20 de setembro de 2012

As Organizações Vistas como Prisões Psíquicas - Explorando a Caverna de Platão.




Já pararam pra pensar que muitas vezes aquele funcionário, ou chefe, do qual não gostamos por determinados comportamentos, no fundo, tem algum motivo não aparente para se comportar daquela maneira?

 Traumas, obsessões, sexualidade, narcisismo, medo de morrer, emoções, ilusões, ansiedades e mecanismos de defesa que influenciam no comportamento de pessoas, e que influenciam diretamente no comando e no trabalho de departamentos, equipes e organizações.

 É sobre isso que iremos falar hoje. O título do capítulo faz referência a uma alegoria, exemplo, que Platão, grande filósofo grego, escreveu em seu livro “A República”, que fala sobre a organização social da época (pesquisar). Sócrates narra a seguinte história:

 “Imaginemos uma ‘caverna subterrânea,’  cuja entrada está voltada para a luz de uma fogueira. Nela encontram-se pessoas acorrentadas de tal modo que não podem mover-se. Conseguem enxergar somente a parede da caverna diretamente a sua frente. A parede é iluminada pela claridade das chamas que nela projetam as sombras das pessoas e objetos. Os prisioneiros tomam as sombras por realidades, atribuindo-lhes nomes, conversando com elas e até mesmo ligando sons de fora da caverna com os movimentos que observam na parede. Para eles, este universo sombrio constitui a verdade e a realidade, já que não possuem conhecem outro.


Se um dos habitantes deixar a caverna, iria perceber que as sombras são apenas reflexos obscuros de uma realidade mais complexa e que o conhecimento e as percepções de seus antigos companheiros de caverna são imperfeitas e distorcidas. Se ele voltasse à caverna, não seria mais capaz de viver como antes, pois agora para ele o mundo seria um lugar bastante diferente. Sem dúvida, teria dificuldade em aceitar seu confinamento e sentiria pena dos companheiros. Se tentasse compartilhar com eles seu novo conhecimento, seria provavelmente ridicularizado por suas ideias, porque, para os prisioneiros da caverna, as imagens com as quais estão acostumados possuem muito mais significado do que um mundo que eles nunca viram. Além disso, já que a pessoa portadora desse novo conhecimento não seria mais capaz de agir com convicção em relação às sombras, seus companheiros de prisão começariam a ver o mundo exterior como um lugar perigoso, algo que deveria ser evitado. A experiência poderia na verdade levá-los a se apegar ainda mais a sua maneira habitual de encarar a realidade.”


A Organização e o Inconsciente

Já vimos muitas vezes, principalmente nos estudos sobre psicologia e psicanálise, que parte do nosso comportamento é reflexo de informações, padrões ou experiências gravados no nosso inconsciente. A base para este tipo de pensamento foi lançada por Sigmund Freud, que argumentou que o inconsciente é criado quando os seres humanos reprimem seus desejos e pensamentos secretos. Foi neste sentido que ele falou que a essência da sociedade é a repressão do indivíduo e que a essência do indivíduo é a repressão de si mesmo.

 Freud destacava a importância das ligações do inconsciente com as várias formas de sexualidade reprimidas, mas outros psicanalistas enfatizaram suas ligações com a estrutura da família patriarcal, o medo da morte, as ansiedades associadas com a primeira infância, o inconsciente coletivo e assim por diante.

 O ponto comum é a ideia de que os seres humanos vivem suas vidas como prisioneiros ou produtos de sua história psíquica individual e coletiva. O passado é visto como vivendo no presente por meio do inconsciente, muitas vezes, de maneiras que criam relações distorcidas e desconfortáveis com o mundo exterior. Como veremos as imagens e ideias detalhadas que influenciaram a psicanálise têm grande relevância para o entendimento da vida organizacional.


Organização e Sexualidade Reprimida

Com relação aos processos inconscientes, as maiores contribuições provêm de Sigmund Freud. Segundo sua teoria, o inconsciente é criado pela repressão humana dos desejos e pensamentos próprios. Torna-se um reservatório de impulsos reprimidos e traumas que podem entrar em erupção a qualquer momento.
Freud estabeleceu uma separação muito importante entre o inconsciente e a cultura, que na realidade são dois lados de uma mesma moeda, ocultando ou manifestando formas de repressão.

O inconsciente é a repressão oculta enquanto a cultura é a repressão manifesta que permite a socialização humana. Como comentado anteriormente, Freud afirma que a essência da sociedade é a repressão do individual e a essência do individual é a repressão de si mesmo. Portanto, o indivíduo é reprimido pela sociedade, manifestando-se pela cultura, e reprimido por si mesmo ocultando-se no inconsciente.


Cultura, segundo Freud, é o resultado da repressão de desejos e pensamentos ocultos no inconsciente. Estes devem ser buscados numa análise mais profunda da cultura organizacional de uma empresa.

Seus estudos com relação às organizações como prisões psíquicas resultaram na linha denominada "organizações e sexualidade reprimida". Recebeu críticas de mulheres do movimento feminista por entenderem que, como um homem, abordou valores masculinos caindo na armadilha de seu próprio inconsciente de preocupações sexuais.

 Na abordagem das organizações como prisões psíquicas, ressalta-se o aspecto que não são simplesmente moldadas pelo ambiente onde estão inseridas, mas também pelos conceitos inconscientes de seus membros e de forças inconscientes que modelam as sociedades nas quais existem.

 Ao estudar psicanaliticamente as organizações procura-se observar os laços que unem o indivíduo a elas e não apenas materiais, morais, ideológicos ou socioeconômicos, mas, sobretudo de natureza psicológica.

 Na atualidade, as organizações constituem a via de acesso do indivíduo para o reconhecimento que nada mais é do que o "desejo de ser desejado". Nelas, cada indivíduo busca a realização de seus projetos e desejos, adaptando-se aos sistemas de controle impostos por aquelas, tornando-se fonte de angústia e prazer.

Esse duplo aprimoramento, das estruturas organizativas do trabalho e da própria conduta, coloca a organização como ideal do Ego (objeto de amor) e do Superego (instância punitiva).

 O pensamento crítico propiciado pela metáfora das organizações como prisões psíquicas permite penetrar em complexos organizacionais, identificando barreiras às mudanças.


Organização e a família Patriarcal

 Críticos das teorias de Freud alegam que ele era excessivamente centrado na sexualidade e que levou sua argumentação longe demais, principalmente membros do movimento feminista contemporâneo, que o veem como um partidário de valores masculinos, preso em suas próprias preocupações sexuais inconscientes.

 Na visão desses críticos, devemos entender a organização como uma expressão do patriarcado, funcionando como uma prisão conceitual que reproduz a predominância do sexo masculino e seus valores tradicionais.

 As organizações formais são baseadas em valores masculinos ocidentais (como a relação de hierarquia, objetividade etc.) e no decorrer de sua historia tem predominância de liderança masculina. O cenário masculino desempenha as funções que necessitam de comportamento agressivo e direto, sendo papel das mulheres as funções de dar apoio, servir, lisonjear, agradar e entender.

 A burocracia enfatiza os aspectos racional, analítico e instrumental, associados com o masculino, e ignora a intuição, educação e apoio empático, características vinculadas ao feminino, de forma que a influencia dominante da organização é o masculino e isso vem das famílias patriarcais estabelecidas no inconsciente.

 Reich alega que essa dominante influencia masculina vêm da hierarquia da família patriarcal e a descreve como “uma fabrica de ideologias autoritárias”. Um subordinado acata as decisões dos gestores como uma criança acata a autoridade paterna.



Essa relação de autoridade é facilitada pelo longo período de dependência que a criança possui em relação aos pais e impulsiona a dependência do individuo na tomada de decisões em situações problemáticas. Outras características que são valorizadas nos subordinados são a firmeza, o heroísmo, determinação, senso de obrigação e autoadmiração narcisista, que são os mesmos valores que um pai espera de seu filho, em muitos casos o senso paternal é tão intenso que o gestor age como mentor do empregado.

 Em contraste com o patriarcado, críticos alegam que os valores matriarcais caracterizam o otimismo, confiança, compaixão, intuição criatividade e felicidade, formando uma organização menos hierarquizada e mais compassiva e holística, com mais valor aos fins do que aos meios, enquanto a estrutura patriarcal gera um sentimento de impotência, medo e dependência da autoridade.

 Considerando as organizações como extensão inconsciente da relação familiar, podemos entender seu funcionamento e traçar uma linha de evolução se baseando no comportamento familiar.


Organização Morte e Imortalidade


Ernest Becker afirma que seres humanos são “Deuses com ânus”, nós somos a única espécie que possui consciência da morte, e apesar de muitos acreditarem na vida eterna do espirito, vivemos com essa condição e fugindo dela, engavetando-a em nosso inconsciente.



Ele faz uma reinterpretação da teoria de Freud sobre a sexualidade reprimida, ligando os medos de infância ao nascimento e o desenvolvimento da sexualidade aos medos de nossas próprias insuficiências, vulnerabilidade e mortalidade.

 Essa perspectiva nos sugere que muito de nossos atos e símbolos são na verdade uma fuga de nossa própria mortalidade e que quando exercemos esse comportamento no coletivo criamos uma cultura que vê o mundo de maneira objetiva e real reafirmando a natureza de nossa existência, desta forma buscando dar sentido (no coletivo) a nossas vidas.

 Ao criarmos/participarmos de uma organização, tentamos transpor esse medo da mortalidade, visando à imortalidade, uma vez que as empresas dentem a ser muito mais duradouras que nós mesmos e ao trazermos.

 Quando tentarmos controlar uma organização, tentamos controlar a nós mesmos, nossas perspectivas e ansiedades, transformando o complexo em simples, como na burocracia, que define claramente as atividades, funções e componentes a fim de facilitar e tornar a organização controlável, nos oferecendo o sentimento de potencia. Da mesma forma que agimos com a organização, agimos em nosso dia a dia, usando a nossa arrogância para esconder nossa fraqueza e vulnerabilidade.

 São utilizadas diversas ferramentas para nos defendermos de nossa vulnerabilidade, como humor referente às situações mais problemáticas, banalização de situações delicadas, fixação de objetivos e métricas, concentração de energia em projetos. Tudo para termos a sensação de controle, substituindo a teoria de Freud que acredita que planejamento e controle são preocupações anais sublimadas, para Becker é uma tentativa de preservar e deter a vida em face da morte.


Organização e ansiedade

Identificar o impacto das defesas da infância contra a ansiedade sobre a personalidade adulta. Klein defende que desde o começo da vida a criança sofre ansiedade associada com o instinto da morte, o que chamamos de “ansiedade persecutória” e para lidar com ela, a criança desenvolve diferentes mecanismos de defesa. Quando entramos na vida adulta, continuamos utilizando esses mecanismos, o transportando para a organização. Bion sugere que muitas vezes regredimos a padrões infantis para nos protegermos de ocasiões desconfortáveis e quando problemas desafiam o funcionamento do grupo, as energias são retiradas das tarefas e direcionadas para a defesa da problemática. Os mecanismos mais utilizados são:


·        Dependência, onde o grupo não se sente capacitado para ministrar a situação e acredita que precisam de instruções de uma liderança para resolução. Essa situação é excelente para lideres potenciais, porem o grupo em seu processo de defesa idealiza o líder, com características utópicas, levando-o ao fracasso, assim como seus sucessores, criando uma relação de dependência do grupo e impotência dos lideres.

·        Emparelhamento, acreditam que alguém surgirá com todo o necessário para retirar o grupo de seus medos e ansiedades, criando dependência e falta de iniciativas eficazes.


·        Luta-Fuga, o grupo projeta seus medos e dificuldades em um “inimigo”, criando uma paranoia inconsciente e coletiva. Esta ação une o grupo, porem pode distorcer a realidade e a capacidade de enfrenta-la.

Os mecanismos de defesa estão presentes em todas as pessoas e quando 'grupalmente' formam uma realidade em que ameaças e preocupações, dentro da mente inconsciente, são incorporadas ao mundo real.

 Esses mecanismos explicam muitos aspectos formais das organizações, estudiosos acreditam que alguns comportamentos podem ser classificados como defesas sociais, como em algumas organizações ou funções, onde um individuo funciona como “bode expiatório” dos demais membros, sendo responsabilizado pelo sucesso ou fracasso de um grupo, de forma inconsciente.

 A defesa paranoica contra a ansiedade é um traço constante nas elações de trabalho, onde maus impulsos são projetados em diferentes grupos que passam a ser considerados como vilões ou fontes de problemas.

 Como um mecanismo defesa as organizações muitas vezes tentam dominar, punir e controlar seus “rivais”, mostrando um comportamento que chega a ser sádico em relação aqueles que “podem lhe fazer mal”.

 Padrões de ansiedades inconscientes exercem influencia decisiva na construção de coalizões e na politica da vida organizacional, interagindo de modo positivo e negativo, variando conforme os mecanismos de defesa. Lideres podem ser incapazes de desenvolver relações estreitas com seus colegas e subordinados, por medos inconscientes, por raiva ou inveja, fazendo-o enxergar rivalidade, por exemplo.

 Projeções inconscientes frequentemente se auto realizam pela forma que lidamos com ela e construímos nossas ações, nossos medos inconscientes nos impedem de aceitar ajuda e conselhos verdadeiros, por nossa paranoia, nos levando a concretização dela.


O inconsciente e a cultura corporativa

Partindo do pressuposto que toda organização tem sua cultura explícita e implícita, onde os padrões que as moldam além de preocupações comuns aos seus membros há também o inconsciente permeando os processos.

 A ideia de que as organizações são fenômenos psíquicos, no sentido de que são processos conscientes e inconscientes que as criam e as mantém como tais, com a noção de que as essas podem tornar-se confinadas ou prisioneiros de imagens, ideias, pensamentos e ações.

 Desta forma, os propósitos de criar uma unidade dentro do grupo é fundamental para o sucesso da organização e para a convivência da equipe. Pois os medos individuais dos membros podem comprometer o desenvolvimento da equipe como um todo.


Organizações e ursos de pelúcia

A maioria das crianças tem algum objeto que consideram especial. Os mesmos são usados a todo o momento e torna-se quase inseparável. Caso ocorra algum evento com o mesmo, a criança pode sentir-se ameaçada pois na fase do desenvolvimento das distinções entre “eu” e “não eu” ela cria uma ilusão para desenvolver relações com o mundo exterior, segundo Donald Winnicott, psicanalista.



Essa relação de objetos transacionais continua na vida adulta, porém os objetos são substituídos por outros e por experiências que ligam as relações de uma pessoa com o mundo auxiliando na construção da identidade do indivíduo.

 Desempenhando um papel importante na ligação com a realidade esses objetos e experiências podem ganhar uma posição de fetiche ou fixação que são incapazes de serem abandonados, neste caso o desenvolvimento adulto torna-se distorcido e bloqueado dificultando o progresso de lidar com as mutações que ocorrem no ambiente.

 Numa organização os fenômenos transacionais como ocorridos com as crianças, se não trabalhados corretamente, podem impedir o desenvolvimento até mesmo comprometer o sucesso.


Organização, Sombra e Arquétipo


Carl Jung apud MORGAN focaliza duas interpretações da realidade organizacional, uma tenta compreender a relação entre o consciente e o inconsciente como tendências opostas e defende que o autoconhecimento implica em reconhecer essa oposição e lidar com a contradição. Para o autor a tensão interna entre os opostos na tentativa de unificá-los pode explicar algumas ações que exprimem mentiras, fraudes e sabotagens na organização. A outra interpretação inclui a noção de arquétipos que são, pra Jung, padrões que estruturam o pensamento, elaborados pelas experiências herdadas e pela compreensão que o indivíduo tem do mundo organizado entre a vida interior e a exterior. Nas organizações esses arquétipos ajudam os indivíduos a se situarem e podem ser usados para compreender os processos inconscientes através de grandes fatos que marcaram a história já que os indivíduos são tomados como reprodutores de relações arquetípicas na tentativa de dar sentido à vida e à existência das organizações.


Vantagens da metáfora da Prisão Psíquica

·     A metáfora incentiva-nos a desafiar as premissas básicas sobre as quais vemos e sentimos nosso mundo.

 ·  Ganhamos novas perspectivas sobre os desafios da inovação e da mudança organizacional.

 ·      O “irracional” visto de uma nova perspectiva.

 ·     Somos encorajados a integrar e administrar tensões em vez de deixar que um lado domine.

 ·            A administração ética adquire uma nova dimensão.


Limitações da Metáfora da Prisão Psíquica


·  O enfoque do inconsciente pode desviar a atenção para outras forças de controle.


·  A metáfora subestima o poder dos interesses constituídos em sustentar o “status quo”.

·  Existe o perigo de que as ideias dadas pela metáfora possam ser usadas para explorar o inconsciente em benefício das organizações.














Fonte: Atividade em classe do 7º.Semestre do Curso de Administração.
Fonte bibliográfica:Teoria das Organizações de Gareth, Morgan

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