CULTURA ORGANIZACIONAL E CULTURA AVALIATIVA NAS EMPRESAS BRASILEIRAS
- Administrar é realizar
tarefas através de pessoas, é importante para o administrador conhecer as
tarefas que vão ser executadas e, também, conhecer as pessoas que vão
realizá-las e o nível de desempenho dessas pessoas na realização das tarefas –
avaliação de desempenho.
Para conhecer as pessoas,
um referencial extremamente significativo é conhecer o passado dessas pessoas.
O passado das pessoas conferiu a elas certa cultura; daí a importância de
estudarmos a cultura das sociedades, das organizações e das pessoas que as
integram; e identificar até que ponto a avaliação do desempenho dessas pessoas
é afetado por essa mesma cultura em seus diferentes matizes.
Para conhecer a cultura de
uma organização é necessário, inicialmente, definir o que é CULTURA e o que é
CULTURA ORGANIZACIONAL. Fugindo ao exaustivo rol de 171 definições
inventariadas por Kluckhohn e Kroeber (In: Geertz, 2001) entende-se cultura
como “a totalidade de padrões de comportamento, artes, crenças, instituições e
todos os outros produtos do trabalho e do pensamento humano característicos de
uma comunidade ou população, transmitidas socialmente” (American Heritage
Dictionary); a esta definição exaustiva ocorre acrescentar a definição
sintética proposta por Sahlins (2003) que sentencia: “as culturas são ordens de
significado de pessoas e coisas” (p.9).
Por CULTURA ORGANIZACIONAL,
nos termos propostas por Edgar Schein (1992), entende-se: “o conjunto de
pressupostos básicos que um determinado grupo inventou, descobriu ou
desenvolveu ao aprender a lidar com os problemas de adaptação externa e de
integração interna, e que funcionou bem o bastante para serem considerados
válidos e ensinados aos novos membros como a forma correta de perceber, pensar
e sentir em relação a esses problemas” (p.12). A cultura de uma organização
representa, também, um recorte da cultura social vigente onde essa mesma
organização está inserida. Desta forma para analisar determinada organização
sob o aspecto cultural estará sempre subjacente a cultura dos indivíduos que
nela operam.
CULTURA ORGANIZACIONAL BRASILEIRA
Sob este tópico será
analisada a cultura organizacional brasileira a partir da ótica de três autores
que, com vistas aos propósitos deste trabalho, oferecem contribuições
pertinentes face às pesquisas por eles realizadas: Geert Hosftede , Marco Aurélio Spyer Prates e Betânia Tanure
de Barros e Lívia Barbosa (In: Motta & Caldas, 1999).
Cultura Organizacional
Brasileira sob a ótica de Geert Hofstede
Para o autor, o termo
CULTURA tem o sentido de “programação da mentalidade coletiva, que distingue
uns dos outros os membros de diferentes categorias de população” – por
categoria de população pode-se entender uma nação, um grupo étnico, categorias
de gênero, grupos etários, classe social, a profissão ou ofício, uma
organização trabalhista ou simplesmente a família.
Esclarece ainda o autor que
a cultura se compõe de muitos elementos, que podem ser classificados em quatro
categorias: símbolos, heróis, ritos e valores.
-
Os símbolos são palavras,
objetos e gestos de significado convencional.
No
nível da cultura nacional, os símbolos correspondem à linguagem.
No nível da cultura organizacional, os símbolos
correspondem a abreviaturas, gírias, maneiras de trajar e posições de status;
-
Os heróis são pessoas
imaginárias ou reais, vivas ou mortas, indicadas como modelos de comportamento.
-
Os ritos são atividades
tecnicamente supérfluas, mas socialmente significativas no contexto de
determinada cultura.
-
Os valores constituem o
nível mais profundo de uma cultura. São sentimentos amplos, muitas vezes
inconscientes e indiscutíveis, envolvendo categorias éticas, estéticas,
ideológicas, tais categorias são compartilhadas pelos integrantes de um grupo
ou por seus líderes.
-
No entender de Geert
Hofstede (1994)
“as pessoas que começam a trabalhar são
geralmente jovens, e a maioria de seus valores está firmemente arraigada;
contudo serão socializadas segundo a prática de seu contexto profissional. No
entanto, é no nível dos valores básicos que as culturas diferem mais; quando se
trata de culturas ocupacionais e – mais ainda – organizacionais, a diferença é
mais superficial (no tocante a símbolos, heróis e ritos)” (p.9).
Geert Hofstede indica os seguintes valores como sendo as variáveis
que melhor caracterizam as culturas nacionais e que tendem a
prevalecer nas organizações das respectivas nacionalidades:
a)
Distância hierárquica (DH), significando até que
ponto os membros de uma sociedade aceitam a distribuição desigual de poder,
afetando o comportamento dos menos poderosos em relação aos mais poderosos;
b)
Individualismo (I), representando preferência por uma estrutura social
frouxa, em que cada indivíduo cuida apenas de si mesmo e de sua família.
Coletivismo significando preferência por comportamento social de solidariedade,
em que cada indivíduo espera que seus parentes ou grupo a que pertença cuidem
dele, em troca de lealdade. O ponto básico é qual o grau de interdependência
que a sociedade mantém entre seus membros;
c)
Masculinidade (M),
expressando a preferência por sucesso material, competitividade,
agressividade, desempenho e, feminilidade a preferência por qualidade de vida,
relações humanas, dedicação, solidariedade;
d)
Fuga à Insegurança (FI), grau de desconforto que os membros de uma sociedade sentem com a incerteza
e a ambigüidade; preferência por situações mais ou menos estruturadas;
e)
Orientação a longo prazo (OLP),
correspondendo aos
valores positivos de austeridade e tenacidade e aos valores negativos de
respeito pelas tradições e conformismo social - o medo do que “os outros dirão”
. (este indicador foi incorporado, posteriormente,à pesquisa original de
Hofstede, por Bond, da Universidade Chinesa de Hong Kong).
Com referência às Práticas, Hofstede nos indica como variáveis
mais características das próprias organizações e que correspondem aos símbolos,
mitos, ritos etc, e que são:
a)
Interesse maior por meios versus
Interesse maior por fins que
significa, no primeiro caso preferência por rotinas técnicas e burocráticas, versus preferência por resultados;
b)
Interesse pelo indivíduo ou pela
função que significa
preocupação com a produtividade e com o bem estar do indivíduo ou, no caso, da
função, preocupação somente com a produtividade;
c)
Corporativismo versus
Espírito de equipe, no
primeiro caso as pessoas identificam-se com a própria profissão, no segundo
caso a referência principal é a organização;
d)
Sistemas abertos versus
Sistemas fechados – parâmetro
ligado ao tipo de comunicação
externa e interna e à facilidade de aceitar os estranhos ou recém-chegados;
e)
Controle interno rígido versus
Controle interno flexível –
corresponde à importância atribuída à formalização e à pontualidade dentro da
empresa;
f)
Pragmatismo ou Rigidez nas relações, principalmente no que diz aos
clientes; corresponde ao máximo de flexibilidade no setor de serviços e grande
rigidez na aplicação das leis.
Extraído
da pesquisa publicada em
1983 (Hofstede,1994) abrangendo diversos
países dos quais 25 deles
retratados no quadro (anexo 1), no que respeita a valores o perfil
da Cultura Brasileira atingiu os seguintes índices e
classificações:
|
Índice
|
Classificação
|
Distância
hierárquica (DH)
|
69
|
14
|
Individualismo
(I)
|
38
|
26/27
|
Masculinidade
(M)
|
49
|
27
|
Fuga à
insegurança (FI)
|
76
|
21/22
|
Orientação
a longo prazo (OLP)
|
65
|
5
|
Nesta oportunidade, vale
comentar, com referência a este perfil de nossa cultura e o processo de
avaliação de desempenho que:
·
um
elevado nível de distância hierárquica dificulta a comunicação nos dois
sentidos e maior feedback;
·
um
baixo individualismo (elevado coletivismo) dificulta a assertividade; dada à
ênfase na cordialidade e na conciliação.
Ø A Cultura Organizacional Brasileira
sob a ótica de Marco Aurélio Spyer Prates e Betania Tanure de Barros
Para estes dois
pesquisadores da Fundação Dom Cabral, o modelo proposto de ação cultural
brasileira pode ser caracterizado como um sistema composto de 4 (quatro)
subsistemas:
-
o
institucional (ou formal)
-
o
pessoal (ou informal)
-
o dos
líderes e;
-
o dos
liderados.
O institucional está relacionado com os
traços culturais que encontramos na “rua” como conceituado por Da Matta (1987).
O pessoal diz respeito ao espaço da “casa”; o subsistema de líderes
e o de liderados correspondem aos grupos dos que detém o poder e aos
grupos dos subordinados ao poder, respectivamente. Esses subsistemas apresentam
interseções entre si, encontrando-se nessas interseções traços culturais
comuns. Essas interseções são:
1.
concentração
de poder – na interseção dos subsistemas líderes e formal.
2.
postura
do espectador – na interseção dos subsistemas liderados e formal.
3.
personalismo
– na interseção dos subsistemas líderes e pessoal.
4.
evitar
conflito – na interseção dos subsistemas liderados e pessoal.
Esses subsistemas, também,
estão articulados por meio de traços culturais especiais que são
responsáveis pelo equilíbrio/manutenção do sistema cultural e, ao mesmo tempo,
são também os pontos que deveriam ser alterados para tornar possível uma
significativa mudança cultural. Os traços culturais especiais são:
-
o
paternalismo
-
a
lealdade a pessoas
-
o
formalismo e;
-
a
flexibilidade
A combinação destes dois
conjuntos – compõe a estrutura do modelo representativo do sistema de ação
cultural brasileiro, que apresenta no seu epicentro o traço da impunidade.
Descrição
do Modelo
O subsistema de líderes
tem como principais traços:
-
concentração
de poder
-
personalismo
e;
-
paternalismo
Concentração de poder – baseada numa estrutura fortemente
hierarquizada e de submissão onde o lema “manda quem pode, obedece quem tem juízo”
reflete o fundamento deste traço identificador deste contexto e a expressão
“você sabe com quem está falando” que revela todo o autoritarismo do cidadão
que a profere, que se julga com direitos especiais e não sujeito a uma lei de
caráter geral, no seu entendimento válida apenas para o cidadão comum.
Personalismo – no Brasil, o termo “cidadão” tem
conotação negativa, pois, freqüentemente é usado para identificar alguém que
está em posição desvantajosa ou de inferioridade; quando se diz “o cidadão vai ter
que esperar um pouco”, “o cidadão não tem todos os documentos em ordem” podemos
esperar por maus momentos – na nossa cultura o “cidadão”, quem quer que seja
não é visto como centro de poder ou de direitos. A rede de amigos, de parentes,
de propina é o caminho pelo qual trafegam as pessoas para resolver seus
problemas. Este é o “cidadão brasileiro” que se diferencia pela hierarquia e
pelas relações pessoais; eis o personalismo.
Paternalismo – segundo os autores do modelo em
estudo, a combinação da concentração do poder com o personalismo gera o
paternalismo em suas duas vertentes – o patriarcalismo e o patrimonialismo.
O patriarca é aquele que
tudo pode e, a quem, os membros do clã pedem e obedecem.
O patrimonialismo consiste
em dar aos bens públicos uso pessoal e familiar – é a face supridora e afetiva
do patriarca, às custas do tesouro público.
O subsistema institucional
tem como principais traços:
Postura do espectador
Formalismo
Impunidade
A concentração do poder e
o paternalismo induzem a uma postura do espectador. Paulo Freire (1983)
já havia denunciado o mutismo do povo brasileiro para
quem não se trata de falta de resposta ... “é resposta a que falta teor
marcadamente crítico”.
São traços culturais
típicos da postura do espectador: o mutismo, a baixa consciência crítica, baixa
iniciativa, baixa capacidade de realização por autodeterminação e tendência a
transferir responsabilidades sobre dificuldades para as lideranças.
Formalismo aqui apresentado no sentido de uma
aceitação tácita das normas e regras estabelecidas, de par com uma prática
distorcida, apoiada em outros procedimentos programados para burlar as normas
estabelecidas. Expressões como “fazer vista grossa”, “quebrar o galho”,
“descobrir o mapa da mina”, “arranjar um pistolão” são indicativos dessa
práticas. A exemplo, no serviço público brasileiro só é permitido o ingresso
por concurso público... entretanto são feitas nomeações interinas sem concurso
... que ... de tempos em tempos são efetivadas. Na realidade existe um hiato
entre o direito e o fato, que caracteriza o formalismo, mas também o justifica.
Há quem atribua a Getúlio Vargas o ditado: “para os amigos tudo, para os
inimigos nada, para os indiferentes, a lei”. (Barbosa, 1992).
Impunidade – quando as lideranças se resguardam
sob a impunidade o sistema jurídico institucional perde credibilidade – neste
ponto há uma inversão – ao invés de premiar as condutas éticas, os
procedimentos aéticos são premiados com a impunidade. O que tende ao “salve-se
quem puder” ou “a lei de Gérson – é preciso levar vantagem em tudo”.
O Subsistema Pessoal tem como principais traços:
Sua base é o personalismo,
já analisado, além dos traços.
lealdade
pessoal e;
evitar
conflito
Lealdade pessoal – a coesão social no Brasil é muito
marcada por este traço cultural. O membro do grupo valoriza mais sua lealdade
ao líder e aos outros membros do grupo do que, às causas, obrigações e
responsabilidades perante o próprio grupo.
Evitar conflito – a relação entre pessoas, em
situação de desigualdade de poder, tende a criar um certo grau de alienação,
baixa motivação e conseqüente passividade e baixa capacidade de iniciativa.
Esta mesma desigualdade de poder e forte dependência pode representar uma fonte
permanente de conflito que, no caso brasileiro, é tratado pelo recurso de
relações pessoais de intermediação (triangulação) entre líderes e liderados
buscando uma permanente evitação/ conciliação de conflitos.
No Brasil, é comum
competir de forma cooperativa.
O Subsistema Liderados tem
como principais traços:
Postura do espectador
Evitar
conflitos e;
Flexibilidade
Ao estudarmos o subsistema
institucional já analisamos o traço postura do espectador e, ao
estudarmos o subsistema pessoal, o traço evitar conflito restando-nos
analisar o traço flexibilidade.
Flexibilidade representa uma categoria que pode ser
analisada sob dois enfoques: Adaptabilidade e Criatividade.
Adaptabilidade – é uma capacidade criativa que se
exercita dentro de limites pré-fixados. Este contorno restritivo é o processo
que decorre em conseqüência das regras e normas do subsistema institucional –
deste confronto entre formalismo e lealdade a pessoas emerge o “jeitinho” ... é
a própria criatividade.
Criatividade – este traço traz consigo a inovação.
Ocorre, fundamentalmente, em situações onde a igualdade acontece de fato: - é o
que acontece no carnaval – negros e brancos, ricos e pobres, poderosos e
oprimidos ... mas neste evento, nas escolas de samba ... existem destaques ...
a comissão de frente ... que sinalizam o indivíduo se sobrepondo ao grupo ...
construindo uma hierarquia. Mesmo na festa da igualdade ressurge a hierarquia.
Não quero abolir a escravidão ... quero ser senhor...
Nas palavras dos autores
do modelo Prates e Barros(In: Prestes Motta & Caldas, 1997), esses traços e
a lógica descrita “formam a essência do que chamamos de Sistema de Ação
Cultural Brasileiro cuja dinâmica tem como resultado global um estilo de ser
brasileiro, uma construção nacional que as distingue de outras nações, por mais
que se queira impor-lhes modelos de outros países.
No âmbito organizacional,
o resultado é um ESTILO BRASILEIRO DE ADMINISTRAR.
Pesquisa realizada pelos
autores de uma amostra de 2.500 dirigentes e gerentes de 520 empresas de grande
e médio porte no Brasil levaram aos seguintes resultados:
|
(Prates & Barros)
Concordam
|
(Reaplicação 2003)
Concordam
|
Concentração de poder
|
88
|
67
|
Flexibilidade
|
81
|
63
|
Paternalismo
|
77
|
53
|
Dependência
|
76
|
49
|
Lealdade a pessoas
|
71
|
56
|
Personalismo
|
69
|
57
|
Impunidade
|
69
|
34
|
Evitar conflito
|
68
|
44
|
Postura do espectador
|
67
|
40
|
Formalismo
|
65
|
52
|
A mesma pesquisa foi por
nós reaplicada a alunos da Universidade Estácio de Sá entre outubro de 2002 e
maio de 2003, com uma amostra de aproximadamente, 180 alunos, apresentando os
resultados indicados na coluna B, indicando fortes variações.Todos os traços
identificados no modelo, a exceção da flexibilidade são ofensores à facilitação
de um processo avaliativo.
1.1
Meritocracia
à brasileira: o que é desempenho no Brasil? O caso do serviço público sob a
ótica de Lívia Barbosa
A autora em seu trabalho
procura demonstrar que a questão da meritocracia e da avaliação de desempenho
no setor público brasileiro e na sociedade, sob uma perspectiva mais ampla, não
se restringe à existência formal de um sistema de avaliação de desempenho.
Segundo Lívia Barbosa (In: Kirschner & Gomes (org.), 1999) sistemas formais
existem desde o século passado.
O caminho para a mudança
de rumos é o entendimento, primeiro, da diferença entre sistemas meritocráticos
e ideologia da meritocracia e, segundo, dos pressupostos culturais que
fundamentam todo este contexto.
Segundo Lívia Barbosa, o
serviço público brasileiro dispõe de um sistema de mérito tanto para o ingresso
como para a movimentação interna, não possui, isto sim, uma ideologia de
meritocracia como um valor determinante. Embora, em nível do discurso, todos os
envolvidos se coloquem como favoráveis ao sistema de mérito; na prática toda
tentativa de implantação esbarra em um processo sistemático de desqualificação
do critério a partir de uma estratégia que ora acusa os avaliadores de inaptos,
ora que os escolhidos como tendo mérito, na realidade receberam uma boa
avaliação ou promoção em razão de suas relações pessoais.
Não há dúvida de que
existem problemas com os avaliadores; que a influência das relações pessoais no
processo avaliativo existe; no entanto não é possível obscurecer que existem
aspectos culturais que condicionam o processo. A autora se refere a uma
“concepção de igualdade substantiva” que não legitima as diferenças individuais
de talento e desempenho como um critério para o estabelecimento de hierarquias
de par com “uma concepção de desempenho que entende os diferentes resultados
das produções individuais como oriundos
de mecanismos sociais que exigem as suas respectivas contextualizações e
explicitações”. O resultado disso é um processo que não avalia, no sentido de
estabelecer diferenças e hierarquizações, mas justifica o desempenho.
Sob esta concepção, os
desempenhos individuais se tornam incomparáveis entre si, pois, o produto de
cada um é visto como o resultado de condições históricas e subjetivas,
peculiares e únicas, não equivalentes a nenhuma outra, na medida em que o peso
de cada uma das variáveis no desempenho de cada um não pode ser medido e, em
conseqüência, comparado com o de qualquer um outro. Por isso é que ou todos são
avaliados positivamente ou ninguém é avaliado. Na conclusão da autora “a melhor
forma de sintetizar esta concepção do que é desempenho para nós é dizer que no
Brasil desempenho não se avalia se justifica”.
O Processo de Avaliação
Avaliação é um termo de múltiplos
significados e, como instrumento de ação, que atende a diferentes propósitos;
não é apenas um instrumento ou mecanismo técnico. A avaliação produz sentidos,
consagra ou inibe interesses, valores e comportamentos, provoca mudanças,
transforma realidades. Por isso mesmo, é um poderoso instrumento de ações
políticas e conseqüências éticas.
Avaliação é uma dessas
palavras muito utilizadas que fazem parte da vida de todos nós e uma dessas
atividades que nos afetam sempre e de forma muitas vezes, radical. Como afirma
Sobrinho (In; Sobrinho & Ristoff ,2002) “nada permanece igual e indiferente
após uma avaliação”.
A avaliação é um processo
essencialmente complexo e se torna incompreensível ou até mesmo deturpado se
visto sob uma ótica simplificadora. Esta complexidade a cada dia se intensifica
e se torna cada vez mais abrangente. A exemplo, até bem pouco tempo, no mundo
da economia e da política a riqueza e o poder se traduziam em bens materiais e
tangíveis – o capital era o recurso econômico mais significativo; hoje o conhecimento é, seguramente, o recurso econômico
fundamental, representado pelo conjunto de competências e habilidades
privilegiadas pelo mercado. Não existe avaliação unireferencial; ela é sempre
plural e associada a valores éticos e políticos, nunca aleatória ou
descomprometida, deverá obedecer a uma racionalidade técnica que assegure
informações objetivas e confiáveis e que atendam aos requisitos de equidade e
justiça contribuindo para a redução das desigualdades e da exclusão social e
progressivamente permita atingir níveis de consciência crítico emancipatório
através de métodos dialógicos e participativos.
A prática avaliativa nas
empresas se configura dentro de duas grandes perspectivas: na primeira, de
caráter tradicional, são privilegiados os aspectos vinculados a avaliação de
desempenho por resultados cumulativamente a análise das habilidades
profissionais e comportamentais como sugere Lucena (1992, p.87).
Em suas propostas são
arrolados 21 fatores básicos para tal avaliação, quadrimestral, dos indivíduos
em suas posições de trabalho. Neste contexto, o elenco de fatores induz a
identificar o que a empresa entende como o desempenho esperado, o que ela
atribui valor, em síntese, que valores culturais permeiam tal concepção. São os
seguintes fatores sugeridos pela autora: tomada de decisão, planejamento,
liderança, negociação, gerência de pessoal, atuação em situações de conflito,
organização do trabalho, acompanhamento e controle, senso de custo,
comunicação, conhecimento do trabalho, adaptabilidade, espírito de equipe,
criatividade, iniciativa, capacidade de realização, autodesenvolvimento,
relacionamento interpessoal, pontualidade, assiduidade, uso de equipamentos de
segurança.
Na segunda perspectiva,
onde se incluem as empresas que estão trabalhando nos modelos de gestão do
conhecimento e gestão por competências, de forma mais aproximativa torna-se o
paradigma da avaliação emancipatória, o modelo mais freqüentemente utilizado.
Nele não existe fatores observáveis e sim dimensões e características que
propiciam uma alteração cultural a partir do estabelecimento de um processo
permanente de análise crítica da realidade, visando propiciar a sua
transformação, substituindo o objetivo pela causa de avaliar, resgatando nos
indivíduos e nas equipes a vinculação maior aos compromissos estabelecidos,
traduzindo-se o objetivo como um norteador de caminhos para a transformação.
Trata-se de uma avaliação que busca a criação coletiva, tornando o avaliador um
orientador do trabalho avaliativo, tendo que estar atento aos conceitos básicos
de emancipação, decisão democrática, transformação e crítica educativa. Estas
como outras características expostas por Saul (1999, p. 64) (anexo 2) revigoram
o conceito de avaliação e criam uma dimensão renovadora.
A cultura pode incorporar
os valores que sejam necessários a transformação de uma dada sociedade. Se o
trabalho exerce influência na formação dos indivíduos remetê-los a uma
experiência de transformação requer colocar em prática os pressupostos que
permitam exercitar coletivamente valores apropriados a uma nova construção.
O PARADIGMA DA AVALIAÇÃO EMANCIPATÓRIA
CARACTERÍSTICAS
|
DESCRIÇÃO
|
NATUREZA DA
AVALIAÇÃO
|
|
ENFOQUE
|
|
INTERESSE
|
|
VERTENTE
|
|
COMPROMISSOS
|
|
CONCEITOS
BÁSICOS
|
|
OBJETIVOS
|
|
ALVOS DA
AVALIAÇÃO
|
|
PRESSUPOSTOS
METODOLÓGICOS
|
|
MOMENTOS DA
AVALIAÇÃO
|
|
PROCEDIMENTOS
|
|
TIPOS DE
DADOS
|
|
PAPEL DO
AVALIADOR
|
|
REQUISITOS
DO AVALIADOR
|
|
Fonte
e Sítios Consultados
www.cra-rj.org.br/site/.../CULT_ORG_E_AVAL
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