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18 de abril de 2020

Pandemias do passado e a Covid-19





O mundo vive esse ano de 2020 num cenário que revela um alto número de pessoas infectadas e mortas pelo surto global conhecido por coronavírus (covid-19) que junto da sua letalidade ele tem provocado mudanças de comportamento, caos social e uma grande disseminação de boatos – será que é possível equiparar o momento que vivemos agora, o coronavírus, com algum outro fato histórico como a peste negra, a gripe espanhola  ou a gripe suína?

Vamos saber mais sobre essas semelhanças.


Ratos e pulgas assolam a Europa e a Ásia

      Segundo a obra ‘A História da Humanidade Contada pelos Vírus, Bactérias, Parasitas e Outros Micro-organismos’ é possível ver como esses seres microscópicos moldaram a evolução no planeta ao longo de milênios e, hoje, nos ajudam a entender nossa própria origem na Terra - no século 14, a peste negra gerou um pânico na população muito parecido ao que estamos vivendo agora. As pessoas ficaram isoladas, ninguém saia às ruas, com medo de entrar em contato com os miasmas, gases venenosos que supostamente estariam por trás da doença”. 
Claro que o ar não tinha nada a ver com a questão: a peste bubônica, nome correto da condição, foi provocada pela bactéria Yersinia pestis, que acaba transmitida ao ser humano por meio de pulgas que infestam ratos e outros roedores. 


Acontece que naquela época,  a Europa e a Ásia eram um verdadeiro lixão a céu aberto. Sem nenhum tipo de saneamento básico, as pessoas jogavam as próprias fezes no meio da rua. Se um indivíduo passasse distraído no momento do despejo de excrementos, corria o risco de voltar para casa completamente sujo e fedido. 


E esse cenário insalubre foi perfeito para que ratos, pulgas e bactérias fizessem a festa. Estimativas dão conta que a peste negra tenha matado entre 75 a 200 milhões de pessoas, praticamente um terço de toda a população que vivia nessa região do planeta - O quadro O Triunfo da Mortedo holandês Pieter Bruegel , dá uma noção poética e macabra do caos no período da peste negra: corpos amontoados são levados em carroças puxadas por caveiras. Mais dramático, impossível, não?



                                                        O quadro “O Triunfo da Morte”, do holandês Pieter Bruegel,  Museu do Prado, em Madrid  (Espanha) 


Ainda é possível ver outras coincidências entre o período da peste negra e os tempos atuais: No século 14, muita gente passou a adotar o hábito de pendurar dentes de alho no pescoço, para se proteger dos ares contaminados, conta. Pois é, apostar em soluções milagrosas (e aparentemente sem nexo) já é uma tradição de séculos… Hoje, para combater o coronavírus, é possível encontrar receitas caseiras que envolvem o mesmíssimo alho, ou outros ingredientes como o vinagre, o limão e a cúrcuma. Infelizmente, isso não passa de crendice popular. 


 Ainda vale mencionar que a própria noção de quarentena surgiu nesse período da história: a então República de Veneza, cujo território hoje pertence à Itália, foi bastante atingida pela peste negra (a epidemia provavelmente começou ali, acreditam alguns historiadores). Um membro do clero sugeriu que se adotasse a restrição de circulação livre das pessoas, especialmente daquelas que chegavam em barcos e navios.


 Sabe-se que a escolha de 40 dias (ou quaranta giorgi, no bom italiano) obedeceu a critérios bíblicos: algumas passagens do Velho Testamento falavam desse tempo de isolamento para surtos de lepra (ou hanseníase, nos tempos modernos). Claro que, hoje em dia, nem sempre o período de reclusão completo é respeitado: as pessoas são liberadas de acordo com a evolução da doença e quanto ela leva para provocar sintomas e ser transmissível.


É óbvio que existem inúmeras e evidentes diferenças entre a peste negra e a Covid-19, a doença provocada pelo novo coronavírus. Para começo de conversa, a primeira é causada por bactérias e a segunda por vírus. Também devemos levar em conta que a ciência evoluiu muito nos últimos séculos: em 1 300 e pouco, nem se sabia da existência de micro-organismos, que dirá de remédios ou vacinas eficazes de combatê-los. 



A gripe espanhola, que NÃO surgiu na Espanha e os conselhos ao povo da inspetoria de higiene: 



·         EVITAR aglomerações, principalmente à noite.

·         NÃO fazer visitas.

·         TOMAR cuidados higiênicos com o nariz e a garganta...

·         EVITAR toda fadiga ou excesso físico

·       O DOENTE, aos primeiros sintomas, deve ir para a cama, pois o repouso auxilia a cura e afasta as complicações e contágio. Não deve receber, absolutamente, nenhuma visita.

·      EVITAR as causas de resfriamento, é de necessidade tanto para os sãos, como para os doentes e convalescentes.

·      AS PESSOAS IDOSAS devem aplicar-se com mais rigor ainda todos esses cuidados.




Quem efetuar uma leitura rápida até pode pensar que essas recomendações foram publicadas em algum site nos últimos dias para uma campanha de prevenção contra o coronavírus, né? Porém, na verdade elas foram escritas em 1918 e veiculadas em jornais da época com o objetivo de conscientizar nossos bisavôs e bisavós sobre formas de se proteger da gripe espanhola, que causava terror no mundo todo.





A GRIPE ESPANHOLA É CONSIDERADA POR MUITOS ESPECIALISTAS A MÃE DAS PANDEMIAS:



Ela foi provocada pelo vírus influenza do tipo A H1N1, ele contaminou mais de 500 milhões de pessoas e provocou entre 17 e 50 milhões de mortes. Ao menos um quarto de toda a população do planeta se infectou com essa doença. No Brasil, estima-se que a gripe espanhola tenha matado ao menos 35 mil pessoas. Entre elas, destaca-se o então presidente eleito Rodrigues Alves, que estava pronto para iniciar um segundo mandato como chefe da república. O político paulista não resistiu às complicações e morreu no dia 16 de janeiro de 1919.


                                                  Livro da historiadora Christiane Maria Cruz de Souza

         De acordo com a historiadora Christiane Maria Cruz de Souza, do Núcleo de Tecnologia em Saúde do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia, existe outro ponto em comum entre a gripe espanhola e a Covid-19. “A liturgia das grandes epidemias é sempre muito parecida. Primeiro, as autoridades negam que ela existe, uma vez que é algo desconhecido e com potencial de abalar a economia e os sistemas de saúde. Muitos dos discursos das autoridades no início da pandemia de 1918 se assemelham ao que vemos hoje”, compara. 


Em artigos científicos, a historiadora Christiane Maria Cruz de Souza explorou como a gripe espanhola mexeu com o povo baiano. “Bares fixaram anúncios dizendo que a cerveja curava a gripe. O povo, num ato de desobediência civil, ignorava as orientações e seguia participando de enterros ou indo às missas. A estátua do Nosso Senhor do Bonfim teve que ser retirada do altar porque as pessoas faziam peregrinação para beijar os pés do santo, o que virou um ponto de contágio”, relata. 


Outro fator que assemelha o episódio de 1918 a 2020 é a questão do nome da doença: a pandemia do passado não começou na Espanha. Acontece que esse país era um dos únicos estáveis e democráticos naquela época, uma vez que muitas de suas nações vizinhas estavam envolvidas na Primeira Guerra Mundial. Como a imprensa espanhola era relativamente livre, foi uma das poucas a noticiar o aumento do número de casos e de mortes, o que gerou esse estigma que perdura pelas décadas. Até hoje não se sabe ao certo onde foi o início do problema, mas a maior suspeita são campos de treinamento militar dos Estados Unidos.


Esse mesmo dilema é visto nos dias de hoje: apesar de a Organização Mundial da Saúde ter tomado o cuidado de botar um nome no vírus (Sars-Cov-2) e na doença (Covid-19) que não tenham nada a ver com o seu nascimento na cidade chinesa de Wuhan, alguns políticos insistem em fazer essaestigmatizaçãoo presidente americano Donald Trump já usou o termo “vírus chinês” algumas vezes. Esse discurso encontrou ressonância no parlamento brasileiro, foi comum ver muitas postagens de alguns políticos brasileiros fãs do Presidente Americano segundo seus equivocados passos. E alguns atos geraram uma crise diplomática entre Brasil e China, um de nossos maiores parceiros comerciais quando um político filho do presidente do Brasil postou comentários infundados sobre a China.

                                                   Políticos da época


Mas deixemos de lado a política para voltar ao mundo das curiosidades: um efeito colateral da gripe espanhola no nosso país foi a criação de uma das mais tradicionais receitas brasileiras: a caipirinha. Como informa a reportagem do jornal El Paísum dos remédios caseiros mais populares em São Paulo para combater o vírus era uma mistura de cachaça, limão e mel, os ingredientes básicos de nossa bebida mais famosa.



As diferenças da gripe espanhola para a covid-19 são muito evidentes

- A medicina passou por uma verdadeira revolução a partir da segunda metade do século 20. Os cuidados com a higiene também melhoraram muito. Hoje, a possibilidade de realizar pesquisas é significativamente maior, o que dá esperanças de um controle mais rápido e efetivo da pandemia.






A Gripe suína, o perigo de ontem

É bom saber que algumas medidas tomadas atualmente (como o isolamento social, quarentena…) são mais contundentes do que ocorreu em 2009, quando o mundo enfrentou a ameaça da gripe suína, provocada por uma variação extremamente violenta do vírus H1N1. 


O fato é que as pessoas não sabem ou não se lembram, mas há 11 anos também fecharam escolas, restringiram a circulação de pessoas… Claro que foi numa intensidade muito menor, mas isso aconteceu. Só que a grande diferença dessa pandemia de 2020 está no uso massivo dos meios digitais de comunicação. A covid-19 é a primeira em que temos uma quantidade de informação enorme, disseminada por meio de Whatsapp e redes sociais, o que pode ser bom ou muito ruim.


Para quem não se lembra bem dos estragos de 2009, aqui vai uma breve recordação: a crise se originou no México em março e abril daquele ano e se espalhou para mais de 75 países em três meses. Estima-se que foram de 700 milhões a 1,4 bilhão de casos e entre 150 mil e 575 mil mortessegundo o Centro de Prevenção e Controle de Doenças dos Estados Unidos. 


A grande diferença é que em 2009 existia a possibilidade de uma vacina em curto prazo, coisa que não possuímos agora. As estimativas mais otimistas dão conta que um imunizante contra o coronavírus estará disponível dentro de 18 meses. Essa deve ser a solução para esse problema em longo prazo.


Apesar de todas essas comparações históricas, o fato é que nenhuma pandemia é 100% igual às anteriores. No cenário atual, temos mais incertezas que verdades absolutas. Só nos resta então, seguir as autoridades em saúde pública e respeitar as recomendações que parecem dar certo em outros países:


·        Lavar as mãos com regularidade,

·        Ficar isolado em casa e

·         Evitar o contato físico com outras pessoas.  






Pandemia da AIDS

No ano de 1981, uma das principais causas de morte no cenário mundial foi denominada Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS, na sigla em inglês). Originalmente, o vírus parecia atingir a comunidade masculina homossexual nos Estados Unidos, mas logo ficou claro que o vírus se espalhou despercebido, na maior parte do mundo. E não discriminou suas vítimas. Em 2007, já havia levado 25 milhões de vidas.


E a sua causa, o vírus da imunodeficiência humana (HIV), só foi identificada em 1983, quando ficou claro que ele se espalhava, principalmente, através da relação sexual desprotegida. E também foi identificado o contágio entre usuários de drogas através do compartilhamento de agulhas, bem como através de transfusões de sangue não filtrada. Nas décadas seguintes, a taxa de infecção aumentou drasticamente, assim como a taxa de vítimas mortais. Mas, eventualmente, novos tratamentos antirretrovirais começaram a estender as vidas daqueles que foram infectados.


Estimava-se que desde o seu começo, a pandemia de HIV/aids foi capaz de infectar quase 78 milhões pelo HIV e cerca de 39 milhões haviam morrido de aids. Em todo o mundo, estima-se que cerca de 35 milhões de pessoas viviam com aids ao final de 2013 – sabendo que a África Sub-Saariana era a região mais afetada do mundo, com quase 1 em cada 20 adultos vivendo com HIV e representava cerca de 71% das pessoas vivendo com HIV em todo mundo (OMS).


É fato que desde a detecção dos primeiros casos de aids nos EUA até o desenvolvimento de medicamentos eficazes no tratamento da doença assistiu-se em todo mundo a uma impressionante mobilização pela prevenção da infecção e cuidado das pessoas com HIV/aids, forjando um novo tipo de ativismo que teve profundo impacto no desenho da resposta à epidemia em todo o mundo, e especialmente aqui no Brasil.


Também é preciso registrar que o efeito paradoxal do desenvolvimento de respostas biomédicas eficazes, mais recrutamento de parte do ativismo como linha auxiliar de prestação de serviços ao Estado esvaziaram o ‘momentum’ político da mobilização ‘anti-aids’, o que se agravou ainda mais com a crise econômica global de 2008. A retração de tradicionais financiadores das atividades de organizações da sociedade civil, incluindo agências internacionais, agravou ainda mais o quadro, levando à situação presente de escassa mobilização e concentração da “ajuda internacional” nas mãos de poucas agências, em sua maioria privadas, criando um importante déficit democrático na possibilidade de negociação de iniciativas de políticas públicas, especialmente com países que dependem fortemente de recursos externos para a sua implementação, como é o caso justamente da parte do mundo mais fortemente afetada pela pandemia.


No final dos anos 90 e começo do século 21, governos passaram a buscar uma espécie de aliança para lidar com um tema urgente naquele momento: como garantir que milhões de pessoas contaminadas pelo vírus HIV tivessem acesso aos tratamentos que, gradativamente, começavam a prolongar a vida das pessoas.





AIDS X COVID-19


Alguns pesquisadores e médicos comentam de um paralelo histórico indireto do HIV. Em números e em comportamento dos vírus, as duas doenças não são iguais, ponderam especialistas. Ao longo das quatro décadas desde os primeiros casos registrados, mais de 30 milhões de pessoas morreram em decorrência da aids - dado que ainda não é concreto com relação à covid-19. Além disso, trata-se de formas distintas de contágio: o HIV pode ser transmitido de mãe para filho, no compartilhamento de agulhas e seringas ou pelo sexo, enquanto o Sars-CoV-2 se espalha por gotículas de saliva, em espirros e tosse, por exemplo. "O HIV usa nosso sistema imunológico para faz O HIV usa nosso sistema imunológico para fazer sua replicação, baixando a imunidade das pessoas. Isso acontece de forma bastante lenta, e a gente começa a ficar vulnerável a doenças oportunistas. Diferente do novo coronavírus, que penetra na via inalatória e vai predominantemente pro pulmão - onde faz uma cascata inflamatória, levantado a uma inflamação pulmonar maciça", explicam os infectologistas. "A gente sabe também que o corona pode invadir outras células, principalmente do coração, fazendo uma miocardite (inflamação do músculo do coração) e pode invadir células do sistema nervoso central - mas isso é mais raro e muito cedo para afirmarmos completamente.









A COVID-19 (do inglês Coronavirus Disease 2019) é uma doença infeciosa causada pelo coronavírus da síndrome respiratória aguda grave 2 (SARS-CoV-2) - os sintomas mais comuns são febre, tosse e dificuldade em respirar. Cerca de 80% dos casos confirmados são ligeiros ou assintomáticos e a maioria recupera sem sequelas. No entanto, 15% são infeções graves que necessitam de oxigênio e 5% são infeções muito graves que necessitam de ventilação assistida em ambiente hospitalar.  Os casos mais graves podem evoluir para pneumonia grave com insuficiência respiratória grave, falência de vários órgãos e morte.

Essa doença é transmitida através de gotículas produzidas nas vias respiratórias das pessoas infetadas. Ao espirrar ou tossir, estas gotículas podem ser inaladas ou atingir diretamente a boca, nariz ou olhos de pessoas em contato próximo. Estas gotículas podem também depositar-se em objetos e superfícies próximos que podem infetar quem nelas toque e leve a mão aos olhos, nariz ou boca, embora esta forma de transmissão seja menos comum. O intervalo de tempo entre a exposição ao vírus e o início dos sintomas é de 2 a 14 dias, sendo em média 5 dias. Entre os fatores de risco estão a idade avançada e doenças crônicas graves como doenças cardiovasculares, diabetes ou doenças pulmonares. O diagnóstico é suspeito com base nos sintomas e fatores de risco e confirmado com ensaios em tempo real de reação em cadeia de polimerase para detecção de ARN do vírus em amostras de muco ou de sangue.

Entre as medidas de prevenção estão a lavagem frequente das mãos, evitar o contato próximo com outras pessoas e evitar tocar com as mãos na cara.  A utilização de máscaras cirúrgicas é recomendada apenas para pessoas suspeitas de estar infetadas ou para os cuidadores de pessoas infetadas, mas não para o público em geral. Nesta data (21/04/2020) ainda não existe vacina ou tratamento antiviral específico para a doença. O tratamento consiste no alívio dos sintomas e cuidados de apoio.  As pessoas com casos ligeiros conseguem recuperar em casa. Os antibióticos não têm efeito contra vírus.

SARS-CoV-2 foi identificado pela primeira vez em seres humanos em dezembro de 2019 na cidade de Wuhan, na China. Pensa-se que o SARS-CoV-2 seja de origem animal. O surto inicial deu origem a uma pandemia global que à data de 21 de abril de 2020 tinha resultado em 2 544 770 casos confirmados e 175 622 mortes em todo o mundo. Os coronavírus são uma grande família de vírus que causam várias doenças respiratórias, desde doenças ligeiras como a constipação até doenças mais graves como a síndrome respiratória aguda.  Entre outras epidemias causadas por coronavírus estão a epidemia de SARS em 2002-2003 e a epidemia de síndrome respiratória do Médio Oriente (MERS) em 2012.
















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