Biohacking: o Homem e as Máquinas dentro de Nós
Vivemos um tempo em que as
pessoas estão se tornando parte dos equipamentos. Mas como isso é possível? Bem,
isso é fácil de explicar - este século 21 trouxe muitas novidades a esse respeito, como uma empresa
sueca que adotou um 'inovador' sistema de acesso para os funcionários: um chip microtransmissor de rádio
implantado sob a pele da mão direta. Menor do que um grão de arroz, o chip
permite que a pessoa abra portas e use fotocopiadoras sem a necessidade de chave,
cartão ou senha – basta aproximar a mão da porta para os sensores reconhecerem
o chip. Sob a pele. Em nome do jornalismo um repórter da BBC recebeu um
implante deste chip. O procedimento foi realizado por uma moça coberta de
tatuagens, piercings e alargadores de orelha.
É verdade que uma realidade assim
faria muitos autores de ‘ficção-científica’ menos corajosos
hesitar na hora de escrever suas obras. Porém, a coisa vai muito, muito mais
fundo. Alguns termos como “transhumanismo”,
“biopunk”, “wetware” e “DIYBio”
parecem extraídos direto dos romances e contos do gênero, mas não, eles são a pura
expressão de uma realidade bem real, que está logo ali, batendo a nossa porta.
Utilizando o rótulo de “biohacking”,
existe hoje uma legião de cientistas, amadores, hobbistas, coletivos e empresas
dedicados a integrar o ser humano com a tecnologia. E não através de meros
aparelhos externos, como o Apple Watch ou visores de realidade
virtual. A Ideia é enfia-los na própria carne - os sensores e chips,
modificando a biologia, a fisiologia, sintetizando novos compostos orgânicos.
Muitas vezes, em laboratórios de fundo de quintal. É fato que o barateamento de
aparelhos sofisticados como sequenciadores de proteínas e outras máquinas antes
restritas a grandes empresas e universidades fez florescer um movimento “do-it-yourself” e realmente punk nas
fronteiras mais avançadas da biologia e da microeletrônica.
Afinal, se o Bill Gates e o Steve
Jobs já foram pioneiros em suas garagens décadas atrás, existe atualmente uma
geração de cientistas amadores que transformaram o porão da casa dos pais em
laboratórios avançados de biologia, criando proteínas e tecidos biológicos, em
vez de reinventar o computador pessoal. Na outra ponta do espectro, há uma
ampla frente acadêmica séria e respeitável, endossando muitas das descobertas
desses jovens amadores. E esse apoio é fundamental, devido às autoridades estarem
cada vez mais nervosas com esses laboratórios biológicos amadores.
Na Europa e em alguns pontos dos
EUA e Japão, não param de aparecer empresas oferecendo vários tipos de
implantes subcutâneos, sensores de dados biomédicos, implantes ósseos impressos em 3D a partir de
células-tronco de um paciente. Imãs, sensores e chips sob a pele devem se
tornar muito comuns nos próximos dez anos.
O interessante é que não são
apenas ‘tralhas’ eletrônicas. Há toda
uma vertente mais “natural”, que pratica o biohacking através da química e do
aperfeiçoamento de processos biológicos e fisiológicos. Por exemplo, estão
criando maneiras para o corpo absorver melhor os nutrientes dos alimentos, ou
tornar palatáveis alimentos que têm gosto ruim. Melhorar o desempenho físico e
mental com substâncias desenhadas sob medida, às chamadas “smart drugs” ou “nootrópicos”.
O
fato é que a cultura do biohacking é
oriunda de um pensamento radical, mas bastante simples. Podendo ser considerada
uma vertente do transhumanismo, ela
defende o emprego de recursos tecnológicos para aprimorar as capacidades
humanas e alterar a forma como interagimos com o ambiente ao nosso redor. Esse
conceito reflete a ideia de que o próximo degrau em nosso ciclo evolutivo não
será consequência de forças da natureza, mas sim de nosso próprio trabalho e
esforço coletivo.
Uma
prática muito comum nesse meio é o implante de dispositivos eletrônicos – que
na grande maioria das vezes são feitos de forma caseira, com o próprio biohacker realizando cirurgias
invasivas de maneira amadora. E é óbvio que, por causa de atos desse tipo, a
cultura do biohacking é
frequentemente alvo de discussões acerca da segurança de seus adeptos. Muitos
profissionais do ramo de body piercing/body modification
estão se especializando em implantes cibernéticos, mas isso não evita que a
comunidade médica internacional enxergue a vertente com olhos desconfiados.
Mesmo
que médicos profissionais e biohackers
DIY tentem entender e colaborar uns com os outros, a verdade é que eles
parecem ter dificuldades de cooperar em prol de um objetivo comum – afinal,
estamos falando de pensamentos e métodos de trabalho completamente diferentes.
Em resumo: o
objetivo de tudo isso e de todas essas facções do biohacking é semelhante, transformar
o ser humano em algo além. Seria algo como a carne integrada com a
máquina, e muito mais, mais forte, mais veloz, mais esperto: o Ciborgue*
(*um Ciborgue
é um organismo cibernético, isto
é, um organismo dotado de partes orgânicas e cibernéticas, geralmente com a
finalidade de melhorar suas capacidades utilizando tecnologia artificial). Enfim,
mais uma palavra ícone da ficção-científica, que já se tornou
uma realidade.
Fonte e Sítios Consultados
http://vida-estilo.estadao.com.br
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