Gestão Empresarial Sustentável e Responsabilidade Social
Já faz alguns anos que as questões ambientais
invadiram o mundo dos negócios e mostraram a capacidade de se criar valor para
clientes, acionistas e outras partes interessadas. Com a força da globalização
as empresas passaram a incorporar a dimensão socioambiental na gestão.
É comum hoje em dia ver empresas que 'dizem' associar as suas
marcas a projetos, iniciativas e parcerias com ONGs, elas divulgam as Metas do
Milênio, os Princípios Pacto Global, ostentam as ISO's, e apresentam relatórios.
Por outro lado, os gestores recebem uma avalanche de informações, banalizando
as práticas e as políticas de responsabilidade social e os processos de gestão.
Ao que parece, as preocupações estão mais direcionadas em mostrar que
somos “socialmente responsáveis” e “sustentáveis” do que
realmente integrar a dimensão socioambiental nos negócios. E mais, supõe-se que
“sustentável” se refere aos aspectos ambientais e “responsabilidade social” aos
aspectos sociais, e que sustentabilidade é um novo modelo de negócios, mais
“moderno” do que responsabilidade social.
É nítida essa confusão sobre a definição de sustentabilidade.
Peter Senge1 afirma que evita usar a palavra
“sustentabilidade”, ou a utiliza o menos possível, porque é um termo tão
genérico que as pessoas percebem como um “ideal a ser atingido”, é
interpretado como “ser menos mau”
e envolve retóricas e controvérsias que não criam um ambiente propício para a
inovação e a busca de soluções.
Afinal, qual a razão ou quais as razões para essa confusão? A
nossa intenção é mostrar a origem dos conceitos de sustentabilidade e
responsabilidade social empresarial (RSE) e como as retóricas e controvérsias
são uma cortina de fumaça para a gestão das organizações.
É fato que a ideia de sustentabilidade, ou
desenvolvimento sustentável, surgiu com a preocupação ambiental, que acabou por
envolver as dimensões econômica e social e, a partir dos anos 1990, passou
então a incluir a responsabilidade social empresarial.
A evolução do conceito de responsabilidade social é diferente. Sua
origem está nas questões éticas que envolvem a relação entre empresas e
sociedade e na filantropia empresarial.
Foi na década de 1950 que se originou o conceito teórico de
responsabilidade social, quando a literatura formal sobre responsabilidade
social corporativa apareceu nos Estados Unidos e na Europa. A intenção dos
pesquisadores daquela década era com a excessiva autonomia dos negócios e o
poder destes na sociedade, sem a devida responsabilidade pelas consequências
negativas de suas atividades, como a degradação ambiental, a exploração do
trabalho, o abuso econômico e a concorrência desleal. Para compensar os
impactos negativos da atuação das empresas, empresários se envolveram em
atividades sociais para beneficiar a comunidade, fora do âmbito dos negócios
das empresas, como uma obrigação moral.
A filantropia empresarial surgiu como um novo campo de atuação que
veio conquistando visibilidade no Brasil, chegando a compartilhar e disputar
espaços com outras formas de ações privadas em benefício público. No entanto, a
expressão “filantropia empresarial” está associada a referências históricas
como caridade, paternalismo e assistencialismo, que têm uma conotação negativa,
porque não trouxeram transformações sociais e econômicas efetivas para o
desenvolvimento das comunidades.
Atualmente, quando se pensa em filantropia empresarial nota-se consenso
sobre a exigência de que esse investimento ocorra como uma política da empresa,
e não somente como um compromisso pessoal do empresário. Assim, buscaram termos
alternativos para designar as ações próprias a esse campo, como investimento
social, ação social empresarial, participação social ou comunitária da empresa
ou desenvolvimento social.
Uma das grandes questões que são levantadas
em relação aos temas sociais e ambientais é se estes afetam a competitividade
das empresas. Segundo a visão clássica da empresa, incorporar as questões
sociais e ambientais além da obrigação legal eleva os custos e reduz o lucro
das empresas. O debate sobre o conteúdo e extensão da responsabilidade social
nos negócios foi intenso, no sentido de contrapor o desempenho econômico ao
social e ambiental.
O papel das empresas incluí lucros, mas,
em vez da maximização do lucro de curto prazo, os negócios deveriam buscar
lucros de longo prazo, obedecer às leis e regulamentações, considerar o impacto
não mercadológico de suas decisões e procurar maneiras de melhorar a sociedade
por uma atuação orientada para a responsabilidade e sustentabilidade dos
negócios.
O conceito de desenvolvimento sustentável está hoje totalmente
integrado ao conceito de responsabilidade social: não haverá crescimento
econômico em longo prazo sem progresso social e também sem cuidado ambiental.
Todos os lados devem ser vistos e tratados com pesos iguais. Mesmo porque estes
são aspectos inter-relacionados. Da mesma forma que o crescimento econômico não
se sustenta sem uma equivalência social e ambiental, programas sociais ou
ambientais corporativos não se sustentarão se não houver o equilíbrio econômico
da empresa.
O modelo da sustentabilidade é uma nova forma de fazer negócios,
que tem como pressuposto o novo papel da empresa na sociedade - sustentabilidade
e responsabilidade social trazem para o modelo de negócios a perspectiva de
longo prazo, a inclusão sistemática da visão e das demandas das partes
interessadas, e a transição para um modelo com princípios, ética e a
transparência.
Fonte e Sítios Consultados
Nota: 1 SENGE, Peter. “The Sustainable Supply Chain an
Interview with Peter Senge”, por Steven Prokesch. Harvard
Business Review, 2010-out
Nenhum comentário:
Postar um comentário