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23 de janeiro de 2014

O Lobo de Wall Street está bem vivo nas empresas Brasileiras



O Lobo de Wall Street ainda continua vivo nas empresas Brasileiras
           Vamos discutir a obra baseada na autobiografia de Jordan Belfort, um jovem corretor de Wall Street que lá pelos anos 90 se sobrepôs à lógica da economia, manipulou o mercado da Bolsa de Valores e ganhou uma fortuna incalculável. No cinema, o controverso personagem interpretado por Leonardo di Caprio no filme de Scorsese, explicita princípios e rituais de muitas empresas e sugere o debate: em que medida isso o distancia dos clientes e da sociedade?

 
Estes fatos acontecem em uma corretora de investimentos de grande notoriedade, cujo personagem em questão chega a ganhar largas dezenas de milhões de dólares, mas o seu estilo de vida é absurdamente exagerado – onde não lhe faltam  iates, jatos, voltas ao mundo, mulheres, e drogas – o que chega a leva-lo a gastar à noite os milhares que ganhava de dia. Por isso o chama de O Lobo de Wall Street, a situação chega ao ponto que até a própria máfia resolve aprender com os seus métodos. Uma leitura atual e aliciante que nos dá a conhecer os meandros do universo da bolsa nova-iorquina.

É importante perceber que o foco implica na concentração de algo em detrimento de todo o resto. No mundo corporativo seria impossível um funcionário viver da prática de tais valores, porque sempre há momentos em que lucro e ética, ou lucro e transparência, ou lucro e futuro, serão auto excludentes.

Talvez o maior incômodo que esse filme proporciona seja com a glamorização da busca pelo dinheiro, com orgias de sexo e drogas (o que pode ser acompanhado na minissérie “Serra Pelada”, exibida pela TV Globo, 23/01/14). O que está pegando mesmo é que, apesar de ter atuado nos anos 1980 e 1990, o Jordan Belfort de Leonardo di Caprio é assustadoramente parecido com muita gente que conhecemos atualmente. Afinal, o seu foco está voltado só no resultado pessoal (em detrimento da ética, transparência, preocupação com o cliente e com o futuro do planeta) e ele usa quase todas as ferramentas que a maioria das empresas de hoje em dia são capazes de adotar. Com certeza esta é uma ótima oportunidade para repensar sobre os princípios e rituais do mundo corporativo dos dias atuais.
 
 

Vamos nos concentrar em quatro pontos principais e em seu paralelo com o meio de negócios atual:

  O ambiente de trabalho. De uns tempos para cá virou uma febre a tarefa de criar um clima de confiança na equipe. É claro: em um lugar onde todos desconfiam de todos, fica difícil fazer coisas que deem dinheiro. Pudemos verificar que na corretora de Belfort havia um sentimento de confiança e camaradagem raro, de uma equipe que se ajudava mutuamente, e que foi construído por meio de muita convivência em momentos de lazer, sendo festas ou brincadeiras (algumas terríveis, como a do tiro ao alvo de anões).

   O modelo de recrutamento das pessoas. Um dos pensamentos mais contemporâneos dessa área é de que tudo dá certo (ou dá errado) na contratação da pessoa, porque formar alguém do zero é complexo e custoso. Assim, é melhor contratar pessoas que compartilhem os valores da empresa contratante e que sejam auto motivadas para fazer as tarefas. No filme é mostrado um Jordan Belfort contratando pessoas que de alguma maneira são marginalizadas pela sociedade (obesos, gente com pouco estudo, mães solteiras etc.) e que por isso também, precisavam muito de dinheiro. Hoje por exemplo, existem muitas companhias aqui no Brasil, que já preferem contratar jovens de famílias de renda mais baixa mas com ambição de crescer e talvez por isso, eles estejam mais dispostos a dar o sangue. Até a publicidade da corretora, que usava um leão como garoto-propaganda, e a matéria que chamou Belfort de “lobo de Wall Street” contribuíam para atrair as pessoas certas.
 
 

O estilo de liderança. Talvez Leonardo di Caprio seja bem mais cativante que Jordan Belfort; afinal, é preciso conseguir obter o silêncio da galera enquanto fala. Isso mostra também, contudo, que as pessoas não o temem. Ele carrega a marca do bom humor, da descontração e da brincadeira em seu estilo de liderança.

Técnicas de motivação. Em meados da década de 1990, a revista Industry Week publicou uma lista das 20 melhores técnicas de motivação sugeridas por especialistas de recursos humanos nos Estados Unidos, compilada por uma consultora de RH, Shari Caudron. Talvez seja uma das melhores listas de fatores motivacionais que já foi feita até hoje, apesar de se terem passado quase 20 anos. Em outras palavras, se um número razoável de empresas brasileiras tivesse recorrido a essas técnicas, possivelmente estaríamos navegando por um mar mais calmo e promissor, fato esse que não aconteceu.

          Vamos acompanhar alguns desses fatores motivacionais.

. Compartilhar com os empregados às informações para a realização de um bom trabalho.
. Dar feedback regular.
. Solicitar ideias e envolvê-los nas decisões sobre suas funções.
. A Criação e manutenção de canais de comunicação fáceis de usar.

. Aprender com eles sobre o que os motiva.
. Conhecer e participar do seu tempo livre.
. Demonstrar reconhecimento pessoal a cada empregado por um trabalho bem feito.
. Reconhecer o poder de sua presença física, em sua posição de chefia.

. Encaminhar uma mensagem escrita ao empregado, elogiando seu desempenho.
. Reconhecer publicamente um trabalho bem feito.
. Promover reuniões destinadas a comemorar o sucesso do grupo.
. Possibilitar ao empregado uma tarefa interessante para executar.

. Estar certo de que o empregado dispõe das ferramentas para realizar o melhor trabalho.
. Reconhecer as necessidades pessoais dos empregados.
. Utilizar o desempenho como fator para a promoção.
. Adotar uma política abrangente de promoção.


. Enfatizar o compromisso da empresa com a trajetória do profissional.

. Estimular o senso de comunidade.
. Dar uma razão financeira para serem excelentes, como participação nos lucros.


 


E sobre o distanciamento?

Talvez esses princípios e rituais não sejam ruins em si. Certo? Ao contrário, Jordan Belfort fazia várias coisas que consideramos boas! (Talvez por isso tenha incrivelmente conseguido se reinventar como consultor motivacional, apesar de parecer péssima a ideia de contratar alguém tão inescrupuloso para motivar funcionários.) Mas é bom reparar que nenhuma delas conseguiu levar seu funcionário a colocar-se na pele do cliente ou na de outros stakeholders (palavra em inglês que significa partes interessadas na empresa e que abrange desde os acionistas até os moradores vizinhos da empresa, passando por fornecedores, clientes, distribuidores, funcionários etc.).

É comum ver matérias de jornalismo onde é usada a expressão “na pele do lobo” , trata-se das ocasiões em que um repórter faz-se passar por um cidadão comum para mostrar o que esse cidadão enfrenta de verdade, fugindo das informações oficiais e distorcidas.

É importantíssimo que no universo corporativo os profissionais de uma empresa vistam a pele do lobo. O cidadão, seja ele cliente direto da empresa ou representante da sociedade como um todo, é o lobo que deve nortear suas iniciativas. Não o foco no resultado. Esse precisa ser decorrência, senão não chegaremos a lugar algum que preste como seres humanos – e nossos negócios afundarão como aconteceu com o do Jordan Belfort.

Talvez tenha alguém argumentado, e com razão, que Wall Street não é os Estados Unidos todo, e que os Estados Unidos não são o Brasil. Ou que nos anos 1980 e 1990 havia uma ânsia por dinheiro muito maior do que a atualidade. Mas o fato de que Belfort se recolocou no mercado como consultor motivacional, como dizem por aí. Scorsese sabia o que estava fazendo. “O lobo de Wall Street” pode ser tão incômodo quanto olhar no espelho em dia em que a gente está se sentindo feio. E, se prestarmos atenção aos detalhes, pode nos ensinar onde e como melhorar.

Encerramos com essa curiosidade: os valores da empresa Siemens são “a melhor performance com a maior ética”, o que traduz para seus funcionários o dever de priorizar três características – ser responsável, ser excelente e ser inovador. Já os valores da empresa  Alstom são confiança, time, ação. Talvez só as pessoas que utilizem o Metrô da Cidade de São Paulo entendam bem essa questão!
 
 
                               Metrô da Cidade de São Paulo - Brasil





Fonte e Sítios Consultados


Conteúdo da disciplina de Gestão de Riscos e Mercado de Capitais da Graduação do 8º. Semestre do Curso de Administração de Empresas, concluído em Junho/13
  

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