Como
acontece em todo final de ano as promessas estão sempre na pauta das conversas,
estejam elas tratando de assuntos pessoais ou empresariais. Aproveitamos essa
época para tratar destes assuntos: fazer aquele regime, voltar à ginástica,
arrumar a estante, aprender outra língua, saldar as dívidas. Sabemos que as
intenções sempre são as melhores, sem dúvida – mas a maioria destas resoluções irá
durar muito pouco tempo, e logo serão abandonamos e não passarão de propostas
não cumpridas por algum motivo, até começar tudo de novo no ano seguinte. E
isso se explica pelo simples fato de gostarmos de tomar resoluções de ano-novo,
mas por que é tão difícil cumpri-las?
Talvez
possamos encontrar essa resposta em uma frase que li em uma delegacia (não, eu
não tinha feito nada errado nem sofrido um crime; estava apenas acompanhando um
amigo em uma questão burocrática a resolver). Como parte do programa de melhora no desempenho
dos policiais, uma folha de papel colada à parede lembrava aos funcionários, em
letras enormes: “Um objetivo sem um plano não é mais que um desejo”.
Essa frase
passou a acompanhar meus pensamentos, pois resume quase que poeticamente a
essência da capacidade humana de dirigir o próprio futuro: a possibilidade de
nosso cérebro identificar uma vontade (algo cuja
simples antecipação nos dá prazer desde já, e, portanto motivação suficiente
para seguir adiante), transformá-la em objetivo (uma meta a ser alcançada, como um ponto no
horizonte a guiar os nossos passos), e então tecer uma estratégia para chegar lá (um programa motor ou mental, como uma sequência de
passos a serem seguidos para atingir o horizonte). Sem
desejo não há objetivo; sem meta não há plano; e sem um plano só se chega ao
objetivo por acaso, se tanto.
O
interessante é que desejo, objetivo e estratégia são produtos de três sistemas
diferentes do cérebro, que operam de maneira bastante autônoma, porém
integrada.
Antecipar prazeres, caber
de novo dentro daquela calça, saber falar a língua do país que você vai visitar
ou ter uma quantia de dinheiro sobrando no banco é uma função das estruturas do
sistema de recompensa e motivação, como o estriado ventral, a área tegmentar
ventral e o córtex orbitofrontal. Essas regiões sinalizam para o resto do nosso cérebro
aquelas informações ou ideias que são mais interessantes que as demais e,
portanto, vale a pena serem seguidas.
Estabelecer
objetivos, por sua vez, é a função principalmente das partes
mais frontais do córtex, aquelas capazes de direcionar nossas ações em prol de
um alvo mesmo que ainda não visível, mas já visualizável e desejável
mentalmente. Na etapa seguinte é preciso que as ações musculares ou mentais (na forma
de pensamentos) sejam selecionadas e organizadas em sequências
que nos levem ao objetivo – como programas motores em que os movimentos certos
são escolhidos e preparados para ser executados na ordem certa e na hora certa.
Esse programa motor ou mental é a estratégia, cuja elaboração e execução
dependem da interação entre córtex e núcleos da base – mas somente é executada
sob direção de um “objetivo pré-frontal” e com o empurrãozinho da antecipação
do prazer de chegar lá. Primeiro organizar seus horários e depois fazer uma
pesquisa para poder escolher o melhor curso de italiano, por exemplo, em vez de
se matricular em qualquer um e ver no que dá, de fato aumenta
significativamente suas chances de seguir o curso até a hora da viagem.
Resumindo,
tomar resoluções de ano-novo ou de uma segunda-feira é fácil; basta um desejo.
Transformá-las em realidade, contudo, exige estabelecer claramente uma meta (razoável)
e tecer estratégias para poder se chegar lá. A boa notícia é que seu cérebro é
capaz das três coisas. Um Feliz ano-novo para todos nós!
Fonte e
Sítios Consultados
http://www2.uol.com.br/vivermente
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