17 de junho de 2011

Fazer menos é muito melhor!






     Quando o se fazer menos, é muito melhor     


   Iremos verificar a relação entre “horas de trabalho real x horas de trabalho Ideal”, e você já deve ter ouvido ou visto em algum lugar esta frase: fazer menos para fazermos melhor”. Este é um pensamento que habita o mundo corporativo faz algum tempo, mesmo tendo esta idéia causada alguns desconfortos num primeiro instante para as corporações, já que ela sustenta que o se fazer menos pode ser melhor. Isso no primeiro instante pode parecer uma idéia totalmente desprovida de fundamentos consistentes e que se tratava de mais uma “moda passageira” do mercado corporativo, porém, o tempo e os resultados positivos vêem demonstrando a sua eficácia e a verdade sobre essa nova proposta que chegou para mudar a nossa relação com a labuta diária.

     - Afinal, quanto tempo do dia passamos trabalhando?

     Se já refletimos sobre esse assunto - percebemos que toda vez falta algum tempo em nossa agenda totalmente repleta de atividades, e aí acabamos pensando nisso - percebemos que essa resposta tende a ser um número muito maior do que aquele que gostaríamos. E não é porque necessariamente não gostamos daquilo que fazemos. Pode até ser que estejamos contentes e satisfeitos com o emprego atual – e vamos supor que realmente estejamos mesmo. Mesmo assim, o resultado dessa equação (horas de trabalho real x horas de trabalho ideal) tende a ser negativo, já que no final do dia, a impressão é que passamos tempo demais na frente do computador, em reuniões intermináveis, recebendo inúmeras ligações, elaborando relatórios..., e a nossa rotina de labuta parece nunca ser suficiente para darmos conta de tudo. Essa sensação de dever “não cumprido” tem a ver, talvez, com a mesma pergunta do início deste parágrafo, mas com uma leve reformulação: quanto tempo do seu dia você passa, efetivamente, trabalhando?

     Para tentar responder a esta indagação, vamos propor uma reconstituição da nossa rotina de trabalho: chegamos ao nosso local de trabalho e ligamos o computador, e vamos pegar um café. Damos uma rápida olhada em cima da mesa para ver o que ficou do dia anterior e checamos os e-mails. À medida que respondemos as mensagens mais importantes, os colegas de trabalho vão chegando e papeando sobre os últimos acontecimentos e o que fizemos de ontem para hoje. Após alguns (muitos?) minutos de conversa, começamos a trabalhar naquele relatório importante do fechamento do mês e aí nos lembramos daquela reunião importante. Depois de uma hora e meia de reunião, voltamos para frente do computador, lemos mais alguns e-mails e trabalhamos mais um pouco. Logo chega a hora do almoço. Na volta, checamos os e-mails, trocamos idéias com os colegas de trabalho sobre alguns dos projetos em andamento, falamos com o chefe, resolvemos algum problema em outro departamento e (finalmente) voltamos para frente do computador para terminar “aquele” relatório. Mas já é hora de ir embora e a tarefa fica (de novo) para amanhã. Pois bem, não é de se admirar que voltemos para casa com “aquela” sensação de o dia não ter rendido o que deveria. Por mais estranho que pareça, a verdade é que não conseguimos trabalhar efetivamente em nosso local de trabalho. E essa constatação, é tão bizarra quanto lógica, e está nos abrindo novos caminhos para que possamos repensar a nossa relação com o batente diário.

    “Vivemos a era das muitas informações disponíveis e da velocidade que aumenta exponencialmente, nos causando uma urgência permanente e uma distração sem fim”.




     Algumas “novas formas” de se fazer nos chegaram por intermédio de dois programadores norte-americanos, David Heinemeier e Jason Fried. Eles são os criadores de uma empresa de softwares que se tornou uma referência até mesmo para a maioria das companhias acostumadas a atingir o primeiro lugar dos famosos rankings de “melhores para se trabalhar”, Isso não significa que eles oferecem um salário milionário nem que permitem que seus funcionários tenham 90 dias de férias. O grande diferencial está no investimento em produtividade de seus colaboradores – e, principalmente, na forma utilizada para proporcionar isso. A primeira constatação diz respeito aos novos anseios dos profissionais, que mudaram e continuam mudando no decorrer dos últimos anos. Segundo essa dupla de programadores norte-americanos, os profissionais não estão mais interessados em ganhar dinheiro a qualquer custo nem buscar estabilidade em uma companhia onde não são felizes. “Esses profissionais querem fazer algo que amam e ser pagos por isso”, escreveram na apresentação de “REWORK” (“Retrabalho”, em tradução livre), livro recém lançado nos Estados Unidos, ainda sem edição aqui no Brasil. Até aí, nenhuma novidade. Mas, para os jovens empresários, o mais importante é que eles “querem poder trabalhar”.
                                     

     Se sempre ficamos até mais tarde na empresa e trabalhamos aos finais de semana, não significa necessariamente que se tem muita coisa a fazer. Isso se deve porque não estamos fazendo o suficiente no trabalho e a razão disso são as constantes interrupções, segundo Fried e Hansson. Para eles, a maioria das pessoas consegue trabalhar melhor no início da manhã ou no final da tarde. “Não é coincidência que esses sejam os períodos em que há menos pessoas à nossa volta”, justificam. “Quanto mais gente ao redor, mais interrupções acabam atrapalhando e quebrando a rotina. No modelo que temos hoje, estamos fadados a um esquema em que você começa, para, começa, para. E isso não é ruim só para as empresas, mas também para os profissionais, que passam a ficar cada vez mais descontente com o próprio desempenho e isso causa uma constante desmotivação”. Pensando nisso, o consultor de empresas norte-americano Tony Schwartz defende que a visão de que “a forma como estamos trabalhando não está adiantando”. Esse, aliás, é o título do seu último livro, que também vem engrossar a lista de lançamentos que não param de chegar ao mercado editorial internacional para discutir esse novo sistema de trabalho.

     Quando o menos é mais. Afinal, vivemos numa era em que, mais do que nunca, as informações estão muito disponíveis e a velocidade das coisas aumenta exponencialmente, o que nos causa um senso de urgência permanente e uma distração sem fim. “Nós temos mais clientes para atender, mais e-mails para responder, mais reuniões para participar, mais telefonemas para retornar e mais tarefas para fazer. Se não damos conta de tudo, nos sentimos menos realizados”, afirma Schwartz. E realização é palavra de ordem hoje para nós profissionais. Todo mundo quer trabalhar para se sentir completo e feliz, acima de qualquer coisa. Existem muitos profissionais de sucesso que estão fazendo escolhas totalmente motivada pela melhoria da qualidade de vida, como o fotógrafo Everett Bogue, que trocou o seu emprego de sucesso na Revista New York, por uma rotina mais pacata e tranquila. Cansado de tanta correria nas redações, decidiu trabalhar menos. “Eu não via mais sentido em ficar sentado em uma estação de trabalho pelo resto da minha vida. Hoje, trabalho cerca de duas horas por dia, e o resto do meu tempo dedico a projetos pessoais, como aprender a praticar ioga, por exemplo,” conta. O estilo de vida minimalista adotado por Bogue mudou suas relações, inclusive com o dinheiro – já que passou a ganhar bem menos para se sustentar. E com essas e outras atitudes ele se tornou mais um propagador de um modo de vida em que viver com menos é, realmente, mais. Lançou um livro (A Arte de Ser Minimalista, sem edição aqui no Brasil) e um blog (farbeyondthestars.com), em que conta sua experiência sobre como é possível ter uma vida mais simples. “Muitos trabalhos são focados em criar porcarias para as pessoas consumirem. O meu foco é criar melhor”, diz. E nisso temos que concordar com ele, sabemos que muitas pessoas trabalham para comprar o que acham que precisam, mas quando se dão conta, percebem que não queriam comprar e pagar por aquilo que, no fundo, nem precisam, mas aí já é tarde, o poder do consumismo já aconteceu. E continuando, ele diz mais, - “consumir menos, é uma forma de Liberdade, pois não exige que você se mantenha em um emprego para ter de bancar um estilo de vida que escolheu”.



    Acreditamos que essa nova conscientização tem a ver com a morte anunciada do mito do “workaholic. “Em particular, conheci muitos profissionais desse tipo durante grande parte minha vida profissional e quase me tornei um deles, durante as duas décadas em que atuei como gestor de recursos de Marketing Político, mas fui salvo a tempo”. E, durante muito tempo eles, “os workaholics”, foram vistos como heróis, afinal, o cara ficava até bem tarde no escritório, só sabia falar de trabalho na happy-hour da firma e mal tinha tempo para se dedicar à família e aos filhos, ele chegou a ser considerado um profissional ideal. Durante anos, a nossa cultura celebrou o “workaholic, mas, agora, percebeu-se como esse modelo de profissional é desnecessário – para não dizer estúpido. “Trabalhar mais não significa que você se preocupa mais ou faz mais coisas. Significa simplesmente que você trabalha mais, concluem Fried e Hansson. Afinal, cá para nós, o verdadeiro herói consegue dar conta dos afazeres para encontrar a sua namorada, ou para chegar à sua casa a tempo de brincar com os filhos e não precisa desmarcar aquela “pelada semanal” com os amigos, só porque ficou no preso em meio a vários relatórios no escritório. É aquele que prima por ter uma vida fora do ambiente de trabalho – e assim tem tempo livre para viver e até trabalhar melhor.


     É claro que essa mudança de mentalidade é gradual, já que faz parte de uma herança desgastada e atualmente, improdutiva. Mesmo assim, ainda há empresas que acham que os seus funcionários precisam ser uns bitolados, que praticamente fazem do escritório a sua casa. É uma herança cultural que nos foi legada através dos séculos, portanto é até compreensível que leve um tempo para ser modificada. “Vivíamos numa sociedade industrial, onde éramos a “mão de obra” e o bom operário deveria deixar o cérebro e as emoções em casa”, é o que afirma Marcos Cavalcanti, coordenador do Crie (Centro de Referência em Inteligência Empresarial) da UFRJ. “Hoje, vivemos em uma sociedade em que o conhecimento se transformou no principal fator de produção de riqueza, e a criatividade e a capacidade de inovar são essenciais. O drama é que o nosso sistema educacional e a maioria das empresas continuam com se vivêssemos na sociedade industrial”. Uma prova disso é o horário de trabalho. Por que temos que trabalhar todos na mesma hora? “Porque era assim na fábrica”, justifica. “Para que ela pudesse funcionar, todos tinham de estar nela na mesma hora. Isso não faz mais sentido hoje, pois a atividade industrial representa 15% do trabalho no Brasil. Fazermos todos nós o mesmo horário só serve para engarrafar mais ainda o nosso trânsito diário, já tão caótico”, diz Cavalcanti. Mas só essa constatação não irá fazer com que as empresas passem a adotar horários flexíveis e façam outras mudanças, já que por anos elas estão sendo resguardadas em missões e visões cunhadas por consultorias que cobram caro demais para isso. Essa nova relação com o trabalho é uma revolução silenciosa, que começa a tomar corpo nas empresas pequenas, mais fáceis de adaptarem ao novo cenário. Voltando a falar de Hansson e Fried, as suas idéias talvez pareçam ideológicas demais para as grandes corporações e multinacionais que, acima de tudo, precisam seguir modelos globais de organização corporativa. A saída para uma nova relação com o trabalho, deve começar por nós e a forma como lidamos com o nosso ofício de todo dia. Se as interrupções acabam por minar nossa atenção e produtividade, devemos tentar nos programar para buscar uma zona de isolamento. Talvez, tentando negociar um horário mais flexível ou um espaço mais restrito. Ou, um decreto: um período do dia em que você não irá responder e-mails, telefonemas e nem participar de reuniões. “Também vale lançar mão de ferramentas de comunicação remotas”. - Claro que estas ações devem ser discutidas com o chefe e com todos os departamentos da empresa, pois, só assim darão o resultado esperado, sem gerar conflitos desnecessários.

     Antes de encerrar, confesso que este texto foi desenvolvido meio assim - no ritmo do para, retoma, para, retoma, para de novo. Nem sempre é fácil, desenvolver uma atividade, como um texto por exemplo - já que precisamos dar atenção à família (no meu caso, a minha filha - coisa de Pai Solteiro), Também é preciso acompanhar as notícias desse Brasil tão sofrido, e tudo mais que vier junto. E para tornar possível o desenvolvimento deste texto, eu acordei mais cedo alguns dias, tomei café por algumas madrugadas no meu quarto e até cheguei a relembrar dos tempos 'passados', os quais atuei como Gestor Financeiro em várias campanhas políticas (é eu também já fui um workaholic). Bem, mas esse foi o meu jeito de conseguir administrar os meus afazeres e deixá-los em dia - o importante mesmo é saber perceber se estamos passando do ponto e tomarmos as atitudes certas para a correção do destino. Acredito ter conseguido traduzir isso aqui neste texto, a importância de  atingir os objetivos que desejamos e nunca esquecer que isso só depende da nossa capacidade de administrar todos os recursos disponíveis - mas mesmo assim, é preciso continuar a trabalhar nisso em todos os momentos dia.






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