A Ética dá lucro?
A Ética dá lucro?
Numa aula inaugural sobre Ética, com executivos de empresa, mal
iniciava a exposição surge um questionamento radical: - “ ética dá lucro?, caso
contrário, estaremos perdendo tempo falando sobre o tema em um MBA empresarial”!
Essa descrença sucedeu-se em intervenções análogas em várias
ocasiões, sintetizando uma conclusão equívoca e distorcida do espírito
corporativo, traduzindo espécie de vazio existencial, como
se as organizações fossem um mero e cruel instrumento de fabricar
dinheiro. A diretriz seria: fazer dinheiro, depois fazer mais
dinheiro, muito dinheiro, pois com ele tudo se justifica.
Daí o paradoxo, que a prática demonstra ser de difícil compreensão
face aos sucessivos fracassos: - a ganância matando a galinha
dos ovos de ouro - a grande questão, pouco questionada, é a
credibilidade. Você sente-se seguro em negociar com quem visa somente o
ganho pessoal?
Quem foca o bem egoístico ignora a realidade que a empresa é mera
abstração suicida sem o cliente. E que não há vida social sem um
mínimo de consciência ética.
Ética Empresarial é razão de ser da Empresa
Ao dar inicio a um empreendimento, antes de pensar-se estritamente
no negócio, pensa-se na oportunidade: - quem é o cliente e que produtos
satisfazem suas necessidades. Sem pesquisar as potencialidades do
empreendimento não se monta estratégias confiáveis de resultados - a
consideração do negócio, sem a visão humanista da empresa, desqualifica-o e o
torna aventura oportunista, em que ganhar o dinheiro fácil é a
fantasia que antecipa o insucesso total, logo adiante.
A empresa é um variado conjunto de relações, todas envolvendo
dinâmicas interpessoais: clientes, acionistas, empregados, parceiros,
concorrentes, fornecedores, sociedade - onde pessoas interagem há limites a
serem respeitados, sem os quais a relação é conflituosa e destrutiva. A “lei
do cão” ou da “selva” significa construir sobre areias
movediças, aproveitando a metáfora bíblica que recomenda que a
casa seja construída sobre a rocha. Esse chão sólido chama-se Ética
da Vida.
Qual o Sentido Ético da Empresa?
Em primeiro lugar, a empresa tem uma missão definida - as responsabilidades empresariais decorrentes resumem-se em
construir um empreendimento que importa na felicidade dos empreendedores, que
só se consubstanciarão com a felicidade dos clientes, empregados e demais
parceiros.
Só nessa dimensão de valor, a felicidade conquista a motivação
maior do bem comum, que se traduz numa sociedade melhor, em que todos
ganham. Isso não são quimeras, nem utopias. É o que deverá estar
presente no espírito do empreendedor, independente dos ajustamentos necessários
à realidade crua - a missão da empresa é
servir ao cliente e a sociedade, assegurando sua saudável continuidade, através
de padrões de lucratividade sustentada.
Empresa e Lucro
Lucro é indicador de saúde empresarial.
Um empreendimento incompetente e não lucrativo não tem
sustentabilidade e não realiza sua missão social. Tornam-se, inclusive, fator
de injustiça social e de distorção ética, promovendo o desemprego, a competição
desesperada e abusiva e as tramoias para subsistir a qualquer preço. É o que a
realidade comprova, quando o empreendimento torna-se aventureiro.
O lucro é, todavia, meta do negócio, não objetivo de empresa, que
é prestar o bom serviço ao cliente. Esse bom
serviço implica a realização de negócios e plena satisfação do cliente
que são remunerados através do lucro.
Ética do Lucro
- Para a ética dar
lucro é necessário observar a Ética do Lucro.
O lucro deve submeter-se ao teste das quatro destinações
éticas, atendendo concreta e simultaneamente aos fatores: Empresa,
Capital, Trabalho, Comunidade.
Empresa, no sentido de que uma parte do
lucro deve estar destinada ao investimento na segurança e desenvolvimento
empresarial; outra ao capital, remunerando aos
investidores, que correm o risco dos negócios; outra ao trabalho, recompensando
aqueles que efetivamente contribuem com seus esforços para que o lucro aconteça
e, fechando o ciclo, a comunidade, correspondendo
à responsabilidade social da empresa na melhoria das condições socioambientais.
Não entendido dentro dessas quatro dimensões, o lucro tende a ser exploratório
e antiético, pois não atende ao princípio do bem comum.
Sintetizando: - ninguém, em sã consciência, quer realizar negócios
com pessoas e organizações não éticas. Hoje, cada vez mais, o cliente
exige qualidade do produto e excelência nos serviços. É na
confiança mútua que se constrói a relação duradoura. Nenhum empreendimento
resiste à decepção continuada. O conceito público é que fortalece os negócios
e abre as linhas de crédito ao futuro.
2ª ABORDAGEM
Em síntese, qual o entendimento sobre Ética Corporativa?
- Ética
Corporativa é a maneira de ser empresa, não como um mero
instrumento de negócios, mas a organização que, através de ações negociais,
realiza o empreendimento reconhecido como socialmente justo e necessário. A
corporação empresarial ética não é um mito, nem recurso publicitário, mas é o
que a justifica e garante sua perenidade. Mesmo o mercado está a toda hora
dizendo isso – quem não cuida concretamente de sua imagem
institucional, vai desaparecer; é uma questão de tempo.
Como se realiza a Ética Corporativa?
- Tudo começa
pela conscientização corporativa – é fundamental que haja o
que denominamos de verdade comum, a compreensão coletiva dos
valores e princípios que geram comprometimento com a missão empresarial.
Esse é um trabalho permanente de educação corporativa. O instrumento básico é a
constituição de um Comitê Estratégico – um espaço
próprio ao exercício do pensamento estratégico, pois nas organizações a
competição obsessiva inibe o pensar, condicionando à ações
reativas – o agir/ pensar ao invés do pensar/ agir. Outro
aspecto relevante são Programações Educacionais focadas na competência
corporativa – denominamos assim o desenvolvimento
sistemático do perfil profissional da empresa, as qualidades
e qualificações que determinam um desempenho eficaz.
A corporação ética tem
compromisso com a competência, pois a
incompetência é a raiz de todos os males, aí incluindo até as boas intenções. A inteligência
coletiva resulta de investimento contínuo em maximizar as competências
do líder de líderes, com foco na liderança
integrada – não basta ter bons líderes é essencial que eles
estejam integrados por uma vontade comum, senão ocorre a maior
imoralidade nas organizações: os feudos, com a fragmentação de
poderes. Finalmente, uma corporação ética tem um planejamento
corporativo estratégico integrado, realizado coletivamente. Não é um
convencional planejamento estratégico, de índole operacional, mas um exercício
global reflexivo, onde valores, análises críticas, objetivos e metas resultem
do pensar coletivo. É no saber pensar estrategicamente em
equipe que está à essência da competência e da corporação ética.
Fonte e Sítios Consultados
Por Francisco Gomes de
Matos - Autor do livro “Ética na Gestão Empresarial”, editora Saraiva, 2012, 2ª
edição.
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