Cresce o
movimento dos profissionais que trabalham ‘bem longe’ das suas empresas
Uma pesquisa divulgada pela empresa Regus em 2012 mostrou que 28% dos
profissionais brasileiros acham essencial ter fotos da família na mesa de
trabalho. Algumas empresas estão colocando esse capricho em xeque. As companhias
começam a estimular funcionários a sentar cada dia em um local diferente no
escritório. Nesses lugares, os itens pessoais são carregados na mochila ou
deixados em um armário pessoal dentro da empresa. Quem adotou o modelo defende
que o fim da mesa fixa no escritório aumenta a colaboração entre diferentes
departamentos e dá mais flexibilidade aos funcionários --em geral, a estratégia
faz parte de programas que permitem trabalhar em casa alguns dias por semana.
Erika Szabo, consultora de engenharia da Cisco, diz que não sente falta
de ter os pertences pessoais à disposição em uma mesa de trabalho fixa. Ela
carrega tablet, smartphone e, às vezes, notebook, e pode escolher onde
trabalhar, dependendo de aspectos como o humor e o que vai fazer naquele dia.
"Às vezes, tenho trabalhos mais introspectivos, desenvolvendo
treinamentos ou preparando apresentações. Em outros momentos, estou interagindo
com outras pessoas. Ter essa mobilidade ajuda muito", afirma.
Paulo Pegoraro, 36, gerente de serviços de consultoria em infraestrutura
da Dell, concilia o "home office" (trabalho em casa) com dias em que
vai ao escritório, nesse esquema rotativo. Ele diz que isso o ajuda a conhecer
mais os colegas, já que a cada dia pode sentar-se ao lado de alguém diferente.
"Você se sente compelido a falar com aquela pessoa. Posso conversar
com alguém de fora da minha área e acabo entendendo melhor como funcionam
outros departamentos da empresa."
Na Dell, essa rotatividade foi implantada em 2011 no escritório de São
Paulo e agora começa a ser adotada no de Porto Alegre. Pessoas que não
necessitam de infraestrutura física para trabalhar, como vendedores e
desenvolvedores de software, podem chegar à empresa e trabalhar em qualquer
lugar.
Segundo Flávia Porto, consultora de RH da empresa, a medida favorece a
inovação. "Quando você está em volta de pessoas de só uma área, limita-se
a conhecer colegas que estão no dia a dia da sua atividade. Ao juntar gente de
processos diferentes, há uma troca maior de ideias."
Ricardo Amorim, 39, gerente de marketing da empresa do ramo farmacêutico
Boehringer Ingelheim, destaca que é mais fácil trabalhar nesse esquema
especialmente quando desenvolve um projeto com alguém que não é da área dele.
"Quando você precisa passar
muito tempo trabalhando com uma pessoa, já se senta próximo a ela e não há
necessidade de reservar uma sala de reunião para isso. Resolve-se o dia a dia
de trabalho de forma mais natural."
A empresa adotou o esquema quando se mudou para um novo escritório em
São Paulo, com capacidade menor. Os profissionais, então, trabalham em casa um
dia por semana e, quando vão à sede, não têm posto fixo.
Mas foi necessário fazer ajustes no modelo: no começo, ninguém tinha
mesa ou lugar definidos, mas houve um passo atrás e agora a empresa definiu que
os profissionais de cada área de negócio devem procurar sentar-se próximos.
"Pessoas de áreas como RH e finanças, às vezes, precisam tratar de
assuntos sigilosos, e isso pedia um espaço mais reservado", afirma
Alessandro Gruber, gerente de RH da companhia.
MENOS SUPERVISÃO
Entretanto, nem todos profissionais se adaptam a esse tipo de inovação.
Alvaro Mello, coordenador do Centro de Estudos de Teletrabalho e Alternativas
de Trabalho Flexível da Business School São Paulo, diz que as empresas devem
fazer avaliações para verificar se o funcionário tem capacidade para produzir
trabalhando sob menos supervisão. É preciso, por exemplo, saber gerenciar bem o
tempo e ter bom conhecimento do trabalho para realizá-lo com autonomia.
"Tanto os indisciplinados, que não cumprem prazos, quanto os 'workaholics'
podem ter problemas para trabalhar assim."
Renata Patu, 38, gerente de suprimentos da Unilever, que trabalha
"sem mesa" desde 2012, diz que a distância faz com que as relações
profissionais sejam mais maduras.
"Isso gera um grau de confiança entre você, o seu chefe e a sua
equipe. O trabalho fica mais comprometido com o resultado", diz.
Em geral, os profissionais "sem mesa" recebem da empresa um
laptop com ferramentas de mensagens instantâneas e de teleconferência.
"Procuro me policiar para não usar o e-mail e o sistema de
mensagens de forma desnecessária. Se a pessoa está próxima de você, é melhor ir
lá conversar em vez de ficar falando virtualmente", afirma Amorim
LIDERANÇA REMOTA
Para os profissionais em função de chefia, essa mobilidade traz
desafios. É preciso aprender a liderar os funcionários mesmo que eles não
estejam ao alcance dos olhos o tempo todo.
Andrea Huggard Caine, diretora de certificação profissional da ABRH
(Associação Brasileira de Recursos Humanos), afirma que é importante que os
gestores estejam sempre em contato com os subordinados e avaliem o trabalho
deles constantemente.
"É importante ter disciplina para não perder o momento. Tem que pegar
o telefone e dizer: 'Fulano, não gostei disso'", recomenda.
Também é importante marcar reuniões periódicas ou mesmo reuniões
informais para que os profissionais mantenham contato.
"As pessoas precisam entender que a formação do vínculo não depende
de trabalhar cara a cara com a equipe que está no projeto", afirma Lucyane
Rezende, diretora de RH da Unilever.
Cresce o número de
profissionais que trabalham à distância no Brasil
Com novas tecnologias, a empresa deixou de ser um
lugar fechado. Estima-se que dez milhões de pessoas trabalhem à distância, pelo
menos uma vez por semana, no país.
O que as pessoas chamam hoje de
trabalho mudou muito e a transformação trazida pelas novas tecnologias é só
parte da explicação do que já está sendo chamado de Trabalho 2.0. Na
empresa Cisco, ninguém sabe direito como responder onde ficam as salas dos
departamentos. "Eu posso tá no meio do pessoal do RH, de marketing,
engenharia, financeiro, não tem uma área", explica o diretor de contas da
Cisco, João Paulo Melo.
Nenhum departamento tem sala própria. Ninguém tem a própria mesa. “Nós mesmos quando chegamos à empresa, se quiser ter um encontro com o financeiro, tem que escrever e perguntar onde você está”, diz a diretora de RH da Cisco, Rose Mary Morano. O lugar rotativo tem a ver com o trabalho por projetos, quando uma empresa forma equipes temporárias. “As pessoas se unem conforme cada projeto, uma pessoa precisa dar uma ajuda esporádica em cada projeto, depois volta para onde ela estava”, explica a consultora em RH, Eliane Figueiredo.
Além disso, tem muita gente que
passou a trabalhar de casa e só aparece na empresa de vez em quando. Então,
para quê lugar fixo?
A consultora em venda e software,
Lígia Donato, dá expediente em casa como consultora e como mãe. “Consigo
produzir de casa com pequenas interferências”. Apesar das "pequenas
interferências", o trabalho em casa ou home office, vem dando resultado
para muita gente. O funcionário não perde tempo no trânsito, trabalha mais
tranquilo e rende mais.
“Nós estamos com esse modelo novo
há seis anos e tivemos um aumento de 40% no volume de vendas novas e 70% na
receita dessas vendas”, conta a diretora de RH, Edna Rodrigues Bedani.
Estima-se que, hoje, dez milhões
de pessoas trabalhem à distância, pelo menos uma vez por semana, no Brasil. No
mundo, já são 173 milhões de trabalhadores. Essa é uma "moda"
recente, foi só a partir dos anos 2000 que o home office ganhou mais adeptos. “Comparando
com alguns países da Europa, o teletrabalho além de aumentar no Brasil, ele
também é maior comparado com outros países na América Latina, nós somos líderes
no exercício do teletrabalho”, fala o presidente da Sociedade Brasileira de
Teletrabalho, Álvaro Mello.
Mas a receita nem sempre
funciona. Na empresa Check Express, por exemplo, as vendas caíram até 30%
quando os vendedores passaram a trabalhar à distância.
“Existe até uma provocação entre
as pessoas de comparar os resultados, quem está na ponta do ranking quando está
cada um na sua casa, essa perda da troca de informação, prejudica”, diz o
gerente de novos negócios da Check Express, Alexandre Monteiro.
“O movimento de colocar as pessoas em home office
durou dois anos e depois os outros dois nós trouxemos de volta”, fala o
presidente da Check Express, José Mário Ribeiro.
“Os contras são a falta de
convivência prejudica o trabalho em equipe. Tem algumas empresas que eu conheço
que estão deixando de incentivar o home office e tem outras empresas que eu
conheço que estão querendo tentar o home office”, diz a consultora em gestão de
pessoas, Juliana Almeida Dutra.
Existem duas tendências paralelas
e contrárias: trabalhar sozinho e conviver. Como conciliar as duas coisas? Esse
paradoxo foi resolvido num novo lugar de trabalhar, o coworking. No local,
trabalho é algo que se faz separado, mas junto. O coworking, ou trabalho
compartilhado, reúne gente de áreas e empresas diferentes. Cada um faz o seu,
mas bate papo com quem está ao lado, toma um cafezinho.
O Brasil já tem dezenas desses
espaços. Por enquanto, o coworking recebe muito profissional autônomo, mas
parece que isso está mudando. “Tem diversas empresas ligando, fazendo cotação,
pros seus funcionários virem trabalhar no local. Às vezes tirar os funcionários
de home office para ter essa integração, visando maior produtividade”, diz a
sócia da Ponto de Contato, Fernanda Trugilho.
O trabalho a distância vai cada vez mais longe. Hoje em dia, com notebooks, tablets, smartphones, internet sem fio pra todo lado, o local de trabalho é o mundo.
No boteco, happy hour ou hora
extra? “Trabalho numa multinacional, tem a diferença do fuso horário, isso faz
com que algumas coisas que estão acontecendo e você tem que estar ligado full
time”, conta o engenheiro agrônomo, Eduardo da Costa Carvalho. Entre a vida
profissional e a pessoal, uma baita promiscuidade. “Minha esposa me deu uma
regra: não tem espaço na nossa cama para três itens que sou eu, minha esposa e
o meu laptop, ela falou: ‘olha, ou nós dois, ou você e o laptop vão para o
sofá, porque os três aqui não cabem na cama”, conta o administrador de empresas
Zack Henry.
Fonte e Sítios Visitados
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