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21 de julho de 2014

E essa tal felicidade, vamos encontrá-la um dia?




Todos os seres humanos querem ser felizes, eu, você, quem está aí do lado e etc. Mesmo sem saber exatamente o que é essa felicidade, onde ela mora ou como podemos encontra-la com exatidão; todos os dias nós nos encontramos traçando planos, fazendo escolhas, listando ou trocando de desejos e assim continuamos alimentando as esperanças e as expectativas de enfim, alcançá-la. Em nome desta procura, comemos muito chocolate, estudamos um pouco mais para aquela prova, preparamos àquela festa, casamos ou separamos, compramos um carro novo, aprendemos a dançar valsa, vamos àquela formatura da turma, vivemos entrando e saindo de dietas milagrosas, brigamos, perdoamos, fazemos promessas – enfim, nós vivemos tentando ser felizes.  


É muito comum agirmos pensando na felicidade como uma recompensa futura por algum esforço atual. Mas, também não é difícil de encontrar quem acredite que encontrará a felicidade em um bilhete dourado que está dentro de uma caixa de bombons. Não é nada incomum ou raro, pensarmos que essa tal felicidade seja um direito nosso. Ou, quem sabe, um dever a ser cumprido – e, assim, uma obrigação cotidiana, por exemplo, como fazer um jantar e se a nossa receita falhar, nós tenderemos rapidamente a procurar alguma solução pronta, como aquela lasanha congelada ou aqueles comprimidos de antidepressivos.


Por isso é tão difícil definir (e achar) a tal felicidade. Nós vivemos confundindo ela com o afeto (se encontrarmos o amor, ela virá), com a sorte (com esperança, ela vai chegar), com o alívio (se resolvermos os problemas, como o excesso de peso, então a teremos). Estamos sempre a confundindo com as conquistas: se realizarmos tudo o que queremos e o que esperam de nós... aí sim, seremos então felizes, não?


Só que Não! Muito pelo contrário, é pensando assim que acabamos transformando a felicidade naquela cenoura eternamente pendurada à nossa frente – próxima, mas inalcançável. Estabelecer tantas condições para sermos felizes faz com que a gente superestime o poder de certas coisas, que nem são tão importantes assim para o nosso bem. Estamos sempre sendo enganados por aquela promessa de que há uma fórmula a seguir e jogamos a responsabilidade pela satisfação em lugares fora de nós (e além do nosso controle), como ganhar um aumento no trabalho ou ser correspondido no amor, e atualmente, ainda existem os que se realizam em ter o seu último ‘post’ curtido por mais de 300 pessoas. Isso tudo, ao invés de trazer uma resposta para acalmar os nossos anseios, acaba em ilusões que nós mesmos criamos e podem aumentar ainda mais o vazio que anda nos incomodando.


É certo que ninguém sabe explicar exatamente o que é a felicidade – até porque ela é uma experiência única para cada pessoa. Mas a ciência, a filosofia e as histórias de quem se assumem felizes dão pistas do que ela não é. E ela não está numa receita, não existem garantias, não está no futuro, nem à venda. Não poderemos sequer possuí-la. A felicidade é um momento passageiro e presente, em que não precisamos de nada além do que estamos vivendo. Esses momentos podem ser acumulados, e a sensação será quase constante. Mas isso não é algo a se procurar, nem a esperar. Porque não é o fim. É o caminho. A felicidade – autêntica, profunda e duradoura – está na soma dos instantes, das horas, dos dias de uma vida bem vivida.



Diferentes, mas iguais  

É fato que cada um tenha a sua versão do que é uma vida feliz, onde se projete valores, experiências e expectativas. Mutável, essa definição é influenciada pela personalidade, pela realidade em que vivemos e pela fase da vida em que estamos – razão pela qual os livros genéricos com receitas para ser feliz em 10 passos só alegram seus autores.Se fosse assim, já teríamos banido a tristeza do mundo”, diz Clóvis de Barros Filho, professor de ética da Universidade de São Paulo.


Mas existem certas coisas que todos temos em comum. A começar pelo fato de que somos projetados para fugir da dor e amar o prazer. “É uma tática da natureza para garantir a sobrevivência e nos fazer passar os genes adiante”, diz Nancy Etcoff, neurocientista da Universidade Harvard, nos Estados Unidos. Esse mecanismo inconsciente nos faz preferir o sabor doce ao amargo, por exemplo.


Mas a procura por satisfação também é influenciada pela cultura de cada época. E durante a maior parte da história da humanidade, a ideia de felicidade não foi nada parecida com a de hoje.



Tão perto, tão longe

Há cerca de 2.500 anos, os gregos e os romanos acreditavam que a felicidade era questão de sorte. O filósofo Sócrates foi o primeiro a considerar que ser feliz podia ser um objetivo humano, não um capricho divino. Mas a fundação do cristianismo, há cerca de 2.000 anos, levou a felicidade de novo para o além. Para a doutrina cristã, a mais influente no Ocidente, os seres humanos vieram ao mundo para sofrer: a felicidade é uma graça reservada para o paraíso. Não é à toa, que o negócio das Igrejas é vender alegrias futuras.


E foi o Iluminismo, aquele grande movimento filosófico do século 18, que defendeu e retomou a ideia da felicidade para o aqui e agora. Para os iluministas, ser feliz era um direito. A teoria cresceu e chegou até os nossos dias. Embora ainda permaneçam aqueles conceitos religiosos, como o de que a felicidade precisa ser merecida, ser feliz se tornou uma meta – e o maior de todos os bens.


Para obter-nos êxito nesta conquista, muitas ferramentas aparecem e desaparecem constantemente, como terapias revolucionárias, medicamentos ultramodernos e livros de autoajuda. “Mas isso não nos trouxe mais felicidade”, afirma Nancy Etcoff. “O mundo nunca foi tão rico em dinheiro e em conhecimento, mas os índices de satisfação das pessoas permacem iguais aos de 50 anos atrás.” A depressão, por sua vez, cresceu tanto que em 20 anos afetará mais pessoas no mundo do que os problemas cardiovasculares.


A vida bem vivida se equilibra sobre três pilares: os relacionamentos que mantemos, o engajamento que colocamos nas coisas e o sentido que damos à existência.

         

Intrigado com esses índices, o psicólogo americano Martin Seligman, da Universidade da Pensilvânia, dedicou as últimas décadas a investigar o que, afinal, torna as pessoas felizes. O que uns têm que outros não? Se você é um dos que pensam em viver na praia, ter um diploma de doutor, ganhar na loteria acumulada sozinho e não ter problemas...


Errou.Provou-se que clima, raça, gênero, idade, escolaridade e a proporção de emoções negativas que sentimos não influenciam a felicidade”, diz o Doutor Martin. Ter saúde e dinheiro impactam, mas até certo ponto. Se as necessidades básicas estão cobertas e não há sofrimento físico agudo, estar na lista de milionários ou na de inadimplentes, ser paraplégico ou triatleta faz pouquíssima diferença.


O que nos faz feliz, em primeiro lugar, é seguir a nossa natureza. Colecionar momentos de prazer - como almoçar o prato preferido - aumenta o bem-estar instantaneamente e tem mais impacto em longo prazo do que grandes acontecimentos, como o de ser promovido no trabalho. Mas a felicidade não se sustenta só assim. Porque o prazer é fugaz – e nos deixar guiar por ele pode fazer o efeito contrário. “Eu fico feliz se como pamonha. Mas se eu comer duas pamonhas, não ficarei duas vezes mais feliz. E se comer muitas, irei passar mal e ficarei muito triste”, brinca o professor Clóvis de Barros Filho.


Depois de comparar centenas de pesquisas, Martin e outros pesquisadores perceberam que a felicidade está naquilo que construímos de mais profundo – nossas experiências sociais. A vida bem vivida sugere o psicólogo, é aquela que se equilibra sobre três pilares: os relacionamentos que mantemos, o engajamento que colocamos nas coisas e o sentido que damos à nossa existência. É isso, afinal, que as pessoas felizes têm em comum.



Mais ricos que o rei

Tá certo, eles acumularam fama, sucesso e dinheiro. Suas músicas são cantadas de cor pela plateia nos 130 shows que fazem em média por ano, desde que a banda surgiu, 60 anos atrás. A longevidade os colocou no livro dos recordes, o Guinness, como o grupo vocal mais antigo do mundo, e ao status de patrimônio paulistano. Afina, são 123 discos gravados, que lhes deram uma bolacha de ouro para pendurar na parede. E, no entanto, não são esses números que os Demônios da Garoa têm de mais especial, nem as canções de Adoniran Barbosa que tornaram hits, como Trem das Onze. O que lhes deu sucesso e uma vida boa foi à amizade.


A banda nasceu em São Paulo, nos anos 1940, para mostrar que samba não era privilégio de carioca. Estão juntos desde então – embora sem nenhum dos oito integrantes originais. É que os Demônios viraram uma instituição, levada adiante pelos que chegaram depois. O mais antigo é Roberto Barbosa, o Canhotinho, 71 anos, Demônio há 40. Izael Caldeira, 67 anos, está há 27 na turma. Sérgio Rosa, 54 anos, líder do grupo e filho do fundador, Arnaldo, cresceu ao som de Samba do Arnesto. Seu filho Ricardinho, de 21 anos, entrou na banda adolescente, na mesma época que Sydnei Thomazzi, 57 anos. São vidas inteiras juntos.



Juntos, os Demônios construíram uma obra de altos, mas também compartilharam os baixos. “Houve época em que o dinheiro não entrava, e precisávamos colocar comida em casa”, diz Canhotinho. “Não foi fácil ver amigos deixarem a banda”, conta Izael. Canhotinho mesmo saiu dos Demônios nos anos 1980 pra fazer carreira solo. Pouco depois, o fundador Arnaldo adoeceu. Leal ao grupo e ao amigo, Canhotinho voltou – sem disco solo. “Abandonei o sonho para dar retaguarda. Não me arrependo. Tudo o que tenho, ganhei aqui”.


O Trabalho em equipe

As pessoas têm mais prazer quando fazem coisas juntas e não quando estão sozinhas, pensando na vida. O maior erro da psicologia foi colocar a felicidade no eu. Ela está no nós”, afirma Nancy Etcoff. Para Martin Seligman, é a extroversão que nos dá as maiores chances de felicidade. Ela pode ser praticada com a turma de amigos da escola, em um casamento afetuoso, em laços familiares fortes, com bons companheiros no trabalho ou pelo simples hábito de manter uma vida social intensa – o que significa não só ir a festas, mas gostar de gente, de conversar com vizinhos, de jogar bocha no clube. “As pessoas felizes passam a maior parte do seu tempo acompanhadas. De bem com os outros, pensamos menos em nós mesmos e queremos partilhar o que temos de bom”, diz Martin.


É o que acontece entre os Demônios. O grupo compartilha o cotidiano da carreira, mas também a intimidade e o afeto. “Desde que eu era criança, todos se encontravam na casa da minha avó. Minha mãe fazia bolo e nos divertíamos tocando. Até hoje é assim”, diz Sérgio. “Sabemos do que o outro precisa com um olhar. Somos felizes por estar juntos”, completa Canhotinho.


Quem pode, pode

Os Demônios não fazem ideia, mas muitas vezes fizeram Margarete Gomes, 52 anos, dançar na plateia. Margarete adora shows: já viu ao vivo Maria Bethania, Roberto Carlos e até Michael Jackson. Ela também ama atividades manuais, e frequentou dezenas de cursos de culinária e de artes. Na verdade, gosta de aulas em geral: estudou espanhol e biodança na Espanha, onde morou por dois anos, fez cursos de administração, se formou na faculdade de turismo com 50 anos e acabou de se matricular no inglês. “Não recuso um convite, nem a chance de aprender algo novo”, conta.


É boa a vida de quem gosta do que faz. Um privilégio de quem tem tempo e dinheiro de sobra, né? Bem, não no caso de Margarete, que mora de aluguel no centro de São Paulo, não tem carro e concluiu o ensino médio depois dos 40 anos, porque largou a escola aos 16 – quando se casou, grávida do primeiro de seus três filhos. Aos 27, se separou para ser independente. Desde então, se vira – foi até faxineira na Espanha. Cursos? É ver as palavras “aula” e “grátis” na mesma frase que se inscreve. A faculdade fez com bolsa. Aos shows, vai sem ingresso: na porta, compra mais barato de quem tem sobrando. Se for o caso, banca o luxo vendendo cerveja na fila. Como se vê, problemas não impedem Margarete de fazer o que lhe dá na telha.


Pense nisso:

Ficando mais perto da verdade, nos libertamos de várias ilusões e esperanças tolas. Isso nos ajuda a amar mais a vida do que a felicidade, a verdade mais do que a fantasia, o amor mais do que a fé ou a esperança.



Gosto pela coisa

A disposição pela vida representa o que o psicólogo Martin Seligman considera o segundo pilar da boa vida: o engajamento. É aquele jeito que certas pessoas têm de fazer as coisas, seja no trabalho, em casa ou no lazer, com envolvimento e empolgação. Caso de Margarete, cuja profissão – vendedora – já se prestou a muitos produtos. Hoje, ela trabalha em uma agência de viagens. Mas já vendeu uniforme de garçom, assinaturas de revistas, cosméticos, velas em cemitérios, bolos, planos de saúde, bijuterias e ovos de Páscoa. Mudava o produto, a dedicação continuava. “Ter descoberto que essa é a minha vocação é o que me fez mais feliz”.




Dar seu melhor nas tarefas gera um fenômeno no cérebro chamado flow – “fluxo”, em português. São momentos em que ficamos tão absortos no que estamos fazendo que até perdemos a noção do tempo e somos tomados pelo sentimento de gratificação. É uma espécie de paz interior, o fenômeno foi observado em monges e atletas. Mas também pode acontecer quando se resolve tirar o sábado para pintar a sala. O fluxo está em atividades desafiadoras, em que a recompensa é a própria realização do trabalho. “Elas nos colocam em contato com as nossas forças”, diz Martin. A satisfação de se sentir capaz é outra emoção durável – e, portanto, canal para a felicidade autêntica. Se bem, que existem os que acreditam que isso aconteça quando estão em um jogo virtual e conseguem atingir os seus objetivos, mas, como já dissemos, a felicidade de cada um está onde cada um acredita que ela esteja.


O engajamento é também uma forma de viver o instante presente. Margarete entende disso. “Acho que as pessoas ficam muito presas em construir e ter. Temos que ser mais livres”, diz. Os planos são necessários, mas expectativas demais causam muitas frustrações. “É feliz aquele que vive bem no mundo como ele é”, diz o professor Clóvis de Barros Filho. Ou, como diria Margarete: “A felicidade está nas coisas que a gente faz todos os dias. É isso que levamos da vida”.


A verdade de cada um

Hoje, Dona Cláudia, uma senhora de 63 anos, não quer levar nada da vida. Mas houve um tempo em que ela queria o mesmo que todo mundo. “Achava que ser feliz era ter um bom marido, um bom emprego, um bom carro, sucesso”, conta. Cláudia cresceu em um bairro nobre de São Paulo, casou-se aos 14 anos, teve a única filha e aos 17, se separou, estudou direito, virou jornalista. Aos 24 anos, mudou para a Inglaterra. De lá, foi para os Estados Unidos, onde conheceu o segundo marido. E aos 36 anos descobriu que não queria mais nada daquilo. Então a Senhora Cláudia virou budista. Hoje é conhecida como monja Coen – palavra japonesa que significa “só e completa”.


Foi porque estava em busca de algo que a ajudasse a se conhecer melhor que Dona Cláudia procurou o budismo. O encontro provocou uma reviravolta: ela percebeu que a vida que levava não lhe trazia realização. Em busca de um sentido, mergulhou na filosofia budista e mudou radicalmente de vida. Dos Estados Unidos, partiu para o Japão, onde morou por 12 anos em um mosteiro. Lá, abriu mão de conviver com a filha, raspou os cabelos, sofreu por não entender a língua e os costumes, deixou os confortos modernos, conheceu o terceiro marido, foi rejeitada por não ter origem japonesa, acordou muitos invernos às 4 horas da manhã para meditar, recolheu donativos na rua, virou monja.


E descobriu onde estava sua felicidade. “Eu era bravinha, exigente com os outros e comigo. No budismo, aprendi que o caminho da iluminação é conhecer a si mesmo. Isso me trouxe plenitude”, conta. “Vi que sou um ser integrado ao mundo e, para ficar bem, preciso fazer o bem. A recompensa é incrível.” Encontrar um sentido para a vida é isto: saber por que você faz o que faz, qual o seu papel no mundo. E seu impacto na felicidade está ligado à paz que ter respostas traz à vida. “Ficando mais perto da verdade, nos libertamos de várias ilusões e esperanças tolas. Isso nos ajuda a amar mais a vida do que a felicidade, a verdade mais do que a fantasia, o amor mais do que a fé ou a esperança”, diz o filósofo francês André Comte-Sponville.


Mapa do acaso

É como no conto clássico Alice no País das Maravilhas. A certa altura, Alice encontra o Gato Que Ri e pergunta: “para onde vai à estrada?” “Onde está?” O gato responde: “Para onde você quer ir?”. Ela balança a cabeça, confusa. Ele devolve: “Para quem não sabe para onde vai, qualquer caminho serve”. Não ter um propósito é como andar no escuro. É trabalhar para pagar as contas, casar por comodidade, ter filhos porque sim, escolher pela moda, fazer só por fazer.


O sentido pode estar em uma religião, na filosofia, no autoconhecimento. Tanto faz. Assim como a felicidade, cada um encontrará a sua versão: construir uma família, seguir princípios sagrados, deixar uma obra, ajudar os outros – não há resposta certa. “Há uma frase atribuída a Buda que diz: ‘A vida tem o sentido que você der a ela’”, fala Coen.


Para ela, outra lição sobre a felicidade é entender que tudo passa. “Assim, se pode ser feliz mesmo na perda ou na doença”, diz. O psicólogo Steven Hayes concorda. “A felicidade não é a ausência da dor – ela é inevitável. Aceitar isso é libertador, porque nos ensina a lidar melhor com a frustração e não faz da felicidade uma ditadura.” Senão, diz ele, acabamos paralisados. E deixamos de correr atrás da vida plena que gostaríamos de ter, para não enfrentar o risco de perder – ou de ser feliz.


Pense nisso!













Fonte s sítios Consultados
http://www.revistasorria.com.br



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