O modelo holístico e
as organizações do conhecimento
Nas últimas décadas, ressurgiu dentro
das ciências o chamado "movimento holístico". De origem grega, a
palavra hólos = todo, vem crescentemente penetrando nas abordagens cada vez
mais complexas de todos os ramos do conhecimento humano. A questão parece ser
facilmente explicável; as ciências, de forma geral, foram construídas com base
em paradigmas mecanicistas, suportados numa visão ‘cartesiana-newtoniana’ do
mundo: todos os fenômenos eram possíveis de serem divididos em partes e cada
uma destas seria estudada profundamente, constituindo um ramo específico do
saber humano; assim foi com a química e seus elementos individualizados; com a
física e sua estrutura orientada para as partes do material; com a medicina,
que "retalhou" o organismo humano, perdendo a visão do sistema
biológico que comanda a vida humana; e, na administração, o mesmo processo
ocorreu, a partir da visão da "administração científica" de Taylor e
Fayol, reduzindo o trabalho humano ao nível da visão da tarefa.
CAPRA (1989) tem sido um dos maiores
influenciadores da visão holística: ele mostra as grandes mutações pelas quais
passa a sociedade - na tecnologia, na educação, na economia, na medicina, na
psicologia, na ecologia, entre outras grandes áreas - e a mudança de valores
que afetam aspectos como a individuação, a criatividade, a flexibilidade, a
informação, a autonomia, entre outros valores, cuja mudança afeta tanto
organizações como as pessoas. O autor procura explicar como o paradigma
cartesiano-newtoniano afetou a prática econômica contemporânea: a fragmentação
das especializações, a desvinculação dos valores superiores da humanidade, a
abordagem competitiva na exploração da natureza, o esgotamento progressivo dos
recursos naturais, o consenso de que a natureza existe para o homem, a visão do
homem como um ente consumidor, o que levou a um consumo materialista
desenfreado, a confusão entre riqueza material e felicidade, a tecnologia a
serviço da destruição em massa e a venda de 70% de armamentos aos países do
Terceiro Mundo, a divisão econômica norte-sul do mundo, a exploração
indiscriminada das sociedades pelas multinacionais, entre outras questões.
A visão holística é uma das abordagens
destes novos paradigmas das ciências, inclusive da Administração. Há um
movimento emergente de pesquisadores e autores que têm desenvolvido uma
"abordagem holística da administração" e já existem algumas
experiências que procuram colocar em prática tal abordagem.
As principais práticas da Administração
Holística são as seguintes:
a) Quanto aos objetivos: integração
dos objetivos organizacionais com os objetivos individuais de auto-realização
pessoal e profissional.
b) Quanto à estrutura: a
organização passa a não depender de uma estrutura formal, sendo baseada em
diversas células autônomas de produção (ou de serviços), resultando numa
estrutura policelular.
c) Quanto ao comportamento
individual e grupal: a equipe procura desenvolver a "visão do
todo" do seu conjunto de processos e tarefas; assim, obtém-se o
comprometimento individual (com a equipe e/ou organização) e a satisfação no
trabalho (realização profissional).
d) Rodízio de funções:
("job rotation"): não há especialistas e nem cargos formais; os
funcionários passam a ser polivalentes ou multifuncionais.
Quanto à aplicabilidade da
Administração Holística, sem dúvida a principal dificuldade é de natureza
cultural, pois a mudança comportamental é radical em relação a outras formas
organizacionais mais tradicionais. O alto comprometimento individual com a
equipe exige mudança de características pessoais, enquanto a
multifuncionalidade exige o desenvolvimento de novas habilidades técnicas e
humanas (relacionamento e integração com a equipe).
Por se tratar de um modelo de vanguarda na administração, os cuidados na adoção de suas práticas e instrumentos gerenciais deverão ser muito mais rigorosos.
Tipos
de conhecimento: tácito e explícito
Conhecimento
tácito é aquele que o indivíduo adquiriu ao longo da vida, que
está na cabeça das pessoas. Geralmente é difícil de ser formalizado ou
explicado a outra pessoa, pois é subjetivo e inerente as habilidades de uma
pessoa, como "know-how". A palavra tácito vem do latim tacitus que
significa "não expresso por palavras". Uma das referências teóricas
para a noção de conhecimento tácito é Michael Polanyi (1891-1976). Este
filósofo ajudou a aprofundar a contribuição do saber tácito para a gênese de
uma nova compreensão social e científica da pesquisa. Este autor também estudou
sua relevância para os educadores.
Para
Polanyy (1966), conhecimento tácito é: e "espontâneo, intuitivo,
experimental, conhecimento cotidiano, do tipo revelado pela criança que faz um
bom jogo de basquetebol, (…) ou que toca ritmos complicados no tambor, apesar
de não saber fazer operações aritméticas elementares. Tal como um aluno meu me
dizia, falando de um seu aluno: Ele sabe fazer trocos mas não sabe somar os
números. Se o professor quiser familiarizar-se com este tipo de saber, tem de
lhe prestar atenção, ser curioso, ouvi-lo, surpreender-se, e atuar como uma
espécie de detetive que procura descobrir as razões que levam as crianças a
dizer certas coisas. Esse tipo de professor se esforça por ir ao encontro do
aluno e entender o seu próprio processo de conhecimento, ajudando-o a articular
o seu conhecimento-na-ação com o saber escolar. Este tipo de ensino é uma forma
de reflexão-na-ação que exige do professor uma capacidade de individualizar,
isto é, de prestar atenção a um aluno, mesmo numa turma de trinta ou setenta,
tendo a noção do seu grau de compreensão e das suas dificuldades. (Idem, ibid.,
p. 82)" POLANYI.
Isto se
deve ao fato que lidamos com algo subjetivo, não mensurável, quase impossível de
se ensinar, de se passar através de manuais ou mesmo numa sala de aula. Este
tipo de conhecimento parece ser mais valioso devido a sua difícil captura,
registro e divulgação, exatamente por ele estar ligado as pessoas. É o que
algumas pessoas chamam de verdadeiro conhecimento. Podemos dizer que todos nós
possuímos este conhecimento, mas é difícil de explicá-lo e isto se deve a nossa
experiência de vida, dos conhecimentos que adquirimos com o passar dos anos, ou
seja, é um conhecimento que está lá dentro de nós. Nos parece que a melhor
forma de transmiti-lo é através da convivência, das interações que fazemos com
o grupo que participamos, via comunicação oral, no contato direto com as
pessoas. Quanta vezes ouvimos que "os funcionários são o maior ativo da empresa"?
Isto é uma verdade, pois os funcionários são os que detém o tal conhecimento
tácito, que são os conceitos, ideias, relacionamentos, enfim o conhecimento da
empresa, de seus processos e produtos dentro de suas mentes.
Conhecimento
explicito é aquele formal, claro, regrado, fácil de ser
comunicado. Pode ser formalizado em textos, desenhos, diagramas, etc. assim
como guardado em bases de dados ou publicações. A palavra explicito vem do
latim explicitus que significa "formal, explicado, declarado". Geralmente
está registrado em artigos, revistas, livros e documentos. Alguns dizem que
este tipo de conhecimento é confundido com a própria informação, na sua forma
mais simples.
Gestão do conhecimento
A Gestão
do Conhecimento é uma disciplina que tem suscitado cada vez mais atenção
nas últimas décadas, tendo originado inúmeros trabalhos de investigação e
investimentos cada vez mais significativos por parte das organizações que
reconhecem a sua crescente importância. A investigação na área da gestão do
conhecimento está ligada à várias disciplinas, entre as quais, a gestão
estratégica, a teoria das organizações, os sistemas de informação, a gestão da
tecnologia e inovação, o marketing, a economia, a psicologia, a sociologia, etc
(Georg van Krogh, 2002).
A
principal preocupação dos investigadores na área da gestão do conhecimento
reside na busca da melhoria de desempenho das organizações através de condições
organizacionais favoráveis, processos de localização, extração, partilha e
criação de conhecimento, assim como através das ferramentas e tecnologias de
informação e comunicação. De forma geral, acredita-se que uma boa prática de
gestão do conhecimento influencia direta e indiretamente o bom desempenho
organizacional e financeiro de uma organização.
Entre
as diversas vantagens de uma boa gestão de conhecimento, reconhecem-se as
seguintes:
·
Vantagem competitiva em relação à concorrência Redução
dos custos e tempo de produção e
desenvolvimento de produtos
·
Rápida comercialização de novos produtos
·
Aumento do valor das ações
·
Maximização do capital intelectual/ativos intelectuais
·
Melhoria dos processos internos e maior fluidez nas
operações
·
Processos de tomada de decisões mais eficientes e
melhores resultados
·
Melhoria na coordenação de esforços entre unidades de
negócios
·
Melhoria da prestação de serviços (agilidade), da
qualidade dos produtos e da qualidade do
serviço cliente
Vários
autores (Drucker, 1993; Davenport et al., 1996; Staples et al., 2001;
Holsapple, 2008, etc.) afirmam que boas iniciativas e práticas de gestão do
conhecimento contribuem para a sustentabilidade das vantagens competitivas das
organizações que as empreendem. A Gestão do conhecimento possui ainda o
objetivo de controlar, facilitar o acesso e manter um gerenciamento integrado
sobre as informações em seus diversos meios. Entende-se por conhecimento a
informação interpretada, ou seja, o que cada informação significa e que
impactos no meio cada informação pode causar de modo que a informação possa ser
utilizada para importantes ações e tomadas de decisões. Sabendo como o meio
reage às informações, pode-se antever as mudanças e se posicionar de forma a
obter vantagens e ser bem sucedido nos objetivos a que se propõe. Em uma definição resumida pode-se dizer que
Gestão do Conhecimento é um processo sistemático, articulado e intencional,
apoiado na geração, codificação, disseminação e apropriação de conhecimentos,
com o propósito de atingir a excelência organizacional.
A gestão
do conhecimento tem como objetivos:
·
Tornar acessíveis grandes quantidades de informação
organizacional, compartilhando as
melhores práticas e tecnologias;
·
Permitir a identificação e mapeamento dos ativos de
conhecimento e informações ligados a
qualquer organização, seja ela com ou
sem fins lucrativos (Memória Organizacional);
·
Apoiar a geração de novos conhecimentos, propiciando o
estabelecimento de vantagens
competitivas.
·
Dar vida aos dados tornando-os utilizáveis e úteis
transformando-os em informação essencial ao
nosso desenvolvimento pessoal e comunitário.
·
Organiza e acrescenta lógica aos dados de forma a
torná-los compreensíveis.
·
Aumentar a competitividade da organização através da
valorização de seus bens intangíveis.
Segundo
Larry Prusak, a unidade de análise do conhecimento não deve ser a organização,
nem o indivíduo, mas sim grupos com contextos comuns.
Pequena
história sobre o “Processo de conversão do conhecimento”
O Zé Geraldo chegou e foi logo
falando: - Li seu último artigo. Você falou sobre a gestão do conhecimento, em
nós compartilharmos o que sabemos e aprender coisas novas. Mas como que isso
acontece de verdade? Falei então para o Zé sobre os processos de conversão de
conhecimento que foram estudados por Nonaka e Talkeuchi (Criação do conhecimento
na empresa), onde eles falam que esses processos de conversão movem a espiral
do conhecimento. - Espera aí, conversão, espiral, explica isso aí com mais
calma! - Vamos então começar com os processos de conversão do conhecimento.
O primeiro é chamado de socialização.
Ocorre quando convertemos o nosso conhecimento tácito em outro conhecimento
tácito, ou seja, quando compartilhamos a nossa experiência com uma outra
pessoa, geralmente de maneira verbal ou por demonstração. Existem conhecimentos
que só podem ser transmitidos desta maneira. - É mesmo, outro dia estava
ensinado meu filho a andar de bicicleta – falou o Zé. Você reparou que não
existe manual que ensine a gente a andar de bicicleta? É o tipo de coisa
que nós aprendemos e ensinamos na prática, não está nos livros. E o Zé estava
certo. A socialização do conhecimento é resultado da interação entre as
pessoas. É o conhecimento passado do mestre para o aprendiz. Nas organizações
ela está presente nas reuniões para solução de problemas, nas capacitações. Uma
das formas de socialização que as empresas estão utilizando hoje em dia é a
prática do coaching. Uma das formas de coaching é quando um executivo sênior
ajuda no desenvolvimento de outros, passando um pouco de sua experiência
acumulada nos anos de trabalho para os que estão começando.
- Então passamos ao segundo processo,
denominado de externalização, que é a conversão do conhecimento tácito
em explícito. - É quando colocamos no papel aquilo que sabemos?
– perguntou o Zé. - Você novamente
está certo. A externalização ocorre quando sistematizamos o nosso conhecimento
em forma de manuais, procedimentos, livros ou outras maneiras de
disponibilização. Ela ocorre quando geramos um novo procedimento e ele gera
resultados para a organização, pois do contrário seria somente mais um dado.
- Entendi... Seria possível a gente
converter um conhecimento explícito em outro conhecimento explícito?
- Parece que você pegou o jeito da
coisa!
- Brinquei com ele - é o que chamamos
de combinação.
- Pelo nome acho que outro dia presenciei esse
negócio de combinação. A minha esposa pegou uma receita de pato com laranja e
uma de picanha de forno, e escreveu a receita de Picanha com Laranja. Ficou uma
delícia, estamos até pensando em mandar a receita para um concurso.
- Zé, você acertou na mosca. A combinação
dentro do ambiente organizacional é a utilização dos ativos existentes para a
geração de novos, por meio da junção de procedimentos, repensar operações e
outras formas de utilizar o conhecimento existente para gerar ganhos para a
organização.
E finalmente, mas não menos
importante, temos a conversão do conhecimento explícito para tácito, que é a internalização.
Ela ocorre quando absorvemos o conhecimento sistematizado, seja por meio de
leitura de manuais, de treinamentos ou seminários. Quando então
aumentamos o nosso conhecimento.
- Agora entendi esse negócio de
espiral do conhecimento. Quando a gente participa de um treinamento, nós
internalizamos o conhecimento. Depois a gente passa o que aprendeu para os outros,
que é a socialização. Só aí melhoramos os processos, fazendo a combinação, e
eu, consequentemente, aprendo então mais um pouquinho. Isto faz o conhecimento
organizacional aumentar a cada ciclo desta espiral.
- arrematou brilhantemente o Zé.
- E esta espiral pode ser acelerada, ou seja,
existem mecanismos para que a conversão do conhecimento se dê cada vez com mais
intensidade dentro das organizações, aumentando desta maneira o conhecimento
organizacional, dentre elas podemos citar:
·
O
envolvimento das pessoas na solução compartilhada de problemas;
·
A
integração de novas tecnologias e métodos para a realização de trabalhos;
·
A
utilização de formas externas de conhecimento; e
·
A
experimentação formal ou informal, de maneira constante.
- Mas nem tudo são flores, não é?
– perguntou o Zé. - Realmente, existem
algumas barreiras à gestão do conhecimento, tanto no nível do indivíduo quanto
no nível das organizações. Com relação ao indivíduo, podemos citar a cultura, o
aprendizado, a história de vida da pessoa, o meio onde ela se desenvolveu, as
deficiências cognitivas. Ou seja, toda a bagagem que ela traz para a
organização. Para dar um exemplo, se a educação dela foi repressiva, ela nunca
estará à vontade para sugerir novas ideias ou até mesmo para dar sua opinião
sobre qualquer assunto. Nas organizações, as barreiras podem estar
relacionadas, à distribuição do poder, estilo de liderança, cultura
organizacional, estrutura dos recursos humanos. Enfim, em todo o ambiente
organizacional, pois se compararmos uma empresa onde o erro bem intencionado é
tolerado com outra onde é “proibido errar”, veremos que em uma temos um
ambiente muito mais propício para o aparecimento de novas ideias, e nestas a
gestão do conhecimento certamente trará ganhos e aumentará seu valor. Enquanto
que na outra prevalecerá a ideia do “sempre fizemos assim”, sem olhar que o
mundo está em constante mudança e as velhas soluções não se aplicam ao desafios
atuais.
Relacionamento
entre conhecimento tácito e explícito
É bom
lembrar que os dois conhecimentos se completam e se relacionam, sendo
impossível de ser medido em cada indivíduo. Um indivíduo tem interesse em um
determinado assunto, pois este assunto tem um significado especial para ele,
mas talvez para outro indivíduo não. O conhecimento é como um emaranhado de
significados que vamos construindo ao longo da vida, aonde vamos fixando cada
explicação e relacionando-a a outras, montando esta construção sem fim. De uma
forma simplificada, conhecimento tácito é aquele que não pode ser
exteriorizado por palavras. Calado, silencioso. Não expresso; subentendido,
implícito, que, por não ser expresso, se deduz de alguma maneira. São
insinuações atrás de uma afirmação.
Exemplo: A
comida feita pela avó, que passa a receita para todos, porém a feita por ela é
incomparável, por mais que ensine outros não conseguem fazer com o mesmo sabor,
então dizemos que a avó tem conhecimento tácito em se tratando de fazer comida.
Existem
basicamente dois tipos de conhecimento: tácito e explícito (Nonaka &
Takeuchi, 1997). O conhecimento tácito é aquele disponível com pessoas e que
não se encontra formalizado em meios concretos. Já o conhecimento explícito é
aquele que pode ser armazenado, por exemplo, em documentos, manuais, bancos de
dados ou em outras mídias.
Nonaka
& Takeuchi (1997) identificaram 4 modos de conversão entre conhecimento
tácito e explícito. O processo de externalização é a transformação do
conhecimento tácito em explícito. A internalização é o processo inverso.
Já a combinação é o processo de interação entre conhecimentos explícitos
para geração de novos conhecimentos. Por sua vez, a socialização é a
interação entre conhecimentos tácitos.
|
|
DESTINO
|
|
|
|
Tácito
|
Explícito
|
O
R
I
|
Tácito
|
Socialização
|
Externalização
|
G
E
M
|
Explícito
|
Internalização
|
Combinação
|
Figura: Modos de conversão
do conhecimento (Nonaka & Takeuchi, 1997)
O
objetivo e importância destes modos de conversão são transformar o aprendizado
individual em coletivo. A diferença é que o aprendizado coletivo permite
efetuar tarefas que não podem ser realizadas individualmente. Para atingir este
aprendizado coletivo, é necessário ter meios adequados para suporte aos 4 modos
de conversão. Para tanto, existem os Sistemas de Informação.
Fonte e Sítios Consultados
Conteúdo do 8º.
Semestre do Bacharelado de Administração de Empresas
Nenhum comentário:
Postar um comentário