1º de Maio – Festa ou Luto?
“A
história do Primeiro de Maio mostra, portanto, que se trata de um dia de luto e
de luta, mas não só pela redução da jornada de trabalho, mais também pela
conquista de todas as outras reivindicações de quem produz a riqueza da
sociedade.”
–
Perseu Abramo -
Em 1º de Maio comemora-se o Dia do Trabalho aqui no Brasil, esse dia surgiu
como símbolo mundial da luta por direitos trabalhistas. Por aqui essa data teve
significados distintos antes de ser incorporado por Vargas. Em vários países do
mundo é feriado nacional também, este dia é dedicado a festas, manifestações,
passeatas, exposições e eventos reivindicatórios.
A História do Dia do Trabalho remonta o ano de 1886
na industrializada cidade de Chicago (Estados Unidos). No dia 1º de maio
deste ano, milhares de trabalhadores foram às ruas reivindicar melhores
condições de trabalho, entre elas, a redução da jornada de trabalho de treze
para oito horas diárias. Neste mesmo dia lá nos Estados
Unidos aconteceu uma grande greve geral dos trabalhadores.
Um fato importante é que no Dia do Trabalho não se trabalha. Esta
homenagem às avessas vigora em boa parte do mundo capitalista. O 1º de maio
hoje é vivido por muitos apenas como mais um feriado no calendário, mas sua
criação foi fruto de uma história de lutos e lutas da classe operária.
Sabe-se que as referências simbólicas desse período do ano vêm de longe.
Os romanos festejavam entre 30 de abril e 3 de maio as “floralias”, festa dos cereais e das flores. A Idade Média manteve
viva a tradição, em comemorações pela “expansão da primavera” ou o “signo da
alegria”. Ainda no século XVI, surgiu a primeira associação da estação com o
mundo do trabalho, quando legislações corporativas instituíram a jornada de
trabalho de oito horas. Foi o caso da legislação de Felipe II, da Espanha, que
estabeleceu o direito para os mineiros em 1573 e para os demais trabalhadores
em 1593.
Conta-se ainda que no século XIX, esta simbologia foi retomada pelo
proletariado moderno, que começava a se organizar. Antes mesmo da consagração
da data, reivindicações trabalhistas se inspiravam naquele período do ano. O
movimento de padeiros irlandeses contra o trabalho noturno e o dominical no
século XIX resultou nos “comícios de maio”, como os descreveu Karl Marx
(1818-1883).
Mas foi nos Estados Unidos que se consolidou o moderno significado do 1º
de maio, numa série de manifestações que culminaram em tragédia. Em 1832, a
jornada de oito horas foi a principal reivindicação das greves que estouraram
em Boston, na Filadélfia e em Nova York. Três décadas depois, os operários
ainda lutavam pela mesma causa, tanto é que em 1869 criaram a “Liga pelas Oito
Horas”. Apesar da crescente organização da classe, as condições de vida dos
trabalhadores ficaram ainda piores com a depressão econômica que assolou os
Estados Unidos entre 1884 e 1885. A situação se tornou tão calamitosa que em
1886 foi convocada uma greve geral para 1° de maio, usualmente o dia nacional
da renovação dos contratos de trabalho. No dia 3, cerca de seis mil operários
que permaneciam em greve se reuniram em frente à fábrica McCormick Harvest
Works, em Chicago. A manifestação, a princípio, era pacífica, mas a polícia
resolveu intervir com violência. Graves incidentes deixaram um saldo de seis
mortos e 50 feridos. No dia seguinte, operários anarquistas convocaram, com
autorização oficial, um ato de protesto contra a ação da polícia. No meio do
comício, uma bomba foi arremessada na direção de policiais que tentavam
dispersar a multidão.
O episódio desencadeou uma perseguição a líderes do movimento operário.
Depois de um processo suspeito, com caráter marcadamente político, sete deles
foram condenados à morte por enforcamento e outro, a quinze anos de prisão.
A luta pela comprovação da inocência dos acusados transformou os “oito
mártires de Chicago” em símbolo mundial da injustiça do Estado capitalista
contra uma classe trabalhadora oprimida. Ainda mais depois que cinco deles
foram, de fato, executados. O incidente americano teve influência crucial nos
rumos da 2ª Internacional dos Trabalhadores, organização criada em Paris, em
1889, reunindo representantes operários de vários países sob orientação
marxista. Neste congresso, a entidade decretou o 1° de maio como Dia
Internacional do Trabalho. A data nasce sob o signo da revolta e da luta.
Foram dias marcantes na história da luta dos
trabalhadores por melhores condições de trabalho. Para homenagear aqueles que
morreram nos conflitos, a Segunda Internacional Socialista,
ocorrida na capital francesa em 20 de junho de 1889, criou o Dia Mundial do
Trabalho, que seria comemorado em 1º de maio de cada ano.
Aqui no Brasil existem relatos de que a data é
comemorada desde o ano de 1895. Porém, foi somente em setembro de 1925 que esta
data tornou-se oficial, após a criação de um decreto do então presidente Artur
Bernardes.
- Fatos importantes relacionados ao 1º de maio no Brasil:
- Em 1º de maio de 1940, o presidente Getúlio
Vargas instituiu o salário mínimo. Este deveria suprir as
necessidades básicas de uma família (moradia, alimentação, saúde, vestuário,
educação e lazer)
- Em 1º de maio de 1941 foi criada a Justiça do
Trabalho, destinada a resolver questões judiciais relacionadas,
especificamente, as relações de trabalho e aos direitos dos trabalhadores.
Foi então que os operários passaram a promover um grande número de
atividades políticas, sociais e culturais — comícios, greves, passeatas,
poesias, peças de teatro, bailes, caricaturas etc. — canalizando a pressão pela
melhoria de suas condições de vida. O ponto de partida era, ainda, a
necessidade de uma jornada de trabalho de oito horas, que lhes permitiria oito
horas de lazer e outras oito de descanso.
As manifestações chegaram ao Rio de Janeiro, então capital do Brasil,
justamente no período de transição do Império para a República. O novo regime
criou a expectativa de que vários direitos de cidadania seriam adotados, e as
manifestações que o movimento operário local promoveu entre 1890 e 1906
refletiram esta esperança. Os trabalhadores braçais foram os que mais se
interessaram pela proposta, já que não tinham qualquer proteção social nas suas
relações com o patronato.
Pouco numerosa e ainda fortemente vinculada ao passado escravista, a
classe trabalhadora carioca adotava uma atitude respeitosa na forma de fazer
suas demandas. Nas primeiras comemorações do 1º de maio no Brasil, os
manifestantes começavam o dia com uma salva de tiros ou de fogos de artifício.
Em seguida, uma comissão de operários ia ao cemitério para visitar túmulos de
líderes e de antigos companheiros mortos. O sacrifício dos “oito de Chicago”
era lembrado em clima de luto.
Outra parte expressiva das manifestações ficava por conta dos
“préstitos”, desfiles em que cada categoria profissional carregava seu
estandarte pelas ruas do centro da cidade, acompanhadas por bandas que tocavam
músicas oficiais. Para a ocasião, os operários vestiam roupas de qualidade,
muito diferentes dos trapos usados no ambiente de trabalho. Queriam ser
reconhecidos não só pela sua profissão, mas como cidadãos comuns e civilizados,
iguais aos demais. Mais do que buscar melhores condições de vida, tratava-se da
reivindicação de um novo status social numa sociedade elitista e excludente.
Neste mesmo sentido, eram feitas visitas às redações dos jornais para
divulgar a boa conduta da classe, e depois, geralmente havia um comício. À
noite, as manifestações continuavam nas sedes sociais das entidades de classe,
intercalando comícios e sessões solenes com atividades de lazer.
Mas as reformas políticas e sociais esperadas do novo regime não vieram.
Por conta disso, as manifestações do 1º de maio sofreram profundas mudanças.
Com o 1º Congresso Operário Brasileiro, entre 15 e 20 de abril de 1906, uma
nova orientação torna-se predominante nas formas de se celebrar a data. A
tendência do período anterior é invertida: o luto se transforma em luta.
Um jornal editado por trabalhadores do setor gráfico, publicado em 1916,
traduz essa mudança de tom no discurso operário brasileiro, ao tentar convencer
seus leitores do novo significado do 1° de maio: “Companheiros, hoje não é dia
de festas, foguetórios, bailes, etc… mas sim um dia de protesto, de irmos pedir
aos senhores conta do sangue de nossos irmãos derramado por nossa redenção a
estes senhores desta sociedade sem igualdade e sem liberdade”. Esta era a ótica
dos anarcossindicalistas, para quem a greve deveria ser a forma preferencial de
manifestação dos trabalhadores. Esta corrente política foi responsável pela
mudança, duradoura, do eixo no qual as manifestações de 1º de maio passaram a
se inspirar: era um dia de LUTO, não de LUTA, como até então vinha sendo
defendido por setores do
Ao longo
dos anos 1910 e 1920, a disputa pelo significado da data ocorreu em ambiente de
conflito aberto: as áreas não operárias não buscavam mais conciliação com o
discurso dos trabalhadores, e elaboravam outras interpretações. Nesta direção
atuaram a imprensa, o Estado e até a Igreja.
É que ela – a data de 1º de Maio – deixou de ser uma simples comemoração
dos mártires de Chicago, sacrificados em holocausto aos interesses vitais das
classes trabalhadoras, para se transformar numa homenagem da própria
Civilização aos seus maiores obreiros, quer mourejem no interior das fábricas e
oficinas, quer laborem na liberdade dos campos e dos mares. Pode-se dizer,
portanto, que o socialismo a instituiu como a marca inicial de suas
reivindicações, e a sociedade aceitou como a festa simbólica de sua gratidão.
A luta para se definir o significado do 1° de maio se tornaria ainda
mais intensa a partir dos anos 1920, quando o comunismo substituiu o
anarcossindicalismo na preferência dos operários. Com a ascensão do regime
comunista na Rússia em 1917 – e mais tarde no restante da Europa Oriental, após
a Segunda Guerra Mundial –, a data ganhou fortes contornos políticos. Enquanto
a classe operária conclamava seus companheiros à luta, setores mais
conservadores davam outro tratamento à efeméride. Em maio de 1929, o jornal
Correio da Manhã publicava uma visão religiosa do feriado, em resposta à
influência comunista: “Ontem, os trabalhadores que ainda não se deixaram
seduzir pelas utopias comunistas foram à tarde à matriz de Sant’Anna (…). Que ensinamentos
lhes terá comunicado o Filho do Carpinteiro?”
Somente na Era Vargas seria elaborado um discurso unificado sobre o 1°
de maio no Brasil. O curioso é que esse discurso foi modelado pelo Estado, e
não pela sociedade civil. Levantando a bandeira trabalhista, o governo
instaurado em 1930 se apropriou da data e a utilizou para fins políticos – para
não dizer propagandísticos. Paralelamente às políticas concretas — jornada de
oito horas, férias, carteira de trabalho e criação do Ministério do Trabalho —,
Vargas investiu em um novo caráter subjetivo para o 1º de maio, afastando-se do
significado inicial dado pelos operários à data. O protagonista não é mais o
operariado, e sim o Estado, o desenvolvimento econômico, a Nação e o seu
dirigente máximo.
Foi uma década de repressão ao movimento operário livre e de instituição
de sindicatos atrelados ao Estado. Para regular as atividades do movimento
operário, e o mercado de trabalho de forma mais ampla, os sindicatos passaram a
ser controlados por normas oficiais, criou-se a carteira de trabalho e foi
instituída a Consolidação das Leis do Trabalho. A partir de 1939, o Dia do
Trabalho consolidou-se como festividade oficial, conduzida pelo governo. As
manifestações passaram a contar com pomposos discursos do presidente no
recém-construído estádio do Vasco da Gama. Após a execução do Hino Nacional,
postados em torno de um círculo que a todos igualava simbolicamente. O 1º de
maio nunca mais seria o mesmo no Brasil. E no mundo, também não.
As décadas recentes nos afastaram do significado político que lhe deu
origem. Isto se deve, por um lado, à derrocada da União Soviética e dos regimes
comunistas do Leste europeu, e, por outro, às novas formas de produção:
flexível e volátil, o capitalismo globalizado disseminou fábricas por vastas
regiões do planeta, articuladas pela informática e pelos meios de comunicação.
Este processo desconstruiu o proletariado industrial típico dos séculos XIX e
XX, disseminando a produção industrial por vários continentes do planeta,
alcançando a Ásia.
Fonte
e Sítios Consultados
http://www.culturabrasil.pro.br/diadotrabalho.htm
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