Não falta água em São Paulo, falta Gestão!
Acompanhamos a redução dos níveis de água do
reservatório da Cantareira aos 12% na data de hoje, 09 de abril de 2014 e é
claro que este nível baixíssimo é motivo de preocupação. Essa é a primeira vez
que se registram níveis tão baixos neste reservatório responsável por 45% de
atendimento da Região Metropolitana de
São Paulo, RMSP. A responsabilidade dos preocupantes
índices, segundo o governo, é
da falta de chuvas que faz deste o verão o mais seco desde 1984. Altas
temperaturas bateram recordes e mais recordes neste ano de 2014. As campanhas
para racionamento já começam a circular nos meios de comunicação, com o
inevitável apelo para o controle do uso de água.
Porém, não é somente responsabilidade das donas de
casa ou das condições climáticas. Há fatores muito mais preocupantes, que podem
nos colocar diante de risco iminente de escassez de água por um bom tempo.
Para entender o processo de fornecimento de água ‘casa
a casa’ na megametrópole é preciso compreender como funciona o
abastecimento. Vamos entender o Sistema da Cantareira, responsável por 45% do
fornecimento de água na região metropolitana, que atende aproximadamente
9 milhões de habitantes.
O Sistema Cantareira é formado pelos rios
Piracicaba, Capivari e Jundiaí. Há ainda os rios que complementam o sistema, o
Atibainha e alguns afluentes do sul de Minas Gerais, região de Extrema. Estes
rios formam o Sistema Cantareira, estruturados num complexo de emaranhados
tuneis, canais e reservatórios chegando até a represa Paiva Castro. Nesta área
de captação das águas para o abastecimento residem 5,2 milhões de habitantes
que também utilizam estas águas para consumo, somando o total de 59 municípios.
Esta gestão é conduzida pela Agência Nacional de
Águas, ANA, em parceria com os Comitês de Bacia, órgãos colegiados com
representação da sociedade civil.
É fato que em 2004, a ANA outorgou o Sistema
Cantareira partilhando o uso da água entre a região de Campinas, Jundiaí,
Atibaia e Extrema e a Região Metropolitana de São Paulo. Desta outorga, ficou
pactuado que a RMSP receberia 33 metros por segundo de água potável, regime
este válido por 10 anos.
Além da disposição do recurso hídrico para abastecimento,
a região produtora de água (Campinas, Piracicaba, Jundiaí, Atibaia e Extrema)
ficou responsabilizada por melhorias das condições ambientais da bacia
hidrográfica, como por exemplo, a redução de perdas físicas, o desassoreamento
dos cursos d’água, coleta e tratamento de esgotos, reuso de água,
reflorestamento de cabeceiras, e cobrança pelo uso da água.
Outro fato importante a se destacar é que na região
de Campinas, Piracicaba, Jundiaí, Sumaré foi onde as principais montadoras de
veículos e fornecedoras de autopeças se instalaram a partir de 1997. Honda,
Mercedes Benz, Hyundai e Toyota formam hoje o chamado “ABC Caipira”, que requer
no seu processo produtivo alta demanda de consumo de água.
Na outorga do Sistema Cantareira, em 2004, a
previsão de aumento de consumo de água era da ordem de 2% para o “ABC Caipira”.
Porém, com o ‘boom’ de desenvolvimento e atração de novos empregos, o
crescimento já em 2014 é da ordem de 4%. A administração municipal das cidades
de Campinas, Sumaré, Piracicaba e região fizeram a lição de casa estabelecida
na outorga. Coleta, tratamento de esgoto, cobrança pelo uso da água foram
políticas adotadas por diferentes governos destes municípios, colocando-os em
condições privilegiadas na prestação de serviços ambientais.
Já a RMSP ficou para trás no processo de
cumprimento das prerrogativas estabelecidas em 2004, onde eram de
responsabilidade da SABESP, as tarefas de cobrança pelo uso e reuso da água, coleta
e tratamento de esgotos ficaram a desejar. Com capital misto, a Sabesp e seus
acionistas preferem a jogatina nos cassinos de apostas da Bolsa de Nova York à
canalização e tratamento de esgotos, proliferando o fétido odor característico
dos corpos d’água na capital.
Hoje, todos sabem que a RMSP perde 7 m³
por segundo de água potável no sistema de distribuição. A acusação que
pesa sobre a SABESP é que a velha rede de distribuição e a falta de manutenção
levam a perdas diárias irreparáveis.
Sob as
circunstâncias atuais, a tendência, diante dos grupos de pressão da região do
“ABC Caipira” e a inércia da SABESP, é que a crise que vive hoje o Sistema
Cantareira só irá se agravar (se é que pode ser pior que isso), seja pela
falta de chuva, seja pela desatenção com a gestão do recurso escasso na RMSP.
Enquanto a disputa pela água continua acirrada, a SABESP faz propagandas
primárias com conteúdo ambiental ínfimo. É perceptível que ele acordou
tarde para este problema. A SABESP está patinando na gestão
hídrica ambiental, desinforma e não aponta nenhuma saída para o rodízio de
abastecimento inevitável. Já era tempo de prever ondas de calor e
estiagens. A resposta que a SABESP apresenta é jogar nas costas
da sociedade a responsabilidade pela escassez.
Fonte e Sítios Consultados
http://jornalggn.com.br/noticia/
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