O Lobo de Wall Street ainda continua vivo nas empresas Brasileiras
Vamos
discutir a obra baseada na autobiografia de Jordan
Belfort, um jovem corretor de Wall Street que lá pelos anos 90 se sobrepôs à
lógica da economia, manipulou o mercado da Bolsa de Valores e ganhou uma
fortuna incalculável. No cinema, o controverso personagem interpretado por Leonardo di Caprio no filme de
Scorsese, explicita princípios e
rituais de muitas empresas e sugere o debate: em que medida isso o distancia
dos clientes e da sociedade?
Estes fatos
acontecem em uma corretora de investimentos de grande notoriedade, cujo personagem
em questão chega a ganhar largas dezenas de milhões de dólares, mas o seu
estilo de vida é absurdamente exagerado – onde não lhe faltam iates, jatos, voltas ao mundo, mulheres, e
drogas – o que chega a leva-lo a gastar à noite os milhares que ganhava de dia.
Por isso o chama de O Lobo de Wall Street, a situação chega ao ponto que até a
própria máfia resolve aprender com os seus métodos. Uma leitura atual e
aliciante que nos dá a conhecer os meandros do universo da bolsa nova-iorquina.
É
importante perceber que o foco implica na concentração de algo em detrimento de
todo o resto. No mundo corporativo seria impossível um funcionário viver da prática
de tais valores, porque sempre há momentos em que lucro e ética, ou lucro e
transparência, ou lucro e futuro, serão auto excludentes.
Talvez o
maior incômodo que esse filme proporciona seja com a glamorização da busca pelo dinheiro, com orgias de sexo e drogas (o que pode ser acompanhado na minissérie “Serra
Pelada”, exibida pela TV Globo, 23/01/14). O que está pegando mesmo é que,
apesar de ter atuado nos anos 1980 e 1990, o Jordan Belfort de Leonardo di
Caprio é assustadoramente parecido com muita gente que conhecemos atualmente. Afinal,
o seu foco está voltado só no resultado pessoal (em
detrimento da ética, transparência, preocupação com o cliente e com o futuro do
planeta) e ele usa quase todas as ferramentas que a maioria das empresas de hoje
em dia são capazes de adotar. Com certeza esta é uma ótima oportunidade para
repensar sobre os princípios e rituais do mundo corporativo dos dias atuais.
Vamos nos
concentrar em quatro pontos principais e em seu paralelo com o meio de negócios
atual:
O
ambiente de trabalho. De uns tempos para cá virou uma febre a tarefa de
criar um clima de confiança na equipe. É claro: em um lugar onde todos
desconfiam de todos, fica difícil fazer coisas que deem dinheiro. Pudemos
verificar que na corretora de Belfort havia um sentimento de
confiança e camaradagem raro, de uma equipe que se ajudava mutuamente, e que
foi construído por meio de muita convivência em momentos de lazer, sendo festas
ou brincadeiras (algumas
terríveis, como a do tiro ao alvo de anões).
O modelo
de recrutamento das pessoas. Um dos pensamentos mais contemporâneos dessa área
é de que tudo dá certo (ou dá
errado) na contratação da pessoa, porque formar alguém do zero é complexo e custoso.
Assim, é melhor contratar pessoas que compartilhem os valores da empresa
contratante e que sejam auto motivadas para fazer as tarefas. No filme é mostrado
um Jordan
Belfort contratando pessoas que de alguma maneira são marginalizadas
pela sociedade (obesos,
gente com pouco estudo, mães solteiras etc.) e que por isso também, precisavam
muito de dinheiro. Hoje por exemplo, existem muitas companhias aqui no Brasil,
que já preferem contratar jovens de famílias de renda mais baixa mas com
ambição de crescer e talvez por isso, eles estejam mais dispostos a dar o
sangue. Até a publicidade da corretora, que usava um leão como
garoto-propaganda, e a matéria que chamou Belfort de “lobo de Wall Street”
contribuíam para atrair as pessoas certas.
O estilo
de liderança. Talvez Leonardo
di Caprio seja bem mais cativante que Jordan Belfort; afinal, é preciso
conseguir obter o silêncio da galera enquanto fala. Isso mostra também, contudo,
que as pessoas não o temem. Ele carrega a marca do bom humor, da descontração e
da brincadeira em seu estilo de liderança.
Técnicas
de motivação. Em meados da década de 1990, a revista Industry
Week publicou uma lista das 20 melhores técnicas de motivação sugeridas por
especialistas de recursos humanos nos Estados Unidos, compilada por uma
consultora de RH, Shari Caudron. Talvez seja uma das melhores listas de fatores
motivacionais que já foi feita até hoje, apesar de se terem passado quase 20
anos. Em outras palavras, se um número razoável de empresas brasileiras tivesse
recorrido a essas técnicas, possivelmente estaríamos navegando por um mar mais
calmo e promissor, fato esse que não aconteceu.
Vamos
acompanhar alguns desses fatores motivacionais.
. Compartilhar com os empregados às informações
para a realização de um bom trabalho.
. Dar feedback regular.
. Solicitar ideias e envolvê-los nas decisões sobre suas funções.
. A Criação e manutenção de canais de comunicação fáceis de usar.
. Dar feedback regular.
. Solicitar ideias e envolvê-los nas decisões sobre suas funções.
. A Criação e manutenção de canais de comunicação fáceis de usar.
. Aprender com eles sobre o que os motiva.
. Conhecer e participar do seu tempo livre.
. Demonstrar reconhecimento pessoal a cada empregado por um trabalho bem feito.
. Reconhecer o poder de sua presença física, em sua posição de chefia.
. Encaminhar uma mensagem escrita ao empregado, elogiando seu desempenho.
. Reconhecer publicamente um trabalho bem feito.
. Promover reuniões destinadas a comemorar o sucesso do grupo.
. Estar certo de que o empregado dispõe das ferramentas para realizar o melhor trabalho.
. Reconhecer as necessidades pessoais dos empregados.
. Utilizar o desempenho como fator para a promoção.
. Adotar uma política abrangente de promoção.
. Enfatizar o compromisso da empresa com a trajetória do profissional.
. Estimular o senso de comunidade.
. Dar uma razão financeira para serem excelentes, como participação nos lucros.
E sobre o
distanciamento?
Talvez esses
princípios e rituais não sejam ruins em si. Certo? Ao contrário, Jordan
Belfort fazia várias coisas que consideramos boas! (Talvez por isso tenha incrivelmente conseguido se
reinventar como consultor motivacional, apesar de parecer péssima a ideia de
contratar alguém tão inescrupuloso para motivar funcionários.) Mas é
bom reparar que nenhuma delas conseguiu levar seu funcionário a colocar-se na
pele do cliente ou na de outros stakeholders (palavra em inglês que significa partes
interessadas na empresa e que abrange desde os acionistas até os moradores
vizinhos da empresa, passando por fornecedores, clientes, distribuidores,
funcionários etc.).
É comum ver
matérias de jornalismo onde é usada a expressão “na pele do lobo” ,
trata-se das ocasiões em que um repórter faz-se passar por um cidadão comum
para mostrar o que esse cidadão enfrenta de verdade, fugindo das informações
oficiais e distorcidas.
É
importantíssimo que no universo corporativo os profissionais de uma empresa
vistam a pele do lobo. O cidadão, seja ele cliente direto da empresa ou
representante da sociedade como um todo, é o lobo que deve nortear suas
iniciativas. Não o foco no resultado. Esse precisa ser decorrência, senão não
chegaremos a lugar algum que preste como seres humanos – e nossos negócios afundarão
como aconteceu com o do Jordan Belfort.
Talvez
tenha alguém argumentado, e com razão, que Wall
Street não é os Estados Unidos todo, e que os Estados Unidos não são o Brasil. Ou que nos anos 1980 e 1990 havia uma ânsia por
dinheiro muito maior do que a atualidade. Mas o fato de que Belfort
se recolocou no mercado como consultor
motivacional, como dizem por aí. Scorsese sabia o que estava fazendo. “O
lobo de Wall Street” pode ser tão incômodo quanto olhar no espelho em
dia em que a gente está se sentindo feio. E, se prestarmos atenção aos
detalhes, pode nos ensinar onde e como melhorar.
Encerramos
com essa curiosidade: os valores da empresa Siemens são “a melhor performance com a maior ética”,
o que traduz para seus funcionários o dever de priorizar três características –
ser responsável, ser excelente e ser
inovador. Já os valores da empresa Alstom são confiança, time,
ação. Talvez só as pessoas que utilizem o Metrô da Cidade de São Paulo
entendam bem essa questão!
Fonte
e Sítios Consultados
Conteúdo da disciplina de Gestão de Riscos e Mercado de Capitais da Graduação do 8º. Semestre
do Curso de Administração de Empresas,
concluído em Junho/13
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