uso dos instintos e percepções individuais. Porém, essa intuição estaria impregnada de conhecimentos e experiências acumuladas pelo indivíduo, mais que ainda não faziam parte de seu plano consciente. Tais autores também defendiam que o processo decisório era fragmentado entre os indivíduos da organização, cabendo ao dirigente a condução das reuniões e tratamento dos assuntos. Ele não se senta em sua cadeira para decidir como se fosse um ritual mágico; a visão gerencial é dinâmica. Existem fatos que não se enquadram nas regras gerais e necessitam uma abordagem global necessitando ações mais flexíveis. Logo, a flexibilidade traduzir-se-ia em gerenciar impossibilidades de consenso e saber agir com uma visão de futuro. Por fim, esses autores ainda destacam que o que se procura hoje é equilibrar as dimensões da racionalidade com o ilógico, razão e intuição. Motta (1997) ainda apresenta as tramas que dificultam a racionalidade, sendo a maior dentre elas o poder. Para o autor, esse fator influencia e particulariza as decisões que deveriam ser imparciais, os meios tornam-se fins neles mesmos, ou seja, já não importa o bem estar da empresa no mercado, a competitividade com outras empresas; o que importa é disputar o poder internamente e é para isso que alguns funcionários se voltarão.

Por fim, tentando ressaltar o lado prático da tomada de decisão pode-se recorrer às palavras de Ury (2000), professor de Harvard, em um exemplo sobre outro tipo de processo de decisão: a negociação. O professor afirma que quando as pessoas são perguntadas sobre qual o percentual de seu dia que passam negociando a resposta quase sempre é 100%, ou próximo disso. Fazendo uma analogia aos esportes, supondo que um atleta que treine 60% do seu dia, provavelmente estará se candidatando a uma vaga nas Olimpíadas, porém essas pessoas que negociam 100% não se sentem na “seleção olímpica dos melhores negociadores”. Levando a discussão para a questão da tomada de decisões pode-se verificar fenômeno parecido, a toda hora as pessoas estão tomando decisões. Por que estas não se encaixam no seleto grupo de melhores decisores do mundo?

         A resposta pode estar no fato de que a grande maioria das pessoas negociam e decidem sem perceber o que estão fazendo. Elas, diferentes dos atletas olímpicos, não decodificam nem estruturam o processo para uma análise ou treino consciente. Outro complicador a esta situação de decisão se evidencia nas modernas técnicas gerenciais que valorizam, cada vez mais, as decisões democráticas e técnicas, se é que estas duas vertentes realmente podem “caminhar” juntas no ambiente organizacional. Fato é que a cada dia um numero maior de decisões têm sido tomadas com base em corpos colegiados, assembleias de sócios ou conselhos de especialistas.



ÁRVORE DE DECISÃO

         A árvore de decisão é uma importante ferramenta para auxilio dos executivos. Mesmo sem a utilização de qualquer método matemático a sua elaboração já permite uma melhor identificação dos “caminhos” a serem seguidos. O termo árvore vem do formato que as alternativas (rumos, caminhos) formam.

Símbolos:

- Decisão Principal     
- Desdobramentos      ¡
- Valores   (entre parênteses)
- Probabilidades          [entre colchetes]




JULGAMENTO PAR-A-PAR

Em alguns casos, quando as alternativas são poucas, é possível realizar uma análise par-a-par. Esse método mantém fixa a coerência do julgador, pois a nota será sempre um resultado relativo de uma observação em relação à outra, porém ao se ter a ordem final não se pode garantir que a alternativa vencedora seja realmente a melhor de um grupo ótimo de possibilidades ou simplesmente a menos ruim. Por exemplo, ao dar nota 6 (seis) para o candidato A e 8 (oito) para o B o julgador tem um padrão máximo que é a nota 10 (dez), esse caso leva a sugerir a seguinte pergunta: será o que avaliador, durante os dois julgamentos, manteve inalterado o padrão fictício[1] de resposta que resultaria em um grau 10 (dez)? Porém, usando a análise comparativa, ao avaliar apenas que B é um pouco melhor que A, a pergunta que surge é: mesmo que a segunda seja melhor que a primeira, alguma das duas atende aos requisitos mínimos? As duas perguntas são difíceis de serem respondidas, até por que, a melhor saída para a primeira pergunta é adotar a segunda abordagem (par-a-par) e a resposta para esta segunda pergunta se resolve com o primeiro método, o que se pode perceber então é que os dois métodos são complementares, ou seja, a vantagem de um é a desvantagem do outro e vice-versa.

As duas maneiras de se emitir julgamentos dão origens a dois tipos de função de utilidade: as ordinais, cujo objetivo é colocar as opções em ordem (1o, 2o, 3o... No); ou cardinais, que podem ser expressas através de razões entre alternativas (a/b é melhor que c/d, por exemplo) ou através das diferenças (a-b é melhor que c-d, por exemplo). Os autores defendem que o ideal seria partir de uma escala ordinal, mais fácil de construir, para chegar na cardinal, mais útil. Cova (2000) recorre aos conceitos da economia para definir os termos lógicos ordinais: sendo a capacidade de dizer que uma dada cesta de consumo x é preferível a uma outra cesta y, e esta, por sua vez, é preferível a uma cesta z; e lógica cardinal: a propriedade de tornar conhecida a “intensidade” com que a cesta x é preferível à cesta y.



DILEMA

Uma saída para o “dilema do professor” poderia estar no julgamento par-a-par, nesse caso o decisor estaria menos sujeito a essa imperfeição. Nesse caso as alternativas são avaliadas segundo critérios específicos e ‘vence’ aquela que tiver desempenho melhor. Assim, é proposta uma avaliação objetiva em que o decisor não tem como alegar que o tempo de analise prejudicou a avaliação, pois essa é feita em conjunto. Pontos discretos podem ser medidos e comparados.

Porém, o método de julgamento par-a-par também apresenta algumas imperfeições sendo que a principal delas está no seguinte fato: ao avaliar a alternativa A como melhor do que a B, não se sabe se alguma das duas está dentro do mínimo exigido, ou seja, não se sabe se a alternativa A é a melhor entre duas possibilidades boas ou ruins.

O fato final é que decisões empresariais, que envolvem grandes quantias monetárias, empregos e salários (que sustentam famílias), interesses de investidores, fornecedores, administração de materiais e logística devem estar ‘vacinadas’ contra suas próprias imperfeições, ou seja, o decisor deve estar consciente desses fatos para que se aproxime da melhor escolha (absolutamente técnica) ou que minimize os impactos sociais e econômicos de uma opção errada.

Assim, seja por julgamento por nota ou par-a-par, o decisor deve manter-se o mais afastado possível de uma tendência passional, ou seja, ele deve ser como um cientista que conforme John Loke escreveu em 1690, ao se buscar a verdade, não é possível “considerar nenhuma proposição com uma convicção maior do que a autorizada pelas provas em que se fundamentam”, essa é a marca infalível do amor à verdade.



Fases da Negociação

Discute-se existir 5 fases para uma negociação:

- Planejamento: momento em que o negociador investirá em descrever e descobrir a realidade envolvida no processo. No planejamento são criados os pontos máximos e mínimos que o negociador está apto a aceitar. Normalmente sugere-se que o negociador tenha no mínimo o dobro de horas de planejamento que o processo de negociação, ou seja, se uma reunião está prevista para durar 3 horas seria necessário em torno de 6 horas de planejamento;

- Preparação do clima: envolvem todas as atividades relativas ao primeiro contato com a outra parte: o cerimonial de convite, ligações, definição do local, conformação etc.;

- Sondagem: tendo uma vez se encontrado com a outra parte o negociador deve testar se algumas de suas percepções prévias se confirmam. É na fase de sondagem que ele avalia se os máximos ou mínimos podem ser alcançados, além disso, é importante estabelecer uma relação boa logo no inicio para fazer da negociação um processo cooperativo;

- Apresentação / reapresentação: envolvem as fases em que as partes trocam idéias, argumentos e apresentam sua realidade;

- Fechamento: seria o fim da negociação, preferencialmente com a assinatura de algum acordo ou carta de intenção.


As várias faces das negociações

Zajdsznajder (1985, p.19-22) observa e analisa nove faces nas negociações, é o que o autor chama de “a realidade multifacética das negociações”, são elas: face lógico-lingüística; face psicológica; face política; face social; face econômica, face antropológica; face administrativa; face tático-estratégica e face lúdica. Vejamos brevemente cada uma delas:

- Face lógico-linguística: As negociações se caracterizam por trocas verbais, sendo assim um fenômeno da área da linguagem. Os principais movimentos das partes são de natureza lingüística. Porém, negociar não é somente falar, mas falar segundo determinados objetivos. Com isso, a negociação tem parte de sua realidade no campo da lógica, onde as partes analisam outras argumentações.

- Face psicológica: Em qualquer negociação, as partes emitem e recebem mensagens em um quadro que envolve percepções, sugestões, empatias, antipatias e tentativas de influência. Portanto, as negociações envolvem diversas questões psicológicas, onde duas podem ser destacadas: as percepções e as expectativas. A todo o momento essas duas questões devem ser reavaliadas.

- Face política: Está relacionada ao Poder. As partes entram no processo munidas de determinados poderes. Embora essa face nem sempre se apresente de forma explícita, ela freqüentemente está presente nas negociações.

- Face social: Por envolver aspectos grupais, a negociação é uma realidade social. Além do mais, ela é um dos mais importantes meios que a sociedade dispõe para resolver suas divergências.

- Face econômica: Na medida em que envolve trocas e partilhas, a negociação assume um aspecto econômico. Qualquer tipo de negociação exige algum tipo de cálculo que norteiam expectativas.

- Face antropológica: As negociações podem ser aproximadas de rituais, pois se realizam segundo regras e possuem um aspecto cerimonial. Para cada tipo de negociação há uma postura própria e uma diferente forma de se caminhar para o alcance dos objetivos.

- Face administrativa: planejamento, organização, coordenação e decisão são elementos freqüentemente presentes nos processos de negociação, seja na preparação, seja na execução. A prática administrativa serve para trazer à negociação maiores graus de racionalidade e uma estilização ritualística.

- Face tático-estratégica: A negociação é um processo que envolve um jogo de poder e de manipulações, onde as partes realizam manobras e artimanhas para que através de um conjunto de movimentos, possa conduzir a outra parte a determinadas decisões.

- Face lúdica: Finalmente, há um claro aspecto de jogo nas negociações, como se elas fossem uma partida e se enfrentar. Além disso, são observados elementos competitivos e de representação teatral nos processos de negociação.

Fonte e Sítios Consultados
www.uff.br/sta/textos





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