Vamos acompanhar a entrevista do
economista José Alexandre Scheinkman, ele acredita que as políticas
equivocadas, como controle de preços, e aversão a reformas explicam baixa
eficiência da economia brasileira.
José Alexandre Scheinkman, um dos
mais respeitados economistas brasileiros, acompanhe o seu diagnóstico: a incompetência explica tanto parte das ações equivocadas quanto a
falta de atitudes importantes por parte do governo.
Esse problema, somado à ideologia
das administrações recentes contrária a reformas que poderiam aumentar a baixa
eficiência da economia, ajuda a compreender as causas da desaceleração da
atividade no país, segundo ele.
Scheinkman, que vive nos EUA é dono
de uma vasta produção acadêmica, ele deixará a Universidade de Princeton, onde
se tornará professor emérito, rumo à Universidade Columbia. Vamos acompanhar a
entrevista que ele concedeu à Folha.
Folha -
Que fatores têm se mostrado mais importantes para aumentar a produtividade do
trabalho?
José Alexandre Scheinkman - Todos
os fatores têm importância, mas a evidência mostra um papel muito importante da
educação. Para cada ano a mais de educação, a produtividade do trabalhador
aumenta muito. Obviamente, um trabalhador com mais capital à sua disposição
também vai produzir mais. Mas há menos variação de capital por trabalhador
entre os países do que de quantidade de educação. Também sabemos que a
qualidade da educação importa, mas temos dificuldade de medir essa qualidade. A
saúde também é muito importante. Nos países que têm melhores indicadores de
saúde, os trabalhadores são mais produtivos. Há outro aspecto da produtividade
que não conseguimos explicar pela quantidade de fatores. Se você pega duas
firmas da mesma indústria, usando trabalhadores com o mesmo nível de educação e
o mesmo tipo de capital, essas empresas produzem quantidades diferentes.
Isso é
explicado pela eficiência no uso dos fatores, a chamada produtividade total dos
fatores?
Exatamente. Há hoje muita atenção nos EUA para
tentar entender quais são os fatores que tornam as empresas mais produtivas.
Como a
eficiência da economia brasileira tem evoluído?
A produtividade total dos fatores, que pode ser
traduzida como grau de eficiência, está estagnada ao menos desde 1989 para a
economia como um todo. Mas há setores da economia brasileira que tiveram
grandes ganhos de eficiência. Um é a agricultura. Obviamente há fatores que
influenciam todos os setores e toda a economia. Mas, para entender a
eficiência, é importante olhar o que está acontecendo com cada setor e com as
firmas de cada setor. Um fenômeno interessante brasileiro é a existência de
empresas pequenas que muitas vezes são informais, muito ineficientes e só
sobrevivem por não pagar impostos. Elas trazem a produtividade média do setor
em que atuam para baixo.
Mas a
informalidade entre as empresas menores diminuiu.
Sim, e essas empresas melhoram ao se tornar
formais. Mas, como há um tamanho máximo de faturamento para ficar dentro das
faixas de tributação no Brasil, há um desestímulo na busca por crescimento por
parte dessas empresas e isso prejudica a eficiência da economia. O ideal seria
diminuir os impostos para as firmas maiores e trazê-las mais perto das outras.
Quais são
as outras causas da baixa eficiência da economia brasileira?
Há os casos de proteção setorial. As pessoas
esquecem que a política setorial dificulta a vida das indústrias que usam o insumo
do setor protegido. Elas acabam não podendo se tornar tão eficientes quanto às
de países que têm acesso ao mesmo insumo a preço relativamente menor. A outra
questão importante é o investimento em pesquisa e desenvolvimento. O Brasil tem
uma estrutura científica bastante razoável se olharmos os números de
doutorandos, as publicações em revistas científicas. Ainda não conseguimos
criar uma estrutura de produção de pesquisa e desenvolvimento. Esse assunto já
foi muito bem estudado pelos economistas. A taxa de retorno, ou seja, o aumento
de produtividade gerado pelo investimento nessa área é enorme. E isso ocorre
porque quem investe em pesquisa e desenvolvimento e recebe o retorno não é a
única pessoa a lucrar. Boa parte dos ganhos vai para outras empresas,
concorrentes, outros setores que começam a se beneficiar da tecnologia
desenvolvida. Até a absorção da tecnologia vinda de fora em um país onde você
já tem toda uma estrutura de pesquisa e desenvolvimento é maior. E os governos
têm papel fundamental no investimento em pesquisa e desenvolvimento.
Se há
tanta evidência desses benefícios, por que não se investe mais em pesquisa e
desenvolvimento no Brasil?
Um amigo meu diz - e eu concordo-- que um dos
grandes problemas do governo brasileiro é a incompetência. Eu não consigo
explicar isso por malevolência, por um pensamento de que o governo quer um país
atrasado. Às vezes as políticas são extremamente prejudiciais ao país por
incompetência --por exemplo, quando o governo controla o preço da gasolina.
Isso levou ao aumento do congestionamento e da poluição e prejudicou uma das
poucas tecnologias importantes criadas no Brasil, a da indústria do etanol. Não
imagino que o governo decidiu gerar essas consequências. Mas alguém teve a brilhante
ideia de, entre aspas, controlar a inflação mantendo o preço da gasolina
estável e não pensou nas consequências.
Há uma
estagnação no processo de reformas importantes para o desenvolvimento econômico
no Brasil?
As reformas começam no início do governo Collor com
a abertura comercial. Depois houve um período de paralisia. E voltaram a
acontecer com Itamar, o Plano Real. Em seguida, outras reformas importantes
foram feitas. Esse processo foi freado a partir do segundo governo Lula. Há
seis, sete anos poucas coisas importantes estão sendo feitas. O governo tem se
concentrado muito mais em políticas industriais, em intervir nos preços, em
diminuir impostos setoriais e menos em resolver as grandes questões que
poderiam melhorar a eficiência no Brasil, como as que eu já mencionei, e
outras, como o investimento em infraestrutura.
Essa
letargia tem a ver com a questão da competência que o senhor mencionou?
Há uma questão também de ideologia. Há reformas que
precisavam ser feitas, mas que não atendiam à ideologia do governo. Acho que
agora o governo entendeu que precisa trazer mais investimento privado para
áreas como ferrovias, portos etc. Outro problema importante é a baixa taxa de
poupança. Então, o governo cobra muito imposto, mas tem gastos enormes e pouca
capacidade financeira para investir, além da falta de capacidade que eu já
mencionei de competência do setor público.
Esses
fatores explicam a desaceleração econômica dos últimos anos?
Acho que há várias causas. Em 2008 e em 2009 a
resposta à crise com política fiscal mais solta fazia sentido. O que não fez
sentido foi achar que isso poderia ser permanente mesmo depois de a economia
ter começado a se recuperar. A outra é o excesso de intervenção, como o
controle do preço da gasolina. Cada uma dessas intervenções, de forma isolada,
pode passar a impressão de que seus efeitos não são tão graves, mas, se você
junta todas, começa a ter efeito na economia. E isso é parte do que estamos
vendo agora. Além disso, também estamos sentindo o efeito da desaceleração da
China, que, no entanto, não deve ser exagerado.
Fonte
e Sítios Consultados
- Matéria: ÉRICA FRAGA
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