Bancos são desleais com clientes
...diz autor de livro sobre tarifas bancárias.
A relação do
consumidor com o gerente de banco é como um casamento: requer conhecimento
prévio do "parceiro" e completa lealdade de ambas as partes. A comparação
é feita pelo economista Humberto Veiga, autor de um livro sobre tarifas
bancárias, especialista em direito e regulação bancária e defesa do consumidor.
Para Veiga, o
equilíbrio dessa relação tem sido ameaçado. Ele diz que os bancos agem de forma
desleal com seus clientes ao oferecer para eles produtos que nem sempre são
adequados ao seu perfil, por exemplo. A falta de concorrência e de mais
punições para as instituições acaba estimulando essas práticas. "Como você
não tem muito para onde correr, acaba aceitando determinadas coisas", diz.
5 dicas para lidar com o gerente do
banco
RELACIONAMENTO - "A sua
relação com o banco é de negócios", resume o economista. A verdade é uma
só: o banco quer lucro, e o consumidor quer receber o máximo pelo seu dinheiro,
ou, se precisar de crédito, pagar o mínimo pelo financiamento obtido. É nesses
termos, muito claros, que deve ser levada a conversa com o gerente.
EMPRÉSTIMOS
- Não aceite a primeira oferta feita pelo gerente ao pedir um empréstimo:
negocie as condições. A concorrência, nesse caso, é grande, e está a favor do
consumidor. "Trata-se de um serviço em que há vários fornecedores
dispostos a emprestar a você", diz Veiga.
CONTA
- "Os pacotes oferecidos pelos bancos são desenhados para garantir a eles
um fluxo de receita mensal e sempre vem com uma quantidade excepcional de
transações que talvez você nunca tenha que utilizar", diz Veiga. Não
aceite a primeira oferta: verifique se vale a pena contratar o pacote ou basta
ficar com os serviços essenciais, que são gratuitos (mas oferecidos em
quantidade limitada).
INVESTIMENTOS
- A Análise do Perfil do Investidor (API) começou a ser colocada em prática
pelos bancos brasileiros há menos de dois anos, mas é uma ferramenta
interessante para o cliente. Trata-se de um questionário que tem por objetivo
traçar o perfil de risco de uma pessoa para aplicações. "Evita que o
gerente ofereça produtos de risco elevado para quem não tem perfil para
aceitá-los", diz Veiga.
RECLAMAÇÕES
- Caso tenha problema com o banco e não consiga resolvê-lo na agência
ou no SAC, faça uso das ouvidorias. Outra dica é anotar o número da Central de
Atendimento do Banco Central (0800- 979-2345), que deve ser acionado em casos
de emergência. "É com esse número que você solucionará a maioria dos
problemas com bancos, cooperativas, financeiras, consórcios", diz Humberto
Veiga.
No livro "Case com seu banco com separação de bens - Como não pagar tarifas e negociar empréstimos e financiamentos"
(Editora
Saraiva), o economista Humberto Veiga dá dicas de como melhorar a
relação com o banco. Veja, a seguir, algumas delas Shutterstock
Veiga também dá
dicas que podem tornar essa relação mais igualitária. "É preciso saber o
que o banco pode dar para você, ter informação e consciência do conflito de
interesses", sugere.
Por meio de nota, a Federação Brasileira de Bancos
(Febraban) destaca o trabalho que tem sido feito pela autorregulação do setor
para diminuir as filas nas agências bancárias e melhorar o atendimento. A
federação diz que pretende, em breve, começar a distribuir "selos de conformidade"
aos bancos que aderirem à autorregulação e demonstrarem que estão cumprindo as
normas.
A seguir, confira
os principais trechos da entrevista concedida por Humberto Veiga ao UOL.
UOL - O que é mais complicado na relação do consumidor com os bancos?
Humberto Veiga - O mais complicado
é o conflito de interesses entre o banco e o consumidor. Apesar de as pessoas
terem conhecimento disso, elas deixam se levar por conta do relacionamento que
têm com o gerente. Alguns gerentes se apoiam no relacionamento interpessoal para
tentar reduzir a possível rejeição que possa existir por parte do cliente.
Se a relação passa
para um nível de amizade mesmo, aí tudo bem. Nesse caso, o próprio gerente,
quando vai oferecer aqueles produtos que ele sabe que são uma roubada, é
sincero e diz: "Fulano, preciso vender x títulos de capitalização e só vendi y. Preciso de
ajuda". Aí a relação é mais transparente. Mas geralmente não é assim.
Geralmente falta lealdade.
Quando você chega
no banco, em vez de o gerente dizer que existem determinados serviços pelos
quais você não vai pagar, ele chega e já diz que está colocando na conta um
pacote de tarifas "hiper maxi super". Isso é falta de lealdade,
porque o gerente não questionou ao cliente se ele ia precisar daquele pacote.
Ele não informou ao cliente que ele poderia ter uma conta sem pagar nada por
ela.
É o que acontece geralmente...
Sim, porque o
número de bancos é muito pequeno. Como você não tem muito para onde correr,
acaba aceitando determinadas coisas. E esse comportamento também só existe porque
não há punição por essas práticas. Se houvesse, o próprio gerente seria claro
com você.
O gerente do banco é a pessoa indicada para dar orientações sobre
investimentos?
Não. Ele é a pessoa menos indicada possível. A coisa mais absurda que tem é
você pedir orientação sobre onde investir para o gerente. A menos que ele seja
seu irmão e goste muito de você. Porque ele tem produtos para vender. Eu sempre
ouço coisas do tipo: "Eu tenho R$ 1.000 para investir e meu gerente disse
para colocar num plano de previdência". Como assim? Que critério ele usou?
Às vezes o plano de previdência não serve nem para quem quer fazer previdência,
quanto mais para investir.
O senhor fala no livro sobre leis recentes e resoluções do Banco Central
que trouxeram regras novas para o setor, como para a cobrança de tarifas, por
exemplo. Essas regras têm ajudado a melhorar a nossa relação com o banco?
As resoluções e
normas que têm sido criadas pelos órgãos reguladores, o Conselho Monetário
Nacional e o Banco Central, são uma novidade do ponto de vista regulatório.
Pense no seguinte: o consumidor não vai ao Banco Central. Já os bancos estão
todo dia no Banco Central, pleiteando, conversando, pedindo. O Conselho
Monetário Nacional só reagiu depois de muita provocação. O Banco Central negava
a aplicação do Código de Defesa do Consumidor para os bancos até o Supremo
Tribunal Federal se pronunciar. [O STF decidiu que o CDC deve ser aplicado aos
serviços bancários em 2006].
Soube de um caso em
que pessoa relatou que tinha um pai idoso que tinha um CDB de R$ 100 mil em um
banco. Aí o banco transformou o CDB num plano de previdência. Só de taxa de
carregamento, o banco ficou com R$ 2.000. Aí você olha e diz: isso é lealdade?
Hoje você consegue
buscar esses direitos na Justiça, alegando a falta de lealdade do banco. Existe
uma mudança cultural com relação a isso. Esses conceitos começam a ser
digeridos e implementados por uma nova leva de juristas, juízes e
desembargadores. Mas as instituições financeiras, do ponto de vista de
negócios, ainda não aprenderam isso. Talvez porque tenham ficado muito tempo
discutindo o CDC. Tanto que elas são campeãs de reclamação nos Procons.
E essa pressão que o governo tem feito pela queda de juros? Ela tem
beneficiado o consumidor, na sua opinião?
Fui favorável à movimentação
inicial que se deu, mas não à sua continuação. A movimentação que estava sendo
feita no início era para haver uma queda na taxa de juros por meio da
portabilidade. Era para ser assim: eu já tenho um empréstimo e quero ir para
outro banco com uma taxa menor. Para eu não ir para o outro banco, o banco
atual iria baixar minha taxa. Isso seria interessante, só que não foi assim. A
ideia do governo foi emprestar mais dinheiro para fazer mais consumo. Acho que
não é o caminho. Mas politicamente isso é muito bom.
O que o senhor acha que os consumidores têm de fazer para tirar o melhor
proveito possível dessa relação com o banco?
É preciso saber o
que o banco pode dar para você, ter informação e consciência do conflito de
interesses. Muitas vezes as pessoas dizem: "Se eu soubesse disso, não
teria feito aquilo". Não fique assim: saiba. Leia sobre o que é o banco,
como ele funciona, procure se informar antes de fechar negócio e contrato. Se
você está informado, você tem condição de negociar, argumentar e entender o que
o banco está fazendo.
Falta, na sua opinião, treinamento adequado para os gerentes?
Falta direção. O comando do banco tem de estar ciente de que o mundo mudou. Se ele
bobear, o consumidor está todo dia na Justiça. Se a população estiver consciente,
ela pressiona o comando do banco, e o comando reage falando para seu gerente:
seja leal. Agora, quando a mensagem que o gerente recebe do comando do banco é
"vamos ganhar dinheiro com os nossos clientes", aí vale tudo.
Seis coisas que os bancos não vão te contar
Os bancos são obrigados, por
determinação do Banco Central, a oferecer uma série de serviços gratuitos aos
clientes. Este e outros direitos, no entanto, muitas vezes não são conhecidos
pelos consumidores, o que pode resultar em gastos desnecessários. Especialistas
ouvidos pelo UOL listam a seguir direitos que muitas vezes não são informados
pelos funcionários dos bancos.
VOCÊ TEM DIREITO A UMA
SÉRIE DE SERVIÇOS GRATUITOS - Quem usa
pouco os serviços do banco não precisa contratar um pacote de tarifas. Os
bancos são obrigados a oferecer uma quantidade mínima de serviços
gratuitamente, como o fornecimento do cartão de débito, a realização de até
quatro saques e duas transferências por mês e o fornecimento de até dois
extratos e dez folhas de cheque mensais, por exemplo.
O BANCO NÃO PODE OBRIGAR
VOCÊ A CONTRATAR UM PACOTE - É comum
que, na hora de abrir a conta, o banco "empurre" um determinado
pacote de serviços, que, na teoria, se encaixaria no perfil daquele cliente, ou
na faixa salarial dele. Ninguém é obrigado, no entanto, a contratar esse
pacote. É obrigação do banco, aliás, deixar em local visível as informações
sobre os pacotes existentes e seus preços. Assim, o consumidor tem condições de
escolher o que mais tem a ver com ele.
NÃO HÁ GARANTIA DE QUE A
ANUIDADE DO CARTÃO NÃO SERÁ COBRADA - Nos últimos
anos, virou prática comum o banco ou a administradora vender cartão de crédito
prometendo anuidade gratuita. A gratuidade, no entanto, pode valer só para o
primeiro ano - depois, caberá a você ligar para a instituição e pedir o
cancelamento do cartão ou desconto no valor. Na dúvida, para se proteger de
cobranças inesperadas, peça sempre tudo por escrito.
ENVIAR CARTÃO SEM SEU
CONSENTIMENTO É PROIBIDO - O envio de
cartão de crédito sem que o consumidor tenha solicitado é uma prática antiga e
proibida pelo Código de Defesa do Consumidor, mas que continua sendo feita por
algumas instituições. Alguns bancos argumentam que o cartão só será cobrado se
for usado. "Mesmo assim, o envio pode se tornar um problema para o
consumidor caso ele seja extraviado e usado indevidamente, por exemplo",
diz a técnica do Procon-SP Edila Moquedace.
VOCÊ PODE TRANSFERIR SUA
DÍVIDA PARA OUTRO BANCO - Quem tem dívida com um
banco, mas considera as taxas de juros cobradas muito altas, pode lançar mão da
portabilidade de crédito, ou seja, transferir a dívida para outra instituição.
Para fazer a portabilidade, é preciso procurar a instituição financeira para
onde se quer transferir a dívida. Se esse banco aceitar o consumidor como
cliente, terá de quitar o empréstimo com a instituição onde a dívida foi feita
originalmente e depois negociar as novas condições de pagamento.
VOCÊ TEM DIREITO A UMA
CONTA-SALÁRIO - Se você já tem conta em um
banco, mas a empresa para a qual trabalha faz o pagamento por meio de outra
instituição, você pode optar por receber na chamada "conta-salário".
Trata-se de um tipo especial de conta que não permite nenhum tipo de depósito
além do salário. Quem tem essa conta não paga nada para transferir o valor para
outra, mesmo sendo de outro banco (a não ser que a transferência seja feita em parcelas), nem para fazer até cinco saques mensais.

Fonte e Sítios Consultados
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