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20 de janeiro de 2013

Cresce o movimento dos profissionais que trabalham ‘bem longe’ das suas empresas


Cresce o movimento dos profissionais que trabalham ‘bem longe’ das suas empresas

Uma pesquisa divulgada pela empresa Regus em 2012 mostrou que 28% dos profissionais brasileiros acham essencial ter fotos da família na mesa de trabalho. Algumas empresas estão colocando esse capricho em xeque. As companhias começam a estimular funcionários a sentar cada dia em um local diferente no escritório. Nesses lugares, os itens pessoais são carregados na mochila ou deixados em um armário pessoal dentro da empresa. Quem adotou o modelo defende que o fim da mesa fixa no escritório aumenta a colaboração entre diferentes departamentos e dá mais flexibilidade aos funcionários --em geral, a estratégia faz parte de programas que permitem trabalhar em casa alguns dias por semana.


Erika Szabo, consultora de engenharia da Cisco, diz que não sente falta de ter os pertences pessoais à disposição em uma mesa de trabalho fixa. Ela carrega tablet, smartphone e, às vezes, notebook, e pode escolher onde trabalhar, dependendo de aspectos como o humor e o que vai fazer naquele dia.

"Às vezes, tenho trabalhos mais introspectivos, desenvolvendo treinamentos ou preparando apresentações. Em outros momentos, estou interagindo com outras pessoas. Ter essa mobilidade ajuda muito", afirma.

Paulo Pegoraro, 36, gerente de serviços de consultoria em infraestrutura da Dell, concilia o "home office" (trabalho em casa) com dias em que vai ao escritório, nesse esquema rotativo. Ele diz que isso o ajuda a conhecer mais os colegas, já que a cada dia pode sentar-se ao lado de alguém diferente.

"Você se sente compelido a falar com aquela pessoa. Posso conversar com alguém de fora da minha área e acabo entendendo melhor como funcionam outros departamentos da empresa."

Na Dell, essa rotatividade foi implantada em 2011 no escritório de São Paulo e agora começa a ser adotada no de Porto Alegre. Pessoas que não necessitam de infraestrutura física para trabalhar, como vendedores e desenvolvedores de software, podem chegar à empresa e trabalhar em qualquer lugar.

Segundo Flávia Porto, consultora de RH da empresa, a medida favorece a inovação. "Quando você está em volta de pessoas de só uma área, limita-se a conhecer colegas que estão no dia a dia da sua atividade. Ao juntar gente de processos diferentes, há uma troca maior de ideias."

Ricardo Amorim, 39, gerente de marketing da empresa do ramo farmacêutico Boehringer Ingelheim, destaca que é mais fácil trabalhar nesse esquema especialmente quando desenvolve um projeto com alguém que não é da área dele.

 "Quando você precisa passar muito tempo trabalhando com uma pessoa, já se senta próximo a ela e não há necessidade de reservar uma sala de reunião para isso. Resolve-se o dia a dia de trabalho de forma mais natural."

A empresa adotou o esquema quando se mudou para um novo escritório em São Paulo, com capacidade menor. Os profissionais, então, trabalham em casa um dia por semana e, quando vão à sede, não têm posto fixo.

Mas foi necessário fazer ajustes no modelo: no começo, ninguém tinha mesa ou lugar definidos, mas houve um passo atrás e agora a empresa definiu que os profissionais de cada área de negócio devem procurar sentar-se próximos. "Pessoas de áreas como RH e finanças, às vezes, precisam tratar de assuntos sigilosos, e isso pedia um espaço mais reservado", afirma Alessandro Gruber, gerente de RH da companhia.

 

MENOS SUPERVISÃO

Entretanto, nem todos profissionais se adaptam a esse tipo de inovação. Alvaro Mello, coordenador do Centro de Estudos de Teletrabalho e Alternativas de Trabalho Flexível da Business School São Paulo, diz que as empresas devem fazer avaliações para verificar se o funcionário tem capacidade para produzir trabalhando sob menos supervisão. É preciso, por exemplo, saber gerenciar bem o tempo e ter bom conhecimento do trabalho para realizá-lo com autonomia. "Tanto os indisciplinados, que não cumprem prazos, quanto os 'workaholics' podem ter problemas para trabalhar assim."

Renata Patu, 38, gerente de suprimentos da Unilever, que trabalha "sem mesa" desde 2012, diz que a distância faz com que as relações profissionais sejam mais maduras.

"Isso gera um grau de confiança entre você, o seu chefe e a sua equipe. O trabalho fica mais comprometido com o resultado", diz.

Em geral, os profissionais "sem mesa" recebem da empresa um laptop com ferramentas de mensagens instantâneas e de teleconferência.

"Procuro me policiar para não usar o e-mail e o sistema de mensagens de forma desnecessária. Se a pessoa está próxima de você, é melhor ir lá conversar em vez de ficar falando virtualmente", afirma Amorim

 

LIDERANÇA REMOTA

Para os profissionais em função de chefia, essa mobilidade traz desafios. É preciso aprender a liderar os funcionários mesmo que eles não estejam ao alcance dos olhos o tempo todo.

Andrea Huggard Caine, diretora de certificação profissional da ABRH (Associação Brasileira de Recursos Humanos), afirma que é importante que os gestores estejam sempre em contato com os subordinados e avaliem o trabalho deles constantemente.

"É importante ter disciplina para não perder o momento. Tem que pegar o telefone e dizer: 'Fulano, não gostei disso'", recomenda.

Também é importante marcar reuniões periódicas ou mesmo reuniões informais para que os profissionais mantenham contato.

"As pessoas precisam entender que a formação do vínculo não depende de trabalhar cara a cara com a equipe que está no projeto", afirma Lucyane Rezende, diretora de RH da Unilever.

 

Cresce o número de profissionais que trabalham à distância no Brasil

 

Com novas tecnologias, a empresa deixou de ser um lugar fechado. Estima-se que dez milhões de pessoas trabalhem à distância, pelo menos uma vez por semana, no país.

 

O que as pessoas chamam hoje de trabalho mudou muito e a transformação trazida pelas novas tecnologias é só parte da explicação do que já está sendo chamado de Trabalho 2.0. Na empresa Cisco, ninguém sabe direito como responder onde ficam as salas dos departamentos. "Eu posso tá no meio do pessoal do RH, de marketing, engenharia, financeiro, não tem uma área", explica o diretor de contas da Cisco, João Paulo Melo.


          Nenhum departamento tem sala própria. Ninguém tem a própria mesa. “Nós mesmos quando chegamos à empresa, se quiser ter um encontro com o financeiro, tem que escrever e perguntar onde você está”, diz a diretora de RH da Cisco, Rose Mary Morano. O lugar rotativo tem a ver com o trabalho por projetos, quando uma empresa forma equipes temporárias. “As pessoas se unem conforme cada projeto, uma pessoa precisa dar uma ajuda esporádica em cada projeto, depois volta para onde ela estava”, explica a consultora em RH, Eliane Figueiredo.

Além disso, tem muita gente que passou a trabalhar de casa e só aparece na empresa de vez em quando. Então, para quê lugar fixo?

A consultora em venda e software, Lígia Donato, dá expediente em casa como consultora e como mãe. “Consigo produzir de casa com pequenas interferências”. Apesar das "pequenas interferências", o trabalho em casa ou home office, vem dando resultado para muita gente. O funcionário não perde tempo no trânsito, trabalha mais tranquilo e rende mais.

“Nós estamos com esse modelo novo há seis anos e tivemos um aumento de 40% no volume de vendas novas e 70% na receita dessas vendas”, conta a diretora de RH, Edna Rodrigues Bedani.

Estima-se que, hoje, dez milhões de pessoas trabalhem à distância, pelo menos uma vez por semana, no Brasil. No mundo, já são 173 milhões de trabalhadores. Essa é uma "moda" recente, foi só a partir dos anos 2000 que o home office ganhou mais adeptos. “Comparando com alguns países da Europa, o teletrabalho além de aumentar no Brasil, ele também é maior comparado com outros países na América Latina, nós somos líderes no exercício do teletrabalho”, fala o presidente da Sociedade Brasileira de Teletrabalho, Álvaro Mello.

Mas a receita nem sempre funciona. Na empresa Check Express, por exemplo, as vendas caíram até 30% quando os vendedores passaram a trabalhar à distância.

“Existe até uma provocação entre as pessoas de comparar os resultados, quem está na ponta do ranking quando está cada um na sua casa, essa perda da troca de informação, prejudica”, diz o gerente de novos negócios da Check Express, Alexandre Monteiro.

“O movimento de colocar as pessoas em home office durou dois anos e depois os outros dois nós trouxemos de volta”, fala o presidente da Check Express, José Mário Ribeiro.

“Os contras são a falta de convivência prejudica o trabalho em equipe. Tem algumas empresas que eu conheço que estão deixando de incentivar o home office e tem outras empresas que eu conheço que estão querendo tentar o home office”, diz a consultora em gestão de pessoas, Juliana Almeida Dutra.

Existem duas tendências paralelas e contrárias: trabalhar sozinho e conviver. Como conciliar as duas coisas? Esse paradoxo foi resolvido num novo lugar de trabalhar, o coworking. No local, trabalho é algo que se faz separado, mas junto. O coworking, ou trabalho compartilhado, reúne gente de áreas e empresas diferentes. Cada um faz o seu, mas bate papo com quem está ao lado, toma um cafezinho.

O Brasil já tem dezenas desses espaços. Por enquanto, o coworking recebe muito profissional autônomo, mas parece que isso está mudando. “Tem diversas empresas ligando, fazendo cotação, pros seus funcionários virem trabalhar no local. Às vezes tirar os funcionários de home office para ter essa integração, visando maior produtividade”, diz a sócia da Ponto de Contato, Fernanda Trugilho.


O trabalho a distância vai cada vez mais longe. Hoje em dia, com notebooks, tablets, smartphones, internet sem fio pra todo lado, o local de trabalho é o mundo.

No boteco, happy hour ou hora extra? “Trabalho numa multinacional, tem a diferença do fuso horário, isso faz com que algumas coisas que estão acontecendo e você tem que estar ligado full time”, conta o engenheiro agrônomo, Eduardo da Costa Carvalho. Entre a vida profissional e a pessoal, uma baita promiscuidade. “Minha esposa me deu uma regra: não tem espaço na nossa cama para três itens que sou eu, minha esposa e o meu laptop, ela falou: ‘olha, ou nós dois, ou você e o laptop vão para o sofá, porque os três aqui não cabem na cama”, conta o administrador de empresas Zack Henry.

 

 

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