Os
seres humanos em geral, ficam muito felizes depois de quebrar muito a cabeça
tentando solucionar um problema, seja ele qual for e finalmente acabam encontrando
a solução. Ou será que a solução é que encontra você?
Essa é
uma das áreas mais misteriosas da neurociência: o mecanismo cerebral
responsável pelo insight, ou impulso criativo que te aproxima da solução correta
de problemas complexos. Aparentemente, uma característica tipicamente humana. Pelo
menos “aparentemente” porque já é muito difícil quantificar o insight em
humanos, imagine em outros animais.
Existem relatos de milhares de histórias legendárias sobre pessoas que
tiveram insights: Arquimedes gritando “Eureka” na banheira ou
Newton observando uma maça cair da árvore. Todas essas histórias fazem parte do
que é conhecido como a experiência do insight. Em comum, todas demonstram
bloqueio mental seguido de revelação. Outra característica é a certeza de que a
revelação está correta.
Devido a tantos casos conhecidos e famosos esse assunto vem sendo
estudado pelo neurocientista Mark Jung-Beeman (Universidade Northwestern, EUA)
há mais de 15 anos. Mark quer entender o que acontece no cérebro de pessoas que
têm esse tipo de experiência. Ele começou a se interessar por isso quando
estudava pessoas com pequenas lesões no hemisfério direito do cérebro. Mark
notou que, apesar de esses pacientes conseguirem se comunicar sem problemas,
tinham dificuldades em perceber nuances de linguagem, como metáforas ou
sarcasmo. Ou seja, parte do hemisfério direito respondia a emoções das palavras
codificadas pelo hemisfério esquerdo (responsável
pela lembrança da primeira definição das palavras).
E acreditem, foi durante uma palestra sobre como detectar o insight
que Mark teve seu próprio insight sobre o insight. Nessa palestra,
um psicólogo descreveu como o pensamento racional podia inibir o insight.
A ideia era que pessoas tentassem resolver um quebra-cabeça enquanto explicavam
seus passos verbalmente. Para isso, tinham de usar o hemisfério esquerdo.
Enquanto falavam, demoravam mais para resolver o problema. Mark então resolveu
testar se o hemisfério direito estaria envolvido na experiência de insight e
usou um tipo de problema que poderia ser solucionado por duas maneiras: por uma
via racional ou por insight.
O teste era o seguinte: as pessoas eram expostas a três palavras e
tinham trinta segundos para encontrar ‘uma’ outra palavra comum, que se
relacione às três. Por exemplo, “moleque”, “atleta” e “chato” (*as respostas
estão no final desse texto).
Quando achavam a resposta, tinham que dizer se foi via insight ou não. É
fácil perceber quando você usa o raciocínio lógico ou quando a resposta
simplesmente surge na sua mente. Durante a busca racional, você tenta ler cada
palavra e fica procurando no seu repertório qual outra palavra serviria para
uma combinação correta. Assim que você acha uma solução, você volta para cada
uma das palavras e as testa novamente, certificando-se que está realmente
certo.
O insight, ao contrário, é percebido
instantaneamente, como uma revelação.
Voltando ao final do teste, Mark se
juntou a outro neurocientista, John Kounios (Universidade Drexel), que também
estava interessado nos mecanismos de insight. John queria mostrar que o insight
contradizia o modelo clássico de aprendizado gradual. John seria o responsável
pela análise da ativação das vias neuronais enquanto as pessoas executavam o
teste de palavras. Eles descobriram que pessoas que usaram o insight para
resolver o teste ativaram áreas especificas do córtex, como o córtex
pré-frontal, envolvido com a execução de problemas. Outras áreas ficavam
“silenciosas”, permitindo o foco no problema.
Essa
ativação foi chamada de fase preparatória.
O que acontecia depois foi chamado de
fase da procura. Isso porque se pode observar que o cérebro passava a tentar
achar a resposta em áreas relevantes. No caso de um problema de palavras,
regiões envolvidas com a fala e linguagem foram ativadas. A procura leva menos
de um segundo até que o cérebro, não encontrando a resposta correta, chega a um
impasse e, literalmente, trava. A área executora toma o comando novamente e
passa a procurar uma nova estratégia, procurando respostas em outras regiões. O
cérebro faz isso muito rápido e, quando parece chegar a um momento de
frustração e desistir, o insight pode aparecer.
É possível observar o rosto das
pessoas chegando a esse momento, a alegria da descoberta fica aparente. Mas o
que acontece nesse ínterim? Esse prelúdio do insight é uma inesperada atividade
cerebral, conhecida como pulso de ritmo gama, a mais alta frequência elétrica
gerada pelo cérebro. Acredita-se que esse pulso gama é gerado pela junção
elétrica de milhares de neurônios distribuídos em regiões diversas do córtex.
Neurônios esses que não costumam se comunicar entre si, mas passam a criar uma
nova rede elétrica capaz de entrar na rede consciente.
A dupla então descobriu que uma região
específica do hemisfério direito é a responsável pela geração do pulso gama.
Justamente essa região parece contribuir para o entendimento de metáforas e
outras figuras de linguagem. Células nessa região são morfologicamente
distintas: os neurônios possuem grandes arborizações e mais espinhas, sugerindo
um maior número de potenciais contatos sinápticos (a junção entre neurônios).
Isso sugere que esses neurônios poderiam coletar informações de amplas regiões
do córtex, seriam menos precisos, mas mais conectados. Quando o cérebro procura
por um insight, são esses os neurônios mais capazes de induzi-lo.
No entanto, para que esses neurônios
gerem o pulso gama, o córtex precisa “relaxar” e desfocar para que associações
mais remotas sejam recolhidas por essas eventuais sinapses errantes. O
relaxamento parece ser essencial, e isso explicaria porque muitas pessoas
relatam que tiveram insights durante o banho ou logo após acordar. Durante a
manhã, o cérebro ainda “não pegou”, e essa desorganização das redes neuronais
pode favorecer conexões inusitadas. O curioso é que, nesse momento do dia, o
hemisfério direto está ativado. Infelizmente, a nossa estrutura social não
favorece um despertar preguiçoso, pelo contrário, estamos sempre correndo e
acabamos por perder momentos criativos. O ócio pode realmente ser criativo!
De fato, diversas descobertas foram
feitas quando os agentes estavam em situações relaxantes. O caso do matemático
Henri Poicaré, que solucionou um desafiador problema de geometria euclidiana
enquanto subia no ônibus, é um caso clássico. Outro, Richard Feynman, prêmio
Nobel de Física em 1965, preferia a atmosfera relaxada dos cabarés com topless
e costumava rabiscar os insights em guardanapos de papel.
Mas como estimular o insight? É difícil de receitar uma fórmula para isso, mas parece claro que ambientes ultracompetitivos e estressantes inibem o surgimento de insights. Talvez seja por isso que existam mesas de ping-pong nos escritórios do Google – uma forma de estimular a atividade criativa através da descontração.
Mas como estimular o insight? É difícil de receitar uma fórmula para isso, mas parece claro que ambientes ultracompetitivos e estressantes inibem o surgimento de insights. Talvez seja por isso que existam mesas de ping-pong nos escritórios do Google – uma forma de estimular a atividade criativa através da descontração.
Também foi divulgado que os alucinógenos
interferem com células do córtex pré-frontal, enganando o cérebro e confundindo
os sentidos, mas não poderiam ser enquadrados como um mecanismo indutor de insights
propriamente dito. Novas técnicas e ideias seriam necessárias para acelerar
esse tipo de pesquisa.
O insight pode ser visto como um
mergulho no vasto conhecimento adquirido, mas desconhecido, de um indivíduo.
Entender como esse processo acontece é como dizer que um circuito finito de
células é capaz de identificar uma ideia como insight pelo pulso gama e
inseri-la na consciência. Mas isso ainda irá requerer um nível de investigação
extremamente preciso. Imagine quando o ser humano souber manipular esse
conhecimento?
* Uma resposta correta seria “pé” (pé-de-moleque, pé-de-atleta e pé-chato)
Fonte
e Sítios Consultados
http://www.educacaofisica.com.br
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