A palavra ética, do grego
ethos (modo de ser, caráter), encontra na filosofia sua expressão mais autêntica, aquela cujo
significado nos remete ao que é bom para o indivíduo e para a sociedade, medindo
os parâmetros para o exercício dos deveres entre ambos.
Porém, não sendo normativa, somente
teórica, justificadora dos costumes ou subsidiária na intenção de
solucionar os dilemas sociais, a ética, também não sendo lei (embora com frequência a Lei tenha como base princípios éticos), não pode sancionar desobediência a seus princípios, podendo
mesmo ser omissa perante a Lei quanto às questões abrangidas em seu escopo.
Pois bem, estamos falando de algo
que não é Norma nem Lei. Como então pode a ética, efetivamente,
nortear a relação indivíduo-sociedade? Porque a ética de uns não é a
ética de outros? Sem entrar no mérito da questão, vejam o exemplo do embate
entre a ética religiosa e a ética científica no caso dos embriões humanos.
Para ambos os lados, portadores
de valores diferentes, a razão só é pertinente naquilo que lhes é particular,
dentro do Universo de seus próprios conceitos. Orientar-se pela ética de um ou
de outro lado é estar no caminho do progresso, seja ele a humanização cristã ou
a revolução biotecnológica.
- Ética, nós a temos, em
vários níveis com distintas funções, atuando insistentemente na promulgação de
nossas razões.
E progresso? Aquele cujo conceito
advém da ideia de civilização, do ideal de fazer florescer todas as facetas
positivas do fenômeno humano, nós o temos? Sim ou não, não é por falta de
ética, mas pela ausência do que todas as éticas predominantes,
juntas, ainda não foram capazes de nos dar: o sentido terreno de nossa
existência.
Enquanto compunha este texto fui
convidado a sair de casa para buscar o jantar da família. No lugar onde entrei
para comprá-lo deparei-me com um remanescente da etnia Terena, sentado a mesa
assistindo a televisão do recinto. No exato momento em que me deparei com
aquela cena o comercial televisivo avisava: “O Brasil lidera
o ranking da corrupção...” (apud um bom observador). Sentei-me a mesa com aquele homem, que descobri ser radialista, e
no meio da conversa que fluiu espontaneamente, lhe disse:
“O progresso do homem branco, movido por valores eminentemente
utilitários, causou a completa desestabilização do sistema sociocultural das
tribos nativas. Hoje, a medida em que não há mais a quem expropriar senão a nós
mesmos, provamos nosso próprio veneno amargando a ruptura de (quase?) todas as
nossas instituições”.
Ele, com palavras mais simples,
porém, com bastante propriedade, perguntou: Que gosto tem o seu veneno?
Mais tarde, de volta ao lar, continuei a ponderar: Estado, poderes,
família, tudo parece se desintegrar no mesmo passo em que desvanecem as velhas
verdades que já não sustentam nossa razão de ser. Tudo porque quando nos autopercebemos,
pretensiosamente, superiores aos chamados seres primitivos deste continente,
não atinamos para o fato de que não exterminávamos apenas os “índios”, mas
também a ligação do homem com a terra. Que sabemos nós sobre a “alma” desta
terra? Que interação temos com ela? O que damos ao retirar da terra?
Ela tem para nós algum
significado que nos torne conscientes do sagrado direto de ser e de estar? Nós a
merecemos?
Se me perguntarem o que é
necessário para levar um País ‘chafundardo’ na corrupção ao
desenvolvimento, indagando ainda se a ética leva ao progresso, direi
que a ética parte dos valores existentes e o progresso é a consequente ação dos
valores predominantes. Portanto, nós vivemos pela ética prevalecente e por suas
consequências, resultados dúbios que somos forçados a chamar de progresso.
Nosso gargalo, diria ainda, está
na ausência de valores endêmicos, porque quase tudo o que desejamos está
profundamente arraigado em conceitos exógenos que descaracterizaram os atributos
típicos do que é próprio desta terra. Por essa razão somos parte da imensa
multidão que sobeja em nosso projeto político de nação, este liquidificador de
gente que transforma pessoas em uma massa sem identidade cultural. Desnorteada
e impedida...
Os “índios” tinham (os que restam ainda detém) o poder simples e “primitivo” de fazer os humanos amarem a sua
própria terra. Ainda podemos aprender com eles.
O "meu veneno" tem gosto de solidão, de deserto e de desencontro...
O "meu veneno" tem gosto de solidão, de deserto e de desencontro...
Fonte e Sítios Consultados
Conteúdo
da Disciplina de Ética - 8º.Semestre do Curso de Administração de Empresas
http://www.overmundo.com.br/banco/semeticapodehaver-progresso-tantofaz
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