Brasil desindustrializado
Nestes últimos dias foram divulgados os
números da indústria brasileira referente ao último mês de janeiro. Eles mostraram
uma melhora em relação ao último mês de dezembro, mas apontaram uma queda em
relação ao ano passado. Se olharmos para o longo prazo, o diagnóstico é bastante
claro: o Brasil está se desindustrializando. E isso também pode ser
visto pelos números do ano de 2013, afinal a indústria teve o menor peso no
PIB brasileiro desde
2000, de acordo com os números do IBGE.
Se usarmos outra metodologia, o diagnóstico é ainda mais dramático: em
agosto/2013, a Fiesp
concluiu que a importância da indústria brasileira voltou para os
níveis dos anos 50. Esse processo de encolhimento das indústrias lembra o que vem acontecendo com os
países desenvolvidos desde o final dos anos 70. Então, por que o Brasil deve se
preocupar?
A professora de história econômica da FEA-USP disse: “Porque a indústria brasileira nunca chegou
a atingir seu potencial. Não dá pra falar que essa é uma etapa natural e que
podemos passar para o próximo nível”.
Outro argumento, entre vários para essa posição é a questão da renda: de
acordo com a Fiesp, a
desindustrialização aconteceu nas economias avançadas depois que elas atingiram
uma renda per
capita na faixa dos US$
19 mil. No Brasil, o processo começou quando ele estava em US$ 7,5 mil. Outro argumentos de
quem defende a indústria é que ela gera encadeamentos positivos para o resto da
economia e empregos com melhores condições e remuneração.
Seguindo
esse pensamento, o problema não é que o Brasil caminhou para o setor de
serviços, e sim para: "Os que mais
crescem são os atrasados: o financeiro, de vigilância, comunicação, que não
geram tanto emprego de qualidade”, disse o coordenador do Centro de Estudos
sobre economia brasileira da escola de Economia da Fundação Getúlio Vargas.
Já para o
ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega, a questão central não é a
desindustrialização em si, mas como ela aconteceu: “O processo de transformação estrutural é inevitável e tende a ser mais
rápido nas economias que chegaram mais tarde, mas isso não significa que o que
estamos vendo no Brasil de hoje é bom. Nossa desindustrialização acelera por
deficiências internas e está associada não ao processo natural, mas a uma perda
grave de competitividade da indústria brasileira, que tem origens mais remotas”.
Vamos buscar
algumas destas origens na história recente do Brasil para entendermos melhor
isso.
A verdade
é que foi a partir de 1985 que a indústria atingiu seu pico, a economia
brasileira passou a ser sacudida pela crise da dívida externa e um cenário
externo adverso. E no ano de 1994, veio o Plano Real, cuja missão era
estabilizar a economia e combater a hiperinflação. Isso exigiu abertura
comercial, juros altos e câmbio valorizado – um tripé que tornou a indústria
mais vulnerável à competição internacional, e com a abertura dos anos 90, foi
impossível se acomodar.
Mas com
exceção de alguns setores, essa “destruição criativa” foi
insuficiente para colocar a indústria brasileira no caminho da produtividade em um
momento no qual ela se tornava cada vez mais essencial. Ainda, de acordo com um
estudo
divulgado essa semana pela McKinsey & Company, o PIB
brasileiro poderia ter crescido 45% a mais entre 1990 e 2000 sem o efeito
negativo da produtividade.
E aí
entram os inúmeros obstáculos tributários, regulatórios e trabalhistas, além do
"custo Brasil" imposto pela infraestrutura deficiente -
citado como principal problema por todos os economistas que foram ouvidos pela EXAME.com. Isso sem falar no aumento da
competição internacional.
Também é
verdade que nos últimos anos, o câmbio voltou a
ser outra pedra na engrenagem: quando a moeda do país está muito valorizada,
fica mais barato importar do que produzir internamente. Outro fator é que o
aumento da renda brasileira tem "vazado" para fora do país, e o
resultado é a piora na
balança comercial e o aumento no déficit em conta corrente.
Com a recente
a desvalorização do real foi possível verificar que esses problemas foram
amenizados e até houve um fôlego na indústria, e os números de
janeiro/2014 divulgados já
podem ser um indício desta reação. O certo é que com desindustrialização ou
não, o Brasil não vai se desenvolver olhando para trás. O debate não é sobre
qual indústria ou setor merece mais proteção, e sim qual irá apontar para um
futuro mais promissor.
"Em algumas indústrias como a farmacêutica,
biomédica, química e de energia, temos um cavalo selvagem sendo segurado pelas rédeas.
Mesmo com todo o custo Brasil do mundo, sempre temos oportunidades.",
disse o diretor de políticas e estratégia da CNI (Confederação
Nacional da Indústria).
Fonte e Sítios Consultados
http://exame.abril.com.br
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