No século XIX, mito era sinônimo
de ficção e fábula, conceito esse que os ocidentais aplicavam com a finalidade
de subjugar a cultura, principalmente religiosa, de um povo e justificar o
domínio da Europa sobre suas colônias, por exemplo. No entanto, esse conceito
mudou e hoje em dia o mito é encarado como “histórias verdadeiras”, apoiadas em
Seres Sobrenaturais, que conceituam a criação do mundo e cria premissas quanto
ao fim da humanidade. Esses mitos são apoiados em sonhos e experiências não
científicas que determinam o comportamento de certo grupo diante variadas situações.
Além de fornecer uma ideia quanto ao sobrenatural, os mitos são importantes na
formação de caráter e moral das sociedades, funcionando como modelos da conduta
humana.
Portanto, os mitos não devem ser
encarados como característica de uma cultura inferior ou de povos selvagens, diversos
mitos estão presentes em nosso cotidiano e a maioria daqueles que são raízes da
nossa cultura são encarados como “verdades universais” sem se quer nos darmos
conta de que todos os mitos possuem uma só essência e nenhum deles é
cientificamente provado.
De acordo com o autor do texto,
mais do que estudar cada mito como uma história isolada, é importante
estudarmos os efeitos destes em cada grupo social, sendo seu principal objeto
as sociedades em que o mito permanece “vivo”, ou seja, praticável e que se
refez, adaptou durante os anos sem ser esquecido. Diante disso não é
recomendado começar o estudo por mitos greco-romanos que não se adaptaram com o
tempo e hoje são encarados como fábulas, mas estudar mitos que se enriqueceram
no decorrer dos séculos e persistem explicando os fenômenos, o comportamento e
a atividade do homem até hoje. Exemplos desses mitos são encontrados
principalmente na África, Ásia e Oceania e são chamadas por – de “mitologias
primitivas”.
Na discussão sobre “mitologias
primitivas”, é necessário reforçar que os mitos são histórias sagradas que relatam
apenas o que “realmente” aconteceu desde que o homem foi criado, os
protagonistas são sempre Entes Sobrenaturais, responsáveis por intervir e
formar o que o homem é hoje, estão entre esses Entes os próprios Ancestrais.
Há ainda uma classificação dos
mitos quanto ao alvo, algumas classificações citadas são os
mitos ‘comogônicos’ e os mitos de origem. Os primeiros buscam explicar a origem
do universo e da vida, são uma análise da priori, de quando tudo passou a
existir, enquanto que os últimos explicar a origem no que já existia, o
nascimento das plantas, dos elementos e dos animais. Ou seja, pode-se analisar
o mito ‘cosmogônico’ isoladamente, mas não se pode examinar o mito da origem
sem considerar a cosmogonia.
Existem mitos que não se limitam apenas à um ou
dois grupos, uma das histórias mais difundidas é que para se ter controle sobre
determinado animal, elemento natural ou até de uma doença , é necessário saber
suas origem, toda sua história para obter o controle sobre este.
“Segundo
a crença desses índios (Cuna), o caçador bem sucedido é aquele que conhece a
origem da caça. E quando chegam a domesticar animais, é porque os magos conhecem
o segredo da sua criação.”
Ou seja, quem conhece o mito
detêm o poder sobre ele podendo manipulá-lo, para procurar a cura de uma
doença, portanto, é necessário conhecer desde a origem do remédio à origem da
própria.
O tempo no mito é um tempo
relativo, ele não está ligado à calendários humanos, trata-se de um tempo
sagrado que pode ser recuperado e revivido através dos ritos. Um ritual é capaz
de reviver momentos históricos importantes em que os Entes Sobrenaturais ou
ainda os Ancestrais obtiveram sucesso, de forma que invocando esse momento
também haja sucesso naquela guerra, cura ou nascimento de uma criança.
É notável que os mitos tenham
importância vital para a humanidade, pois nascem na hora do desespero humano, a
fim de confortar toda uma sociedade em seus momentos mais difíceis,
consolando-a na derrota e a encorajando na luta.
Ø APRECIAÇÃO
CRÍTICA
O texto “Mito e Realidade” foi
escrito com o propósito de esclarecer, em sentido mais amplo, o que é e qual a
importância do mito nas sociedades. O tentar definir mito sua intenção é
desarmar o preconceito do leitor, a fim de passar com clareza a necessidade da
existência de mitos em todas e qualquer cultura.
Esse é capaz de atingir leitores
de diferentes sociedades , mas não de diferentes classes sociais, é necessário
um mínimo de conhecimento de sociologia para entender a real intenção do autor.
Embora seja esclarecido, o objeto desse estudo são as “sociedades primitivas”,
o texto acabava afastando a real ideia de mito do leitor, já que os mitos ali
tratados são, sobretudo, mitos de sociedades mais distantes.
É interessante que o indivíduo
pense no peso do mito no seu próprio grupo para assim se colocar no lugar de
outros grupos para compreender a razão dos mitos, e que a ideia de fábula e
mito fique à cargo do próprio leitor , que compare a visão da autora com a
visão de outros autores, decidindo por si só como diferenciar fábula e mito de
modo mais correto. Para tornar o texto “mito e realidade” um texto ainda mais
completo seria interessante adicionar as pesquisas de Sigmund Freud e Joseph
Campbell.
Freud comenta a relação do
inconsciente com a criação dos mitos, de forma que acentua a ideia de que
nascem por motivos que vão além de explicar as questões sobre o surgimento de
tudo. O mito nasce como forma de explicar e até naturalizar alguns
comportamentos humanos ligados ao inconsciente, por exemplo, o mito de Édipo,
em que um filho apaixona-se pela mãe. Para Freud a história de Édipo está além
de uma fábula, o que seria chamado posteriormente de “Complexo de Édipo”, era
na verdade a manifestação do desejo no inconsciente humano.
Em “Aspectos do Mito”, é possível
deduzir-se que como o mito pode ser interpretado de várias formas, em várias
interpretações, basta defini-lo como história que “descreve-se como uma coisa
foi produzida, como começou a existir...”, diante de tal ideia é correto
aceitar as definições de que a história de Édipo, que explica o nascimento do
“complexo”, seja encarada como mito.
Joseph Campbel discorre sobre
mito de modo que o leitor se enxergue dentro de seus próprios mitos e o poder
que eles exercem sobre todos. Conclui Campbel sobre o mito:
“Os mitos estimulam a tomada de
consciência da sua perfeição possível, a plenitude da sua força, a introdução
da luz solar no mundo. Destruir monstros é destruir coisas sombrias. Os mitos o
apanham, lá no fundo de você mesmo. Quando menino, você os encara de um modo.
Mais tarde, os mitos lhe dizem mais e mais e muito mais.
Quem quer que tenha trabalhado
seriamente com ideias religiosas ou míticas sabe que, quando crianças, nós as
aprendemos num certo nível, mas depois outros níveis se revelam. “Os mitos
estão muito perto do inconsciente coletivo, e por isso são infinitos na sua
revelação”.
Fonte e Sítios Consultados
(Joseph
Campbell, O Poder do Mito)
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