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20 de agosto de 2015

Ensinamentos do ‘Pequeno Príncipe’



“Este planeta é completamente seco, pontudo e salgado”.

Na obra O Pequeno Príncipe, aparentemente uma história infantil, encontraremos uma fábula sobre amizade, solidariedade, desapego com mensagens e reflexões sobre a relação com o amor e a relação com o mundo, de uma forma simples e contemplativa, deve ser por isso que essa é uma leitura interessante de ser feita - e para quem ainda não o fez, é recomendado fazer. Trata-se de uma história de aventuras e dilemas de um jovem príncipe e sua conturbada relação com sua rosa, que ele descreve como sendo bem envolvente e ao mesmo tempo contraditória.
O fato é que o pequeno príncipe nos convida a olhar com atenção o nosso planeta, cheio de presentes oferecidos pela natureza, uns são presentes aparentes, outros estão escondidos, alguns renováveis e muitos limitados. Mas todos eles são capazes de revelar seus segredos quando observados com um olhar cristalino de uma criança, afinal, existem estrelas que sabem sorrir. E esse é o sinal de que Antoine de Saint-Exupéry conseguiu resgatar aquela criança que existe em cada um de nós, com encanto, ética e beleza. Por isso a ideia aqui, não está em discutir a relação do pequeno príncipe com sua rosa - que até certo ponto não deixa de ser uma relação platônica e cheia de conflitos, mas, de pensar sobre a busca que ele fez ao visitar os diversos planetas, e seus consequentes aprendizados.



Sabemos que existem diversos motivos para serem explorados que não caberiam aqui neste simples texto, mas é preciso saber que o pequeno príncipe saiu em uma jornada para se instruir, e certamente buscar esclarecimentos para suas inúmeras dúvidas. A partir disso ele visitou diversos “asteroides” – que posteriormente foram chamados por ele de planetas e que em nossa compreensão era um lugar que viviam outros seres, apenas um para cada planeta, na verdade. O entendimento que teremos sobre os planetas é que eles são, em nossa realidade humana, um mundo segregado que as pessoas constroem para viver e acabam se esquecendo da naturalidade e dos benefícios da convivência com os pares.
  
E essa realidade implica em muitos desafios, problemas e circunstâncias desconfortáveis, mas nem por isso menos prazerosa. É como na Fábula do Porco Espinho, onde aprender a conviver com as diferenças (espinhos) pode garantir um passaporte para momentos únicos em nossas vidas (e sabemos que isso não é fácil). Para um efeito de comparação com a realidade vivenciada por muitos de nós, seja na vida pessoal ou profissional, imaginemos alguns dos planetas visitados pelo príncipe construindo uma ponte para a nossa realidade:



Planeta habitado por um Rei: O Rei está sozinho no planeta até a chegada do príncipe. Mas como todo Rei, é natural que ele goste de mandar, ditar regras e comportamentos. Pessoas que tão simplesmente são acostumadas a dar ordens tem uma probabilidade de não saber recebê-las e devido a isso não são capazes de trabalhar em equipe. O trabalho em equipe exige momento para falar e também momento para ouvir e, as pessoas com perfil como o do Rei podem até ouvir, mas dificilmente concordarão com o que será dito.

 
Planeta habitado por um vaidoso: O vaidoso em seu planeta vibra com a chegada do príncipe, que no seu entendimento será “admirador”. Pessoas assim gostam de se sentir contempladas pelo próximo e só ouvem os elogios. Quando criticadas, fingem que não ouvem ou mudam para um assunto que diz respeito a elas mesmas.



Planeta habitado pelo empresário: Ele era um desses empresários que só buscavam se focar em contar e contar as estrelas, afirmando ser um sujeito sério que não se preocupava com “futilidades”. Pessoas assim podem ser consideradas como uma espécie de Workaholic (viciadas em trabalho), e sempre estão em busca de resultados e lucros – como se a vida dependesse disso. Há uma forte tendência para a estafa e para a perda do sentido do trabalho, bem como o extermínio da vida social, tão importante para oxigenar as ideias!


Planeta habitado pelo acendedor de lampiões: Quando foi perguntado por que ele tinha acabado de apagar o lampião, ele respondeu objetivamente: é o regulamento! E quantas pessoas conhecidas que ficam presas a regulamentos e a infindáveis regras, seja isso pelo fato de não questionarem ou talvez por que alguém lhes disse que é assim que se faz. Os indivíduos com a lógica   de lampiões afirmam que as coisas não têm solução, ou que a solução é seguir o dito “regulamento”, e muitas vezes se sentem presos em suas atividades, com a consciência de que as tarefas são terríveis. Este não seria o seu perfil, seria?



Planeta habitado pelo geógrafo: O geógrafo faz questão de afirmar que não é um “explorador”. Isso hoje, no ano de 2015, não é muito diferente: existem pessoas que não se aventuram e que não buscam novas oportunidades de crescimento, novas experiências sociais. Tristes são aqueles que apenas ficam imaginando as coisas, lugares e sensações… que desejam ganhar na loteria, mas que nunca jogam e que desejam encontrar um grande amor, mas não se permitem amadurecer nos pequenos amores e nas constantes situações da nossa vida.
Antes de encerrarmos este, talvez você tenha se encaixado em algum desses perfis ou não, mas relaxe, pois ainda existem escolhas a serem realizadas. Afinal, conviver implica em “viver em comum”“ter convivência com” e “relacionar-se”. Só que para isso acontecer realmente é preciso muito mais ação do que simplesmente viver num mundo virtual – nos dias atuais existem milhares de pessoas que estão criando um mundo particular, como o citado anteriormente, e com isso elas negam a si mesmas a possibilidade de obter um aprendizado, um novo horizonte. O Pequeno Príncipe nos mostra uma profunda mudança de valores; que nos ensina como muitas vezes estamos errados na avaliação das coisas e pessoas que nos rodeiam e como esses julgamentos equivocados nos levam à solidão. Essa leitura infantil é capaz de levar os adultos a grandes reflexões

Para pensar: “Não coma a vida com garfo e faca. Lambuze-se”.

                                 (Mário Quintana)

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