Se você é mais um daqueles que vive conectado e não
suporta ficar ‘offline’, cuidado: é
possível que você esteja ajudando a engrossar as estatísticas dos viciados em internet. Este problema está
afetando mais de 50 milhões de pessoas no mundo, segundo os dados da Universidade
La Salle, nos Estados Unidos, e 4,3 milhões no Brasil. E esses
números só tendem a crescer pela maior facilidade de acesso à web e pelo
desenvolvimento tecnológico.
Saiba que isso é considerado pelos médicos e especialistas uma dependência tão
crônica quanto à de substâncias como álcool e cocaína, o transtorno já é
reconhecido pela Associação Americana de Psicólogos como Internet Addiction
Disorder (Transtorno do Vício de Internet).
Para a cientista Kimberly Young, da Universidade São Boaventura,
nos Estados Unidos, e diretora do Centro de Recuperação de Dependentes de
Internet, os sintomas são semelhantes aos de muitos outros vícios: o indivíduo
muda sua rotina, negligencia as relações familiares e sociais e perde prazos no
trabalho, porque sua vida passa a ser controlada pelo computador e afins.
Quando o quadro se torna crítico e patológico, é preciso recorrer à ajuda
psicoterapeuta.
O corpo dá o alerta
De acordo com
artigo publicado no final do ano de 2013 na revista científica americana PLoS ONE, o hábito pode trazer
riscos à saúde física e mental: avaliação feita com usuários assíduos mostrou
que o vício está associado a alterações de humor, risco de depressão e sinais
de abstinência, além de fazer com que o sujeito apresente traços de autismo.
Entre os sintomas físicos, destaca-se taquicardia, sudorese, secura da boca e
tremedeiras. E em longo prazo, há comprometimento da postura, lesões
por esforço repetitivo (como tendinite), obesidade ou subnutrição (por causa da
má alimentação) e deformidade da visão.
Estamos vivendo uma
realidade que, de fato, tem mudado de maneira significativa a vida humana. Um
dos pontos centrais de toda esta transformação, sem dúvida alguma pode ser
atribuído ao nosso acesso à tecnologia. Em uma época em que estar conectado
virou algo normal – em casa ou no trabalho, pelo laptop, smartphone ou tablet,
– a tecnologia se tornou parte indispensável do nosso dia a dia.
Em outra pesquisa do
final de 2012, da Universidade de Bonn, na Alemanha, levantou-se a
hipótese que, em alguns casos, a culpa é dos genes: haveria uma variação
genética específica entre os obsessivos, que afetaria mais as mulheres. O
panorama é tão grave que a próxima versão do Guia Diagnóstico e Estatístico de
Transtornos Mentais, publicação internacional dirigida aos profissionais da
saúde, deve incluir o vício na lista de distúrbios psiquiátricos.
Os Jovens são maiores vítimas
A preocupação dos
organismos mundiais se concentra nos jovens e nas crianças, sempre mais
vulneráveis a este tipo de dependência. Só para termos uma ideia, os Estados
Unidos, a China e a Coreia do Sul já registraram casos de mortes de rapazes e
moças que passaram dias ininterruptos em joguinhos virtuais.
"A internet se
tornou uma ferramenta poderosa para encurtar distâncias, agilizar procedimentos
e facilitar a vida de maneira geral. O problema é que foram surgindo outras
dinâmicas, como sites de relacionamento, redes sociais e jogos, produzindo um
fenômeno que tem alterado a rotina e a realidade das pessoas", é o que analisa
a psicanalista e neurocientista Nanci Azevedo Cavaco, sócia fundadora da
Academia do Cérebro.
O fato é que a
internet proporciona um prazer quase imediato, ativando um sistema de
recompensa no cérebro que estimula o usuário a querer repetir a sensação.
"A web seduz o homem contemporâneo que busca se satisfazer com rapidez e
facilidade. A 'recreação' está disponível a qualquer momento e na intensidade
que desejar, e assim ele dribla o mal-estar imposto pela realidade. Além de
sacrificar as relações e interações pessoais e se tornar refém de uma máquina
que despeja imagens, jogos, soluções velozes", reflete Araceli Albino,
psicanalista e doutora em psicologia, presidente do Sindicato dos Psicanalistas
do Estado de São Paulo.
O indivíduo
vivencia uma série de experiências agradáveis que incluem desde a possibilidade
de abstrair o tempo até um incrível sentimento de poder, "em que cada um é
o 'senhor' que determina, com o apertar de uma tecla, se exclui ou se conecta a
pessoas e informações de maneira imediata no mundo inteiro", diz Nanci
Cavaco.
Outro ponto que
contribui para o vício é a falsa ideia de que você pertence a um grupo, tendo a
possibilidade de interagir com todos e podendo se apresentar como quiser,
subtraindo em parte ou totalmente o que não gosta em si mesmo. O hiperconectado
perde, mesmo, o controle sobre a prática. "Acredita-se na relação entre o
uso abusivo da internet e o encolhimento de regiões cerebrais, em particular da
área responsável pelo autodomínio."
Personalidade influencia
Personalidade influencia
Em relação a quem
teria mais propensão à dependência, Nanci Azevedo Cavaco destaca o tímido, pela
dificuldade de se expor e por encontrar, na tela, um ambiente seguro para
interagir; o ansioso, que deseja ter controle sobre tudo; e o compulsivo, por
se fixar e repetir o mesmo comportamento várias vezes. "Alguns aspectos
psicológicos e sociais colaboram com o distúrbio, como fobia social, baixa
autoestima, depressão, solidão e isolamento."
Para Araceli
Albino, um sujeito afetivamente carente, inseguro e solitário, que não consegue
lidar com as frustrações inevitáveis da realidade, encontra no mundo virtual um
amparo. "E, dessa forma, cria um mundo idealizado em que possa se sentir
seguro. Há um embotamento mental e emocional, uma alienação no imaginário,
privando a pessoa do contato físico e do afeto, importantíssimos para o
bem-estar."
Como todo o excesso
tende a ser negativo, o perigo do internauta obsessivo é se desprender do mundo
real para viver num universo paralelo, afastando-se das relações sociais de
verdade, num processo de fuga psicológica. Ele perde a habilidade pessoal –
percepção, tato, paciência e tolerância para lidar com o outro –, para de ler,
tem seu raciocínio crítico minimizado e comumente adia tarefas e compromissos,
gerando prejuízos em todas as esferas – familiar, social, acadêmica,
profissional.
"Só nos
humanizamos pelo estabelecimento de relações, isso acontece desde que nascemos,
não dá para trocar o afeto do cuidado pela máquina. No futuro, como se
comportará este homem que navega, conversa, namora, faz sexo, cria identidades,
se protege atrás da tela e se sente dono do mundo?", indaga Araceli
Albino, acrescentando que o terreno virtual é favorável à fantasia, ao agrupamento
sem a presença da lei, às regras horizontais em que vale tudo. "A pessoa
se reinventa a cada dia, mas se aliena no objeto, fica aprisionada em uma
cadeia sem grade".
Finalizamos esse com a frase da psicanalista e
neurocientista Nanci Azevedo Cavaco faz um alerta:
"Compreenda que a internet pode
aproximar quem está longe, mas também é capaz de distanciar quem está
perto".
Fonte e Sítios Consultados
http://noticias.uol.com.br/saude
Nenhum comentário:
Postar um comentário