O segredo de um investimento
sólido é a conhecida margem de segurança. Não por coincidência, esse princípio
é utilizado pelos investidores mais bem-sucedidos do mundo.
Dizem que quem paga o preço de R$
100 mil por algo que vale R$ 100 mil está fazendo uma simples troca de ativos e
que isso não garante ao comprador nenhuma vantagem. Pior: como o bem adquirido
será necessariamente menos líquido do que o dinheiro por ele pago, o preço do
negócio tende a oscilar ao redor de seu valor intrínseco, e, presumindo-se que
o correspondente mercado não esteja eufórico, frequentemente o preço pode estar
abaixo do valor. Será mesmo?
Mas, vamos continuar, se o valor
intrínseco é de R$ 100 mil, o preço no curto prazo pode variar, digamos, entre
R$ 70 mil e R$ 130 mil. Além de se sujeitar a essa variação, o investidor ainda
corre o risco de ter errado na avaliação do valor intrínseco. É aqui que entra
em cena o princípio da margem de segurança. No caso descrito, ao limitar
sua oferta a um máximo de R$ 70 mil, o investidor se protege contra os dois
males ao mesmo tempo.
E esse princípio é tão simples
que pode ser explicado a uma criança e aplicado a qualquer tipo de operação de
investimento, seja ela a compra de valores mobiliários, de empresas inteiras,
estoques, imóveis etc. Para sua utilização, basta a comparação de duas cifras: o
preço de mercado e o valor intrínseco. O primeiro número é dado do
problema. Já o segundo é traiçoeiro e tem de ser estimado. A capacidade de
determinar o valor intrínseco de ativos é certamente uma das qualidades mais
cobiçadas — senão a mais cobiçada — em Wall Street e nas demais comunidades
financeiras do mundo. Ao avaliar uma empresa, sempre há fatores adicionais que
o analista pode considerar em sua tese, e, mesmo que as condições atuais de um
investimento pudessem ser completamente compreendidas, muitas vezes a avaliação
depende de desdobramentos futuros que não podem ser rigorosamente antecipados.
Porém, quando utilizamos a margem
de segurança, esses obstáculos perdem importância. Se determinamos que o valor
intrínseco da empresa é algo entre R$ 1 bilhão e R$ 1,2 bilhão (utilizar uma faixa de valores é, pelos motivos já
descritos, melhor do que estimar um número exato), a
exigência de uma margem de segurança de pelo menos 40% nos obriga a pagar não
mais do que R$ 600 milhões pela referida empresa — ou o preço equivalente por
ação. Assim, nos desprendemos da necessidade de estimar um valor preciso.
Garantimos a margem ao adotarmos avaliação conservadora e ao exigirmos um
desconto com relação ao limite inferior da faixa de valores.
Depois de uma vez apresentado, o
princípio da margem de segurança torna-se indispensável ao verdadeiro
investidor. A comparação entre as variáveis preço e valor torna-se essencial e
a esperança de que o preço suba, característica de quem compra o ativo sem
saber quanto ele vale, é substituída pela referência do valor maior que o preço
pago. Essa referência traz ao investidor a segurança psicológica e emocional
para até mesmo aumentar sua exposição ao ativo, caso o mercado se mova na
direção contrária (claro,
presumindo-se que a análise esteja correta).
Quando falamos em investimentos,
o risco frequentemente está no preço que se paga pelo ativo. Com a margem de
segurança, o investidor pisa em chão firme: sabe quanto vale o que tem e que
pagou menos do que esse valor. Em outras palavras, comprou bem. No pior dos
casos, empata se tiver de vender mal, por condições adversas — nesse ramo,
sempre é bom considerar o pior dos casos.
Digamos que a margem de segurança
também ajuda a diferenciar entre investimento e especulação (pagar por um ativo um preço igual ou superior ao
seu valor intrínseco, na expectativa de que se possa vendê-lo por um preço
ainda mais alto). Claro que é possível fazer dinheiro com
especulação. Só não é tão fácil fazê-lo consistentemente. Não é à toa que há
muito mais investidores ricos do que especuladores ricos. Evitar a perda é a
forma mais fácil de garantir um resultado lucrativo. É também a principal
função da margem de segurança, que nos protege contra a redução do valor
intrínseco, a volatilidade de mercado, o erro na análise e outros fatores
imprevisíveis.
Aqui cabe uma advertência: a
compra de um ativo por 60% de seu valor intrínseco, por exemplo, não impede que
sua cotação no respectivo mercado possa cair ainda mais. Contudo, essas perdas não
realizadas são recuperadas no fim das contas, e, temporariamente,
oferecem ao investidor a já mencionada oportunidade de “average down” (abaixar o preço médio pago).
Fonte e Sítios Consultados
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