No livro Imagens da Organização, o autor Gareth Morgan faz uso de
metáforas para ilustrar alguns princípios em ação. No capitulo 2, que é o
centro deste estudo, as organizaçoes são vistas como máquinas, onde o próprio
autor relata sobre a ideia popular de que a organização é uma máquina. E
que essa metáfora pode criar ideias valiosas sobre como uma organização é
estruturada para atingir resultados predeterminados. Mas ela é incompleta, já
que ignora os aspectos humanos, e ela é parcial, pois eleva
a importância da dimensão racional e da dimensão estrutural. Pode-se afirmar
que a metáfora também é enganosa, afinal a organização
não é uma máquina e jamais pode ser realmente planejada, estruturada e
controlada como um conjunto de partes inanimadas.
Podemos perceber como os pontos de vista de diferentes metáforas podem
contribuir para a compreensão dos vários modos de administrar os problemas na
estrutura organizacional e como os pontos de vista dados por diferentes metáforas,
muitas vezes, podem apoiar e reforçar um ao outro. Um exemplo disso é quando se diz que um homem é um leão, estamos
utilizando a imagem de um leão para chamar a atenção para os aspectos leoninos
do homem. Essa metáfora nos leva à compreensão de um aspecto característico do
homem, mas é parcial - parcial, porque uma metáfora sempre produz uma visão
unilateral. Ao ressaltar certas interpretações, ela empurra outras para um
papel secundário. Assim, ao chamar a atenção para a bravura, a força e a
ferocidade leonina do homem, a metáfora obscurece o fato de que a mesma pessoa
tem outros aspectos que foram eliminados da vista.
O autor ainda afirma que as organizações são muitas coisas ao mesmo
tempo, podendo ser complexas, multifacetárias e paradoxais. E que estes fatores
conduzem os administradores a enfrentarem ínumeros desafios dificeis de serem
superados dentro das organizações. Além do que, na visão de Gareth, os
administradores precisam desenvolver aptidões capazes de permitir a
visualização, o entendimento e o desenvolvimento da capacidade de efetuar
mudanças de situações utilizando novas maneiras de se fazer. Sabendo que as
organizações são vistas como máquinas por Gareth, e aqui, o termo máquina
aplica-se geralmente a um conjunto de peças que operam juntas para executar o
trabalho. Geralmente estes dispositivos diminuem a intensidade de uma força
aplicada, alterando o sentido da força ou transformando um tipo de movimento ou
de energia em outro.
Sabemos
que a máquina organizacional tem metas e objetivos para cumprir e que ela foi
planejada como uma estrutura racional de tarefas e atividades. No texto
percebe-se que as deficiências foram expostas e evidenciadas quando os seres
humanos se rebelaram contra essa mecanização e assim acabaram por criar uma
rigidez que veio a atrapalhar as organizações no acompanhamento das mudanças
que aconteciam ao seu redor. Com o fim da Revolução Industrial surgiu uma crescente
tendência no sentido da burocratização e das rotinas da vida em geral. Os donos
das fábricas percebem que a operação eficiente das máquinas necessitava de
grandes mudanças no planejamento e no controle do trabalho. Com isso as
divisões do trabalho tornaram-se mais intensas e os fabricantes foram em busca
de como aumentar a sua eficiência, reduzindo a liberdade de ação de seus
funcionários em favor do controle exercido por suas máquinas e seus
supervisores. Ainda nesse mesmo sentido, novos procedimentos e técnicas foram
introduzidos para disciplinar os trabalhadores.
Para o pensamento mecânico, as pessoas são contratadas para operar
máquinas e todo mundo deve comportar-se de maneria predeterminada, e com isso o
desenho da máquina organizacional se transformou em um organograma, ou seja,
essa era a vida organizacional rotinizada com a precisão exigida de um relógio.
Isso pode ser verificado em organizações de serviços até os tempos atuais, onde
todos operam de acordo com princípios semelhantes, como uma lanchonete, por
exemplo. E foi essa forma mecânica de pensar que ajudou a alicerçar o estilo
burocrático de administrar, o que acabou criando várias dificuldades para o
surgimento de novas percepções organizacionais.
De acordo com o que já
visualizamos, as organizações são criadas e operadas para atingirem metas e
isso as transformam em organizações burocráticas. E isso já vem desde os tempos
das grandes pirâmides, dos impérios, porém, com o aparecimento das máquinas
verificou-se que os conceitos de organização se tornaram mecanizados, primeiramente
na indústria e depois nas organizações. Ainda no século XVIII, o exército
de Frederico, o Grande da Prússia, emergiu como um protótipo de
organização mecanicista, isto é, uma organização que funcionava como uma
máquina. Para isso, Frederico introduziu reformas para transformar o exército
da Prússia em um mecanismo eficiente que funcionasse por meio de peças
padronizadas facilmente substituídas quando necessário. E para se
certificar da operação e do comando, Frederico desenvolveu alguns princípios:
todos os soldados deveriam ser ensinados a temer os seus oficiais mais que o
inimigo; a distinção entre funções; a orientação e o comando; os controles
seriam todos descentralizados para criar maior autonomia das partes em
diferentes situações de combate.
O autor cita o sociólogo Max Weber que discute sobre os paralelos
entre a mecanização e a organização. É importante ratificar que, Max
Weber sempre esteve preocupado com a rotinização que a abordagem
burocrática iria causar ao espirito humano e a capacidade de ação espontânea.
Ele também caracterizou a burocracia como a forma de organização que
privilegiava a formalidade, o profissionalismo, a impessoalidade e também a
rapidez, a clareza, a precisão, a confiabilidade, a eficiência, e que tudo isso
sempre esteve baseado na divisão de tarefas fixas, em uma supervisão
hierárquica, na aplicação de regras e regulamentos. Um exemplo claro desse tipo
de mecanização são as redes de 'fastfoods' que funcionam com ações
planejadas de maneira minuciosa, com funcionários frequentemente treinados para
interagirem com os clientes de acordo com um detalhado código de instruções.
A base da
“teoria clássica da administração” e da “administração científica” foi
estabelecida por um grupo de teóricos que contrastando com a posição de Weber
defendiam com firmeza a burocratização e direcionaram suas energias à
identificação de princípios e métodos detalhados através dos quais esse tipo de
organização pudesse ser atingido.
Enquanto os teóricos da administração clássica focalizavam o planejamento da
organização total, os administradores científicos se concentravam no
planejamento e na administração de tarefas individuais. E foi através das
ideias desses teóricos que tantos princípios mecanicistas da organização
se enraizaram em nosso pensamento cotidiano.
Surgiram
então às modernas técnicas de administração, e entre alguns teóricos citados
pelo autor, estava Henri Fayol que era um interessado nos problemas da
administração prática. Utilizando princípios militares e da engenharia Fayol e
seus seguidores lançaram a base das técnicas modernas de administração. E o
tempo veio demonstrar que esses teóricos planejaram a organização exatamente
como se estivessem planejando uma máquina. Isto quer dizer, eles conceberam a
organização como uma rede de partes, e planejaram a estrutura organizacional
tão precisamente quanto possível através dos padrões de autoridade. Os
princípios da administração clássica são básicos para a burocracia
centralizada, e a capacidade de descentralizar só foi aperfeiçoada no decorrer
do século XX através das técnicas de administração como o MBO, PPBS e o
planejamento de sistemas de administração gerenciais. E foi quando na década de
1990 surgiu o movimento de reengenharia que reconhecia a departamentalização
rígida como superada, sem utilidade. Porém a reengenharia seria uma vítima do
mesmo problema que a administração clássica sofreu afinal, o fator humano foi o
maior responsável e também o causador dos índices maciços desse fracasso.
A administração científica fundada por Frederick W.
Taylor e por seus seguidores, constituiu-se na primeira tentativa de uma Teoria
da Administração. Taylor voltou-se primeiro para a racionalização do trabalho
dos operários, depois elaborou a definição dos princípios de administração
aplicáveis a todas as situações da empresa. Pode-se resumir a administração
científica de Taylor em cinco princípios básicos:
● a
transferência de toda a responsabilidade da organização do trabalho do
trabalhador para o gerente; onde os gerentes devem pensar a respeito de tudo o
que se relaciona com o planejamento e a organização do trabalho, deixando aos
trabalhadores a tarefa de executar isso na prática;
● a
utilização de métodos científicos para determinar a forma mais eficiente de
como fazer o trabalho; planejando a tarefa do trabalhador de maneira correta,
especificando com precisão a forma pela qual o trabalho deve ser feito;
●
selecionando a melhor pessoa para desempenhar o cargo específico;
●
treinando o trabalhador para fazer o trabalho de forma eficiente;
●
fiscalizando (monitorando) o desempenho do trabalhador para assegurar que os
procedimentos apropriados de trabalho estão sendo seguidos e que os resultados
adequados serão atingidos.
A consequência demonstrada pela administração
científica de Taylor foi o aumento da produtividade, ao mesmo tempo em que
acelerava a substituição da mão de obra especializada por trabalhadores não
qualificados. Desde então, os aumentos de produtividade têm sido atingidos com
frequência através de alto custo humano, exatamente como aconteceu com o
exército de Frederico, o Grande. É necessário ressaltar que Taylor fez parte de
uma tendência social mais ampla que envolve a mecanização da vida de forma
geral. Por exemplo, os princípios do ‘Taylorismo’ são agora encontrados nas
organizações de varejo como: lanchonetes, 'fastfoods', escritórios e linha de
montagem de fábricas. Se observarmos pela ótica atual - Teoria Clássica da Administração e Administração Cientifica, iremos
perceber que elas estavam completamente enganadas e isso se deve, segundo o
autor, ao fato que na maioria das oportunidades, os princípios de
administração, é que são à base dos problemas organizacionais modernos.
As abordagens mecanicistas das organizações ainda
são muito populares, em grande parte devido à sua eficiência no desempenho de
certas tarefas, e devido à habilidade que têm de reforçar e sustentar padrões
particulares de poder e de controle. Entretanto, apesar desses exemplos de
sucesso, como a empresa do setor de lanchonetes, o McDonald´s, as organizações
que tem essa estrutura mecanicista quase sempre enfrentam severas limitações.
Já que estas organizações encontram maiores dificuldades em se adaptar as
situações de mudanças, isso porque elas foram planejadas para atingir objetivos
predeterminados e não estão planejadas para aceitar e/ou acompanhar a
velocidade das inovações dos tempos atuais. Isso porque as circunstâncias de
mudança pedem diferentes tipos de ação e de resposta. A criatividade e a
flexibilidade tornam-se mais importantes do que somente a eficiência. Além do
que é fato que as organizações mecanicistas produzem um efeito desestimulante sobre
os seus empregados: desencorajando a iniciativa e chegando até a encorajar as
pessoas a não respeitar regras e ordens.
A conclusão deste capitulo reforça que as organizações são vistas como máquinas - percebemos que a
burocracia e outras formas de organização mecanicista são cada vez mais
atacadas por causa das suas consequências disfuncionais. O movimento de
qualidade total, a ênfase numa organização flexível baseada no trabalho em
equipe veio ganhando destaque desde as décadas de 1980 e 1990 e são exemplos de
respostas a estes problemas e à necessidade de encontrarem-se novas maneiras de
se fazer, que não sejam só mecânicas, mas as novas formas de organização. De
uma perspectiva histórica, a abordagem mecanicista da organização pertence à
era mecânica. Sabendo que a tecnologia e a informação fazem parte dos atuais
princípios organizacionais, podemos acreditar que provavelmente estes dois
pontos serão cada vez mais importantes na administração.
Fonte e Sítios Consultados
Conteúdos do curso de Bacharelado em Administração
de Empresas
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