O que
ética? O que é moral? O que ela estuda?
Estas são perguntas rotineiras, feita por
muitos, e de suma importância para as relações humanas. Todo dia ouvimos falar
de ética e falta de ética, mas o que isso significa afinal?
A ética faz parte de uma das três
grandes áreas da filosofia, mais especificamente, é o estudo da ação – práxis.
Ao lado do estudo sobre o “conhecimento” – como a ciência, ou a lógica – e do
estudo sobre o “valor” – seja ele artístico, moral, ou científico – o estudo
sobre a ação engloba a totalidade do saber e da cultura humana. Está presente
no nosso cotidiano o tempo todo, seja nas decisões familiares, políticas, ou no
trabalho por exemplo.
Ética
e Moral são a mesma coisa ou há distinções a serem feitas?
Na linguagem comum e mesmo culta ética
e moral são sinônimos. Assim dizemos: Aqui há um problema ético ou um problema
moral. Com isso emitimos um juízo de valor sobre alguma prática pessoal ou
social, se boa, se má ou duvidosa.
Porém, percebemos que ética e moral não são sinônimos.
·
A ética é parte da filosofia – ela considera concepções de fundo,
princípios e valores que orientam pessoas e sociedades. Uma pessoa é ética
quando se orienta por princípios e convicções. Dizemos, então, que tem caráter
e boa índole.
·
A moral é parte da vida concreta – ela trata da prática real das
pessoas que se expressam por costumes, hábitos e valores aceitos. Uma pessoa é
moral quando age em conformidade com os costumes e valores estabelecidos que
podem ser, eventualmente, questionados pela ética. Uma pessoa pode ser moral
(segue costumes), mas não necessariamente ética (obedece a princípios).
De acordo Waren Buffet
as fraudes nas empresas são cometidas por funcionários que têm algum
tempo de casa e conhecem os controles internos – para Buffet, “Na busca de Pessoas para contratar você deve
procurar três qualidades: Integridade, Inteligência e Energia. Sabendo que se
essas duas últimas não estiverem acompanhadas da primeira, elas irão
liquida-lo”.
A palavra ética tem origem no termo grego
ethos, que significava “bom costume”, “costume superior”, ou “portador de
caráter”. Impulsionado pelo crescimento da filosofia fora da antiga Grécia o
conceito de ethos se proliferou pelas diversas civilizações que mantiveram
contato com sua cultura. A contribuição mais relevante se deu com os filósofos
latinos. Em Roma o termo grego foi traduzido como “mor-morus” que também
significava “costume mor” ou “costume superior”. É dessa tradução latina que
surge a palavra “moral” em português.
No decorrer da história do pensamento a ética
se tornou cada vez mais um assunto rico, complexo e abrangente. Com a expansão
da filosofia, e em especial do pensamento sobre a ação, foi preciso distinguir os termos ética e moral. No século XX o filósofo espanhol Adolfo Sanches Vásquez cria
uma famosa diferenciação entre os dois conceitos. Para ele o termo moral se
refere a uma reflexão que a pessoa faz de sua própria ação. Já o ‘termo’ ética
abrange o estudo dos discursos morais, bem como os critérios de escolha para
valorar e padronizar as condutas numa família, empresa ou sociedade.
Definir o que é um agir ético, moral, correto
ou virtuoso é se inscrever em uma disputa social pela definição legítima da boa
conduta. Da conduta verdadeira e necessária. Avaliar a melhor maneira de agir
pode ser visto de pontos de vista totalmente diversos. Marxistas, liberais,
mulçumanos, psicanalistas, jornalistas e políticos agem e valoram as ações de
maneira diferente. Porém todos eles lutam pela definição mais legitima de uma
“boa ação” ou da “ação correta” - sem pretensões de impor uma definição
legítima sobre a conduta moral, neste espaço, deixaremos os filósofos
falarem por eles mesmos. Elencamos o que cada um dos principais pensadores tem
a dizer sobre o assunto.
Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C.) “Ética a Nicomacos”
A excelência moral se relaciona com as
emoções e ações, e somente as emoções e ações voluntárias são louvadas e
censuradas, enquanto as involuntárias são perdoadas, e às vezes inspiram
piedade; logo, a distinção entre o voluntário e o involuntário parece
necessária aos estudiosos da natureza da excelência moral, e será útil também
aos legisladores com vistas à atribuição de honrarias e à aplicação de
punições. (…)
Mas há algumas dúvidas quanto ás ações
praticadas em consequência do medo de males maiores com vistas a algum objetivo
elevado [1097b] (por exemplo, um tirano que tendo em seu poder os pais e filhos
de uma pessoa, desse uma ordem ignóbil a esta, tendo em vista que o não
cumprimento acarretasse na morte dos reféns); é discutível se tais ações são
involuntárias ou voluntárias. (…) Tais ações, então, são mistas, mas se
assemelham mais as voluntárias, pois são objeto de escolha no momento de serem
praticadas, e a finalidade de uma ação varia de acordo com a oportunidade, de
tal forma que as palavras “voluntário” e “involuntário” devem ser usadas com
referência ao momento da ação; com efeito, nos atos em questão as pessoas agem
voluntariamente, portanto são voluntárias, embora talvez sejam involuntárias de
maneira geral, pois ninguém escolheria qualquer destes atos por si mesmos.
Fundamentação da Metafísica dos Costumes
Immanuel Kant (1724-1804)
Neste mundo, e se houver um fora dele, nada é
possível pensar eu que possa ser considerado como bom sem limitação, a não ser
uma só coisa: uma boa vontade. Discernimento, argúcia de espírito, capacidade
de julgar, e como quer que possam chamar-se os demais talentos do espírito, ou
ainda coragem, decisão constância de propósito, como qualidades do
temperamento, são sem dúvida, a muitos respeitos, coisas boas e desejáveis; mas
também podem tornar-se extremamente más e prejudiciais se a vontade, que haja
de fazer uso destes dons naturais, constituintes do caráter, não for boa.
Na constituição natural de um ser organizado
para a vida, admitimos, por princípio, que nele não haja nenhum órgão destinado
à realização de um fim que não seja o mais adequado e adaptado a este fim. Ora,
se num ser dotado de razão e de vontade a natureza tivesse por finalidade
última sua conservação, seu bem-estar ou, em uma palavra, sua felicidade, ela
teria se equivocado ao escolher a razão para alcançá-la. Isto porque, todas as
ações que este ser deverá realizar nesse sentido, bem como a regra completa de
sua conduta, ser-lhe-iam indicadas com muito maior precisão pelo instinto.
Uma vez que despojei a vontade de todos os
estímulos que lhe poderiam advir da obediência a qualquer lei, nada mais resta
do que a conformidade a uma lei universal das ações em geral que possam servir
de único princípio à vontade, isto é: devo proceder sempre da mesma maneira que
eu possa querer também que a minha máxima se torne uma lei universal. Aqui é
pois a simples conformidade a lei em geral, o que serve de princípio à vontade,
o também o que tem de lhe servir de princípio, para que o dever não seja por
toda parte uma vã ilusão e um conceito quimérico.; e com isto está
perfeitamente de acordo com a comum ação humana nos seus juízos práticos e
também sempre diante dos olhos este princípio.
Uma Introdução aos Princípios da Moral
Jeremy Bentham (1748 – 1832)
Catecismo Positivista
Augusto Comte (1798-1875)
É
verdade que o positivismo não reconhece a ninguém outro direito senão o de
sempre cumprir seu dever. Em termos mais corretos, nossa religião (positivista)
impõe a todos a obrigação de ajudar cada um a preencher sua própria função. A
noção de direito deve desaparecer do campo político, como a noção de causa do
campo filosófico. Porque ambas se reportam a vontades indiscutíveis. Assim,
quaisquer direitos supõem necessariamente uma fonte sobrenatural, única que
pode subtraí-los á discussão humana.
O positivismo não admite nunca senão deveres de todos em relação a
todos. Porque seu ponto de vista sempre social não pode comportar nenhuma noção
de direito, constantemente fundada na individualidade. Em que fundamento humano
deveria, pois, se assentar a ideia de direito, que suporia racionalmente uma eficácia
prévia? Quaisquer que sejam nossos esforços, a mais longa vida bem empregada
não nos permitirá nunca devolver senão uma porção imperceptível do que
recebemos. Não seria senão, contudo, só depois de uma restituição completa que
estaríamos dignamente autorizados a reclamar a reciprocidade de novos serviços.
Todo direito humano é, pois, tão absurdo quanto imoral. Posto que não há mais
direitos divinos, esta noção deve se apagar completamente, como puramente
relativa ao regime preliminar, e diretamente incompatível com o estado final,
que só admite deveres segundo as funções.
Moral da Ambiguidade
Simone de Beauvoir (1909 – 1986)
Existir é fazer-se carência de ser, é
lançar-se no mundo: pode-se considerar como sub-humanos os que se ocupam em
paralisar esse movimento original; eles têm olhos e ouvidos, mas fazem-se desde
a infância cegos e surdos, sem desejo. Essa apatia demonstra um medo
fundamental diante da existência, diante dos riscos e da tensão que ela
implica; o ‘sub-homem’ recusa essa
paixão que é a sua condição de homem, o dilaceramento e o fracasso deste
impulso em direção do ser que nunca alcança seu fim; mas com isso, é a
existência mesma que ele recusa - a má-fé do homem sério provém de que ele é
obrigado, sem cessar, a renovar a renegação dessa liberdade. Ele escolhe viver
num mundo infantil, mas à criança, os valores são realmente dados. O homem
sério deve mascarar esse movimento através do qual se dá os valores, tal como a
mitômana, que lendo uma carta de amor, finge esquecer que essa lhe foi enviada
por si mesma.
Ética: A área da filosofia que estuda o comportamento humano
A palavra ética se origina
do termo grego ethos, que significa "modo de ser",
"caráter", "costume", "comportamento". De fato, a
ética é o estudo desses aspectos do ser humano: por um lado, procurando
descobrir o que está por trás do nosso modo de ser e de agir; por outro,
procurando estabelecer as maneiras mais convenientes de sermos e agirmos.
Assim, pode-se dizer que a ética trata do que é "bom" e do que é
"mau" para nós.
Bom e mau, ou melhor, Bem e Mal,
entretanto, são valores que não apresentam, para o ser humano, um caráter
absoluto. Ao longo dos tempos, nas mais diversas civilizações, várias
interpretações serão dadas a essas duas noções. A ética acompanha esse desenvolvimento
histórico, para que isso sirva de base para uma reflexão sobre como ser ético
no tempo presente.
Considera também como esses valores se
aplicam no relacionamento interpessoal, pois a noção de um modo correto de se
comportar e posicionar na vida pressupõe que isso seja feito para que cada um
conviva em harmonia com os outros. A ética, portanto, trata de convivência
entre seres humanos na sociedade. Num sentido mais restrito, ela se restringe
às relações pessoais de cada um. Num sentido mais amplo - já que ninguém vive
numa pequena comunidade isolada -, ela se relaciona com a política - da cidade,
do país e do mundo. Nesse sentido, ela é possivelmente a área mais prática da
filosofia.
Antes de qualquer, coisa qual o significado da palavra ética, em
termos filosóficos?
O filósofo contemporâneo espanhol Fernando
Savater apresenta uma resposta para essa questão em termos muito simples, num
livro intitulado Ética para meu filho, da Editora Martins Fontes.
Como diz o título, ele escreveu com o intuito de explicar a questão para o seu
filho adolescente. A seguir, você pode ler um breve trecho da resposta de
Savater para a questão "o que é ética?".
Esse é um excelente ponto
de partida para você pensar no assunto:
Existem ciências
que estudamos pelo simples interesse de saber coisas novas. Já existem outras
que são para adquirir uma habilidade que nos permita fazer ou utilizar alguma
coisa – a maioria é utilizada para conseguir um oficio e ganhar a vida com ele.
Se não sentirmos curiosidade nem necessidade de realizar esses estudos, poderemos
prescindir deles tranquilamente. Há uma infinidade de conhecimentos muito
interessantes, mas sem os quais podemos nos arranjar muito bem para viver. Eu,
por exemplo, lamento muito não ter nem ideia de astrofísica ou de marcenaria,
que dão tanta satisfação a outras pessoas, embora essa ignorância nunca me
tenha impedido de ir sobrevivendo até hoje. E você, se não me engano, conhece
as regras do futebol, mas é bem fraco em beisebol. Não tem maior importância,
você desfruta os campeonatos mundiais, dispensa olimpicamente a liga americana
e todo o mundo sai satisfeito.
O que eu quero
dizer é que certas coisas a pessoa pode aprender ou não, conforme sua vontade.
Como ninguém é capaz de saber tudo, o remédio é escolher e aceitar com
humildade o muito que ignoramos. É possível viver sem saber astrofísica,
marcenaria, futebol e até mesmo sem saber ler e escrever: vive-se pior,
decerto, mas vive- se. No entanto, há outras coisas que é preciso saber porque,
por assim dizer, são fundamentais para nossa vida. E preciso saber, por
exemplo, que saltar de uma varanda do sexto andar não é bom para a saúde; ou
que uma dieta de pregos (perdoem-me os faquires!) e ácido prússico não nos
permitirá chegar à velhice. Também não é aconselhável ignorar que, se dermos um
safanão no vizinho cada vez que cruzarmos com ele, mais cedo ou mais tarde
haverá consequências muito desagradáveis. Pequenezas desse tipo são
importantes. Podemos viver de muitos modos, mas há modos que não nos deixam
viver.
Isso significa que entre todos os saberes possíveis
existe pelo menos um imprescindível: o de que certas coisas nos convêm e
outras não. Certos alimentos não nos convêm, assim como certos
comportamentos e certas atitudes. Quero dizer, é claro, que não nos convêm se
desejamos continuar vivendo. Se alguém quiser arrebentar-se o quanto antes,
beber lixívia poderá ser muito adequado, ou também cercar-se do maior número
possível de inimigos. Mas, de momento, vamos supor que preferimos viver,
deixando de lado, por enquanto, os respeitáveis gostos do suicida. Assim, há
coisas que nos convêm, e o que nos convém costumamos dizer que é “bom”, pois
nos cai bem; outras, em compensação, não nos convêm, caem-nos muito mal, e o
que não nos convém dizer que é “mau”. Saber o que nos convém, ou seja,
distinguir entre o bom e o mau é um conhecimento que todos nós tentamos
adquirir – todos, sem exceção – pela compensação que nos traz.
Como afirmado antes, há coisas boas e más para a saúde: é necessário saber o que devemos
comer, ou que o fogo às vezes aquece e outras vezes pode queimar, ou ainda que
a água que pode matar a sede e também nos afogar. No entanto, às vezes as
coisas não são tão simples: certas drogas, por exemplo, aumentam nossa energia
ou produzem sensações agradáveis, mas seu abuso contínuo pode ser nocivo. Em
alguns aspectos são boas, mas em outros são más: elas nos convêm e ao mesmo
tempo não nos convêm. No terreno das relações humanas, essas ambiguidades
ocorrem com maior frequência ainda. A mentira é, em geral, algo mau, porque
destrói a confiança na palavra – e todos nós precisamos falar para viver em
sociedade – e provoca inimizade entre as pessoas; mas às vezes pode parecer útil
ou benéfico mentir para obter alguma vantagem, ou até para fazer um favor a
alguém. Por exemplo, é melhor dizer ao doente de câncer incurável a verdade
sobre seu estado, ou deve-se enganá-lo para que ele viva suas últimas horas sem
angústia? A mentira não nos convém, é má, mas às vezes parece acabar sendo boa.
Procurar briga com os outros, como já dissemos, em geral é inconveniente, mas
devemos consentir que violentem uma garota diante de nós sem interferir, sob
pretexto de não nos metermos em confusão? Por outro lado, quem sempre diz a
verdade – doa a quem doer – costuma colher a antipatia de todo o mundo; e quem
interfere ao estilo Indiana Jones para salvar a garota agredida tem maior
probabilidade de arrebentar a cabeça do que quem segue para casa assobiando. O
que é mau às vezes parece ser mais ou menos bom e o que é bom tem, em certas
ocasiões, aparência de mau.
Haja confusão!
Resumindo: ao contrário de outros seres, animados ou
inanimados, nós homens podemos inventar e escolher, em parte, nossa forma de
vida. Podemos optar pelo que nos parece bom, ou seja, conveniente para nós, em
oposição ao que nos parece mal e inconveniente. Como podemos inventar e
escolher, podemos nos enganar, o que não acontece com os castores, às abelhas e
as formigas. De modo que parece prudente atentarmos bem para o que fazemos,
procurando adquirir um certo saber-viver que nos permita acertar. Esse
saber-viver, ou arte de viver, se você preferir, é o que se chama de ética.
Fonte e Sítios consultados
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