A era do conceito
A
palavra conceito vem do latim ‘conceptu’. Para os filósofos, é a
representação de um objeto pelo pensamento, por meio de suas características.
Em regras gerais, é a ação de formular ideias por meio de palavras; pensamento,
opinião, concepção. Também pontos de vistas, avaliações, julgamentos.
Reputação, fama. Máxima, sentença, provérbio. E, para finalizar a verborragia,
parte de uma charada, a chave para uma solução proposta.
Ficaremos
com esta última definição, qual incógnita. E vamos propor a hipótese da “era
dos conceitos” para analisar quais lojas, produtos e serviços deixaram de ser o
que eram e aderiram todos, de uma forma ou outra, à franquia dos conceitos.
Sim, franquia.
Com a
métrica de padrões e de repetições, sempre em movimento, as franquias são
modelos que preveem experiências fixas, com uma ilusão óptica de padrão,
passíveis de multiplicação sem a perda de seus tributos essenciais. E, como
principal mérito, facilitam a localização das narrativas corporativas onde quer
que se esteja, ampliando sua área de abrangência sem perder a qualidade
associada à determinada marca. Assim, sempre que uma marca usa a “franquia do
conceito”, dispensam-se as explicações.
Pois bem,
se uma loja recebeu esta nobre titulação, é digna de ser vista. E um objeto
adjetivado com esta célebre palavra tem todo o endosso para custar mais caro,
pois o investimento há de valer.
As
franquias trazem as sensações de garantia de determinada experiência de consumo
em qualquer tempo e espaço, categorias básicas da existência humana. Elas são moldadas
pela experiência, e é através do espaço e do tempo que as pessoas estabelecem
seu ponto de contato com a vivência atual (registros orais, escritos,
imagéticos, digitais) e convivem entre si, ordenando suas interações
comunicacionais.
Com a
produção de mercadorias em aceleração crescente e sua consequente logística de distribuição,
encurtando processos e distâncias, surge a sensação de encolhimento do mapa do
mundo e relativização das medições de tempo conhecidas. Esse fenômeno é
turbinado pelas produções culturais que, dada à efemeridade e os instantâneos
dos novos veículos tecnológicos invadem o ciberespaço atemporal e criam a
necessidade de “tudo ao mesmo tempo agora e aqui”.
São
tantas mudanças, e tão velozes, que tentar acompanhá-las traz a impressão de
pertencer a uma espécie comum, que partilha experiências em comum. Assim, pelas
experiências que consomem as pessoas que veem e são vistas, se identificam e se
diferenciam. Com as novas tecnologias, a imaginação é remodelada na era da
hipertrofia do olhar e das aparências – mesmo sem possuí-los, produtos
aparentam tecnologia, vanguarda, estilo, status; logo são porções quantificadas
de fantasia, desejo e euforia.
Em sua
obra “A Sociedade do Espetáculo” (1997), Guy Debord aborda a questão
econômica e social da produção de excedentes, fabricando ininterruptamente
pseudonecessidades – um consumo alienado para uma produção alienada. O contexto
do consumo de ilusões atinge os lazeres e as humanidades, transformando-se em
espetáculos exportáveis por todo o mundo, mantenedores de certo ideário de ‘mundialização’ que extrapola a produção
de mercadorias e invade a produção de padrões ideais de hábitos de consumo.
São
conceitos. E passamos a precisar de conceitos. Desejar os conceitos, as
fábricas de experiências – “toque, cheire, experimente, ouça, sinta, prove…”
Este é o novo fetiche, que vende imagens em troca
de pertencimento e socialidade.
Por isso a “franquia do conceito” dá certo.
As
palavras “experiência única”,
“conectividade com a tecnologia”, “mutável”,
“de vanguarda”, “fashion”, “trend”, “gifting” são repertório comum. Sem contar
a exposição de prêmios mundo afora que endossa o “conceito” em questão. Vale
para eletrodomésticos, sapatos, materiais de construção. E para serviços
também. In loco e na web.
“Hei!
Preciso consumir estes produtos para me tornar conceituado!”
Talvez,
além de franquias de sensações e experiências, os conceitos sejam o grande flash
mob da contemporaneidade. Vemos os outros consumindo e, sem perceber,
entramos na onda. Moral da história: era uma vez… Caímos no conto do
“conceito”.
- E vivemos felizes para sempre.
Ou melhor, até que a nova era de consumo, com suas
franquias conceituais e essenciais – se apresente!
Fonte e
Sítios Consultados
Conteúdo da Disciplina de Gestão de Conhecimento –
8º. Semestre – Bacharelado em Administração de Empresas
Nenhum comentário:
Postar um comentário