Foi num dia de sol que o Planejamento,
sua esposa Urgência e sua filha Pressa se mudaram para o Residencial Marketshare, parecia que seriam “felizes
para sempre”. A nova família foi muito bem recebida por condôminos e
funcionários.
Entretanto, o tempo tratou de ir
trazendo a dura realidade do Marketshare
para o Planejamento.
Dona Rotina, a síndica, logo caiu nas
graças de Dona Urgência. Tornaram-se inseparáveis companheiras e confidentes.
Passavam o dia inteiro batendo perna pelo condomínio. Quase nada lhes escapava
aos olhos e à língua. O que não viam, inventavam. Sem saber exatamente por que,
Planejamento não gostava daquela amizade da Rotina (uma falsa) com a Urgência.
O morador do apartamento 171 também
incomodava. O senhor Walmir Mercado era figura imprevisível. Sofria de
transtorno bipolar severo, alternando dias de simpatia, serenidade com momentos
de extrema irritação e instabilidade. Por conta disso, vários foram os
desentendimentos do Mercado com Planejamento – principalmente quando aquele
entrava em delírios, alucinações e manias de perseguição, bradando ameaças
escatológicas e apocalípticas pelos corredores.
Morava na cobertura, o Senhor
Resultado. Cara esquisito. Dizia-se comerciante, mas era mesmo um agiota.
Envolvia as pessoas com conversa mole, convencendo-os a associarem-se a ele em
algum novo negócio. Levava seus sócios a empenharem suas parcas economias na
nova empresa. Quando o dinheiro acabava (e isso sempre acontecia),
emprestava-lhes a taxas de juros pra lá de abusivas. Logo, o incauto
empreendedor estava irremediavelmente preso e dependente do Senhor Resultado.
Planejamento também acabou vítima do conto do Resultado. Investiu tudo em um
supostamente promissor e milionário negócio de enfeites de feltro para árvores
de natal.
Em pouco tempo, não teve outra saída
se não hipotecar seus imóveis para pagar parte das dívidas. Planejamento estava
falido e desacreditado.
As desavenças com o morador do
apartamento 171 também eram cada vez mais frequentes. Certo dia, após um
desentendimento sobre vaga no estacionamento, muitos ouviram o Mercado aos
berros no hall de entrada: “O Senhor vai ver, seu Planejamento. Ainda acabo com
a sua vida.”
Como se não bastasse, a Rotina (que
não era de confiança mesmo), não se sabe exatamente por que, passou a
chantagear a Urgência por conta do segredo do nascimento da Pressa. Como
Urgência não cedeu à pressão, a ex-amiga escreveu carta anônima e enviou para o
Planejamento. Ao ler aquela história escabrosa, Planejamento passou a
pressionar a sua esposa para que contasse a verdade. Ela negava veementemente,
mas ele estava determinado a ir até o fim.
Assim, constantemente assediado por
truculentos cobradores do Resultado, ameaçado violentamente pelo Mercado, em pé
de guerra com a Urgência, Planejamento passou a viver dias de insegurança e
medo.
Certo dia, o professor de dominó do
condomínio, ao abrir sua academia, deparou-se com o corpo já sem vida do
Planejamento, debruçado sobre a mesa principal.
Estabeleceu-se então, o mistério. A
primeira versão dava conta de que o Planejamento tinha sido vítima de um mal
súbito. Sabedor de que havia muita gente interessada na sua morte, o delegado
local insistiu em solicitar uma autópsia – contra a vontade da viúva. No
procedimento, legistas descobriram altas doses de Coca-cola diet e mentos em todo o sistema digestório do
finado.
Não havia dúvidas: Planejamento foi
assassinado. E a polícia tinha uma legião de suspeitos.
Afinal… quem você acha que acabou com
o Planejamento?
As armadilhas da Rotina, a instabilidade do
Mercado, as pressões do Resultado, ou a imprevisível Urgência?
Fonte e Sítios Consultados
Capítulo da Saga Projeto, um homem com
uma missão
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