Todos os seres humanos querem ser
felizes, eu, você, quem está aí do lado e etc. Mesmo sem saber exatamente o que
é essa felicidade, onde ela mora ou como podemos encontra-la com exatidão; todos
os dias nós nos encontramos traçando planos, fazendo escolhas, listando ou
trocando de desejos e assim continuamos alimentando as esperanças e as
expectativas de enfim, alcançá-la. Em nome desta procura, comemos muito chocolate,
estudamos um pouco mais para aquela prova, preparamos àquela festa, casamos ou
separamos, compramos um carro novo, aprendemos a dançar valsa, vamos àquela formatura
da turma, vivemos entrando e saindo de dietas milagrosas, brigamos, perdoamos,
fazemos promessas – enfim, nós vivemos tentando ser felizes.
É muito comum agirmos pensando na
felicidade como uma recompensa futura por algum esforço atual. Mas, também não
é difícil de encontrar quem acredite que encontrará a felicidade em um bilhete
dourado que está dentro de uma caixa de bombons. Não é nada incomum ou raro,
pensarmos que essa tal felicidade seja um direito nosso. Ou, quem sabe, um dever
a ser cumprido – e, assim, uma obrigação cotidiana, por exemplo, como fazer um
jantar e se a nossa receita falhar, nós tenderemos rapidamente a procurar alguma
solução pronta, como aquela lasanha congelada ou aqueles comprimidos de antidepressivos.
Por isso é tão difícil definir
(e achar) a tal felicidade. Nós vivemos confundindo ela com
o afeto (se encontrarmos o amor, ela
virá), com a sorte (com
esperança, ela vai chegar), com o alívio (se
resolvermos os problemas, como o excesso de peso, então a teremos). Estamos
sempre a confundindo com as conquistas: se realizarmos tudo o que
queremos e o que esperam de nós... aí sim, seremos então felizes, não?
Só que Não! Muito pelo contrário, é pensando assim que acabamos
transformando a felicidade naquela cenoura eternamente pendurada à nossa frente –
próxima, mas inalcançável. Estabelecer tantas condições para sermos felizes faz com
que a gente superestime o poder
de certas coisas, que nem são tão importantes assim para o nosso bem. Estamos sempre
sendo enganados por aquela promessa de que há uma fórmula a seguir e jogamos a
responsabilidade pela satisfação em lugares fora de nós (e além do nosso controle), como
ganhar um aumento no trabalho ou ser correspondido no amor, e atualmente, ainda
existem os que se realizam em ter o seu último ‘post’ curtido
por mais de 300 pessoas. Isso tudo, ao invés de trazer uma resposta para acalmar
os nossos anseios, acaba em ilusões que nós mesmos criamos e podem aumentar
ainda mais o vazio que anda nos incomodando.
É certo que ninguém sabe explicar
exatamente o que é a felicidade – até porque ela é uma experiência única para
cada pessoa. Mas a ciência, a filosofia e as histórias de quem se assumem felizes
dão pistas do que ela não é. E ela não está numa receita, não existem garantias, não
está no futuro, nem à venda. Não poderemos sequer possuí-la. A felicidade é um
momento passageiro e presente, em que não precisamos de nada além do que
estamos vivendo. Esses momentos podem ser acumulados, e a sensação será quase
constante. Mas isso não é algo a se procurar, nem a esperar. Porque não é o
fim. É o caminho. A felicidade – autêntica, profunda e duradoura – está na soma
dos instantes, das horas, dos dias de uma vida bem vivida.
Diferentes, mas iguais
É fato que cada um tenha a sua
versão do que é uma vida feliz, onde se projete valores, experiências e
expectativas. Mutável, essa definição é influenciada pela personalidade, pela
realidade em que vivemos e pela fase da vida em que estamos – razão
pela qual os livros genéricos com receitas para ser feliz em 10 passos só
alegram seus autores. “Se fosse assim, já teríamos banido a tristeza do
mundo”, diz Clóvis de Barros Filho, professor de ética da Universidade de São
Paulo.
Mas existem certas coisas que todos
temos em comum. A começar pelo fato de que somos projetados para fugir da dor e
amar o prazer. “É uma tática da natureza para garantir a
sobrevivência e nos fazer passar os genes adiante”, diz Nancy Etcoff, neurocientista da Universidade Harvard, nos
Estados Unidos. Esse mecanismo inconsciente nos faz preferir o sabor doce ao
amargo, por exemplo.
Mas a procura por satisfação
também é influenciada pela cultura de cada época. E durante a maior parte da
história da humanidade, a ideia de felicidade não foi nada parecida com a de
hoje.
Há cerca de 2.500 anos, os gregos
e os romanos acreditavam que a felicidade era questão de sorte. O filósofo Sócrates foi o
primeiro a considerar que ser feliz podia ser um objetivo humano, não um
capricho divino. Mas a fundação do cristianismo, há cerca de 2.000 anos, levou
a felicidade de novo para o além. Para a doutrina cristã, a mais influente no
Ocidente, os seres humanos vieram ao mundo para sofrer: a
felicidade é uma graça reservada para o paraíso. Não é à
toa, que o negócio das Igrejas é vender alegrias futuras.
E foi o Iluminismo, aquele
grande movimento filosófico do século 18, que defendeu e retomou a ideia
da felicidade para o aqui e agora. Para os iluministas, ser feliz era um
direito. A teoria cresceu e chegou até os nossos dias. Embora ainda permaneçam
aqueles conceitos religiosos, como o de que a felicidade precisa ser merecida,
ser feliz se tornou uma meta – e o maior de todos os bens.
Para obter-nos êxito nesta conquista,
muitas ferramentas aparecem e desaparecem constantemente, como terapias
revolucionárias, medicamentos ultramodernos e livros de autoajuda. “Mas isso
não nos trouxe mais felicidade”, afirma Nancy
Etcoff. “O mundo
nunca foi tão rico em dinheiro e em conhecimento, mas os índices de satisfação
das pessoas permacem iguais aos de 50 anos atrás.” A
depressão, por sua vez, cresceu tanto que em 20 anos afetará mais pessoas no
mundo do que os problemas cardiovasculares.
A vida bem vivida
se equilibra sobre três pilares: os relacionamentos que mantemos, o engajamento que
colocamos nas coisas e o sentido que damos à existência.
Intrigado com esses índices, o
psicólogo americano Martin Seligman, da
Universidade da Pensilvânia, dedicou as últimas décadas a investigar o que,
afinal, torna as pessoas felizes. O que uns têm que outros não? Se você é um
dos que pensam em viver na praia, ter um diploma de doutor, ganhar na loteria acumulada
sozinho e não ter problemas...
Errou. “Provou-se
que clima, raça, gênero, idade, escolaridade e a proporção de emoções negativas
que sentimos não influenciam a felicidade”, diz o Doutor Martin. Ter saúde e dinheiro impactam,
mas até certo ponto. Se as necessidades básicas estão cobertas e não há
sofrimento físico agudo, estar na lista de milionários ou na de inadimplentes,
ser paraplégico ou triatleta faz pouquíssima diferença.
O que nos faz feliz, em primeiro
lugar, é seguir a nossa natureza. Colecionar momentos de prazer - como
almoçar o prato preferido - aumenta o bem-estar instantaneamente e tem mais
impacto em longo prazo do que grandes acontecimentos, como o de ser promovido
no trabalho. Mas a
felicidade não se sustenta só assim. Porque o prazer
é fugaz – e nos deixar guiar por ele pode fazer o efeito contrário. “Eu fico
feliz se como pamonha. Mas se eu comer duas pamonhas, não ficarei duas vezes
mais feliz. E se
comer muitas, irei passar mal e ficarei muito triste”, brinca
o professor Clóvis de Barros Filho.
Depois de comparar centenas de
pesquisas, Martin e outros pesquisadores perceberam que a
felicidade está naquilo que construímos de mais profundo – nossas
experiências sociais. A vida bem vivida sugere o psicólogo, é aquela que se
equilibra sobre três pilares: os
relacionamentos que mantemos, o engajamento
que colocamos nas coisas e o sentido
que damos à nossa existência. É isso, afinal, que as pessoas felizes têm em
comum.
Tá certo, eles acumularam fama,
sucesso e dinheiro. Suas músicas são cantadas de cor pela plateia nos 130 shows
que fazem em média por ano, desde que a banda surgiu, 60 anos atrás. A
longevidade os colocou no livro dos recordes, o Guinness, como o grupo vocal mais antigo do mundo, e ao status de
patrimônio paulistano. Afina, são 123 discos gravados, que lhes deram uma
bolacha de ouro para pendurar na parede. E, no entanto, não são esses números
que os Demônios da Garoa têm de mais especial, nem as canções de Adoniran
Barbosa que tornaram hits, como Trem das Onze. O que lhes deu sucesso e uma vida boa foi à amizade.
A banda nasceu em São Paulo, nos
anos 1940, para mostrar que samba não era privilégio de carioca. Estão juntos
desde então – embora sem nenhum dos oito integrantes originais. É que os
Demônios viraram uma instituição, levada adiante pelos que chegaram depois. O
mais antigo é Roberto Barbosa, o Canhotinho, 71 anos, Demônio há 40. Izael
Caldeira, 67 anos, está há 27 na turma. Sérgio Rosa, 54 anos, líder do grupo e
filho do fundador, Arnaldo, cresceu ao som de Samba do Arnesto. Seu filho
Ricardinho, de 21 anos, entrou na banda adolescente, na mesma época que Sydnei
Thomazzi, 57 anos. São vidas inteiras juntos.
O Trabalho em equipe
“As
pessoas têm mais prazer quando fazem coisas juntas e não quando estão sozinhas,
pensando na vida. O maior erro da psicologia foi colocar a felicidade no eu.
Ela está no nós”, afirma
Nancy Etcoff. Para Martin
Seligman, é a extroversão que nos dá as maiores chances de felicidade. Ela pode
ser praticada com a turma de amigos da escola, em um casamento afetuoso, em
laços familiares fortes, com bons companheiros no trabalho ou pelo simples
hábito de manter uma vida social intensa – o que significa não só ir a festas,
mas gostar de gente, de conversar com vizinhos, de jogar bocha no clube. “As pessoas felizes passam a maior parte do seu
tempo acompanhadas. De bem com os outros, pensamos menos em nós mesmos e
queremos partilhar o que temos de bom”, diz Martin.
É o que acontece entre os Demônios. O grupo
compartilha o cotidiano da carreira, mas também a intimidade e o afeto. “Desde
que eu era criança, todos se encontravam na casa da minha avó. Minha mãe fazia
bolo e nos divertíamos tocando. Até hoje é assim”, diz Sérgio. “Sabemos do que
o outro precisa com um olhar. Somos felizes por estar juntos”, completa
Canhotinho.
Quem
pode, pode
Os Demônios não fazem ideia, mas
muitas vezes fizeram Margarete Gomes, 52 anos, dançar na plateia. Margarete
adora shows: já viu ao vivo Maria Bethania, Roberto Carlos e até Michael
Jackson. Ela também ama atividades manuais, e frequentou dezenas de cursos de
culinária e de artes. Na verdade, gosta de aulas em geral: estudou espanhol e
biodança na Espanha, onde morou por dois anos, fez cursos de administração, se
formou na faculdade de turismo com 50 anos e acabou de se matricular no inglês.
“Não recuso um convite, nem a chance de aprender algo novo”, conta.
É boa a vida de quem gosta do que
faz. Um privilégio de quem tem tempo e dinheiro de sobra, né? Bem, não no caso
de Margarete, que mora de aluguel no centro de São Paulo, não tem carro e
concluiu o ensino médio depois dos 40 anos, porque largou a escola aos 16 –
quando se casou, grávida do primeiro de seus três filhos. Aos 27, se separou
para ser independente. Desde então, se vira – foi até faxineira na Espanha.
Cursos? É ver as palavras “aula” e “grátis” na mesma frase que se inscreve. A
faculdade fez com bolsa. Aos shows, vai sem ingresso: na porta, compra mais
barato de quem tem sobrando. Se for o caso, banca o luxo vendendo cerveja na fila.
Como se vê, problemas não impedem Margarete de fazer o que lhe dá na telha.
Pense nisso:
Ficando mais perto da verdade, nos libertamos de
várias ilusões e esperanças tolas. Isso nos ajuda a amar mais a vida do que a
felicidade, a verdade mais do que a fantasia, o amor mais do que a fé ou a
esperança.
Gosto pela coisa
A disposição pela vida representa
o que o psicólogo Martin
Seligman considera o segundo pilar da boa vida: o engajamento. É aquele
jeito que certas pessoas têm de fazer as coisas, seja no trabalho, em casa ou
no lazer, com envolvimento e empolgação. Caso de Margarete, cuja profissão –
vendedora – já se prestou a muitos produtos. Hoje, ela trabalha em uma agência
de viagens. Mas já vendeu uniforme de garçom, assinaturas de revistas,
cosméticos, velas em cemitérios, bolos, planos de saúde, bijuterias e ovos de
Páscoa. Mudava o produto, a dedicação continuava. “Ter descoberto que essa é a minha vocação é o que
me fez mais feliz”.
Dar seu melhor nas tarefas gera
um fenômeno no cérebro chamado flow – “fluxo”, em português. São momentos em que ficamos tão absortos no
que estamos fazendo que até perdemos a noção do tempo e somos tomados pelo
sentimento de gratificação. É uma espécie de paz interior, o fenômeno foi
observado em monges e atletas. Mas também pode acontecer quando se resolve
tirar o sábado para pintar a sala. O fluxo está em atividades desafiadoras, em
que a recompensa é a própria realização do trabalho. “Elas nos colocam em
contato com as nossas forças”, diz Martin. A satisfação de se sentir capaz é
outra emoção durável – e, portanto, canal para a felicidade autêntica. Se bem,
que existem os que acreditam que isso aconteça quando estão em um jogo virtual
e conseguem atingir os seus objetivos, mas, como já dissemos, a felicidade de
cada um está onde cada um acredita que ela esteja.
O engajamento é também uma forma
de viver o instante presente. Margarete entende disso. “Acho que as pessoas ficam muito presas em construir
e ter. Temos que ser mais livres”, diz. Os planos são necessários, mas expectativas
demais causam muitas frustrações. “É feliz
aquele que vive bem no mundo como ele é”, diz o professor Clóvis de Barros Filho. Ou, como
diria Margarete: “A
felicidade está nas coisas que a gente faz todos os dias. É isso que levamos da
vida”.
A verdade de cada um
Hoje, Dona Cláudia, uma senhora
de 63 anos, não quer levar nada da vida. Mas houve um tempo em que ela queria o
mesmo que todo mundo. “Achava
que ser feliz era ter um bom marido, um bom emprego, um bom carro, sucesso”, conta.
Cláudia cresceu em um bairro nobre de São Paulo, casou-se aos 14 anos, teve a
única filha e aos 17, se separou, estudou direito, virou jornalista. Aos 24
anos, mudou para a Inglaterra. De lá, foi para os Estados Unidos, onde conheceu
o segundo marido. E aos 36 anos descobriu que não queria mais nada daquilo. Então
a Senhora Cláudia virou budista. Hoje é conhecida como monja
Coen – palavra japonesa que significa “só e completa”.
Foi porque estava em busca de
algo que a ajudasse a se conhecer melhor que Dona Cláudia procurou o budismo. O
encontro provocou uma reviravolta: ela percebeu que a vida que levava não lhe
trazia realização. Em busca de um sentido, mergulhou na filosofia budista e
mudou radicalmente de vida. Dos Estados Unidos, partiu para o Japão, onde morou
por 12 anos em um mosteiro. Lá, abriu mão de conviver com a filha, raspou os
cabelos, sofreu por não entender a língua e os costumes, deixou os confortos
modernos, conheceu o terceiro marido, foi rejeitada por não ter origem
japonesa, acordou muitos invernos às 4 horas da manhã para meditar, recolheu
donativos na rua, virou monja.
E descobriu onde estava sua
felicidade. “Eu era
bravinha, exigente com os outros e comigo. No budismo, aprendi que o caminho da
iluminação é conhecer a si mesmo. Isso me trouxe plenitude”, conta.
“Vi que sou um ser integrado ao mundo e, para ficar
bem, preciso fazer o bem. A recompensa é incrível.”
Encontrar um sentido para a vida é isto: saber por que você faz o que faz, qual
o seu papel no mundo. E seu impacto na felicidade está ligado à paz que ter
respostas traz à vida. “Ficando
mais perto da verdade, nos libertamos de várias ilusões e esperanças tolas.
Isso nos ajuda a amar mais a vida do que a felicidade, a verdade mais do que a
fantasia, o amor mais do que a fé ou a esperança”, diz o filósofo francês André Comte-Sponville.
Mapa do acaso
Mapa do acaso
É como no conto clássico Alice no
País das Maravilhas. A certa altura, Alice encontra o Gato Que Ri e pergunta: “para onde vai à
estrada?” “Onde está?” O gato responde: “Para onde você quer ir?”. Ela balança
a cabeça, confusa. Ele devolve: “Para quem não sabe para onde vai, qualquer caminho
serve”. Não ter um propósito é como andar no escuro. É trabalhar para pagar
as contas, casar por comodidade, ter filhos porque sim, escolher pela moda,
fazer só por fazer.
O sentido pode estar em uma
religião, na filosofia, no autoconhecimento. Tanto faz. Assim como a
felicidade, cada um encontrará a sua versão: construir uma família, seguir
princípios sagrados, deixar uma obra, ajudar os outros – não há resposta certa.
“Há uma
frase atribuída a Buda que diz: ‘A vida tem o sentido que você der a ela’”, fala Coen.
Para ela, outra lição sobre a
felicidade é entender que tudo passa. “Assim, se
pode ser feliz mesmo na perda ou na doença”, diz. O psicólogo Steven Hayes
concorda. “A felicidade não é a ausência da
dor – ela é inevitável. Aceitar isso é libertador, porque nos ensina a lidar
melhor com a frustração e não faz da felicidade uma ditadura.” Senão,
diz ele, acabamos paralisados. E deixamos de correr atrás da vida plena que
gostaríamos de ter, para não enfrentar o risco de perder – ou de ser feliz.
Fonte s sítios Consultados
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