Administrar
é só para Administradores
Por Sebastião Luiz de
Mello
Presidente do
Conselho Federal de Administração (CFA)
De
acordo com dados do Censo da Educação Superior de 2009, divulgado este mês pelo
Ministério da Educação (MEC), a Administração é o curso mais procurado no
ensino superior. O Brasil possui mais de 1.800 Instituições de Ensino Superior
(IES) que oferecem o curso de Administração. São mais de 780 mil alunos
matriculados e cerca de 108 mil formandos por ano.
Mesmo
com tantos Administradores, assim entendido os bacharéis em Administração
registrados no Conselho Regional respectivo, é incompreensível que parte
considerável de nossas empresas, além do serviço público, esse mais do que a
iniciativa privada, ainda insistem em confiar a gestão profissional de seus
negócios a pessoas sem formação acadêmica adequada e habilitação legal. A
profissão de Administrador, de empresas ou do setor público, encontra-se
regulamentada desde o ano de 1965 pela Lei 4.769, de 9 de setembro daquele ano,
e precisa ser respeitada e valorizada pela sociedade principalmente em razão de
sua importância para a boa saúde das empresas e para que a Administração
Pública possa desenvolver suas políticas com maior eficácia e eficiência.
É
conhecido o desempenho mais do que pífio dos serviços prestados pelo poder
público em todos os segmentos, tais como serviços de saúde, educacional,
segurança pública, prisional, de esportes etc. Nunca nos últimos tempos se
arrecadou tanto, todavia sem a contrapartida desejada. Embora tenhamos
experimentado alguns avanços ainda continuamos sendo ineficientes no
atendimento das populações no que se refere aos serviços essenciais e de
responsabilidade do estado, em que pese a enorme massa de recursos arrecadados em
face de uma carga tributária considerada uma das mais altas do mundo.
Esse
descompasso entre arrecadação excessiva e a qualidade dos serviços atribuímos a
uma gestão não profissional, tocada e sob a responsabilidade de pessoas
despreparadas do ponto de vista do conhecimento técnico-científico. As
políticas públicas existem e muitas são adequadas, o problema é de gestão.
Tornou-se lugar comum o preenchimento por pessoa inabilitada de cargos públicos
cujas atribuições possuem natureza científica reconhecidamente de
Administração. Todavia, criou-se a compreensão de que tais cargos podem ser
ocupados por pessoa de qualquer formação, entregando-se assim a gestão a leigos
despreparados com os resultados por todos nós conhecidos, quais sejam, o
desperdício e a ineficiência com as consequências sentidas por todos nós mas
principalmente por aqueles a quem o estado tem a obrigação de não falhar, os
despossuídos.
Os
Conselhos Federal e Regionais de Administração têm lutado com afinco no sentido
de que os poderes públicos, inclusive o judiciário, compreendam a necessidade e
a importância de deixarem os Administradores profissionais assumirem a gestão
mediante assunção dos cargos que para seu desempenho imprescindível a formação
técnico-científica em Administração. Lamentavelmente nossas propostas não têm
sido bem recebidas, talvez numa compreensão equivocada de que possuem cunho
corporativistas. Mais do que a defesa de um campo profissional defendemos na
verdade o direito de a sociedade ter profissionais capacitados na ocupação e
desempenho de funções que para tanto necessária uma formação acadêmica
adequada.
Aqui por óbvio falamos de
Administração, mas estendemos, por princípio, que o mesmo raciocínio seja
válido para outras profissões. O Brasil adotou o princípio da profissão
regulamentada, garantindo que os serviços especializados e que impliquem em
conhecimentos também especializados sejam prestados por pessoas com a
qualificação exigida. É assim para a medicina, contabilidade, economia,
engenharia e por ai vai. São ao todo trinta profissões com seus respectivos
órgãos de controle, nelas incluídas a Administração.
Os efeitos do exercício dessas
profissões por pessoa não qualificada podem ser sentidos dos mais diversos
modos diferentes. Alguns diretamente na saúde das pessoas, outros na saúde
econômica e financeira, sendo que esses últimos os efeitos muitas vezes podem
ser escamoteados, maquiados, mas sempre vêm à tona mediante a ineficiência e a
má qualidade dos serviços, falências, fechamento de filais ou mesmo de toda a
empresa, causando sempre muito sofrimento às populações.
No setor privado o reconhecimento da
necessidade de profissionalização da gestão também ainda não recebeu a merecida
atenção, e os reflexos são desastrosos. Temos os mais altos índices de mortandade
de empresas. Segundo dados do SEBRAE, cerca de 60% das empresas abertas no
Brasil fecham as portas antes de completarem cinco anos de vida. Segundo os
proprietários das empresas extintas, a ausência de gerenciamento profissional é
o principal fator para o fechamento prematuro do negócio, superando a falta de
capital de giro.
Mas isso não é privilégio das empresas
que são escopo do SEBRAE. As grandes empresas também passam por problemas
sérios relacionados à sua gestão, no todo ou de modo departamental. Exemplos
pululam na mídia. Grandes conglomerados vêm à bancarrota, entre outros motivos
é claro, por adoção de gestão equivocada provocada por falta de prestígio aos
Administradores profissionais, inclusive levando a sociedade à uma compreensão
também equivocada do Administrador ao, inapropriadamente, nomear os integrantes
de seus Conselhos Consultivos ou Conselhos de Administração de
“Administradores”, quando na verdade os assim denominados não são
Administradores propriamente ditos, estes compreendidos como aqueles com a
habilitação legal.
O uso indiscriminado da expressão
“Administrador” tem causado imensurável prejuízo à imagem do Administrador
profissional em face dessa confusão estabelecida quando se nomeia de
“Administrador” aquele que embora não possua a formação e habilitação de alguma
forma encontra-se à frente de um processo organizacional.
Tanto para a iniciativa privada como
para o setor público vale o princípio de que não há cargo sem função e que a
função, em qualquer cargo, é atribuição que seu titular deve executar, provido
na forma estabelecida em lei, o que significa ser legalmente habilitado para
exercer a atribuição do cargo. Mais do que eficiente e capaz, o gestor é um
profissional acostumado às mudanças e sabe o que é necessário para adaptar-se a
elas, eis que talhado para tanto mediante formação adequada.
Somente
após o reconhecimento definitivo de que Administração é para Administradores é
que talvez venhamos ter um país cujas políticas públicas realmente atendam, de
forma eficiente e eficaz, o nosso povo. Um país que alcance o desenvolvimento
por todos nós esperado, levado ao topo das maiores e mais importante nações,
principalmente com um altíssimo índice de desenvolvimento humano em todos os
seus aspectos.
Fonte
e Sítios Consultados
http://www2.cfa.org.br/mensagem-do-presidente/mensagens/07-02-2011-administrar-e-para-administradores
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