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17 de março de 2014

Viciados em internet?




Se você é mais um daqueles que vive conectado e não suporta ficar ‘offline’, cuidado: é possível que você esteja ajudando a engrossar as estatísticas dos viciados em internet. Este problema está afetando mais de 50 milhões de pessoas no mundo, segundo os dados da Universidade La Salle, nos Estados Unidos, e 4,3 milhões no Brasil. E esses números só tendem a crescer pela maior facilidade de acesso à web e pelo desenvolvimento tecnológico.





Saiba que isso é considerado pelos médicos e especialistas uma dependência tão crônica quanto à de substâncias como álcool e cocaína, o transtorno já é reconhecido pela Associação Americana de Psicólogos como Internet Addiction Disorder (Transtorno do Vício de Internet).



Para a cientista Kimberly Young, da Universidade São Boaventura, nos Estados Unidos, e diretora do Centro de Recuperação de Dependentes de Internet, os sintomas são semelhantes aos de muitos outros vícios: o indivíduo muda sua rotina, negligencia as relações familiares e sociais e perde prazos no trabalho, porque sua vida passa a ser controlada pelo computador e afins. Quando o quadro se torna crítico e patológico, é preciso recorrer à ajuda psicoterapeuta.




O corpo dá o alerta

De acordo com artigo publicado no final do ano de 2013 na revista científica americana PLoS ONE, o hábito pode trazer riscos à saúde física e mental: avaliação feita com usuários assíduos mostrou que o vício está associado a alterações de humor, risco de depressão e sinais de abstinência, além de fazer com que o sujeito apresente traços de autismo. Entre os sintomas físicos, destaca-se taquicardia, sudorese, secura da boca e tremedeiras. E em longo prazo, há comprometimento da postura, lesões por esforço repetitivo (como tendinite), obesidade ou subnutrição (por causa da má alimentação) e deformidade da visão.


Estamos vivendo uma realidade que, de fato, tem mudado de maneira significativa a vida humana. Um dos pontos centrais de toda esta transformação, sem dúvida alguma pode ser atribuído ao nosso acesso à tecnologia. Em uma época em que estar conectado virou algo normal – em casa ou no trabalho, pelo laptop, smartphone ou tablet, – a tecnologia se tornou parte indispensável do nosso dia a dia.


Em outra pesquisa do final de 2012, da Universidade de Bonn, na Alemanha, levantou-se a hipótese que, em alguns casos, a culpa é dos genes: haveria uma variação genética específica entre os obsessivos, que afetaria mais as mulheres. O panorama é tão grave que a próxima versão do Guia Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, publicação internacional dirigida aos profissionais da saúde, deve incluir o vício na lista de distúrbios psiquiátricos.




Os Jovens são maiores vítimas

A preocupação dos organismos mundiais se concentra nos jovens e nas crianças, sempre mais vulneráveis a este tipo de dependência. Só para termos uma ideia, os Estados Unidos, a China e a Coreia do Sul já registraram casos de mortes de rapazes e moças que passaram dias ininterruptos em joguinhos virtuais.


"A internet se tornou uma ferramenta poderosa para encurtar distâncias, agilizar procedimentos e facilitar a vida de maneira geral. O problema é que foram surgindo outras dinâmicas, como sites de relacionamento, redes sociais e jogos, produzindo um fenômeno que tem alterado a rotina e a realidade das pessoas", é o que analisa a psicanalista e neurocientista Nanci Azevedo Cavaco, sócia fundadora da Academia do Cérebro.


O fato é que a internet proporciona um prazer quase imediato, ativando um sistema de recompensa no cérebro que estimula o usuário a querer repetir a sensação. "A web seduz o homem contemporâneo que busca se satisfazer com rapidez e facilidade. A 'recreação' está disponível a qualquer momento e na intensidade que desejar, e assim ele dribla o mal-estar imposto pela realidade. Além de sacrificar as relações e interações pessoais e se tornar refém de uma máquina que despeja imagens, jogos, soluções velozes", reflete Araceli Albino, psicanalista e doutora em psicologia, presidente do Sindicato dos Psicanalistas do Estado de São Paulo.


O indivíduo vivencia uma série de experiências agradáveis que incluem desde a possibilidade de abstrair o tempo até um incrível sentimento de poder, "em que cada um é o 'senhor' que determina, com o apertar de uma tecla, se exclui ou se conecta a pessoas e informações de maneira imediata no mundo inteiro", diz Nanci Cavaco.


Outro ponto que contribui para o vício é a falsa ideia de que você pertence a um grupo, tendo a possibilidade de interagir com todos e podendo se apresentar como quiser, subtraindo em parte ou totalmente o que não gosta em si mesmo. O hiperconectado perde, mesmo, o controle sobre a prática. "Acredita-se na relação entre o uso abusivo da internet e o encolhimento de regiões cerebrais, em particular da área responsável pelo autodomínio."



Personalidade influencia

Em relação a quem teria mais propensão à dependência, Nanci Azevedo Cavaco destaca o tímido, pela dificuldade de se expor e por encontrar, na tela, um ambiente seguro para interagir; o ansioso, que deseja ter controle sobre tudo; e o compulsivo, por se fixar e repetir o mesmo comportamento várias vezes. "Alguns aspectos psicológicos e sociais colaboram com o distúrbio, como fobia social, baixa autoestima, depressão, solidão e isolamento."


Para Araceli Albino, um sujeito afetivamente carente, inseguro e solitário, que não consegue lidar com as frustrações inevitáveis da realidade, encontra no mundo virtual um amparo. "E, dessa forma, cria um mundo idealizado em que possa se sentir seguro. Há um embotamento mental e emocional, uma alienação no imaginário, privando a pessoa do contato físico e do afeto, importantíssimos para o bem-estar."



Como todo o excesso tende a ser negativo, o perigo do internauta obsessivo é se desprender do mundo real para viver num universo paralelo, afastando-se das relações sociais de verdade, num processo de fuga psicológica. Ele perde a habilidade pessoal – percepção, tato, paciência e tolerância para lidar com o outro –, para de ler, tem seu raciocínio crítico minimizado e comumente adia tarefas e compromissos, gerando prejuízos em todas as esferas – familiar, social, acadêmica, profissional.


"Só nos humanizamos pelo estabelecimento de relações, isso acontece desde que nascemos, não dá para trocar o afeto do cuidado pela máquina. No futuro, como se comportará este homem que navega, conversa, namora, faz sexo, cria identidades, se protege atrás da tela e se sente dono do mundo?", indaga Araceli Albino, acrescentando que o terreno virtual é favorável à fantasia, ao agrupamento sem a presença da lei, às regras horizontais em que vale tudo. "A pessoa se reinventa a cada dia, mas se aliena no objeto, fica aprisionada em uma cadeia sem grade".


Finalizamos esse com a frase da psicanalista e neurocientista Nanci Azevedo Cavaco faz um alerta:


 "Compreenda que a internet pode aproximar quem está longe, mas também é capaz de distanciar quem está perto".














Fonte e Sítios Consultados

http://noticias.uol.com.br/saude

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