Sempre
ouvimos que a má conduta de um funcionário pode influenciar seus colegas e até
a transformar toda a cultura corporativa – é aquela fábula
de que uma maçã podre contamina um cesto inteiro pode ter sua origem no mundo
corporativo. Essa foi a afirmação dos professores de escolas de negócios da Nanyang
Technological University (Cingapura) e da University of Kentucky (EUA).
Em um artigo publicado na Harvard Business Review, os professores
refletiram sobre o poder de "contágio" que um funcionário ruim tem
sobre os colegas com quem atua. Segundo eles, um funcionário desonesto, por
exemplo, aumenta as chances dos "honestos" cometerem alguma má
conduta. O contrário, porém, raramente ocorre.
"Entre colegas de trabalho, é mais fácil
aprender um comportamento ruim do que um bom", afirmam os
pesquisadores. "As consequências de um funcionário
problemático vão além dos efeitos diretos de suas ações - comportamentos ruins
de um podem influenciar negativamente os comportamentos dos outros e causar uma
série de consequências paralelas. Se o gestor não se atentar a isso, uma
pequena parte da equipe pode infectar toda uma cultura que, outrora, foi
saudável". E citam exemplos: dos funcionários que venderam títulos
hipotecários em massa - e que ajudaram a desenvolver a crise de 2008 - até um
erro interno de codificação na rede Wells Fargo que resultou em 38 mil clientes
recebendo uma carta que não precisavam.
Na pesquisa, os pesquisadores
procuraram entender quão contagiosa uma má conduta poderia ser. Examinaram
efeitos nos colegas gerados por más condutas de consultores financeiros que
atuavam focados em fusões, bem como empresas de consultoria financeira que
tinham atuação diversa. Durante fusões, os consultores trabalham em projetos,
com colegas diferentes, o que os expõe a novas ideias e comportamentos. Os
pesquisadores recolheram dados e informações do trabalho deles, principalmente
a partir de registros de conversas. Uma má conduta foi caracterizada como
quando o consultor saía de um acordo com contas a pagar ou quando havia perdido
uma decisão de arbitragem. Eles observaram quando as queixas ocorreram para o
consultor financeiro, e quando alcançavam seus colegas de trabalho.
Os resultados mostraram que os
consultores financeiros são 37% mais propensos a cometer uma má conduta se eles
se encontrarem com um colega que tem histórico de má conduta. "Esse resultado implica que a má conduta é um
multiplicador social - queremos dizer com isso que, na média, cada caso de
conduta errada gera 0,59 casos de má conduta entre seus pares", dizem
pesquisadores.
Observar somente comportamentos
similares entre colegas de trabalho não explica porque este contágio
ocorre. Os colegas de trabalho podem se comportar de forma semelhante por
conta do "efeito entre pares"
- aprendendo comportamentos ou normas sociais dos outros. Além disso, um
comportamento semelhante pode surgir porque os colegas de trabalho enfrentam os
mesmos incentivos internos na hora de realizar uma tarefa ou porque os
indivíduos propensos a fazer escolhas semelhantes optam naturalmente por
trabalhar juntos.
Os pesquisadores então tentaram
descobrir o que motivava o contágio da 'má conduta' para outros colegas.
Compararam consultores financeiros que atuavam em diferentes ramos da mesma
empresa, porque assim poderiam ver como a estrutura de incentivo da empresa
influenciava o trabalho deles. Também analisaram mudanças de comportamentos em
funcionários que passaram a trabalhar em uma nova área oriunda de uma fusão,
porque assim sabiam que eles não haviam escolhidos os colegas com quem
trabalhariam. Desta forma, conseguia-se eliminar o efeito de pares.
Também foram realizados testes que
incluíam apenas consultores que não mudaram de supervisão durante a fusão,
permitindo atribuir todas as mudanças de comportamento aos novos colegas de
trabalho do mesmo nível. "Os
resultados mostram que, independentemente de qualquer influência dos
supervisores, o comportamento dos funcionários é afetado pelas ações de colegas
de trabalho".
Estudos prévios mostravam que o
efeito entre pares era mais forte entre indivíduos que compartilharam a mesma
etnia. Os resultados desta nova pesquisa corroboram a constatação. "Os
resultados mostraram que o contágio é duas vezes maior se o consultor começa a
trabalhar com um novo colega que tem histórico de má conduta e que é da mesma
etnia. Além disso, pessoas que interagem mais podem causar uma enorme
influência no comportamento dos colegas".
Entender o motivo dos colegas tomarem
decisões parecidas que podem desembocar numa má conduta pode ajudar gestores e
prevenir que isso ocorra. A dica dos pesquisadores é que exista uma comunicação
clara que transmita conhecimento e normais sociais, explicando o que é
considerado má conduta ou não. Essa comunicação seria mais eficaz, segundo
eles, se fosse feita por "canais informais" e interações sociais.
"Entender como funcionários se
comportam em diferentes situações é importante para entender como a cultura
corporativa aflora e como é possível moldá-la". Para melhor,
claro.
Fonte e Sítios Consultados
https://epocanegocios.globo.com/Carreira/noticia/2018/03/como-um-funcionario-ruim-pode-contaminar-toda-equipe-segundo-estudo.html
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