“Este planeta é completamente seco,
pontudo e salgado”.
Na obra O Pequeno Príncipe, aparentemente
uma história infantil, encontraremos uma fábula sobre amizade,
solidariedade, desapego com mensagens e reflexões sobre a relação com o amor e
a relação com o mundo, de uma forma simples e contemplativa, deve ser por isso
que essa é uma leitura interessante de ser feita - e para quem ainda não o fez,
é recomendado fazer. Trata-se de uma história de aventuras e dilemas de um
jovem príncipe e sua conturbada relação com sua rosa, que ele descreve como
sendo bem envolvente e ao mesmo tempo contraditória.
O
fato é que o pequeno príncipe nos convida a olhar com atenção o nosso planeta,
cheio de presentes oferecidos pela natureza, uns são presentes aparentes,
outros estão escondidos, alguns renováveis e muitos limitados. Mas todos eles são
capazes de revelar seus segredos quando observados com um olhar cristalino de
uma criança, afinal, existem estrelas que sabem sorrir. E esse é o sinal de que
Antoine
de Saint-Exupéry conseguiu resgatar aquela criança que existe
em cada um de nós, com encanto, ética e beleza. Por isso a ideia aqui, não está em discutir a relação do pequeno príncipe com
sua rosa - que até certo ponto não deixa de ser uma relação platônica e cheia
de conflitos, mas, de pensar sobre a busca que ele fez ao visitar os diversos
planetas, e seus consequentes aprendizados.
Sabemos que existem diversos motivos
para serem explorados que não caberiam aqui neste simples texto, mas é preciso
saber que o pequeno príncipe saiu em uma jornada para se instruir, e
certamente buscar esclarecimentos para suas inúmeras dúvidas. A partir disso
ele visitou diversos “asteroides” – que posteriormente
foram chamados por ele de planetas e que em nossa compreensão era um lugar que
viviam outros seres, apenas um para cada planeta, na verdade. O entendimento
que teremos sobre os planetas é que eles são, em nossa realidade humana, um
mundo segregado que as pessoas constroem para viver e acabam se esquecendo da
naturalidade e dos benefícios da convivência com os pares.
E essa realidade implica em muitos
desafios, problemas e circunstâncias desconfortáveis, mas nem por isso menos
prazerosa. É como na Fábula do Porco Espinho, onde aprender a conviver com
as diferenças (espinhos) pode garantir um passaporte para
momentos únicos em nossas vidas (e sabemos que isso não é fácil). Para
um efeito de comparação com a realidade vivenciada por muitos de nós, seja na
vida pessoal ou profissional, imaginemos alguns dos planetas visitados pelo
príncipe construindo uma ponte para a nossa realidade:
Planeta habitado por um Rei: O Rei está sozinho no planeta até a chegada do príncipe. Mas como
todo Rei, é natural que ele goste de mandar, ditar regras e comportamentos.
Pessoas que tão simplesmente são acostumadas a dar ordens tem uma probabilidade
de não saber recebê-las e devido a isso não são capazes de trabalhar em equipe.
O trabalho em equipe exige momento para falar e também momento para ouvir e, as
pessoas com perfil como o do Rei podem até ouvir, mas dificilmente concordarão
com o que será dito.
Planeta habitado por um vaidoso: O vaidoso em seu planeta vibra com a chegada do príncipe, que no
seu entendimento será “admirador”. Pessoas assim
gostam de se sentir contempladas pelo próximo e só ouvem os elogios. Quando
criticadas, fingem que não ouvem ou mudam para um assunto que diz respeito a
elas mesmas.
Planeta habitado pelo empresário: Ele era um desses empresários que só buscavam se focar em contar e
contar as estrelas, afirmando ser um sujeito sério que
não se preocupava com “futilidades”. Pessoas assim
podem ser consideradas como uma espécie de Workaholic (viciadas
em trabalho), e sempre estão em busca de resultados e lucros – como se a
vida dependesse disso. Há uma forte tendência para a estafa e para a perda do
sentido do trabalho, bem como o extermínio da vida social, tão importante para
oxigenar as ideias!
Planeta habitado pelo acendedor de
lampiões: Quando foi perguntado por que
ele tinha acabado de apagar o lampião, ele respondeu objetivamente: é o regulamento! E
quantas pessoas conhecidas que ficam presas a regulamentos e a infindáveis
regras, seja isso pelo fato de não questionarem ou talvez por que alguém lhes
disse que é assim que se faz. Os indivíduos com a lógica de lampiões afirmam que as coisas
não têm solução, ou que a solução é seguir o dito “regulamento”, e muitas vezes
se sentem presos em suas atividades, com a consciência de que as tarefas são
terríveis. Este não seria o seu perfil, seria?
Planeta habitado pelo geógrafo: O geógrafo faz questão de afirmar que
não é um “explorador”. Isso hoje, no ano de 2015, não é muito diferente:
existem pessoas que não se aventuram e que não buscam novas oportunidades de
crescimento, novas experiências sociais. Tristes são aqueles que apenas ficam
imaginando as coisas, lugares e sensações… que desejam ganhar na loteria, mas que nunca jogam e que desejam encontrar um grande amor, mas não se
permitem amadurecer nos pequenos amores e nas constantes situações da nossa
vida.
Antes
de encerrarmos este, talvez você tenha se encaixado em algum desses
perfis ou não, mas relaxe, pois ainda existem escolhas a serem
realizadas. Afinal, conviver implica em “viver em comum”, “ter
convivência com” e “relacionar-se”. Só que para isso
acontecer realmente é preciso muito mais ação do que simplesmente viver
num mundo virtual – nos dias atuais existem milhares de pessoas que estão criando
um mundo particular, como o citado anteriormente, e com isso elas negam a si
mesmas a possibilidade de obter um aprendizado, um novo horizonte. O Pequeno
Príncipe nos mostra uma profunda mudança de valores; que nos ensina como
muitas vezes estamos errados na avaliação das coisas e pessoas que nos rodeiam
e como esses julgamentos equivocados nos levam à solidão. Essa leitura infantil
é capaz de levar os adultos a grandes reflexões
Para pensar: “Não coma a vida com garfo e faca.
Lambuze-se”.
(Mário Quintana)
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