Resumo Capítulo 1:
Os vários
tipos de Estado, e como são instituídos.
Apresenta dois tipos de principados o hereditário e
o adquirido, e aponta quais são as duas formas de como o governante chega ao
poder uma pela virtude e outra pela fortuna.
"Os principados ou são hereditários, quando
por muitos anos os governantes pertencem à mesma linhagem, ou foram fundados
recentemente."
Capítulo 2: As monarquias hereditárias
Neste Capítulo Maquiavel fala que a dificuldade de
se manter um Estado novo é maior do que a de se manter um Estado hereditário,
pois quanto a este último, o povo já está acostumado com a soberania de uma
família, de uma linhagem.
"[...] a dificuldade de se manter Estados
herdados cujos súditos são habituados a uma família reinante é muito menor do
que a oferecida pelas monarquias novas. Basta para isso evitar transgredir os
costumes tradicionais e saber adaptar-se a circunstâncias imprevistas."
Se um Príncipe conquista determinado Estado
e tenta mudar seus costumes, corre o risco de o povo revoltar-se contra ele, o
que pode gerar conspirações apoiadas pela grande massa o povo. Deste modo, o Príncipe
respeitando a cultura local, se manterá no poder; a menos que, como diz
Maquiavel, uma força excepcional o derrube, porém, se tal fato ocorrer, poderá
reconquistá-lo na primeira oportunidade oferecida pelo usurpador.
Maquiavel ainda fala que na medida em que o
soberano não ofende seus súditos e não mostra motivos para o povo odiá-lo,
estes o quererão bem, e mais:
"[...] qualquer alteração na ordem das coisas
prepara sempre o caminho para outras mudanças, mas num longo reinado os motivos
e as lembranças das inovações vão sendo esquecidos."
Quando o povo vive do seu modo, com seus costumes e
sendo respeitado pelo monarca, este se acomoda de tal forma que as lembranças,
os desejos de mudanças vão sendo postos em esquecimento.
Capítulo 3: As monarquias mistas
Maquiavel mostra neste Capítulo que o povo tem
sempre o desejo de mudança, desejo de melhoria; as pessoas, segundo Maquiavel,
mudam com grande facilidade de governantes esperando tal mudança, que, no
pensar de Maquiavel, é sempre para pior.
Para ele, o Príncipe sempre precisará do
favor dos habitantes de um território para poder dominá-lo. A imposição do novo
governo ou provocações vindas dos soldados do monarca, ou outros motivos, podem
gerar injúrias no povo, gerando, assim, inimigos para o Príncipe que
são as pessoas ofendidas com a ocupação do seu território.
"[...] depois de conquistado uma segunda vez,
os territórios rebeldes não voltam a ser perdidos com a mesma facilidade. A
própria rebelião faz com que o monarca se sinta inclinado a fortalecer sua
posição punindo os rebeldes, desmascarando os suspeitos, revigorando seus
pontos fracos."
Quando se é conquistado um território de mesma
região e língua, é mais fácil de dominá-lo do que se não os fosse, ainda mais
se este povo não estiver habituado com a liberdade. O novo Príncipe deve
extinguir toda a linhagem de seus antigos governantes, mas não pode deixar que houvesse
divergência de costumes; deve também o Príncipe fazer a manutenção das
leis e dos tributos.
Ao se conquistar uma província com língua, leis e
costumes diferentes, um dos meios mais seguros, segundo Maquiavel, é que o
monarca vá pessoalmente habitá-lo. Estando o soberano presente, os distúrbios
serão logo percebidos e rapidamente corrigidos. Outra forma seria de se
estabelecer colônias em um ou dois lugares estratégicos na província, tomando
as casas das pessoas que vivem neste local por ser uma pequena parte da
população, em nada representarão perigo ao monarca. A grande maioria da
população também não fará mal ao Príncipe , ao contrário, se sentirá
grata pelo fato de o monarca os deixar em paz e não quererão ofender o
soberano.
Disse Maquiavel: Note-se que é preciso tratar bem
os homens ou então aniquilá-los. Eles se vingarão de pequenas injurias, mas não
poderão vingar-se de agressões graves; por isso, só podemos injuriar alguém se
não temermos sua vingança.
O Príncipe de um território estrangeiro deve liderar e
defender seus vizinhos mais fracos e procurar debilitar os mais poderosos. Não
há dificuldade para se conquistar um território onde movidos pela inveja dos
que tinham o poder os habitantes menos poderosos apoiam o invasor; porém
deve-se ter cuidado para que estes não adquiram poder e autoridade em demasia.
Disse Maquiavel: ... as guerras não podem se
evitadas e que, quando adiadas, só trazem benefícios para o inimigo. A
guerra é inevitável, então, quando se tem a oportunidade de enfrentar o
inimigo, deve-se enfrentá-lo, quanto mais se adia uma batalha, mais o inimigo
fica preparado, portanto, adiar uma guerra só traz sempre prejuízos ao monarca.
Capítulo 4: Por que o reino de Dario, ocupado por
Alexandre, não se rebelou contra os sucessores deste, após a sua morte
Sempre os reinos foram governados de duas formas:
por um Príncipe e seus assistentes; ou por um Príncipe e
vários barões, esses barões são ligados ao Príncipe por laços de natural
afeição. Estes que estão de junto ao Príncipe, são os nobres, os
prestigiados; mas dentre esses sempre há quem aspire por inovações. Estes podem
abrir caminho para um invasor tomar o poder, facilitando sua vitória, vê-se
assim que depois não bastará aniquilar apenas família do Príncipe, mas
também os nobres que estarão sempre prontos a liderar novas revoluções.
Capítulo 5: O modo de governar as cidades ou
Estados que antes de conquistados tinham suas próprias leis
Ao se dominar um Estado acostumado com a liberdade,
e com suas próprias leis, Maquiavel mostra três formas e mantê-lo: primeira,
arruinando-o; segunda, habitando-o (ver Capítulo III); terceira, permitindo-lhe
que viva seguindo suas próprias leis, pondo-lhe tributos e pondo ali um governo
de poucas pessoas que sejam mantidas amigas.
"[...] a cidade habituada à liberdade pode ser
dominada mais facilmente por meio dos seus cidadãos do que de qualquer outra,
desde se queira preservá-la."
Quem se torna o senhor de uma cidade livre, e não
aniquila, pode esperar ser destruído por ela, pois sempre haverá motivo para
rebelião em nome da liberdade perdida e das suas eventuais tradições, que nem o
curso do tempo nem os benefícios conseguem apagar.
Por isso se diz que é melhor respeitar os costumes
do território conquistado, ou então, destruí-lo. Sempre estarão na mente do
povo seus antigos costumes, e, mais cedo ou mais tarde estes se revoltarão
contra o que está sendo imposto, e não haverá benefício ou tempo, como disse
Maquiavel, que os faça esquecer, ainda mais se o povo estiver junto.
Quando um estado está habituado a viver sob o
governo de uma linhagem de Príncipes que tenha sido extinta, seu povo
não entrará em acordo para a escolha de um soberano; assim é fácil, pois,
dominá-los, pois este povo não sabe viver em liberdade.
"Nas repúblicas, por outro lado, há mais
firmeza, brio, maior ódio, e desejo de vingança; não poderão abandonar a
memória de sua antiga liberdade. Assim, o meio mais seguro de dominá-las será
devastá-las, ou nelas habitar."
Esses ensinamentos de Maquiavel nos mostram que o
Príncipe, sempre mais que tudo, deve manter o povo, diríamos talvez que, inconsciente,
enganados com a situação de que tudo está bem e de que o Príncipe é bom;
quando não se pode dar essas impressões ao povo segundo Maquiavel deve-se
aniquilá-lo para que o poderio do monarca continue, pois caso o contrário, o
povo se revoltará, derrubando o monarca.
‘Assim o monarca deve sempre procurar estar bem com
o povo, pois este último tendo consciência ou não, é sempre a força maior;
apesar de sempre ser a classe inferior. O que seria de um reino sem povo? Quem
pagaria os tributos? Quem trabalharia pra sustentar os luxos do Príncipe?
Quem seria governado? O Príncipe só é Príncipe quando tem quem
governar.
Capítulo 6: Os novos domínios conquistados com
valor e com as próprias armas
Os homens sempre procuram seguir os caminhos
percorridos por outrem, pondo em prática seus atos que deram certo e evitando
praticar seus passos que não deram certo. Os que se tornam Príncipes
por seu próprio valor e com suas próprias armas, se tornam Príncipes
com dificuldade, mas mantêm facilmente seu poder. Segundo Maquiavel, as dificuldades
se originam em parte nas inovações que são obrigados a introduzir para
organizar seu governo com segurança.
"Vale lembrar que não há nada mais difícil de
executar e perigoso e manejar (e de êxito mais duvidoso) do que a instituição
de uma nova ordem de coisas. Quem toma tal iniciativa suscita a inimizade de
todos os que são beneficiados pela ordem antiga, e é defendido tibiamente por
todos os que seriam beneficiados pela nova ordem alta de calor que se explica
em parte pelo medo dos adversários, quem têm as leis do seu lado, e em parte
pela incredulidade dos homens."
Quanto a isso, Maquiavel diz que a natureza dos
povos é lábil: é fácil persuadi-los de uma coisa, mais é difícil que mantenham
sua opinião. E que convém ordenar tudo de modo que, quando não mais
acreditarem, se lhes possa fazer crer pela força.
Quem com suas próprias armas consegue algo,
valoriza mais do quem conquista com armas alheias.
Capítulo 7: Os novos domínios conquistados com as
armas alheias e boa sorte
Quem chega ao poder em troca de dinheiro ou pela
graça alheia, com muita dificuldade manter-se-á no poder. Só com muito engenho
e valor poderá se manter.
"Além disso, os Estados criados subitamente
como tudo o mais que na natureza nasce e cresce com rapidez não podem ter raízes
sólidas, profundas e ramificadas, de modo que a primeira tempestade os derruba.
A não ser que, conforme já disse, a pessoa que chegou ao poder tenha tanta
virtude que saiba conservar o que a sorte lhe concedeu tão de súbito,
estabelecendo, em seguida, as bases que os outros precisam erigir antes de se
tornarem Príncipes."
Chegar ao poder dessa forma, é chegar despreparado,
sem raízes; quem não cuidar de procurar se estabilizar, valorizar, tornar-se
astuto, perderá o Estado. Ou no caso se é possível prever, se deve suprir essas
carências bem antes.
Capítulo 8: Os que com atos criminosos
chegaram ao governo de um Estado
Maquiavel cita dois exemplos de pessoas que se
tornaram Príncipes por meio do crime, o primeiro, o de Agátocles após
tantas traições e tão grande crueldade que além de ter obtido êxito na
conquista, conseguiu se manter no poder por muito tempo; Maquiavel explica esse
fato ao de que Agátocles usou da crueldade apenas uma vez: para chegar ao
poder. Chegando ele lá, foi diminuindo sua crueldade de modo a ser querido por
seu povo.
O segundo exemplo é o de Oliverotto de Fermo que
com tamanha crueldade chegou ao poder, e lá se manteve cruel, o que fez com que
pouco tempo depois, este fosse derrubado do poder e morto por César Borgia,
juntamente com seu mestre em virtudes e atrocidades Vitellozzo.
"Não se pode, contudo, achar meritório o
assassínio dos seus compatriotas, a traição dos amigos, a conduta sem fé,
piedade e religião; são métodos que podem conduzir ao poder, mas não à
glória."
"[...] ao tomar um Estado, o conquistador deve
definir todas as crueldades que necessitará cometer, e praticá-las todas de uma
vez evitando ter de repeti-las a cada dia; assim tranquilizará o povo, ao não
renovar as crueldades, seduzindo-o depois com benefícios. Quem agir
diferentemente, [...], estará obrigado a estar sempre de arma em punho, e nunca
poderá confiar em seus súditos, que devido às contínuas injúrias, não terão
confiança no governante."
"Os benefícios, por sua vez, devem ser
concedidos gradualmente, de forma que sejam mais bem apreciados."
O Príncipe deve sempre agir pensando no povo, pois na verdade
é o povo quem detêm o poder e a força. Com um monarca cruel, o povo se torna
amedrontado e injuriado, acabando por se reunir e destruir seu poderio. Porém
quando os benefícios vêm, o povo se sente feliz e quer bem o monarca, o que
diminui consideravelmente a possibilidade de conspiração.
Capítulo 9: O governo civil
Na visão de Maquiavel, governo civil é governo em
que o cidadão se torna soberano pelo favor de seus concidadãos.
"O governo é instituído pelo povo ou pela
aristocracia, conforme haja oportunidade para um ou para a outra. Quando os
ricos percebem que não podem resistir à pressão da massa, unem-se, prestigiando
um dos seus e fazendo-o Príncipe, de modo a poder perseguir seus
propósitos à sombra da autoridade soberana. O povo, por outro lado, quando não
pode resistir aos ricos, procura exaltar e criar um Príncipe dentre os
seus que o proteja com sua autoridade."
A dificuldade é maior de manter-se no poder o
Príncipe que chegou ao poder através da aristocracia do que o que chegou
através do povo, pois a aristocracia se considera igual ao monarca, sendo que o
soberano não pode assim dirigi-los ou ordenar em tudo que lhe apraz.
A aristocracia quer oprimir; e o povo apenas não
quer ser oprimido. Quem chegar ao poder deve sempre manter a estima do povo,
isso será conseguido o protegendo. O povo é quem está com o Príncipe na
adversidade, quem o povo está com ele, é difícil derrubá-lo do poder.
Capítulo 10: Como avaliar a força dos Estados
É examinada a situação do Príncipe, se este,
em caso de ataque, pode reunir um exército suficiente, e defender-se; ou se
não, este não podendo combater, é forçado a refugiar-se no interior de seus
muros, ficando na defensiva.
"Portanto, o Príncipe que é senhor de
uma cidade poderosa, e não se faz odiar, não poderá ser atacado; ainda que o
fosse, o assaltante não sairia gloriosamente da empreitada."
O povo tem enorme influencia para definir o a força
de um Estado; se o povo estiver ao lado do Príncipe, mesmo que um
dominador consiga tomar o lugar do Príncipe, não se dará bem, pois o
povo se levantará contra ele.
Capítulo 11: Os Estados eclesiásticos
Estados conquistados com o mérito ou com a sorte,
porém estes não são necessários para conservá-lo, pois são sustentados por
antigos costumes religiosos.
"Tão fortes e de tal qualidade são estes que
permitem aos Príncipes se manterem no poder qualquer que seja sua
conduta e modo de vida. Só esses Príncipes podem ter estados sem
defendê-los e súditos sem governá-los; e seus estados, mesmo sem ser
defendidos, não lhes são tomados."
Mesmo que chegue um dominador e tente colocar tal
estado sob seu poder, se o povo se mantiver unido, este não obterá êxito em sua
empreitada; os costumes são fortes e mantêm o povo unido.
Capítulo 12: Os diferentes tipos de milícia e de
tropas mercenárias
Na ótica maquiaveliana,
a base principal de um Estado são boas leis e bons exércitos. Há três tipos de
tropas, são elas, próprias, mercenárias, auxiliares ou mistas. Sendo as mercenárias
e as auxiliares prejudiciais e perigosas.
Os soldados mercenários são covardes, seu único
motivo pra lutar é o salário, que nunca é o suficiente para que morram pelo Príncipe
numa batalha. São dispostos ao Príncipe em tempos de paz, mas ao chegar
à guerra, o abandonam.
"E a experiência demonstra que só os Príncipes
e as republicas armadas obtêm grandes progressos, pois as forças mercenárias só
sabem causar danos; e também que uma republica que tenha exercito próprio se
submeterá mais dificilmente ao domínio de um dos seus cidadãos do que uma
republica com armas mercenárias."
Os mercenários pensam em si e no que vão ganhar, não no êxito do monarca. O melhor sempre é usar suas próprias armas. A vitória obtida através da força e armas alheias não é uma vitoria genuína.
Capítulo 13: Forças auxiliares, mistas e nacionais
Maquiavel iguala as forças auxiliares com as
mercenárias: são inúteis. As tropas auxiliares podem até ser em si mesmas
eficazes, mas são sempre perigosas para os que delas se valem se são vencidas,
isto representa uma derrota; se vencem, aprisionam quem as utiliza.
Quanto às tropas mistas, Maquiavel diz sê-las mais
eficazes que as compostas inteiramente de mercenários ou auxiliares, mas são
muito inferiores que um exército inteiramente nacional.
"Um Príncipe prudente, por conseguinte,
evitará sempre tais milícias, recorrendo a seus próprios soldados; preferirá
ser derrotado com suas próprias tropas a vencer com tropas alheias, vitória que
não se pode considerar genuína."
"Em conclusão, nenhum Príncipe pode ter
segurança sem seu próprio exército, pois, sem ele, dependerá inteiramente da
sorte, sem meios confiáveis de defesa, quando surgirem dificuldades."
Assim como ocorreu com Davi quando Saul o ofereceu
sua armadura para que enfrentasse Golias, e Davi preferiu ir com sua funda e um
punhal, pois com a armadura de Saul são poderia dar o melhor de si. No entanto
as armas alheias nos sobrecarregam e limitam, isso quando não falham. Portanto,
o seguro mesmo é ter seu próprio exército e suas próprias armas.
Capítulo 14: Os deveres do Príncipe para com as
milícias
O Capítulo inicia mostrando o objetivo ou
pensamento principal de um Príncipe, que além da guerra, é também as
leis e a disciplina. Esta é a única arte que se espera de quem comanda. Quem
negligencia a arte da guerra, perde a consideração e o principal, o Estado.
A caça é indicada por Maquiavel como um ato a ser
sempre praticado pelos soldados, para que estes se habituem à natureza das
regiões, a posição das montanhas, a abertura dos vales, aos rios, pântanos...
"A fim se exercitar o espírito, o Príncipe deve
estudar a historia e as ações dos grandes homens; ver como se conduziram na
guerra, examinar as razões das suas vitorias e derrotas, para imitar as
primeiras e evitar as ultimas."
Estes são os deveres do Príncipe que nunca
deve se acomodar, mesmo nos tempos de paz, mas sempre estar preocupado para que
suas tropas estejam em forma quando a sorte mudar, pois como foi dito no
Capítulo 3, as guerras não podem ser evitadas.
Capítulo 15: As razões pelas quais os homens,
especialmente os Príncipes, são louvados ou vituperados
É citado que levando em conta os Príncipes,
uns são tidos como liberais, outros por miseráveis; um, generoso, o outro
ávido; um, cruel, o outro misericordioso; um, perjuro, o outro fiel; um,
efeminado e pusilânime, o outro bravo e corajoso; humanitário ou altaneiro;
lascivo ou casto; franco ou astuto; difícil ou fácil; serio ou frívolo;
religioso ou incrédulo...
Maquiavel reconhece que o ser humano não possui a
capacidade de ter todas as qualidades acima enumeradas, então, faz-se
necessário que o Príncipe tenha a prudência para evitar o escândalo
provocado pelos vícios que poderiam abalar seu reinado, evitando os outros se
for possível; se não for, poderá praticá-los com menores escrúpulos. Diz ainda
Maquiavel:
"Quem quiser praticar sempre a bondade em tudo
o que faz está fadado a sofrer, entre tantos que não são bons. É necessário,
portanto, que o Príncipe que deseja manter-se aprenda a agir sem
bondade, faculdade que usará ou não, em cada caso, conforme seja
necessário."
O Príncipe pode até aparentar ter todas as
qualidades acima citadas, mas tê-las realmente já poderia tornar-se
prejudicial; por isso é necessário que o Príncipe haja de acordo com o
momento. Se for necessário usar de bondade, que use; se preciso for a
crueldade, que use.
Capítulo 16: A liberalidade e a parcimônia
A liberalidade deve ser praticada de modo
apropriado, não sendo reconhecida. Um Príncipe liberal gastará todo o
seu tesouro, o que o fará impor pesados impostos ao povo, o que o fará ser
odiado pelos seus súditos. E ainda pouco estimado por ter se tornado pobre. E
se o Príncipe quiser corrigir sua liberalidade será passado
imediatamente por miserável.
"[...] o Príncipe não se deve incomodar
de ser tido como miserável, para não ter de onerar demais os súditos, para
poder defender-se e para não tornar-se pobre e desprezado, [...]"
Maquiavel nos mostra neste capitulo que para aquele
que já é Príncipe a liberalidade é prejudicial, mas para aquele que está
a caminho de ser, ser tido como liberal é necessário. É necessário para o Príncipe
que esteja à frente do exército e vive do botim de guerra, do roubo e de
resgates, pilhando a riqueza alheia. Esbanjar as riquezas alheias não diminui a
reputação do Príncipe, mas sim a ergue; apenas esbanjar os próprios
recursos que prejudica. E o mais importante é que o Príncipe não seja
odiado ou desprezado; a liberalidade leva a uma dessas condições.
Capítulo 17: A crueldade e a clemência. Se for
preferível ser amado ou temido
Todos os Príncipes devem preferir ser
considerados clementes, e não cruéis. Porém deve se saber usar essa clemência.
Quando o objetivo é manter o povo unido e leal, o Príncipe não deve se
importar em ser tido por cruel; os Príncipes novos no poder não podem
fugir da reputação de cruel, pois estes estados são os mais perigosos.
Seria bom que o Príncipe fosse ao mesmo
tempo amada e temido, mas como essa junção é difícil, é preferível que seja
temido. Temido de forma que, se não é possível conseguir o amor de seus
súditos, se evite o ódio; o que é conseguido não atentando contra as mulheres e
os bens dos súditos e cidadãos. Se for necessário que o Príncipe decrete
a execução alguém, que este dê um bom motivo.
"Os homens têm menos escrúpulos em ofender
quem se faz amar do que quem se faz temer, pois o amor é mantido por vínculos
de gratidão que se rompem quando deixam de ser necessários, já que os homens
são egoístas; mas o temor é mantido pelo medo do castigo, que nunca
falha."
Quando o Príncipe está à frente do exército
deve manter a fama de cruel, ou caso o contrario, o monarca não conseguirá
comandar com êxito.
O amar vem de acordo com cada homem, mas o temor
lhes é imposto; sendo assim o Príncipe deve fazer o uso do que lhe tem
nas mãos, e não no que depende da vontade alheia.
Capítulo 18: A conduta dos Príncipes e a
boa-fé
É esperado de um Príncipe que mantenha sua
palavra empenhada, e viver com integridade e não com astúcia. Todavia nem
sempre o Príncipe pode agir com boa-fé, principalmente quando é
necessário para isso ele ir contra os próprios interesses e quando os motivos
para que mantenha a palavra não existam mais.
Pode-se lutar de duas formas: pela lei e pela
força. Sendo a primeira própria dos homens; a segunda própria dos animais.
Contudo uma não é duradoura sem a outra. Quando se é necessário que o Príncipe
aja como um animal, deve saber agir como o leão e a raposa; o leão para
afugentar os lobos e a raposa para fugir das armadilhas.
"[...] é bom ser e parecer piedoso, fiel,
humano, íntegro e religioso; mas é preciso ter a capacidade de se converter aos
atributos opostos, em caso de necessidade."
De certo que se não consiga ter todas as qualidades
acima citadas, é bom aparentar tê-las; nada é mais necessário do que a
aparência da religiosidade. Por tanto:
"Todos veem nossa aparência, poucos sentem o
que realmente somos, e estes poucos não ousarão opor-se à maioria que tenha a
majestade do Estado a defendê-la."
O que importa para um Príncipe é a aparência
que passa para os seus subordinados, muitas vezes sendo o contrário do que
pensa o povo, mas conseguindo esconder o que se é de verdade.
Capítulo 19: Como se pode evitar o desprezo e o
ódio
Os Príncipes devem tomar o cuidado que suas
decisões sejam irrevogáveis, e que as sustente de tal forma que a ninguém
ocorra enganá-lo ou deslocá-lo.
Os Príncipes devem se acautelar contra duas
coisas: seus súditos e as potências estrangeiras. Contra as potências
estrangeiras lhe servirá boas armas e bons amigos; contra as conspirações dos
súditos lhe servirá não ser odiado, visto que o conspirador só executará seu
plano se pensar que a morte do soberano satisfará o povo.
"Em poucas palavras, do lado do conspirador
estão o medo, os ciúmes, as suspeitas, o receio do castigo; do lado do Príncipe
há a majestade do poder, as leis, a proteção oferecida pelos amigos e pelo
Estado. Quando a esses fatores se acrescenta a estima do povo, é impossível que
alguém cometa a temeridade de conspirar."
Os Príncipes sábios tentam sempre não
aborrecer os grandes e agradar o povo. Pode-se fazer isso deixando reservado
aos grandes as tarefas como os julgamentos isso pra eles é estima, todavia o
monarca deve ele mesmo fazer os favores. O Príncipe deve sempre tomar
cuidado para não injuriar alguém de cujos serviços se utilize.
Sempre o que conta para o Príncipe é o
que seus súditos sentem por ele; se o povo sente ódio ou desprezo, e ainda por
cima, não o temem, o Estado será perdido facilmente.
Capítulo 20: A utilidade de construir fortalezas e
de outras medidas que os Príncipes adotam com frequência
Quando um Príncipe novo chega ao poder deve
armar seus súditos, o que lhes imporá que o Príncipe lhes tem confiança,
eles assim se tornam leais e os que já eram leais irão manter a sua
lealdade. Se o Príncipe novo desarma seus súditos, lhes imporá que não
lhes tem confiança, o que provoca ódio contra o soberano.
Todavia se um Príncipe adquire um Estado o
adicionando ao seu, é necessário que o desarme, com exceção dos habitantes que
estiveram do seu lado na conquista; mesmo esses são necessários que lhes seja
cortada à ousadia, arranjando as coisas de modo que o poder militar do novo
domínio fique nas mãos de soldados que viviam no Estado antigo, junto ao Príncipe.
Disse Maquiavel: ... O Príncipe sábio
deve fomentar astuciosamente alguma inimizade, se houver ocasião para tal, de
modo a incrementar sua grandeza superando esse obstáculo.
Quanto às fortalezas, se o Príncipe teme
seus súditos mais do que os estrangeiros, deve construí-las; em caso contrário,
não. Maquiavel: ... a melhor fortaleza é a construída sobre a estima dos
súditos, pois as fortificações não salvarão um Príncipe odiado pelo
povo.
Capítulo 21: Como deve agir um Príncipe para ser
estimado
Nada faz com que um Príncipe seja mais
estimado do que os grandes empreendimentos e os altos exemplos que dá.
Em cada ação o Príncipe deve procurar atrair
fama de grandeza e excelência. Sendo que quando algum cidadão faz algo
extraordinário, bom ou ruim, o Príncipe deve lhe dar um recompensa ou
uma punição que seja amplamente comentada pelo povo. Castigos e recompensas
devem estar em perfeito equilíbrio; um superior não pode valer-se apenas de um
ou de outro.
É elevada a estima de um Príncipe que age
como amigo ou inimigo declarado, não ficando em neutralidade quando dois de
seus vizinhos poderosos estão em guerra.
"O que não é amigo pedirá sempre a
neutralidade, e o amigo solicitará uma decisão, e a entrada na guerra. Os Príncipes
inseguros preferem geralmente permanecer neutros, pensando evitar perigos
presentes, o que o mais das vezes os arruína."
Quando o Estado que o Príncipe apoiou
vence, é estabelecido um vinculo forte de amizade e gratidão por parte desse
Estado. Contudo quando o Estado apoiado perde, este sempre ajudará e protegerá
enquanto puder seu companheiro de uma sorte que poderá mudar.
O Príncipe não deve nunca aliar-se a alguém
poderoso para causar dano a outrem, a não ser quando for necessário, pois se o
aliado vence, o Príncipe fica sujeito ao seu poder.
Os Príncipes devem honrar os que são ativos,
melhorando seu Estado. Deve-se entreter o povo com festas e espetáculos em
certas épocas; e também o Príncipe dever estar uma vez ou outra em
contato com os membros de subgrupos do Estado, mas sempre mantendo sua
dignidade majestosa.
Com isso o povo terá sempre prazer em ter tal como
seu soberano e sempre estará ao seu lado.
Capítulo 22: Os ministros dos Príncipes
Para conhecer um Príncipe, basta tomar
conhecimento dos homens que o cercam, eles causam a primeira impressão do
monarca. O monarca sábio escolhe bem seus ministros.
Maquiavel distingue três tipos de mente: um
compreende as coisas por si; o segundo compreende as coisas demonstradas por
outrem; o terceiro nada consegue discernir, nem só, sem com a ajuda dos outros.
O primeiro tipo é o melhor de todo; a segunda também é muito boa, mas a
terceira é inútil.
"Toda vez que o Príncipe tem o
discernimento para reconhecer o bem e o mal naquilo que se faz ou diz (mesmo
que não apresente originalidade de intelecto), identificará as obras boas ou
más do seu ministro, corrigindo algumas e incentivando outras."
O ministro que procura sempre em todas as suas
ações seu próprio interesse nunca será um bom ministro, não merecendo
confiança. Quem é ministro nunca deve pensar em si próprio, mas sim no monarca.
Para assegurar a fidelidade do ministro, o Príncipe deve honrá-lo e
enriquecê-lo, fazendo lhe favores e atribuindo lhe encargos.
Podemos dizer que se conhece o superior através de
seus subordinados.
Capítulo 23: De que modo escapar aos aduladores
O Príncipe deve evitar os aduladores as
cortes estão cheias, mostrando que não há ofensa em falar a verdade, todavia
quando todos podem falar a verdade a uma pessoa, perdem-lhe o respeito. O Príncipe
sábio tomará homens sábios como conselheiros, que falarão a verdade ao Príncipe,
mas somente quando perguntados e sobre o que perguntados, assim o Príncipe não
ouvirá mais ninguém. O Príncipe ouvirá seus conselheiros somente quando
quiser e as decisões tomará sozinho.
O Príncipe que não é sábio nunca poderá ser
bem aconselhado, pois ele ouvirá os conselheiros e não saberá harmonizá-los. Se
a sorte lhe dê um orientador ainda poderá se sobressair, mas mais na frente
este orientador lhe tomará o poder.
"Os conselheiros pensarão todos nos seus
próprios interesses, e o Príncipe será incapaz de corrigi-los, ou de
reconhecê-los. Não pode ser de outra forma, pois os homens falam sempre com falsidade,
a não ser quando a necessidade os obriga a serem verídicos."
Os bons conselhos nascem da prudência do Príncipe;
e que esta não nasce dos bons conselhos recebidos. Tudo vem da capacidade do Príncipe,
da sua capacidade de escolha. Em suas decisões o Príncipe deve ser claro
e objetivo, mantendo, sempre que possível sua palavra. Um Príncipe que
muda a todo o tempo de ideia acaba por deixar o povo confuso, o fazendo perder
a confiança.
Capítulo 24: As razões por que os Príncipes da
Itália perderam seus domínios
Um novo soberano é sempre mais observado do que um
soberano de antiga dinastia; quando o soberano novo faz atos virtuosos, estes
cativarão mais os súditos do que os de um monarca de antiga dinastia. Deverá o
monarca novo não falhar em outras coisas, fortalecendo seu Estado com boas
leis, boas armas e bons exemplos.
"Se considerarmos aqueles senhores que
perderam seus estados na Itália de hoje, como o rei de Nápoles, o que de Milão
e outros, encontraremos neles em primeiro lugar um defeito comum no que se
refere às forças armadas, pelos motivos já amplamente examinados. [...] alguns
ou sofriam a hostilidade do povo ou, se o povo lhes tinha estima, não souberam
garantir-se contra os nobres."
Quando o Príncipe tem o povo do seu lado,
mesmo assim este não pode deixar ser derrubado esperando que o povo venha a
reerguê-lo se levantando contra o dominador. Disse Maquiavel: Só são boas,
seguras e duráveis aquelas defesas que dependem exclusivamente de nós, e do
nosso próprio valor.
Capítulo: 25: O poder da sorte sobre o homem e como
resistir-lhe
Na visão de Maquiavel, tudo que acontece conosco é
atribuído à sorte, mas metade disso pode controlar. Para ele a sorte é como um
rio, que quando este corre calmamente podemos construir diques e barragens para
que quando as águas vierem com fúria, sejam desviadas e seu ímpeto seja menos
selvagem e devastador.
"[...] o Príncipe que baseia seu poder
inteiramente na sorte se arruína quando esta muda. Acredito que é prudente quem
age de acordo com as circunstancias, e da mesma forma é infeliz quem age
apondo-se ao que o seu tempo exige."
‘O tempo vai determinar como que cada Príncipe deve
agir, contudo deve-se agir no tempo certo e sempre preparado para quando a
sorte variar, assim Maquiavel aconselha ser impetuoso a cauteloso com a sorte.
Capítulo 26: Exortação à libertação da Itália,
dominada pelos bárbaros
Neste ultimo Capítulo Maquiavel expressa o seu
anseio pela libertação de sua pátria, a Itália.
"[...] agora, quase sem vida, a Itália espera
por quem lhe possa curar as feridas e ponha fim à pilhagem na Lombardia, à
rapacidade e à extorsão no reino de Nápoles e na Toscana, curando-a das chagas
abertas há tanto tempo. Pede a deus que lhe envie alguém capaz de libertá-la
dessa insolência, dessa Barbara crueldade. Esta disposta a seguir uma bandeira,
desde que alguém a empunhe."
Maquiavel deixa explícito neste Capítulo que seu desejo
é que Lorenzo de Medici se torne o soberano da Itália daqueles tempos, deixando
claro também o principal motivo de ter escrito O Príncipe, um manual
para que Lorenzo de Medici reine com êxito na Itália:
"Não se deve, portanto deixar que se perca esta
oportunidade; a Itália, depois de tanto tempo, precisa encontrar seu
libertador."
"Que
vossa ilustre família possa, portanto, assumir esta tarefa com a coragem e as
esperanças inspiradas por uma causa justa, de forma que, sob sua bandeira,
nossa pátria volte a se levantar [...]"
Maquiavel
e seu pensamento político Filosofia
- Maquiavel, a partir de seu pensamento político,
procurou fundamentar uma filosofia política tendo em vista a dominação dos homens.
Maquiavel pretendia que essa forma de conhecimento
fosse aplicada também à política enquanto ciência do domínio dos homens e que
tinha como pressuposto uma natureza humana imutável. Para ele, se há
uniformidade nas leis gerais das ciências naturais, também deveria haver para
as ciências humanas. Isso foi necessário para manter a ordem dentro do Estado
burguês então nascente, que precisava desenvolver suas atividades e prosperar.
O problema para Maquiavel, entretanto, é saber a
quem serve a ciência política e o que fazer para se manter no poder. Apesar de,
obviamente, ser um defensor da burguesia, não se sabe ao certo qual a sua
preferência de forma de governo. Mesmo assim, ele tende ora para a República,
ora para a Monarquia. Para ele, essa questão é secundária, pois a sua concepção
de história era cíclica e os governos sempre se degeneravam: da monarquia à
tirania, desta à oligarquia e à aristocracia, que, por sua vez, recaíam na democracia
que, enfim, só terá solução com um ditador. Isso acontece (e se repete) porque
os seres humanos têm uma essência universal: é o desejo de poder e os vícios a
que são acometidos os homens (governantes e seus sucessores) que fazem com que
o governo se degenere.
Por isso, Maquiavel lança mão de dois conceitos
chaves: virtu e fortuna. Este diz respeito à grande maioria dos
homens, é a sorte, o destino a que estão determinados; e aquele é a excelência
que poucos homens têm de previsão, capazes de fazê-los manter o poder máximo
possível e para isso podem matar, roubar, mentir, sem nenhum escrúpulo.
A diferença entre Maquiavel e os outros cientistas
naturais é que estes, ao publicarem suas obras, não constrangem a sociedade de
modo geral, enquanto a obra de Maquiavel causa tal constrangimento, ainda que
seja usada por todos os políticos de todos os tempos. Por causa disso, o
adjetivo “maquiavélico” significa que “os fins justificam os meios”, ou seja,
para se alcançar um objetivo (no caso de Maquiavel, o poder e sua manutenção)
vale utilizar-se de qualquer método.
Fonte
e Sítios Consultados
http://www.psicoloucos.com/Resenhas-e-Resumos/resumo-o-principe-maquiavel.html
www.brasilescola.com/filosofia/maquiavel-seu-pensamento-politico.htm
www.brasilescola.com/filosofia/maquiavel-seu-pensamento-politico.htm
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